Vivemos o Wu Chi e o Tai Chi ao mesmo tempo.
Vivemos o Tao do Céu Anterior e o Tao do Céu Posterior ao mesmo tempo.
Wu Jyh Cherng
O Céu adquiriu o Um e tornou-se
transparente
A Terra adquiriu o Um e
tornou-se tranqüila
O Céu é a antítese da Terra.
O Céu é Yang e a Terra é Yin.
O Yang é movimento e o Yin, é quietude.
Quando o Yang, o movimento, adquire o Um, esse movimento é
transparente.
Quando o Yin, a quietude, adquire o Um, essa quietude é
tranqüila. A quietude é a própria
tranqüilidade.
No movimento sem o Um, não existe transparência. A transparência é uma espécie de Vazio que
permite todas as coisas fluírem.
O movimento é a própria fluidez das coisas. No movimento, na fluidez, se houver
transparência, tudo flui sem bloqueios.
Essa é a naturalidade.
Isso significa não agirmos intencionalmente para interferir nas
coisas e assim permitir cada coisa fluir com sua naturalidade, com seu tempo e
seu ritmo. Significa não realizarmos a
obra com segunda intenção, para beneficiar nosso ego, mas realizarmos cada
coisa em cada momento, em cada situação, fazendo o que deve ser feito.
Dessa maneira, estaremos atuando e fazendo as coisas com uma
transparência interior. Essa
transparência é um não-julgamento, um não-egoísmo.
A Terra é quietude, é Yin. A
Terra é aquela que sustenta os dez mil seres, todos os seres. Não havendo a Terra, não haverá onde nos
instalarmos. Terra é morada, é
residência. Terra é nosso corpo, que
abriga a alma. A Terra precisa da
Unidade para ter tranqüilidade.
O espírito, a consciência, precisa do Um, da Unidade.
Uma Consciência Una, uma Consciência universal é uma Consciência
Despertada, Iluminada, é uma Consciência que não tem fronteiras, barreiras, é
uma Consciência onde tudo está unido.
Esta consciência não é a personalidade de um ou de outro, não é uma
mente ou uma idéia. Esta consciência não
é a soma de todas as idéias, não é a soma de todas as personalidades e sim esta
Consciência é a não-personalidade, é a não-palavra, é o não-sentimento que
permite cada sentimento, cada personalidade, cada pensamento fluir sem
bloqueios. É uma espécie de quietude
interior, é um silêncio interior, é um Vazio.
Esse Vazio é revelado na quarta frase:
Os vales adquiriram o Um e
tornaram-se opulentos
O vale entre montanhas, com um rio com muita água correndo, é o
‘vale opulento’. Se o vale não estiver
vazio como podem as águas percorrê-lo com opulência? A água só pode correr num vale aberto, vazio.
Podemos aí associar a palavra Vazio com o Um.
Se o Um fosse um bloco de concreto, certamente bloquearia as águas
que não poderiam ter a opulência. Esse
Um é o Vazio, um espaço. Espaço no
sentido metafórico, é a abertura da consciência, é o Vazio na Consciência, é o
silêncio, uma quietude.
Quem tem a mente silenciosa pode ouvir e pode ver. Quem tem a mente espaçosa pode aprender e
assimilar.
Quem tem mente fechada e barulhenta, não consegue ouvir ou
absorver.
Silêncio é análogo ao Vazio, ao espaço, à quietude, ao Um.
Assim, podemos rever as três primeiras frases:
Quando o céu adquire o Um, o espaço, torna-se transparente.
Quando a terra adquire o espaço, torna-se tranqüila.
Quando o espírito encontra o Um, torna-se despertado.
Quando o vale encontra o Um, torna-se opulento.
É preciso esvaziar para poder receber. É preciso renunciar para conquistar ou adquirir.
O Um não é exatamente igual ao Zero.
Um é Um.
Zero é Zero.
O Um está dentro do Zero. E
o Zero abraça o Um. Mas o Um não é a
soma de todas as formas, é algo criativo e vital que existe dentro de todas as
formas. É o Hexagrama Criativo do I Ching
- é algo criativo e vital porém não tem imagem nem forma. Está em toda a parte, dá sentido a todas as
coisas mas não é nenhuma coisa propriamente.
É invisível porém ativo.
Qual é então a diferença entre Zero e Um?
Zero é uma Consciência em estado de quietude, e que, aparentemente,
não se manifesta.
O Um é algo em quietude e que, aparentemente, se manifesta.
O Um é uma manifestação da quietude.
O Zero é uma quietude da manifestação.
Com o Um dentro do Zero e com o Zero dentro do Um, vivemos o Céu
Anterior e o Céu Posterior ao mesmo tempo.
Viver o Zero e o Um ao mesmo tempo.
Vivemos o Wu Chi e o Tai Chi ao mesmo tempo. Vivemos o Tao do Céu Anterior e o Tao do Céu
Posterior ao mesmo tempo.
Essa é a plenitude do ser.
Capítulo 39
Esses adquiriram o Um na antiguidade:
O Céu adquiriu o Um e tornou-se transparente
A Terra adquiriu o Um e tornou-se tranqüila
O espírito adquiriu o Um e tornou-se desperto
Os vales adquiriram o Um e tornaram-se opulentos
Os dez mil seres adquiriram o Um e tornaram-se vivos
Os príncipes e os reis adquiriram o Um e tornaram-se o eixo do mundo
Esses alcançaram a supremacia.
O céu, não se tornando transparente, irá rachar
A terra, não se tornando tranqüila, irá temer estremecer
O espírito, não se tornando desperto, irá temer exaurir
Os vales, não se tornando opulentos, irão temer secar
Os dez mil seres, não se tornando vivos, irão temer se extinguir
Os príncipes e os reis, não se tornando nobres, irão temer a derrota.
Por isso,
O nobre utiliza a humildade como princípio
O alto utiliza o baixo como base.
Sendo assim,
Os príncipes e os reis denominam-se a si mesmos de órfãos, carentes e indignos
Isso seria utilizar a humildade como princípio, não seria?
Por isso,
Alcançar o valor é aproximar-se do não-elogio
Não desejando o vulgar como o jade
Sendo simples como a pedra.
...............
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 39
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 18 de abril de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil