Deixem que a mente esteja constantemente voltada para Parama Purusa (a Entidade Cósmica)

Os seres humanos vêm até a Terra por um curto período de tempo e devem completar tudo durante este curto período. Portanto, existe um mundo de trabalhos a serem feitos e o tempo é bem curto.
Sendo assim, pessoas inteligentes fazem o possível para usar da melhor forma cada momento de suas vidas – a perda de tempo é o mais alto grau de idiotice.
Nenhum ser humano na Terra permanecerá por muito tempo e a verdadeira meta da vida humana é alcançar a Suprema Instância.
Os seres humanos, enquanto caminhando em direção à meta que está fixada anteriormente em suas mentes, terão que realizar muitos trabalhos interrelacionados.
E é por esta razão que dissemos: mantenham uma mão aos pés de Parama Purusa (a Entidade Suprema) e a outra mão nos trabalhos/assuntos mundanos.
Deixem que a mente esteja constantemente voltada para Parama Purusa (a Entidade Cósmica).
E, enquanto estiverem praticando os trabalhos/assuntos mundanos, não se esqueçam jamais de que estes trabalhos/assuntos também são voltados para Parama Purusa (a Entidade Cósmica).
Srii Srii Anandamurti


Human beings come onto this earth for a very short period, and within this short period they are required to complete everything. So there is a great deal of work to be done, but the time is very short. Thus intelligent people make the best use of every moment of their time – wasting one’s time is the height of foolishness. No human being on this earth will remain for long, and the very goal of human life is to attain the Supreme Stance. Human beings while moving forward towards that Goal which is fixed before their minds, will have to perform many interrelated works. That is why it is said, Keep one hand on the feet of Parama Puruśa,(Cosmic Entity) and with the other hand do your mundane duties. Let the mind be constantly attached to Parama Puruśa,(Cosmic Entity) . And while performing one’s mundane duties one should always remember that these duties are also the task of Parama Puruśa,(Cosmic Entity) .
Shrii Shrii Anandamurti Ji
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simples e direta tradução realizada por Janine Milward
FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

O Caminho é eterno e não tem nome

TAO TE CHING - O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 32
do Tao Te Ching, de Lao Tse, por WU JYH CHERNG
Capítulo 32
O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e embora pequeno
O mundo não tem coragem de dominá-lo
Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer
Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho,
O povo não pode interferir nisso, que por si é uniforme.
O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá
A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e dos vales
Com os rios e mares
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Este Capítulo, apesar de pequeno, é bastante complexo.
O Caminho é eterno e não tem nome
O Tao, o Absoluto, além de ser um Caminho a ser seguido é também o próprio Caminho que fazemos, que percorremos. Essa busca não tem forma nem limitação; pode acontecer em qualquer lugar, em qualquer época, sob qualquer forma... porque o Tao é o Absoluto e o Absoluto é eterno, atemporal.
Em ‘O Caminho é eterno e não tem nome’ existem duas palavras-chave: Caminho e eterno.
A palavra ‘Caminho’ nos lembra três coisas:
- O caminho é uma via para alcançarmos um objetivo
- O Caminho é uma via por onde vivemos e caminhamos
- O Caminho é aquele que estamos caminhando ou aquele que só existe se estivermos nele caminhando.
A partir daí, teceremos esse Caminho, essa Realização - que só existe quando fazemos o caminho. E o Caminho é eterno. Por ser eterno, faz com que a própria realização seja eterna e a própria vida que existe nesse caminho, seja eterna. A caminhada é eterna, está além do espaço e da limitação do tempo.
O Caminho é aquele que realizamos e existe porque caminhamos. Podemos, entretanto, caminhar para qualquer direção, por qualquer meio, em qualquer lugar. Assim, o Caminho está em toda a parte. Isso nos faz entender que o Tao é o Absoluto e o Absoluto está em todos os lugares e em todos os tempos, podendo ser de qualquer forma e não se limitando a nenhuma forma. E não tem nome, não pode ser limitado por uma ou outra linguagem.
Por isso, Lao Tse diz: O Tao é eterno e não tem nome.
E continua:
É genuíno e embora pequeno
‘Pequeno’ significa essência. O átomo é pequeno e cabe em tudo, em tudo existe o átomo. O Tao é a essência de todas as coisas, é algo que, apesar de invisível, está por detrás de todas as coisas e está em toda a parte. Por isso é pequeno, é genuíno, é algo puro. Existe Tao num cachorro, numa pessoa, numa montanha, no rio. Podem o cachorro e a pessoa ser diferentes, mas o Tao que neles existe, é o mesmo.
Lao Tse quer nos dizer que a essência, a existência, é única embora as coisas sejam diversas e diferentes em diferentes épocas e lugares.
O mundo não tem coragem de dominá-lo
O mundo não tem força para dominar, para inibir ou para não permitir que essa essência, essa síntese, se manifestar. Ou seja, é impossível fazermos com que o Tao seja limitado de uma maneira ou de outra. O Tao está em toda parte.
A prática espiritual do Taoísmo enfatiza que precisamos encontrar essa essência. Precisamos encontrar essa síntese, essa essência que está por detrás de todas as coisas, de todos os seres. Sabendo encontrá-la, encontraremos uma consciência que é comum a todos e encontraremos também a energia que é comum a todos. Essa consciência e essa energia - no estado de essência - não são separadas, ou seja, na essência, a vida e a consciência são a mesma coisa.
Esse algo que Ele chama de ‘genuíno’ e ‘pequeno’ é uma consciência pura e uma vida pura que existem, que é o próprio Tao, eterno, sem nome, que está em toda a parte e que apenas podemos senti-lo, percebe-lo e vivenciá-lo - uma vez vivamos o Tao.
Como viver o Tao?
Praticando. Praticando na vida cotidiana, através da meditação, em cada gesto, procurando sensivelmente perceber, sentir a presença do Tao nas pessoas, nos seres, nas coisas, em tudo o que se possa e não possa imaginar. Em tudo se encontra o Tao.
Dessa maneira, podemos viver no mundo diante das adversidades e das diferentes pessoas e concepções, a tudo encarando com o mesmo espírito e o mesmo sentimento. Porque nossa relação com o mundo como um todo se dará pela essência e não pela periferia ou pela superficialidade.
Normalmente, tendemos a julgar o certo e o errado pela forma e imagem que a situação é mostrada e não pela essência, ou seja, a intenção ou o sentimento contidos na situação.
Se encararmos tudo o que existe no universo pela sua essência, chegaremos à conclusão de que tudo é igual. Não existiriam então da discriminação e o preconceito e existiria sim uma aceitação e um respeito em relação a tudo e a todos, através das diversas formas de expressão existentes no mundo.
Essa é a concepção essencial do Taoísmo. E como se posiciona o Taoísmo - enquanto ensinamento místico ou como religião - diante das outras religiões e dos outros pensamentos?
De forma igual. O Taoísmo vê todas as religiões e doutrinas místicas como infinitas e variáveis expressões naturais existentes. E vê que, por detrás de todas elas existe uma essência comum a todas. E entende que não é porque a essência é comum que todas suas expressões sejam iguais. A expressão não é igual. A essência é que é igual. O Taoísmo confraterniza pela essência mas não precisa necessariamente misturar as linguagens. O Taoísmo é uma tradição que enfatiza que cada pessoa deve encontrar - entre as inúmeras linguagens - aquela linguagem que mais lhe convém para sua realização e através da linguagem escolhida, alcançar sua essência. E ao mesmo tempo reconhecer, em última análise, que a essência de todas as religiões e doutrinas místicas, é a mesma. No entanto, reconhecer que o caminho para se alcançar essa essência, não é o mesmo - porque a expressão é diferente.
O Taoísmo respeita, portanto, todas as expressões porque todas elas são um caminho para se chegar à essência. Interiorizando-se sob uma forma ou outra forma, chega-se à essência. A essência é igual. Como se fosse uma grande pirâmide de quatro faces e inúmeros caminhos e escadarias para se atingir a cúspide.
Entretanto, o Taoísmo não é a favor do sincretismo das tradições, das linguagens. Porque cada linguagem é um caminho e cada caminho desencadeia mecanismos que nos leva a caminhar. Como numa corrente, anda-se elo após elo.
O Taoísmo considera, então, que cada tradição se expressa com sua própria característica e que o aprendiz precisa intuitivamente e racionalmente buscar sentir e encontrar o seu caminho e escolher um só caminho para poder atingir assim, a profundidade das coisas. É na profundidade que se encontra a essência. E, uma vez se encontrando a essência, alcança-se o estado Universal. Nesse estado, podemos até compreender as expressões das outras tradições. Antes desse estado, apenas se consegue fazer a mistura das expressões.
Cada expressão tem o seu próprio encadeamento. Nós não precisamos ter todos os caminhos dentro de nós. Precisamos apenas de um caminho no qual nos definimos.
Como podemos perceber se estamos no caminho certo?
Através da nossa real transformação.
O que se transforma em nós?
Nossa energia, nossa emoção, nossa mente. Numa realização espiritual real, no final de nossa vida, sentimos que essas transformações aconteceram. No entanto, se as pessoas saem e entram em várias tradições, as transformações não acontecem, ou acontecem no sentido de trazer às pessoas a fragmentação e a frustração do não-desenvolvimento. Apegos, medos emoções incontroláveis não devem mais existir no final da vida por causa da real transformação.
Ao morrermos e transmigrarmos para outra vida, os conhecimentos intelectuais religiosos não ajudarão em nada. O que realmente nos ajuda - mesmo que não atinjamos a iluminação - é a real transformação, é aquilo que muda em nós, ou seja, a aproximação da nossa consciência à essência: quanto mais próximos estivermos na consciência essencial, menos loucuras teremos e mais genuínos, mais transparentes seremos interiormente.
O curso natural de uma vida é geralmente o inverso. A criança nasce com pureza e genuinidade. Quanto mais vive, mais os complexos e neuroses vêm à tona. A vida vai ficando mais pesada e mais periférica.
E o que é o Caminho espiritual? O que é o Tao?
É tentar resgatar e retornar a esse princípio, retornar à essa essência. Para isso, ao iniciarmos a busca, precisamos ver qual é o caminho que melhor se adapta a nós para irmos mais e mais profundamente.
O Taoísmo é um dos caminhos que existem. O caminho do Taoísmo não se diz ser o melhor dos caminhos. O melhor caminho é aquele que cada pessoa escolhe. O melhor caminho para a pessoa que se sente Taoísta é o Taoísmo.
Como cada caminho é um veículo para transmutar nossa mente, nossa emoção, nosso corpo... nossa energia, para nos transmutar essencialmente, devemos usar o veículo com seus recursos e potencialidades para a transmutação e não apenas para adquirir conhecimentos sobre esse veículo, ou seja, sobre um caminho.
Desde que nascemos estamos envolvidos por uma grande ilusão que faz com que vivamos no estado da ignorância e do sofrimento. Estamos limitados pela vida, pelo envelhecimento, pela doença e pela morte. Dessa maneira, não temos tempo a perder, temos urgência em nos realizar.
Lü Tzu disse que mesmo começando cedo, já está tarde. Começar o que? Começar a nos trabalhar, tentar nos transformar. E como somos muito limitados em forma, linguagem, tipo de personalidade, precisamos encontrar um veículo ideal para nos adaptar a ele e o utilizarmos para a nossa transformação. No final da caminhada, não precisaremos mais do veículo porque nos tornaremos o próprio veículo.
No cristianismo, Jesus Cristo se realizou a tal ponto que se tornou Ele mesmo um caminho para os outros. E ele seguiu o seu próprio caminho.
Quem chega à plenitude da realização, pode se tornar um caminho para os outros.
O Taoísmo não pretende ser a única verdade. Mestre Maa fala sobre a imparcialidade do Taoísmo, quando diz:
Para o Tao, quando o homem deseja a vida, encontra a vida
Quando o homem deseja a morte, encontra a morte.
Nosso caminho é nossa responsabilidade. Disso surge a concepção do Karma no Taoísmo: o que vivemos hoje, formulará o nosso amanhã. Nós somos os responsáveis pelo nosso caminho.
A interferência que existe nesse caminho vem através da forma de ensinamentos: ensinamentos visíveis e ensinamentos invisíveis, transmitidos pelos mestres e pelas divindades, uma espécie de força que nos perpassa de uma maneira inconsciente: a palavra, o silêncio, a expressão do céu e da terra, a água da montanha, a natureza, o sentimento humano. Aprende-se através dos próprios erros e através dos erros dos outros.
Em seguida, Ele diz:
Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer
Eis aqui o conceito social do Taoísmo: é muito melhor ganhar a confiança e respeito das pessoas pela virtude e não pela força.
Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho,
O povo não pode interferir nisso, que por si é uniforme.
Quando a energia do céu e da terra se toca, quando a energia da terra sobre para o céu, quando a energia do céu desce para a terra - essa troca de energias, do Yin e do Yang no cosmos - , faz com que a terra fique repleta de vida: o orvalho representa a vida. de madrugada, podemos ver as gotas de orvalho nas folhas porque cedo pela manhã a energia do sol desce e a energia da terra sobre para o céu e esse choque térmico na linguagem do Taoísmo, é a troca de energia do Yin e do Yang, fazendo essa união surgir em gotas de orvalho... gotículas de água repletas da energia da Unidade.
O orvalho possui muita força vital em si. É um fenômeno natural, espontâneo e a ordem humana não pode interferir e sim, integrar-se.
Na prática espiritual também isso acontece. Quando nosso céu e nossa terra se unem dentro de nós, quando nossa consciência se une com o nosso sopro, as gotas de orvalho surgem dentro de nós. E seu surgimento nos traz uma energia vital tão grande, tão rejuvenescedora, tão viva, que não pode ser interferida pela ordem racional ou mental.
Por isso, na nossa prática de meditação, devemos ficar passíveis, totalmente quietos, para não interferirmos em nada, para que nossa Consciência se una ao Sopro e dessa união se apresente uma matéria-prima como se fosse uma gota de orvalho repleta de energia vital. Uma seiva da terra que surge dentro de nós em nossa prática espiritual. E surge quando nossa Consciência está fundida ao nosso Sopro Vital.
O Yang da consciência unido ao Yin do Sopro Vital.
(Aqui terminou a Aula deixando, portanto, os dois últimos versos do Capítulo 32 sem interpretação - Nota da Transcritora, Janine).
O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá
A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e dos vales
Com os rios e mares
....................................................................
Foto: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 32
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Vida no Sítio das Estrelas

CARO CAMINHANTE DO CÉU E DA TERRA,
VENHA CONHECER O SÍTIO DAS ESTRELAS!
acessando minha Página
http://vidanositiodasestrelas.blogspot.com.br/
e buscando onde você melhor se encaixa
junto à vida cotidiana na simplicidade do Sítio,
na alimentação vegetariana, no silêncio,
junto às estrelas da Astronomia e da Astrologia
e, fundamentalmente, junto à Espiritualidade
e da prática de meditação.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Assuntos venturosos valorizam o esquerdo Assuntos funestos valorizam o direito

TAO TE CHING - O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 31
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Capítulo 31
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso,
Os que guardam o Caminho nas as compartilham
O Homem Venerável, na residência, honra o esquerdo
Na utilização da arma, honra o direito
A arma é o recipiente da desventura
Que não é o recipiente do Homem Venerável
Seu uso é apenas para o inevitável
O superior é como uma chama serena
Por isso não se maravilha
Ao maravilhar-se certamente teria prazer
Tal prazer mata o homem
Aquele que tem prazer em matar
Não pode triunfar sob o céu
Por isso,
Assuntos venturosos valorizam o esquerdo
Assuntos funestos valorizam o direito
Sendo assim,
O general-auxiliar encontra-se à esquerda
O general-superior encontra-se à direita
Suas palavras são tratadas como rito fúnebre
Matam muitas pessoas
Por essas, chora-se de tristeza
A guerra vencida é tratada como rito fúnebre.
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Este Capítulo fala de duas maneiras de agir no mundo: a de agir através da força e a de agir através da suavidade. De agir e de realizar as coisas ativamente ou passivamente. De saber fluir e contemplar, de contemplar e fluir de acordo com o momento. Ou de impor, de insistir sobre uma realização, conforme a força da vontade.
Lao Tse nos fala dessas coisas, com as características
Da ação da força
Da ação da suavidade
De uma forma geral, o Taoísmo valoriza, dentro das circunstancias normais e naturais, a ação da Suavidade. Ou seja, o Taoísmo nos diz que é melhor sermos receptivos, contempladores e observadores em relação às coisas que estão acontecendo para tentarmos fluir de acordo com os fatos, naturalmente.
Também Lao Tse nos diz que existem momentos, sob certas circunstâncias, que, apesar de nossa suavidade interior, de nossa receptividade e de nossa naturalidade perante os fatos, muitas vezes a força externa é desequilibrada e se impõe ou impede nosso empreendimento, nosso caminho. Neste momento, é preciso que saibamos utilizar a força para podermos romper as barreiras, para podermos realizar aquilo que é natural.
O uso da força não é para realizar algo que não seja natural. Quando o natural não é possível de ser realizado, a força pode ser utilizada de forma moderada, cautelosa e consciente para que se possa permitir a restauração do empreendimento da naturalidade, do caminho da naturalidade.
Neste Capítulo, Lao Tse nos alerta dizendo que, apesar de existirem dois caminhos, ambos estão corretos. Embora, sempre que dentro do possível, devemos seguir o caminho da Suavidade - porque é um caminho mais seguro.
E quando for necessário que utilizemos o caminho da força, devemos ser cautelosos, sem prazer de exercer a força. Ele nos diz que se o caminho da força for realizado através do prazer, ele pode se tornar nocivo e destrutivo.
Em nossa prática de meditação, também temos duas escolhas.
A prática da Suavidade é simplesmente diluirmos a Consciência dentro do Sopro - o fluxo natural de energia que entra e sai do nosso corpo. E, de preferência, que isto seja realizado de uma maneira absolutamente e profundamente intuitiva: fechando os olhos e já nos sentindo dentro de uma energia que nos envolve, que expande, que encolhe, que flui para dentro e para fóra; e em poucos minutos, sentimos nossa consciência se diluindo dentro do Sopro, que é um sopro energético e que n~´ao é mais a respiração física. Essa é uma maneira intuitiva de se entrar na mediação.
Se não conseguirmos fazer isso - porque o racional está muito ativo, o corpo tenso - além de tentarmos relaxar o corpo físico, tentamos colocar nossa mente dentro do ar que respiramos, o ar físico, prestando atenção em como o ar está entrando e saindo naturalmente dentro do corpo.
Então, se coloca a consciência dentro desse ar. Como o ar não tem forma, a consciência se dilui dentro desse ar, perdendo a noção da forma.
Aos pouquinhos, com o aprimoramento da prática, naturalmente iremos perder a noção do limite físico e ultrapassaremos o nível da consciência dentro do Sopro no nível físico para entrarmos numa dimensão mais sutil do Sopro que é a energia vital. Entramos, assim, num estado bem mais profundo, um estado onde a nossa consciência e a Energia Vital se fundem num só elemento. Esse estado natural só é adquirido através de profundo relaxamento físico, de relaxamento emocional, mental e respiratório.
Esse profundo ‘desarmamento’ é que permite rompermos com a barreira da forma e permite nossa consciência entrar no mundo da não-forma.
Essa prática dentro da meditação é o que chamamos de Caminho da Suavidade.
Por que Caminho da Suavidade? Porque, se usássemos força para nos concentrar e entrarmos dentro do Sopro - seja força física, mental, emocional, afetiva, armando a energia - menos conseguiríamos entrar dentro do Sopro. Ao contrário, temos que nos desarmar, renunciar, esquecer o corpo, esquecer a emoção, deixando-a para trás, ir nos desarmando até entrarmos no Caminho da Suavidade.
Muitas vezes - apesar de querermos realizar o Caminho da Suavidade -, nos encontramos com interferências que podem ser externas ou internas, vindas de dentro ou fora de nós. Pessoas falando na rua, buzinas, telefone... ou coisas acontecendo em nosso corpo, formigamento, coceiras, sensações físicas várias. Podem ser os pensamentos que não param, cenas que surgem incessantemente em nossa mente ou emoções que nos perpassam. Todos esses fatores não nos permitem deslizar suavemente para dentro do universo da não-forma e do Sopro. Nessa hora, utilizamos a técnica de contar o número de respirações. Não se controla a respiração mas se conta a respiração a cada saída sua, sempre de um a dez, um a dez, um a dez, um a dez, repetidamente. Essa contagem trará a consciência para um único ponto. Chega então uma certa hora em que não estamos mais ‘ligados’ e as coisas vindas de fora já não mais perturbam a nossa concentração.
Fazer a contagem da respiração, nos traz mais energia e concentração contra a dispersão e o cansaço. Fazendo a contagem na expiração, estaremos deixando sair, jogando fora, coisas que temos apego. Normalmente, vivemos cheios de emoções, de apegos, de pensamentos; e, ao fazermos a contagem na expiração, expulsamos todas essas coisas.
No entanto, se contarmos, estaremos usando o caminho da força. Algumas escolas de outras religiões usam a meditação da contagem. Nisso se consegue uma hiper concentração, com o domínio da mente, com o propósito de aumentar a potencialidade da consciência e da mente. Não existe aí a dispersão. Mas, por outro lado, esse não é o Caminho da Suavidade.
Nosso propósito é tomar o Caminho da Suavidade - que é o caminho da contemplação, da observação do curso natural das coisas, nos colocando nele sem agredirmos a natureza, nem às outras pessoas, nem a nós mesmos.
Apenas utilizamos o caminho da força quando percebemos que existe algo que impede o Caminho da Suavidade, o caminho da naturalidade. A força só pode ser usada didaticamente, a fim de restaurar a possibilidade do Caminho da Suavidade.
E, como podemos ver, todo esse pensamento de Lao Tse está encerrado neste Capítulo.
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso,
Os que guardam o Caminho nas as compartilham
O que é recipiente? É um receptor onde se coloca algo. É o veículo de recepção.
“Boas Armas’ são armas afiadas que, em linguagem simbólica, podem significar muitas coisas, como por exemplo, a esperteza, a mente muito precisa e analítica, capaz, extremamente afiada, convencida, cortante como as armas. Tudo isso é cruel e atrai desventuras para a vida. as lutas nos trazem traumas, complexos que nos deixam amargurados. Essa amargura é a semente enraizada da transmigração que fica profundamente estacada em nossa alma e que carregamos de uma vida para outra. Dessa maneira, ao nascermos, trazemos sentimentos e personalidades que são a continuidade, o reflexo dos traumas e das amarguras anteriores.
Por isso, Lao Tse diz:
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso,
Os que guardam o Caminho nas as compartilham
“Os que guardam o Caminho’ são aqueles que doam seu coração ao Caminho, à busca espiritual. O Caminho é o Tao. E para isso não se utilizam armas apesar de estarem conscientes de que elas existem porque fazem parte do nosso componente existencial.
No segundo verso, Lao Tse nos fala da utilização da arma. Ele diz:
O Homem Venerável, na residência, honra o esquerdo
Na utilização da arma, honra o direito
No I Ching, o Homem Venerável é traduzido como o Homem Superior, o Homem Sábio, aquele que é respeitado e venerado. A sabedoria é o reflexo da vivência do Tao. O Homem Venerável é aquele que é capaz de seguir o Caminho da Realização através de uma consciência praticada em vida, no cotidiano, de uma maneira iluminada, lúcida, que faz com que a pessoa possa cada vez mais alcançar uma dimensão de compreensão mais ampla, mais sutil e mais perfeita. E, como conseqüência dessa ampliação da consciência, desse aperfeiçoamento da consciência e da vivência prática, do cotidiano, todos os seus gestos são sábios, naturalmente. E por isso, Ele é venerado e respeitado como Homem Superior.
“na residência” é o contrário da ‘utilização da arma’. A utilização da arma é uma atitude que permite a ação clara e objetiva. ‘na residência’ é uma atitude passiva. Na residência, fica-se no interior. Na utilização da arma, sai-se para fora.
O estado passivo, no recolhimento, na interiorização, honra-se o lado esquerdo. O lado esquerdo de nosso corpo está relacionado com o lado direito do nosso cérebro. O lado direito do cérebro é o lado intuitivo, contemplador, suave, Yin, da nossa vida. O lado esquerdo é ligado ao racional, ao ativo, à ação, à objetividade.
Essas duas frases deixam bem claro que na hora da ação temos que ter objetividade. Na hora da inação, temos que ter a subjetividade. É preciso sabermos trabalhar as duas coisas.
Porém, Ele faz um alerta:
A arma é o recipiente da desventura
Que não é o recipiente do Homem Venerável
A ação sempre pode trazer uma desventura. O Homem Sábio permanece mais interiorizado do que exteriorizado. Permanece mais intuitivo do que racional. Mais contemplador do que fazedor.
Seu uso é apenas para o inevitável
‘Seu uso’ significa que pode ser usado. Devemos tentar resolver as coisas através da receptividade e da intuição. Quando a intuição não resolve, recorre-se então ao racional.
No I Ching sempre se diz que, diante de uma situação que foi perguntada ao Oráculo, se é capaz de usar a intuição, recebendo e captando a resposta e conseguindo solucionar o problema diretamente. Por mais que o Oráculo trabalhe com a intuição e com o inconsciente, ele usa o racional através da contagem do número de varetas, do cálculo matemático do número para as Linhas, procura-se o texto no Livro e se tenta interpretar o Hexagrama e o Julgamento. E para tudo isso, se usa o racional. A plena realização da intuição não está funcionando. Nossa capacidade direta de solucionar os problemas, não estará trabalhando.
Por isso, Lao Tse diz:
Seu uso é apenas para o inevitável
Ele continua:
O superior é como uma chama serena
Por isso não se maravilha
A chama serena é um fogo que não se agita, que não faz sombras, é apenas uma luz branda irradiando para todas as direções. Essa luz serena é análoga ao lado esquerdo. É uma consciência receptiva, branda, uma luz serena que irradia, que traz a consciência de todas as coisas que estão em torno. É como se fosse um sol irradiando luz suavemente para todas as direções, iluminando tudo, sabendo tudo o que está acontecendo e capaz de acolher em si todas as coisas.
Imaginemos que nossa consciência é uma luz que irradia para todos os cantos dessa sala, sem balançar e sem criar sombras. Tudo o que está acontecendo na sala é o que está acontecendo dentro de nós porque nossa luz cobre tudo. Todas as consciências do mundo são trazidas para dentro de nós. E isso não significa que nos tornaremos um buraco negro sugando tudo o que está em torno. Apenas temos que nos transformar em uma luz suave e branda que abraça todas as coisas. Aí entra a sutil interpretação dessa receptividade. Percebemos então que a receptividade não é tão passiva. Esse Yin não é tão Yin, também é Yang: porque é uma consciência que irradia.
De fato, fisicamente, nosso lado esquerdo está relacionado com o intuitivo. Qualquer doença que apareça nesse lado está relacionada com o cérebro direito. O lado direito do corpo está relacionado com o hemisfério esquerdo do cérebro. Desde a antiguidade, o homem já sabia que os problemas dos lados esquerdo ou direito do corpo estão relacionados com os lados intuitivo e racional. Hoje a ciência moderna chega à conclusão sobre os dois hemisférios do cérebro apenas confirmando o que sempre se soube na história da humanidade, pelos homens sábios da antiguidade.
E Lao Tse, por saber disso, usa o termo ‘esquerdo’ para representar não somente o lado esquerdo do corpo como também todo o ‘esquerdo’ que existe no universo. Não necessariamente o esquerdo físico, mas Ele fala de todo o universo da irradiação da consciência suave, brande e invisível. A consciência invisível está em toda a parte e abraça de maneira suave todas as coisas.
O Hexagrama Ch'ien, o Criativo, significa a luz invisível que está irradiando. É uma consciência invisível, irradiante que ao mesmo tempo é Yin e Yang.
Por ser uma luz serena - que não balança - ela ‘não se maravilha’. Ela não é expressiva, não é uma luz ofuscante, que se evidencia. Assim, essa luz não pode ser caracterizada como talentos ofuscantes, mentes afiadas, pensamentos fortes e violentos. É uma consciência que se realiza, apenas que de maneira que não chame a atenção.
O lado que chama a atenção é o lado direito. O lado que não chama a atenção é o lado esquerdo.
Por isso, Lao Tse nos fala na importância da interiorização, no processo de contemplação que nos permite desenvolver essa consciência intuitiva, que é uma consciência irradiante, suave como uma luz branda que abraça todo o universo, que tem o universo dentro de si, sem precisar trazê-lo para dentro de si. Portanto, por não trazer o universo dentro de si, essa luz não é egoísta, não tem uma natureza egoísta.
Por isso Ele diz que essa superioridade é como se fosse uma chama serena.
Em seguida, Ele diz:
Ao maravilhar-se certamente teria prazer
Tal prazer mata o homem
Nesse momento, Lao Tse está jogando com a suposição: aquele que possui a chama serena não se maravilha, não é ofuscante. Mas, e se assim não fosse? Ao se maravilhar, certamente teria prazer.
As pessoas brilhantes exalam o prazer. Esse prazer se torna a semente da obscuridade que vai realimentar-se e vai gerar a necessidade de ser alimentada novamente. E isso vira um processo interminável. A luz deixa de ser branda e passa a ser mais ofuscante, gerando muita luz e muita obscuridade. Cria-se, assim, a polarização: ora o Yin, ora o Yang, ora o Yin, ora o Yang. Sem vento, a chama da vela fica parada, equilibrada. Com muito vento, a chama da vela balança e pode apagar.
Ao nos maravilhar e ao nos tornar excessivamente ofuscantes - com esses choques - produzimos uma série de conseqüências. A consciência ora fica muito brilhante, ora obscura, nossa emoção fica ora eufórica, ora depressiva. Ora ficamos animados, ora ficamos tristes.
Em outro Capitulo do Tao Te Ching, Lao Tse nos dia que “alegria e tristeza, nos trazem temores”. Quando temos a alegria, temos medo de perdê-la. Quando vivemos a tristeza, buscamos a alegria. Na alegria, trazemos a sombra do medo de retornarmos à tristeza. Isso traz sofrimento e pode se enraizar profundamente na pessoa.
Devemos ter uma natural consciência da nossa natureza pessoal. De vemos não alimentar o orgulho e a vaidade nem reprimi-los; porque isso seria a ação ao inverso. Devemos procurar o caminho da quietude, do não-julgamento, da meditação, tentando levar a nossa consciência para a quietude.
A prática diária da meditação vai dissolvendo o caminho anterior da artificialidade. É preciso que saibamos construir um novo ego e não tentarmos matar ou sufocar nosso antigo ego. Na verdade, estamos construindo um novo eu a cada momento, e nos renovamos fisicamente, renovamos nossas células, nossas emoções, nosso espírito, nossa alma. Não devemos nos preocupar com o corte do velho eu e sim com o investimento na construção de um novo eu. Um dia, então, olharemos para trás e veremos uma série de coisas que eram julgadas como não-superiores, não-iluminadas ou desagradáveis, já não mais fazendo parte de nossa vida. Tudo isso sem doutrinações, sem lutas, sem cortes, apenas desaparecendo. Não devemos lutar contra os fantasmas do passado e sim tecer uma nova vida de hoje para amanhã.
Aquele que tem prazer em matar
Não pode triunfar sob o céu
Com o prazer, não podemos triunfar no mundo. Esse prazer interrompe nosso destino, nossa vida, nossa consciência, nossa luz.
“matar” não significa a matança física. Quando perdemos a consciência, a lucidez, a sensibilidade, perdemos os sentimentos verdadeiros e profundos e assim, estamos morrendo de alguma maneira. Esse é o prazer que mata. E aquele que tem prazer em matar, não triunfa. Aquele que tem a obscuridade em sua luz, por egoísmo, não consegue abraçar todos os seres naturalmente portanto essa pessoa estará se interrompendo, se matando e não pode triunfar.
Esse triunfo não significa conquistar coisas usando a força mas sim deixar a luz naturalmente abraçar a todos de uma maneira invisível. Assim, todos serão beneficiados recebendo essa luz e não se aperceberão disso.
Em outro Capítulo, Lao Tse nos diz que o Homem Sagrado beneficia os homens sem que os homens percebam a Sua presença e o bem que Ele faz.
Em seguida, Ele diz:
Por isso,
Assuntos venturosos valorizam o esquerdo
Assuntos funestos valorizam o direito
‘assuntos funestos’ significam o mórbido, a alteração radical do Yin e do Yang.
O Taoísmo é chamado de O Caminho da Imortalidade. Imortalidade, a Vida é o Caminho da Constância, o Caminho da Infinitude. Nele, o dia e a noite estão no mesmo ponto, não há dia nem noite. A consciência e a inconsciência estão no mesmo ponto. O racional e o intuitivo estão no mesmo ponto. O Yin e o Yang são a mesma coisa, estão no mesmo ponto e tornam-se um terceiro elemento.
Esse estado é um estado venturoso. Nele, não há vida nem morte.
Quando vivemos na euforia e na depressão, na alegria e na tristeza, no dia e na noite da nossa consciência, da nossa saúde física, emocional e mental, o que vivemos?
Vivemos uma vida e uma morte, uma vida e uma morte, constantemente. Assim não encontraremos a transcendência e a libertação.
Sendo assim,
O general-auxiliar encontra-se à esquerda
O general-superior encontra-se à direita
Suas palavras são tratadas como rito fúnebre
A guerra é, às vezes, inevitável. Também às vezes, se não nos defendemos, morremos. As vezes, se não forçamos a natureza, morremos. No entanto, a guerra vencida deve ser tratada de uma maneira triste porque houve um grande sacrifício.
Na China antiga, quando um rei e um general venciam uma guerra, não era permitida a realização de festejos mas sim eram realizados cultos de tristeza, tristeza por aqueles que morreram nas batalhas. Não eram festejados os que sobreviveram e conquistaram a vitória. A vitória conquistada através da força onde muitas vidas foram apagadas, não merecia ser festejada. Mais tarde, tais costumes foram mudando.
Isso prova como o Taoísmo valoriza essencialmente a vida. porque sem a vida, não há como realizar o Caminho. O Caminho só existe se o homem O realizar. Dessa maneira, a vida é muito importante.
O termo general-superior é um termo que já existia historicamente mesmo antes de Lao Tse escrever esse texto. Na corte, o imperador tinha dois generais: um auxiliar e outro superior. O general-auxiliar é superior hierarquicamente (apesar dos termos) ao general-superior. O general-superior é aquele que impõe. O general-auxiliar é aquele que fala no ouvido do imperador e o imperador dá a última palavra.
O general-auxiliar é aquele que auxilia diretamente a decisão, ou seja, a palavra final do rei. Rei é a consciência do homem.
O braço direito, que é o general-superior, impõe com força.
A consciência que nos auxilia é o instrumento que auxilia a consciência. Imperador é Rei. Rei é o governante do reino. Nosso corpo é o reino, nossos órgãos interiores são os ministérios, nossas células são o povo e o Rei é a consciência.
A consciência tem dois auxiliares:
A intuição
O racional
A consciência intuitiva e a consciência racional são os auxiliares da Consciência pura, aquela que decide em última instancia - que é o Rei.
No entanto, aquele que deve nos auxiliar em primeiro lugar é a intuição.
Aquele que deve nos auxiliar em segundo lugar, é o racional. O racional nos ajuda a impor a realização ou o resultado na vida.
Mas quando o racional toma atitude ‘suas palavras são tratadas como rito fúnebre’. E por que? Porque o racional, as ações e as atitudes muito engenhosas e afiadas ‘matam muitas pessoas’, sacrificam muitas vidas.
Em linguagem simbólica, dentro da vida de uma pessoa, existem muitas outras vidas. Podemos viver muitas vidas, falando de uma maneira poética. Falando de uma maneira mais estreita, as inúmeras vidas são os inúmeros segmentos e realizações fragmentadas.
Quando ficamos muito racionais, sacrificamos muitas coisas, não conseguimos ouvir. O racional segue uma lógica, a lógica tem uma estrutura, a estrutura combina com outras estruturas.
Com a intuição, podemos ver todas as estruturas, sem que precisemos delas. Todas as estruturas da lógica estarão dentro de nós, sem usarmos a lógica.
Quando optamos pela lógica, temos que usar uma lógica. Uma lógica traz a outra e isso traz confusão, traz a não-concentração, a dispersão e a necessidade do alinhamento das idéias.
Por isso, Ele diz:
Matam muitas pessoas
Por essas, chora-se de tristeza
A guerra vencida é tratada como rito fúnebre.
................
A riqueza do Tao Te Ching está em sua leitura feita como se estivéssemos descascando uma cebola. Num primeiro momento, parece um aconselhamento comum sobre a vida cotidiana, sobre a vida política, sobre a maneira de governar, sobre como devemos nos comportar.
Porém, num nível mais profundo, o Tao Te Ching se mostra uma obra a entrar em dimensões mais e mais profundas, sem fim... e aí reside o seu valor. É um livro sintético, pequeno, com 5 mil palavras e toda a essência do Taoísmo está contida nele.
É um livro para ser lido e relido, e lido e vivido.
Vive-se o primeiro nível e depois o segundo nível e assim em diante, num caminho de integração que não tem fim. Por isso, é o Caminho da Infinitude. O Caminho da Infinitude é o Caminho da Imortalidade. O Taoísmo é o Caminho dos Imortais, o Caminho da Imortalidade.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 31
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 21 de fevereiro de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

O homem bom é determinado porém cauteloso Não utiliza a força para conquistar

TAO TE CHING - O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Capítulo 30
Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens
Não utiliza a arma e a força, sob o céu
Pois esta atividade beneficia o revide
Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas
Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo
Isto é, determinado porém sem se forçar
Coisas exuberantes dirigem-se à velhice
Isso se chama negar o Caminho
Negando o Caminho irá falecer cedo.
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Lao Tse está falando exatamente o oposto da cultura moderna que é construída em cima da fartura, da exuberância, da rapidez. As pessoas vivem a vida em excesso, de forma muito intensa, rapidamente: tudo o que cresce precocemente, termina precocemente. Isso é o que Ele chama de ‘falecer cedo’.
Se observarmos a lógica e a estrutura do texto, basicamente está se falando sobre a meditação.
Na meditação, temos que ter a consciência das coisas sem sermos prisioneiros das coisas. É sabermos entrar no mundo sem sermos prisioneiros dele. É sabermos sair do mundo sem nos afastarmos dele. Nos libertar do mundo, sem nos afastar dele.
Isso parece fácil, mas, na realidade, é muito difícil. Normalmente, ou entramos no mundo e nos sentimos prisioneiro dele ou nos libertamos do mundo nos afastando dele.
Ao colocar o desejo de libertação dos laços mundanos, o eremita rompe seus laços com o mundo, com a família, com os amigos e se esconde de tudo e de todos, na floresta.
E existem as pessoas - que nós estamos tentando ser -, que se encontram dentro do mundo e ao mesmo tempo sendo prisioneiros dos laços da amizade, do relacionamento afetivo, da família, do dinheiro, da estrutura social, dos conceitos, da educação e de tudo o que existe em torno.
E o que Lao Tse está falando?
Ele fala em se saber viver esse complexo chamado mundo sem ser prisioneiro dele. E ao mesmo tempo saber se libertar desse complexo chamado mundo sem se afastar dele.
Isso é o que Mestre Maa chama de ‘entrar e sair sem se manchar’.
Nós nascemos e entramos no mundo. Um dia iremos morrer e sairemos do mundo. Entramos na vida sem trazer nada e sairemos da vida sem levar nada.
Apenas que não é bem assim que vivemos. Nós já entramos na vida, no mundo, trazendo uma bagagem das infinitas vidas anteriores, nas nossas costas, como sementes kármicas. E um dia sairemos dessa vida, deixando tudo o que possuímos, levando apenas as sementes kármicas para a próxima viagem.
Assim, nós não entramos sem nada e não saímos sem nada.
E o que o Taoísmo propõe?
O Taoísmo propõe que um dia possamos ‘entrar e sair sem nos manchar’.
Esse ‘entrar e sair sem nos manchar’ nos permite viver a vida sem sermos prisioneiros da vida. nos permite nos libertar do mundo sem nos afastarmos dele.
Como fazer isto?
Desenvolvendo uma consciência sem apego.
Como começar? (já que é um estágio alto a ser alcançado)
Começando com a simples tomada de consciência, começando a ver as coisas e como elas podem ser simples. Julgando menos, interferindo menos, colocando uma quietude interior, uma calma interior mínima e necessária para podermos ver a vida como ela é. Nem sempre queremos ver a vida como ela é.
Essa primeira tomada de consciência - no sentido de vermos a vida como ela é e de ver a nós mesmos como realmente somos, nos aceitando e aceitando o mundo - essa aceitação simples não é um discurso manipulador de conformismo.
Essa simples aceitação é apenas um método didático para podermos dar o primeiro passo, ou seja, para ‘cairmos na real’.
No Taoísmo, o primeiro ensinamento é ‘cair na real’:
Quem sou eu? O que sou?
Sem críticas nem elogios. Apenas ver a vida e a nós mesmos com realismo. Sem criar falsas expectativas. Esse é o primeiro passo para uma visão mais clara da realidade. Num estágio mais avançado, mesmo uma visão mais clara da realidade pode ser percebida como nem sempre sendo a realidade... Mas no início se dá dessa maneira.
Como alcançar isso?
Através da quietude, tendo mais calma e mais silêncio interior para se poder possuir maior sobriedade dentro de nós, para encararmos a vida de forma simples.
Essa ‘sobriedade’ tem certa semelhança com uma espécie de ‘frieza’. Não é uma frieza pejorativa, não é como se fosse uma pessoa de sangue frio, que não se emociona com nada. Não é isso. essa aparente frieza é a calma que deve ser encontrada para se alcançar a visão simples das coisas.
Muitas vezes, em nossa vida, passamos por uma experiência de silêncio e de observação, parecendo que estamos ‘fóra’ do ambiente onde estamos, uma aula, uma festa. Olhamos as coisas acontecendo em torno de nós, sem nos envolver com elas. Essa sensação é muito semelhante com a quietude interior que faz com que nós simplesmente olhemos as coisas. No entanto, nossa vida é normalmente tão envolvida com tudo que não conseguimos viver com quietude. Daí a importância da meditação.
A prática da meditação é o exercício que faz com que nós - pelo menos por 10 a 15 minutos - fiquemos sem fazer nada. Nos sentamos no silêncio, sem pensarmos em nada - nem em coisas alegres, nem em coisas tristes. Apenas ficamos no silêncio para acostumarmos a ter esse silêncio dentro de nós. Com a prática, ficamos mais calmos, mais relaxados, nossa saúde física e psíquica melhora. E percebemos que esse silêncio se instala paralelamente ao nosso trabalho, às nossas conversas com as pessoas. E aprendemos a não perder tempo com as coisas, aprendemos a não compreender as coisas de uma maneira errada ou ilusória e aprendemos a não criar expectativas irreais. Com a visão mais clara, temos menos desgastes emocionais e geramos uma roda positiva de vida, sem ilusões.
Este Capítulo de Lao Tse fala do homem que, apesar de sua determinação, pode ser sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem se tornar excessivo.
É muito comum encontrarmos pessoas determinadas porém excessivamente insistentes, fanáticas, até.
No I Ching, existe um Hexagrama chamado O Ferimento da Luz. Esse Hexagrama fala do excesso de luz, fala daquela pessoa que é muito lúcida, muito consciente, que vê tudo. E isso é quase insuportável porque tudo em excesso, fere. Com a luz em excesso, a terra torna-se estéril. Com o excesso de chuva, a terra torna-se inundada. A vida vivida em excesso é consumida rapidamente.
A determinação pode, dessa maneira, gerar excessos. Excesso de convicção, de fé, pode ser transformado em fanatismo. E Lao Tse está nos avisando em relação a isso.
A determinação sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem excessos, significa termos a consciência das coisas sem sermos prisioneiros delas.
Voltando ao texto:
Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens
O senhor dos homens é o governante. Também é um termo que pode abranger, de uma maneira simbólica, todas as coisas. Nosso corpo é composto de inúmeros segmentos, incontáveis células. Se cada célula é como um ser, é como se fosse o povo pertencente a um país. O corpo é o território. Os órgãos e as vísceras, os ministérios e departamentos. E nossa consciência é o governante, o rei que governa esse reino.
O senhor dos homens é o governante. O governante é o rei. Rei é a Consciência. Teoricamente falando, o senhor dos homens é a consciência que governa cada ser.
Num sistema administrativo, o senhor dos homens é aquele que é capaz de tomar decisões que interferem na vida de todos.
Num sentido mais metafísico, o senhor dos homens é aquele que governa a vida de todos os homens. Quem governa a vida de todos os homens? A consciência. é a consciência que existe em cada ser, em cada pessoa. Essa consciência não é a consciência egóica, particular de cada um de nós, mas sim a consciência que está em toda a parte, aquela que nós chamamos de Consciência Universal.
Na consciência egóica, a minha consciência é diferente da sua. É a consciência da personalidade. É uma consciência que tem uma tendência para agir de uma maneira ou de outra maneira. É uma consciência aparentemente isolada das outras consciências.
A consciência universal é uma consciência mais sutil, que atua em todas as pessoas. A minha consciência universal e a consciência universal de qualquer outra pessoa é a mesma. É ao mesmo tempo individual e coletiva.
O senhor dos homens é essa consciência universal. Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens é aquele que utiliza o Tao - Caminho é Tao -, o Absoluto, para auxiliar a consciência de cada ser.
Essa pessoa Não utiliza a arma e a força, sob o céu. Não age através da força e da violência para atuar nas coisas do mundo. Não interfere na ordem natural das coisas.
Por que não se utiliza da arma e da força?
Pois esta atividade beneficia o revide
Os grandes conquistadores, depois de suas grandes conquistas, obtiveram grandes derrotas e destruição. Não existiram conquistadores que permaneceram em suas próprias vitórias, todos foram devorados pela própria força do retorno.
Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas
Na guerra, tudo é destruído, as pessoas morrem, sobram apenas ruínas.
Em relação à esta frase, também existe um fator histórico a ser conhecido. Antigamente, na China, o soldado do exército, em tempos de paz, era agricultor. O cavalo de guerra era o cavalo do arado. O soldado que precisasse de uma atividade física forte, trabalhava na enxada ao invés de ficar lutando com armas. É preferível se transformar soldados em camponeses do que camponeses em soldados. Em épocas de paz, existe a abundância de alimentos. Em épocas de guerra, quando os camponeses se tornam soldados, as plantações são perdidas ou destruídas.
Por isso, Ele diz:
Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas
Neste texto, Lao Tse nos fala basicamente da importância de se viver a vida através da consciência. e onde devemos nos inspirar para obtermos essa consciência?
Através do Tao.
E o que o Tao nos mostra? Nos mostra o conceito do Vazio, da receptividade e da naturalidade.
O que é o Caminho?
O Caminho é a estrada por onde podemos caminhar. E o caminho só existe se caminharmos nele. Se o fizermos. Nós fazemos o Caminho. Um caminho que não é caminhado, deixa de ser caminho. Um caminho que não é vivido, não é um caminho. O Taoísmo é uma Tradição essencialmente prática.
Seguimos o Taoísmo. Não se tem o Tao, não se tem o Caminho. Vivemos o Tao. Vivemos o Caminho. E o Caminho passa a existir quando O vivemos.
O Tao do Taoísmo tem 3 significados:
O Caminho
O Caminhante
O Ato de Caminhar
Se não existir o homem fazendo o Caminho caminhando, não há caminho, nem homem, nem o ato de caminhar. E não existiria o Tao.
A busca da Consciência é a busca do Espírito. Em chinês, o termo ‘espírito’ é o conceito da consciência.
O que é o Caminho espiritual?
O Caminho espiritual é o Caminho da Consciência.
O que é o Caminho da Consciência?
É a consciência vivida, caminhada. Dessa maneira, a Consciência passa a existir.
Por isso, Lao Tse diz: Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens - é aquele que segue e vive a Consciência em sua vida.
Não utiliza a arma e a força, sob o céu - ou seja, é aquele que não interfere na ordem natural das coisas, que sabe se integrar na ordem natural das coisas.
Na linguagem do I Ching, é a união do homem coma Terra e com o Céu.
Em outro Capítulo, Lao Tse diz:
O homem se orienta pela Terra
A Terra se orienta pelo Céu
O Céu se orienta pelo Tao
E o Tao se orienta por sua própria natureza
Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas - seguir o destino da vida através da Consciência significa cair na real, cometer menos erros, fazer um caminho mais iluminado e mais lúcido. Esse Caminho é o caminho da integração, da naturalidade, do respeito e da não-violência. A violência traz a própria destruição da vida.
Essa frase também fala do conceito que interferiu em várias das atividades do Taoísmo em relação às terapias corporais, à medicina chinesa e outros.
A medicina chinesa trabalha com o conceito de que a doença não é inimiga - embora possa ser nociva -, mas a doença faz parte da pessoa. Obviamente, a contenção é essencial e o equilíbrio é adotado como meio de resolver o problema. Quanto à alopatia, é uma forma de cura mais guerreira. O remédio é o guerreiro que combate, que luta, com a doença.
E Lao Tse continua:
Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
O termo ‘cauteloso’ é usado em referencia à não-utilização da arma e da força. Ele nos diz para que o uso da arma e da força seja cauteloso.
A determinação, saber o que se quer na vida, é bom. Mas é preciso ser cauteloso para que essa determinação não se torne algo agressivo que violente a nossa própria vida, destruindo o que está em torno de nós.
A determinação deve ser compreendida como ‘saber-se o que se quer’. O Taoísmo nos pede para que saibamos encontrar a prioridade da vida. sabendo a prioridade da vida, nós não ficamos tão perdidos. E chegamos ao final da vida com a consciência de que fizemos o que devíamos ter feito.
Essa prioridade é a determinação. E a determinação tem que ser vivida com cautela para que não se torne fanatismo ou radicalismo - que é a utilização da força.
Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo
Devemos procurar não ter orgulho e vaidades. Não tendo essas atitudes e tendo a determinação, naturalmente estaremos vivendo o Tao.
Inúmeros outros textos de Lao Tse dizem:
O Homem Sagrado realiza a obra, conclui a obra e se retira, sem precisar de reconhecimento.
Essa não-personalização é a marca do Taoísmo. Por isso o Taoísmo se chama Taoísmo e não Laoísmo (sendo Lao Tse o grande patriarca), e isso abre uma visão mais liberal da linhagem dos patriarcas: antes de Lao Tse existiram outros patriarcas como também depois dEle.
Isto é, determinado porém sem se forçar - sem forçar a ordem natural das coisas.
Coisas exuberantes - fóra da realidade - dirigem-se à velhice
Isso se chama negar o Caminho
Negar o Caminho é negar a fluidez natural, não respeitando o tempo natural das coisas, não sabendo viver a cada momento.
Vivendo a nostalgia do passado ou a ilusão do futuro, não se vive o presente.
Negando o Caminho irá falecer cedo.
Viver em excesso é viver fóra da realidade e isso acaba conduzindo à morte.
Respeitando-se a ordem natural das coisas, a cada segundo, a cada minuto, a cada hora, se faz o que deve ser feito.
Essa é a Consciência.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de LAO TSE,
POR WU JYH CHERNG
Transcrição de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 07 de fevereiro de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Ação-Não-Intencional - A Naturalidade

Ação-Não-Intencional
A Naturalidade
Wu Jyh Cherng
O homem vive dentro da integração do universo. Há acima de nós um Céu que pode ir até o infinito do universo e abaixo de nós existe uma Terra que pode ir até uma finitude. A Terra é finita. Nós vivemos entre o finito da Terra e o infinito do Céu. Apesar de vivermos entre essas duas coisas, a nossa presença é temporária. A vida do homem é bem menor do que a finitude da Terra e menos ainda pode ser comparada à infinitude do Céu.
Novamente surgem as questões: por que o Céu e a Terra duram e permanecem tanto?
E como poderemos nós nos igualarmos ao Céu e à Terra para que possamos ter a constância do Céu e a duração da Terra?
Dentro de nós existe a mesma potencialidade entre o Yang e o Yin tanto quanto existe no universo a integração do Yang com o Yin.
Lao Tse, respondendo a estas questões, diz:
O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.
O Céu e a Terra não criam nada para si. A razão do Céu e da Terra serem duráveis e constantes é que a força primordial que os move, que mobiliza ambos, não é a força do próprio Céu nem da própria Terra e sim a força do Grande Tao. Céu e Terra são movidos pelo Tao. O Tao está em todas as partes, é o princípio de tudo, está presente em todas as coisas. É essa força do Tao, como o Absoluto, que move o Céu e a Terra.
A diferença entre o ser humano e o Céu e a Terra é que o Céu e a Terra trazem dentro de si uma coisa chamada ‘naturalidade’. No Céu e na Terra todas as coisas acontecem dentro de uma naturalidade: o Céu e a Terra não pensam, não premeditam. Eles emanam consciência, emanam força energética, produzem movimentos físicos de uma maneira natural enquanto o ser humano já perdeu, em sua grande parte, essa naturalidade. Nós agimos com demasiada intenção. Sempre tentamos produzir com nossa própria mente, questionar com nosso próprio julgamento, com nossas próprias idéias, ignorando a integridade do universo. Vivemos a nossa vida consumindo a nossa própria energia e nossa própria força enquanto esquecemos que existe uma energia cósmica que poderia estar nos conduzindo em vez de nós estarmos conduzindo a nossa vida com a nossa própria força. Precisamos aprender a permitir que a força cósmica conduza nossa vida.
A natureza em consciência sem ego, energia sem ego, movimento físico sem ego. Você já imaginou se o sol tivesse um ego tão forte quanto o nosso? Também a Terra não tem ego. A Terra não pode decidir deixar de girar, por exemplo. Bem como o sol, não pode recusar doar sua luz aos planetas. Tudo acontece naturalmente, sem intenção.
No caso do homem, ele usa sua intenção para conduzir os eventos: o ser humano complica a sua vida ao ponto de perder a própria naturalidade. Essa perda da naturalidade faz com que as nossas vidas não tenham mais constância e duração: que não sejam constantes e duradouras, como o Céu e a Terra.
Os mestres iluminados ou ascensionados são exatamente aquelas pessoas que conseguiram de alguma maneira recuperar essa constância e essa duração. Dependendo do grau de recuperação dessa naturalidade e integração entre o Céu e a Terra, eles se tornam ascensionados de um nível mais alto, mais amplo e profundo, ou menos alto, menos amplo e menos profundo.
A continuar permanecendo como estamos, nos tornamos sempre os mesmos: vivendo, morrendo, vivendo, morrendo. E ainda podemos piorar mais ainda essa condição, migrando para níveis inferiores.
O Taoísmo busca, portanto, essa recuperação dessa integração da naturalidade. O primeiro passo dessa jornada é a não-intenção. Não-intenção não deve ser entendida como não fazer nada. Quando o Taoísmo fala do famoso conceito da não-ação, deve ser entendido como ação-não-intencional. Uma ação que seja, pelo menos, menos intencional. Não se deixa de fazer as coisas. O que deve ser feito será feito, apenas que feito de uma maneira mais natural, de uma maneira mais espontânea, menos premeditada e menos engenhosa, com menos ego. Isso não significa que renunciaremos a nossa capacidade mental, racional, intelectual, física e energética. Não. Temos plena consciência das cosias apenas que usufruímos delas de uma maneira mais natural, mais espontânea, mais suave. Isso é chamado de ação-não-intencional. As pessoas não perdem o pensamento, a capacidade de pensar, de sentir, de sensibilizar-se, porém não são prisioneiras da sensibilidade, do pensamento, de quaisquer capacidades.
Capítulo 7
O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança.
Além do corpo, o Corpo permanece.
Através do não-corpo, conclui o Corpo.
..................................................
FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 19 de julho de 1994, sobre o Capítulo 7 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
Ação Não-Intencional - A Naturalidade
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Não-Ação e Não-Palavra Wu Wei e Wu Yen

Não-Ação e Não-Palavra
Wu Wei e Wu Yen
Wu Jyh Cherng
O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o ensinamento através da não-palavra
Não-ação e não-palavra são dois conceitos específicos do Taoísmo.
Não-ação é o famoso conceito do Wu Wei e a não-palavra é Wu Yen.
Na verdade, temos que entender não-palavra como palavra-não-intencional, a que não tem intenção, pronunciada sem intenção e não pronunciada com intenção.
Wu Wei é a ação-não-intencional. Fazer as coisas simplesmente, e não fazer as coisas através de uma intenção. No entanto, não devemos confundir a não-ação com não-fazer-nada. Constantemente, os mestres taoístas nos alertam sobre isso, sobre esse conceito que poder ser bastante distorcido.
Wu Wei significa fazer as coisas naturalmente, fazer o que tiver que ser feito, não deixar de agir, não acrescentar desnecessários afazeres e não fugir do que deve ser feito. Não reduzir nem acrescentar, simplesmente fazer o que é natural.
Tudo na natureza é natural. O sol é natural, a lua é natural, o mundo é natural, a árvore, calor, frio. O sol nasce sempre dentro de seus ciclos cósmicos bem como a lua. Por que então o ser humano teria que fazer alguma coisa que não esteja de acordo com a natureza? A natureza age naturalmente, ela tem sua própria e natural ordem.
Por isso, Lao Tse, em outro Capítulo, diz:
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
E o Caminho se orienta por sua própria natureza
Assim, o homem deveria recuperar a sua naturalidade integrando-a com tudo o que está na terra. E fazendo parte de tudo o que está na terra, ele se integra com tudo o que está no céu, ou seja, no cosmos.
Como tudo no cosmos é o fruto do Tao, é a parte manifestada do Tao, então o homem deve se integrar com a parte invisível que esse todo abrange.
A partir desse momento, tudo se torna o Tao e, dentro dessa grande condição, todas as coisas acontecem dentro de uma naturalidade e se cria uma ordem que não é uma norma e sim a ordem natural das coisas.
O Taoísmo enfatiza a ordem natural das coisas. Valorizar a ordem natural das coisas é deixar as coisas fluírem. Deixar as coisas fluírem significa viver cada coisa e cada instante de nossa vida, de nosso destino, de forma natural.
Não fugindo das coisas - o que seria uma má interpretação; não vivendo a vida modificando-a intencionalmente - o que seria contrariar a naturalidade.
Esse é o simbolismo do caminho das águas: ela nasce no alto da montanha, vai descendo a serra, sempre correndo pelos caminhos mais apropriados, simplesmente correndo, e fluindo até encontrar o oceano. No oceano, ela evapora e sobe ao céu onde se transforma em nuvem. Então chove, a chuva entra na terra, forma a fonte e assim vai, infinitamente transformando..
O grande ensinamento do I Ching nos fala da infinita transformação das coisas. Todas as coisas estão constantemente em transformação. A nossa impressão fotográfica não existe. A imagem não pode ser mantida estática.
O apego às coisas faz o homem morrer e essa morte acontece a cada instante. Todas as vezes que nos apegamos a alguma coisa, estamos morrendo um pouco. Os apegos traumatizam nossa consciência e prejudicam nosso corpo. Dessa maneira, o homem morre a cada instante, morre em sua consciência, morre em seu corpo.
A partir do momento em que o ser humano consegue viver a infinitude da transformação, ele não se apega mais à forma. Se pensarmos que o universo em um princípio e terá um fim, estaremos nos condicionando dentro de um universo ilusório.
O universo é como uma grande corrente - um elo encadeando no outro - e portanto, é o próprio infinito. O infinito é a própria vida. A partir do momento em que nos tornamos a infinita transformação, não teremos a morte. Teremos, sim, a Plenitude da Consciência e a Plenitude da Vida.
E quando a Vida e a Consciência infinitas forem um único ponto, um único elemento, o homem passa a ser chamado de Imortal.
Os grandes mestres taoístas ascensionados da antigüidade são chamados de Imortais. Assim como o Buda é chamado de O Desperto. O simbolismo não é muito diferente. Existem as interferências culturais e também o propósito e a linguagem são um pouco diferentes.
Capítulo 2
Quando os seres sob o céu reconhecem o belo como belo
Então isso já se tornou um mal
E reconhecendo o bem como bem
Então, já não seria um bem
A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o fácil completam-se um ao outro
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se um ao outro
Portanto,
O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o ensinamento através da não-palavra
Os dez mil seres fazem-se mas não para se realizar
Iniciam a realização mas não a possuem
Concluem a obra sem se apegar
E, justamente por realizar sem apego
Não passam.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em maio de 1994, sobre o Capítulo 2 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward
O Título deste texto
Não-Ação e Não-Palavra - Wu Wei e Wu Yen
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A foto é de Janine e retrata o Ashram do Sítio das Estrelas.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching