Constância, Duração, Não-Mutação e Eterna Mutação





Constância, Duração, Não-Mutação e Eterna Mutação

Janine Milward

Além da plenitude da interiorização, dentro do Mundo da Não-Manifestação existe apenas constância, ou seja, apenas o Tao é verdadeiramente constante, imutável. A única não mutabilidade é o próprio Tao em sua constância.
Dentro do Mundo da Manifestação existe constante mutação. A única não mutabilidade é a própria eterna mutação. E a mutação pressupõe a duração, não a constância.
“A duração tem um princípio e tem um fim - mesmo que seu tempo possa ser muito longo.... A constância não tem princípio e não tem fim. A duração cabe dentro da constância. A constância é o Yang do Céu enquanto a duração é o Yin da Terra” - assim aprendi nas Aulas ministradas por Wu Jyh Cherng.
E certamente, também Lao Tsé nos aponta a lei única de interação entre os dois mundos: a eterna mutação e a constância.
No Capítulo 7 do Tao Te Ching, Lao Tsé nos fala mais claramente ainda sobre a constância e a duração:
O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
e o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo.
Dentro do ato da Eterna Mutação do Mundo da Manifestação, existe a constância do céu e existe a duração da terra. E ambos fazem a eterna mutação acontecer através do fato de que ‘não criam para si’.
O Mundo da Não-Manifestação, em sua plenitude de interiorização e constância, é então espelhado pelo Mundo da Manifestação, em sua duração e exterioridade – mesmo que sempre cabendo dentro da interioridade absoluta do Mundo da Não-Manifestação.
O Tudo, o Todo e o Nada: A Criação, cabem dentro do Mundo da Não-Manifestação e são realizados através do Mundo da Manifestação.
COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas

Interioridade e Exterioridade


Interioridade e Exterioridade

Janine Milward

Dentro do Mundo da Não-Manifestação existe apenas interioridade. O Tudo e o Todo e o Nada estão contidos dentro do Mundo da Não-Manifestação.

A Criação do Mundo da Manifestação advém da plenitude da interioridade do Mundo da Não-Manifestação. No entanto, sempre o Mundo da Não-Manifestação permanece absolutamente interiorizado.... porque toda a Criação está contida dentro dele, bem como o próprio Mundo da Manifestação.

Assim, o Mundo da Não-Manifestação possui apenas plena interiorização..... enquanto o Mundo da Manifestação, por estar contido dentro do Mundo da Não-Manifestação, possui exterioridade ao mesmo tempo que interioridade, certamente. E por possuir este duplo aspecto, está em constante estado de mutação: ora a Criação faz face à sua exteriorização, ora à sua interiorização.

Somente o Tao é plenamente interiorizado.
.....................

Eu penso que um dos conceitos mais difíceis a serem apreendidos realmente é este de que somente o Tao é plenamente interiorizado.

Penso que podemos compreender esta questão de maneira racional, lógica, certamente, ou seja, o Mundo da Não-Manifestação possui apenas plena interiorização..... enquanto o Mundo da Manifestação, por estar contido dentro do Mundo da Não-Manifestação, possui exterioridade ao mesmo tempo que interioridade. E por possuir este duplo aspecto, está em constante estado de mutação: ora a Criação faz face à sua exteriorização, ora à sua interiorização.

. No entanto, penso que a verdadeira compreensão desta questão somente poderá vir a acontecer através nosso Caminhar através nosso Caminho em quase toda sua plenitude, ou seja, nos levando a alcançarmos nosso momento de Iluminação já voltada para o cultivo do longo Caminho da Liberação ou Imortalidade.

A interiorização plena que somente acontece ao Tao, ao Mundo da Não-Manifestação, poderá ser mais bem compreendida por nós quando estivermos diante do verdadeiro Vazio, a plenitude de todo longo trajeto da prática espiritual ao longo de tantas e tantas encarnações; quando estivermos diante da Verdade, quando estivermos efetivamente nos fusionando ao Tao.

Talvez ainda dentro do Mundo da Manifestação possamos ter uma idéia sobre o que significa a plenitude da interiorização através nosso sono profundo.... Porém, mesmo assim, estaremos vivenciando outras dimensões ainda pertencentes ao Mundo da Manifestação....

Talvez, quando estivermos diante do Portal que fronteiriça os Mundos da Manifestação e da Não-Manifestação..., possamos compreender melhor o que significa a absoluta interiorização do Tao e do Mundo da Não-Manifestação e todo o recolhimento em si do Mundo da Manifestação.

A absoluta interiorização não pode ser mensurada ou traduzida ou comentada por alguma forma de linguagem pelo fato de estar além de qualquer possível linguagem.
COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas, Janine

O Vazio e o Céu Anterior - O Céu Posterior e a Criação - Constância e Duração



O Vazio e o Céu Anterior
O Céu Posterior e a Criação
Constância e Duração

Janine Milward

Lao Tsé, ao tentar nos elucidar sobre o Tao, o Caminho, nomeia-o de Vazio – querendo significar, a meu ver, que sobre o Tao, o Caminho, não se fala, não se tem como falar... No entanto, o Mestre deixa claro que este Vazio está eternamente pleno de toda a Criação.

E nos revela as formas simples – o Te, a Virtude - que podem ser usadas por esta mesma Criação – nós, os seres que usam suas mentes – para alcançar este Vazio.

Alcançar este Vazio, o Tao, o Caminho, significa, então, compreendermos que somos e podemos retornar a nos tornamos tão límpidos e puros quanto este Vazio (nomeado agora por Lao Tsé de existência eterna) ao mesmo tempo que nos isenta de qualquer identificação ou filiação... não sei de quem sou filho. Alcançar este Vazio, o Tao, o Caminho, significa compreendermos que o Tao, o Caminho, o Vazio, está muito além da Criação - quando Lao Tsé nos esclarece que fazemos parte de algo, o Tao, o Vazio, o Caminho, que é o Criador do criador... (este, o criador, denominado por Lao Tse de Rei Celeste).

Sendo assim, parece-me que restam-nos a compreensão de que, por um lado, existe algo que podemos chamar de Tao, o Caminho, o Vazio – mesmo que nada mais possamos falar sobre isso... - e, por outro lado, existe algo que podemos chamar de Criação e que a esta Criação pertencemos... Mesmo que esta Criação acabe, em última instância, compreendendo que é anterior ao seu Criador e mais ainda, que o próprio Criador advém do Tao, o Caminho, o Vazio – sobre o qual não se fala (porque não se tem como falar), não existe linguagem que possa falar sobre o Tao.

O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas
- assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 1.

Poderíamos, então, pensar em dois mundos que abarcassem não somente o Vazio e a Criação como também a própria dicotomia do fato da Criação ser ainda anterior ao próprio Criador, o Rei Celeste, Deus... Assim, podemos nomear o Céu Anterior e o Céu Posterior, o Mundo Não-Manifestado e o Mundo Manifestado.

O Céu Anterior pode ser compreendido também como uma manifestação do Tao, do Caminho, do Vazio.... porque sobre o Mundo da Não-Manifestação também não se fala, apenas se sente, se pressente... Certamente, podemos nos referir a ele como sutil, inefável, de existência eterna, o berço de todos os berços, o Princípio Primordial de onde tudo parte e para onde tudo retorna, a Fonte Original, o Absoluto, o Supremo Uno, o Uno, a Consciência Suprema.... Enquanto estivermos usando a linguagem para falarmos sobre o Mundo da Não-Manifestação, estaremos ainda o posicionando no Portal, na fronteira entre os dois Mundos...

E mais: ao começo de tudo e ao final de tudo, compreendemos que sempre há um antes do começo e um depois do final.... e que apenas existe – se é que podemos usar o verbo existir – o Mundo da Não-Manifestação... mesmo que o Tao, o Caminho, o Vazio, ainda esteja para além do Mundo da Não-Manifestação...

O Mundo da Manifestação, o Céu Posterior, é certamente também uma manifestação do Tao, o Caminho, o Vazio... porém sobre este Mundo podemos falar e podemos nos referir a ele sempre em termos cíclicos e em constante mutação: como sutil, como materializado, como sutil novamente, num ciclo incessante, sempre mutante, sendo sua existência manifestada em multiplicidade de existências duradouras, sempre em constante mutação em seus ciclos.... é a Criação. O Mundo da Manifestação possui forma - seja através de que maneira esta forma se manifesta.... - e existe a linguagem que abarque toda esta forma, ou seja, a forma está sempre permeada pela linguagem.

A Criação e toda a vida pertencente à Criação faz parte da duração. Tudo isso é o Mundo da Manifestação. No entanto, a constância da Vida já é algo pertencente ao Mundo da Não-Manifestação. A Vida possui constância e esta constância é sempre manifestada através a duração das vidas que têm seus começos, seus meios e seus finais.... para novamente acontecerem, no Mundo da Manifestação, enquanto novas vidas realizadas a partir da Vida constante advinda do Mundo da Não-Manifestação.

A Vida é constante e manifesta-se através da duração de cada vida.

Talvez, para exemplificarmos de uma maneira mais simples, podemos denominar o Céu enquanto constante e a Terra enquanto duradoura - tendo em mente que o Céu estaria representando o Mundo da Não-Manifestação e a Terra, o Mundo da Manifestação. O Céu traz o conceito da ilimitação, da infinitude, da não-forma, da inefabilidade..., enquanto a Terra traz o conceito da limitação, da forma finita, da materialização.

No Capítulo 7 do Tao Te Ching, Lao Tsé nos fala mais claramente ainda sobre a constância e a duração:
O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros

Dentro do ato da Eterna Mutação do Mundo da Manifestação, existe a constância do céu e existe a duração da terra. E ambos fazem a eterna mutação acontecer através do fato de que ‘não criam para si’, ou seja, atuam enquanto suas próprias naturezas junto ao Tao, agem o Wei Wu Wei, a não-ação, a ação sem intenção - uma das Virtudes, Te, que devem nortear o Caminhante.

Em seu Capítulo 2, ao começo da segunda estrofe, Lao Tse nos diz:
A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
Quando Lao Tse diz: "A existência e a inexistência geram-se uma pela outra", ele já está nos levando a adotarmos, a assumirmos a compreensão ditada pela impermanência de tudo no universo: a eterna mutação é a única não-mutação possível dentro do Tao da natureza.

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Lao Tsé, o Mestre do Tao, em seu Capítulo 1 do Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, continua a nos revelar sobre a impossibilidade de se nomear ou falar sobre o Tao e nos elucida sobre o Céu Anterior e o Céu Posterior, o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação:
O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe das dez mil coisas

Primeiramente, Lao Tsé nos afirma e reafirma todo o tempo que não existe linguagem possível que possa alcançar a verdadeira essência do Tao, ou seja, o verdadeiro Tao está além de qualquer linguagem, bem como além de qualquer possibilidade de manifestação tanto do consciente quanto do inconsciente. Nada pode denominar correta e certeiramente o que é o Tao.

Sendo o Tao a única possível constância do Todo e do Tudo, a única possível realidade que é imutável, Lao Tsé a Ele se refere como impossível de se referenciar. Quando algo semelhante ao Tao é referenciado, já não é o Tao verdadeiro, é apenas algo que se pode referenciar como Tao, como O Caminho.

O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante

Não podendo ser referenciado de nenhuma forma, do Tao parte o princípio criador e formador de todas as coisas. Esse princípio, primordialmente, ainda é a não-vida, a não-existência, a não-forma, a não-realidade - que dá berço à vida, à existência, à forma, à realidade. Esse é o Wu Chi, o Mundo da Não-Manifestação, onde o Tudo e o Todo - o céu e a terra - são gestados ainda dentro do Ventre do Tao.

Sem-Nome é o princípio do céu e da terra

Sem-Nome, então, é o Wu Chi, O Mundo da Não-Manifestação que dá criação ao Tudo e ao Todo, o Mundo da Manifestação, Tai Chi.

O Mundo da Manifestação, Tai Chi, inclui o Tudo e o Todo advindos do Mundo da Não-Manifestação...

No entanto, o Tudo faz ainda parte da idéia de totalidade advinda do Tao do Mundo da Não-Manifestação. O Todo faz parte da idéia da totalidade advinda do Tao do Mundo da Manifestação. O Tudo ainda é indefinível enquanto o Todo já pode ser definido e identificado. Assim, O Todo adquire um nome.

Com-Nome é a mãe das dez mil coisas

Dessa maneira, na primeira estrofe do Capítulo 1 Lao Tsé nos apresenta o Tao e a total impossibilidade de se falar sobre Ele em sua essência. Quando alguma linguagem passa a se referir sobre o Tao, então, já não é mais o Tao essencial e sim uma representação do Tao expresso através de alguma forma ou linguagem.

Também nessa primeira estrofe, Lao Tsé nos introduz à estrutura da formação do Tudo e do Todo do qual somos parte: o Wu Chi, O Céu Anterior, o Mundo da Não-Manifestação, e o Tai Chi, O Céu Posterior, o Mundo da Manifestação - conceitos fundamentais e estruturais de compreensão da verdadeira natureza do céu e da terra.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
PHOTO: Sítio das Estrelas, Janine

Capítulo 4 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude (na tradução de Wu Jyh Cherng) O Caminho é o Vazio E seu uso jamais o esgota É imensuravelmente profundo e amplo, como a raiz dos dez mil seres Cegando o corte Desatando o nó Harmonizando-se à luz Igualando-se à poeira Límpido como a existência eterna Não sei de quem sou filho Venho de antes do Rei Celeste Interpretação de Janine Milward O Caminho é o Vazio O Caminho é o Tao. Sobre o Tao não se fala, não se tem palavras para se referir ao Tao porque o Tao está além de todas as palavras, além do além. Tudo aquilo ao qual pode ser referido faz parte do Mundo da Manifestação, o Tai Chi. O Mundo da Manifestação é criado, é um espelho que espelha e re-cria tudo aquilo que repousa no inefável, no sutil, que ainda poderemos nos referir como o Mundo da Não-Manifestação, o Wu Chi. No entanto, até o Mundo da Não-Manifestação - que é da classe do Absoluto - é criado a partir do Tao. Sendo assim, o Tao ainda está além, para muito mais além do Mundo da Não-Manifestação. O Tao pode ser alcançado através do ato do Caminhante Caminhar seu Caminho rumo ao seu Tao. Esse Caminho pode ser chamado de Vazio, de entrar no Vazio. É somente através do Vazio Absoluto que o Caminhante consegue Caminhar seu Caminho e alcançar seu Tao. Esse Vazio é anterior ao Tudo - que é o Mundo da Não-Manifestação simbolizado pela gravidez sutil de tudo aquilo que faz nascer e criar o Mundo da Não-Manifestação, que é o Todo. Assim, o Vazio é anterior ao Tudo e ao Todo, ao Mundo da Não-Manifestação e ao Mundo da Manifestação. Por isso, Lao Tse, no Capítulo 4 - que é um dos Capítulos que mais intimamente nos falam do Tao -, nos diz que O Caminho (O Tao) é o Vazio. Sabedor de que não é possível se nomear o Tao mesmo quando o simboliza como o Vazio, Lao Tse continua: e seu uso jamais o esgota Esse Vazio significa a Absoluta Ausência do Tudo, do Tudo e mais ainda, do próprio Vazio. No entanto, o Vazio não é o Nada pois que no Nada encontram-se o Tudo e o Todo e também encontra-se o Vazio, ou a nomeação mais próxima do Tao - que ainda se encontra para além, muito além, de qualquer nomeação. O uso desse Vazio jamais o esgota porque o Tao é inesgotável ou mesmo além da possibilidade de ser esgotável ou inesgotável - desde que é o Tao anterior à própria Criação do Nada, do Tudo e do Todo, anterior até ao próprio Vazio, que é o que mais próximo se lhe assemelha. E Lao Tse, ainda querendo dizer mais sobre o Vazio, continua: É imensuravelmente profundo e amplo, como a raiz dos dez mil seres Os "dez mil seres" simbolizam a Criação e a raiz dessa Criação é oriunda do Vazio - que "é imensuravelmente profundo e amplo". Novamente, nesses versos, nos é dito que o Vazio é imensurável, ratificando o fato de seu uso jamais o esgotar. Assim, quando o Caminhante se coloca em seu Caminho rumo ao seu Tao - e o encontra - torna-se o Homem Sagrado, aquele que se fusiona com a raiz da Criação e a imensurabilidade e o inesgotamento do Vazio que é a nomeação mais próxima do Tao, do Caminho Na segunda estrofe, Lao Tse nos fala sobre o Te, A Virtude. A Virtude é a maneira pela qual o Caminhante deve Caminhar seu Caminho rumo ao seu Tao, O Caminho. A Virtude é também o Caminho em sua forma do Mundo da Manifestação. Assim, dentro da Tríplice Transparência ou Sagrada Tríade - O Tao em si, Os Tesouros do Espírito (O Conhecimento) e O Mestre (o Homem-Sagrado que realiza em si O Conhecimento e O Tao) -, A Virtude representa a raiz do Mundo da Manifestação e o Vazio representa a raiz do Mundo da Não-Manifestação e ambos apontam para a ponte que leva ao Tao, O Caminho. Cegando o corte Desatando o nó Harmonizando-se à luz Igualando-se à poeira Dessa forma, Lao Tse nos diz para acalmarmos nossa mente e buscarmos a expansão da consciência a fim de a tornamos iluminada e infinita - esse é o Caminho da Iluminação, exemplificado através dos versos: Cegando o corte Desatando o nó Alcançando o Homem Sagrado ou Caminhante o Tao da Iluminação, o patamar da consciência iluminada e infinita, é preciso então que se dedique (em sua Alquimia do Caldeirão de seu corpo físico e de seu corpo espiritual ou corpo de luz) a se harmonizar com sua Luz.... e para tanto, entrando no Vazio. Por isso, Lao Tse nos diz: Harmonizando-se à luz Igualando-se à poeira Na terceira estrofe, Lao Tse nos revela como nos harmonizarmos com a Luz do Tao e entrarmos no Vazio: a consciência de que somos nós mesmos o Tao e assim sendo, é preciso que ao Tao retornemos, nos fusionemos. Esta é a Alquimia do Caldeirão, ou seja, o Caminhante torna-se Homem Sagrado a partir do Tao da Iluminação e trabalha seu corpo físico já com a plenitude e infinitude de sua consciência iluminada e transforma, transmuta, esse corpo físico em Corpo de Luz, alcançando então, o Tao da Imortalidade ou Liberação - vida e consciência iluminadas e infinitas. Límpido como a existência eterna não sei de quem sou filho Venho de antes do Rei Celeste Ao tornar-se Homem Sagrado, Lao Tse pôde nos contar sobre o Mistério dos Mistérios, ou seja, que o Tao é anterior à própria Criação. O Tao é impessoal e Absoluto. Dessa forma, o Homem Sagrado, ao se fusionar ao Tao, descobre sua impessoalidade e infinitude: Límpido como a existência eterna não sei de quem sou filho Fundamentalmente, mais que se descobrir anterior à própria Criação, o Homem Sagrado descobre que ele mesmo, fusionado ao Tao, ao Caminho, é anterior ao próprio suposto Criador, que Lao Tse neste Capítulo, nomeia de Rei Celeste. não sei de quem sou filho Venho de antes do Rei Celeste "Rei" é a Consciência iluminada e celestial, a Suprema Consciência, Deus-Onipotente, O Criador que com sua Consciência cria a Criação, espelho de sua Consciência Suprema. Sendo assim, o Homem Sagrado é aquele que alcança, se fusiona com a Consciência Suprema, com o Rei Celeste, e finalmente diante do Vazio do Tao, compreende o Tao além de qualquer compreensão, além de qualquer palavra, além do além. Porque sobre o Tao não se fala, apenas nos deixamos preencher pelo Tao. Dessa maneira, o Homem Sagrado, dentro da infinitude e impessoalidade do Tao, compreende que "Não sei de quem sou filho, Venho de antes do Rei Celeste". Essa é a Iluminação. Esse é o Caminho. E "O Caminho é o Vazio". .............. O Tao Te Ching, o Tratado do Caminho e da Virtude, é uma obra extremamente concisa e que, no entanto, "é imensuravelmente profunda e ampla, como a raiz dos dez mil seres". A meu ver, o Capítulo 4 é um dos que mais expressa O Tao e O Te em sua concisão e em sua amplitude. E seus primeiro e último versos expressam a estrutura fundamental da apreensão do Tao diante de todas as outras apreensões espirituais e religiosas que conheço: O Caminho é o Vazio ............. Venho de antes do Rei Celeste COM UM ABRAÇO ESTRELADO, Janine Milward Foto: Sítio das Estrelas, Janine ........................... TAO TE CHING O Livro do Caminho e da Virtude Lao Tse, o Mestre do Tao Capítulo 4 Interpretação de Janine Milward A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, do chinês para o português e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo. Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil, encontra-se a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching Foto de Caminhos Espirituais.



Capítulo 4 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude
(na tradução de Wu Jyh Cherng)

O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota
É imensuravelmente profundo e amplo, como a raiz dos dez mil seres
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Límpido como a existência eterna
Não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste


Interpretação de
Janine Milward

O Caminho é o Vazio
O Caminho é o Tao. Sobre o Tao não se fala, não se tem palavras para se referir ao Tao porque o Tao está além de todas as palavras, além do além. Tudo aquilo ao qual pode ser referido faz parte do Mundo da Manifestação, o Tai Chi. O Mundo da Manifestação é criado, é um espelho que espelha e re-cria tudo aquilo que repousa no inefável, no sutil, que ainda poderemos nos referir como o Mundo da Não-Manifestação, o Wu Chi. No entanto, até o Mundo da Não-Manifestação - que é da classe do Absoluto - é criado a partir do Tao. Sendo assim, o Tao ainda está além, para muito mais além do Mundo da Não-Manifestação.

O Tao pode ser alcançado através do ato do Caminhante Caminhar seu Caminho rumo ao seu Tao. Esse Caminho pode ser chamado de Vazio, de entrar no Vazio. É somente através do Vazio Absoluto que o Caminhante consegue Caminhar seu Caminho e alcançar seu Tao. Esse Vazio é anterior ao Tudo - que é o Mundo da Não-Manifestação simbolizado pela gravidez sutil de tudo aquilo que faz nascer e criar o Mundo da Não-Manifestação, que é o Todo. Assim, o Vazio é anterior ao Tudo e ao Todo, ao Mundo da Não-Manifestação e ao Mundo da Manifestação. Por isso, Lao Tse, no Capítulo 4 - que é um dos Capítulos que mais intimamente nos falam do Tao -, nos diz que O Caminho (O Tao) é o Vazio.

Sabedor de que não é possível se nomear o Tao mesmo quando o simboliza como o Vazio, Lao Tse continua:
e seu uso jamais o esgota

Esse Vazio significa a Absoluta Ausência do Tudo, do Tudo e mais ainda, do próprio Vazio. No entanto, o Vazio não é o Nada pois que no Nada encontram-se o Tudo e o Todo e também encontra-se o Vazio, ou a nomeação mais próxima do Tao - que ainda se encontra para além, muito além, de qualquer nomeação.

O uso desse Vazio jamais o esgota porque o Tao é inesgotável ou mesmo além da possibilidade de ser esgotável ou inesgotável - desde que é o Tao anterior à própria Criação do Nada, do Tudo e do Todo, anterior até ao próprio Vazio, que é o que mais próximo se lhe assemelha.

E Lao Tse, ainda querendo dizer mais sobre o Vazio, continua:
É imensuravelmente profundo e amplo,
como a raiz dos dez mil seres

Os "dez mil seres" simbolizam a Criação e a raiz dessa Criação é oriunda do Vazio - que "é imensuravelmente profundo e amplo". Novamente, nesses versos, nos é dito que o Vazio é imensurável, ratificando o fato de seu uso jamais o esgotar.

Assim, quando o Caminhante se coloca em seu Caminho rumo ao seu Tao - e o encontra - torna-se o Homem Sagrado, aquele que se fusiona com a raiz da Criação e a imensurabilidade e o inesgotamento do Vazio que é a nomeação mais próxima do Tao, do Caminho

Na segunda estrofe, Lao Tse nos fala sobre o Te, A Virtude. A Virtude é a maneira pela qual o Caminhante deve Caminhar seu Caminho rumo ao seu Tao, O Caminho. A Virtude é também o Caminho em sua forma do Mundo da Manifestação. Assim, dentro da Tríplice Transparência ou Sagrada Tríade - O Tao em si, Os Tesouros do Espírito (O Conhecimento) e O Mestre (o Homem-Sagrado que realiza em si O Conhecimento e O Tao) -, A Virtude representa a raiz do Mundo da Manifestação e o Vazio representa a raiz do Mundo da Não-Manifestação e ambos apontam para a ponte que leva ao Tao, O Caminho.
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira

Dessa forma, Lao Tse nos diz para acalmarmos nossa mente e buscarmos a expansão da consciência a fim de a tornamos iluminada e infinita - esse é o Caminho da Iluminação, exemplificado através dos versos:
Cegando o corte
Desatando o nó

Alcançando o Homem Sagrado ou Caminhante o Tao da Iluminação, o patamar da consciência iluminada e infinita, é preciso então que se dedique (em sua Alquimia do Caldeirão de seu corpo físico e de seu corpo espiritual ou corpo de luz) a se harmonizar com sua Luz.... e para tanto, entrando no Vazio. Por isso, Lao Tse nos diz:
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira

Na terceira estrofe, Lao Tse nos revela como nos harmonizarmos com a Luz do Tao e entrarmos no Vazio: a consciência de que somos nós mesmos o Tao e assim sendo, é preciso que ao Tao retornemos, nos fusionemos. Esta é a Alquimia do Caldeirão, ou seja, o Caminhante torna-se Homem Sagrado a partir do Tao da Iluminação e trabalha seu corpo físico já com a plenitude e infinitude de sua consciência iluminada e transforma, transmuta, esse corpo físico em Corpo de Luz, alcançando então, o Tao da Imortalidade ou Liberação - vida e consciência iluminadas e infinitas.
Límpido como a existência eterna
não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste

Ao tornar-se Homem Sagrado, Lao Tse pôde nos contar sobre o Mistério dos Mistérios, ou seja, que o Tao é anterior à própria Criação. O Tao é impessoal e Absoluto. Dessa forma, o Homem Sagrado, ao se fusionar ao Tao, descobre sua impessoalidade e infinitude:
Límpido como a existência eterna
não sei de quem sou filho

Fundamentalmente, mais que se descobrir anterior à própria Criação, o Homem Sagrado descobre que ele mesmo, fusionado ao Tao, ao Caminho, é anterior ao próprio suposto Criador, que Lao Tse neste Capítulo, nomeia de Rei Celeste.
não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste

"Rei" é a Consciência iluminada e celestial, a Suprema Consciência, Deus-Onipotente, O Criador que com sua Consciência cria a Criação, espelho de sua Consciência Suprema. Sendo assim, o Homem Sagrado é aquele que alcança, se fusiona com a Consciência Suprema, com o Rei Celeste, e finalmente diante do Vazio do Tao, compreende o Tao além de qualquer compreensão, além de qualquer palavra, além do além. Porque sobre o Tao não se fala, apenas nos deixamos preencher pelo Tao.

Dessa maneira, o Homem Sagrado, dentro da infinitude e impessoalidade do Tao, compreende que "Não sei de quem sou filho, Venho de antes do Rei Celeste". Essa é a Iluminação. Esse é o Caminho. E "O Caminho é o Vazio".

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O Tao Te Ching, o Tratado do Caminho e da Virtude, é uma obra extremamente concisa e que, no entanto, "é imensuravelmente profunda e ampla, como a raiz dos dez mil seres". A meu ver, o Capítulo 4 é um dos que mais expressa O Tao e O Te em sua concisão e em sua amplitude. E seus primeiro e último versos expressam a estrutura fundamental da apreensão do Tao diante de todas as outras apreensões espirituais e religiosas que conheço:
O Caminho é o Vazio
.............
Venho de antes do Rei Celeste
COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
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TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao
Capítulo 4
Interpretação de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

O Pequeno Caminho e o Grande Caminho



O Pequeno Caminho e o Grande Caminho

Janine Milward

O Pequeno Caminho existe dentro de tudo aquilo que podemos nomear enquanto Criação e sobre o qual temos linguagem para podermos nos expressar. É o Caminho contido ainda dentro do Céu Posterior. O Pequeno Caminho realiza um ciclo total, com princípio, meio e fim. É um Caminho estruturado na duração, nos ciclos em eterna mutação.

O Grande Caminho pressupõe seu trilhar no Céu Posterior, sim, porém sempre tendo em mente seu adentrar o Céu Anterior, onde não existe qualquer possibilidade de alcance de linguagem que possamos usar para nos expressar. O Grande Caminho não tem princípio, não tem meio e não tem fim - porque pode ser compreendido como o próprio Tao. É um Caminho estruturado na constância.

Lao Tse nos alerta, em seu Capítulo 53 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, em termos de nossas escolhas para realizarmos nossa Caminhada:
Torne-me naturalmente firme e possuidor do saber
Percorrendo o Grande Caminho
Temendo apenas o desperdício
O Grande Caminho é bastante tranqüilo
Mas os homens gostam bastante de trilhas

Existe O Caminho e o Caminhante elege seu Caminho de acordo com o nível que sua mente, sua consciência, acredita como o Seu Caminho. No entanto, é fundamental que o Caminhante se conscientize que tanto o Pequeno Caminho quanto o Grande Caminho pressupõem um longo tempo para ser trilhado, realmente, e isso não acontece numa só encarnação...

São necessárias muitas e muitas encarnações para que o Caminhante possa alcançar a conclusão de seu Caminho da Iluminação e mais outras tantas e tantas encarnações para que o Caminhante possa alcançar a conclusão de seu Caminho da Imortalidade.... E essas conclusões de Caminhos podem acontecer em níveis diferenciados, certamente, de acordo com a essência do Caminhante e sua escolha de Caminho. Ou seja, existem as Alquimias que tratam do nível inferior, do nível mediano e do nível superior.

E, como já vimos anteriormente, esses diferentes níveis de Alquimia vão tratar de maneira também diferenciada as questões voltadas para como o Caminhante realiza seu Caminho da Iluminação e seu Caminho da Imortalidade - ou seja, a que extensão é expansionada e alquimizada sua Mente a ser Infinitizada e Iluminada e a que extensão é alquimizado e processado seu Caldeirão de maneira a trazer para si Vida Infinitizada e Iluminada.... E é certo que todas estas questões envolvem o como o Caminhante realiza a fusão do Espírito com o Sopro Primordial - a chamada Fixação -, as Rodas de Moinho, o processamento do Elixir da Vida, o surgimento do Feto Sagrado e seu amadurecimento, o Corpo Solar e saída do corpo físico anterior para fazê-lo adentrar o Corpo Solar....

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 64:
Uma longa jornada começa debaixo dos pés.
Ou, em outra versão:
Uma longa jornada inicia-se no primeiro passo.

O Caminho encontra-se ‘debaixo dos pés’, apenas necessitando de sua conscientização. A conscientização, então, leva o Caminhante a iniciar o ‘primeiro passo’.

No momento em que O Caminho é conscientizado, é preciso, então, que o Caminhante compreenda que “O Grande Caminho é bem tranqüilo.... Mas os homens gostam bastante de trilhas” - assim como nos faz lembrar Lao Tse, o Mestre do Tao.

Ou seja, podem acontecer derivações no Caminho (principalmente no Grande Caminho, fazendo com que o Caminhante deslize desse Caminho para se instalar no Pequeno Caminho...)

Lao Tse nos alerta, ao continuar seu Capítulo 53, sobre esta questão ao descrever situações cabíveis dentro do Pequeno Caminho ou nas derivações entre as escolhas de Caminho:
Governo com excesso de degraus
Campo com excesso de erva daninha
Armazém com excesso de vazios
Vestir bordados coloridos
Carregar espada afiada
Satisfazer-se comendo e bebendo
Possuir moedas e bens em excesso
Isto chama-se roubo e auto-encantamento
Roubo e auto-encantamento negam o Caminho

Por tudo isso, podemos pensar que o Caminhante pode decidir-se por trilhar o Pequeno Caminho e situar-se em sua prática espiritual e em seu sentar-se no silêncio e trazer para si seus conhecimentos, etc., apenas dentro de seus parâmetros de aceitação sobre os mesmos dentro dessa sua encarnação atual tão somente.... ou podemos pensar que o Caminhante pode decidir-se para, desde já (ou mesmo ao longo de seu trilhar seu Caminho) queira voltar-se para trabalhar sua atuação enquanto Homem Sagrado, em alguma encarnação futura, vivenciando o Wu Wei, ou seja, a não-ação, isto é, vivenciando seu Caminho da maneira como o Tao e o Te, o Caminho e a Virtude vão sendo pelo Caminhante compreendidas e atuadas.

A Alquimia do Tao não tem medidas - exatamente por pertencer, em seu Grande Caminho, ao Céu Anterior. Quer dizer, o Caminhante pode colocar seus limites, suas medidas, de acordo com sua consciência. Porém, o Tao, o Caminho, não tem limites, não tem medidas.

Wu Jyh Cherng, no entanto, em sua aula de interpretação sobre o Capítulo 2 do Tao Te Ching que trata, em sua primeira estrofe, sobre as polaridades que encontramos ao longo da vida, nos passa o ensinamento que recebeu de seu Mestre Maa:
“Mestre Maa nos diz que é melhor darmos um voto maior, um voto grande, para abrirmos nossas possibilidades de chegar onde queremos - mesmo que não consigamos. Se colocarmos um limite pequeno, ao alcançarmos a plenitude de nossa realização pessoal, não passaremos daquele pequeno passo que foi o nosso voto.
......................................................................

Primeiramente, para nos iniciarmos na prática, passo a passo, temos que tentar anular as polarizações. Eu e o outro, nós, os melhores; eles, os piores; os bonitos, os feios. Devemos evitar polarizações. O tempo inteiro estamos polarizando, separando.

Lao Tse nos diz em seus ensinamentos que o primeiro passo para tentarmos buscar o Caminho - que é longo e nunca se sabe quanto tempo leva para se alcançar a Plenitude do Ser - é buscar anular as polaridades e fazer... fazendo.

Uma vez alcançada a Plenitude, o tempo não é mais importante. Quem alcança a Plenitude, anula o tempo. Quem não alcança a Plenitude, sempre será prisioneiro do tempo e do espaço.”

Lao Tse, em seu Capítulo 4, nos afirma:
O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota
É imensuravelmente profundo e amplo, como a raiz dos dez mil seres
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Límpido como a existência eterna
Não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Imagens: Moinho de Meditação, no Sítio das Estrelas
Trecho extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO

Sentar no silêncio.



Sentar no silêncio

Janine Milward

Sentar no silêncio não significa sentar-se com costas eretas e manter-se absolutamente imóvel e aguardar que o silêncio venha permear o Caminhante.... Não e sim. Não - porque isso seria uma forma de sentir-se exteriorizado exatamente pela presença do silêncio.... enquanto o silêncio não é exterior e sim interior. E sim - porque isso seria uma forma de sentir-se absolutamente interiorizado dentro de um único silêncio cobrindo, exteriorizando inteiramente e unicamente este Caminhante.

Sentar no silêncio significa adentrar o silêncio, penetrar no silêncio, deixar-se adentrar, penetrar, em sua mais profunda interiorização, em si mesmo, no mais fundo recôndito de seu ser. Uma longa jornada inicia-se debaixo dos pés..., ou seja, a longa jornada começa e termina em nós mesmos, em nossa interiorização absoluta, em nosso silêncio interior e absoluto. Será dentro desse silêncio interior e absoluto que a mente do Caminhante se tornará Consciência e que seu corpo físico será transmutado em Corpo de Luz: é a Alquimia do Tao.

Dentro de seu silêncio interior e absoluto, o Caminhante está pronto para realizar sua meditação - sem se esquecer que é uma longa jornada... e que esta longa jornada começa pelo primeiro passo, ou seja, o Caminhante senta-se de maneira confortável e com costas eretas, olhos semicerrados, corpo inteiramente relaxado, boca entremeando um sorriso e, se possível, mantendo a ponta língua no céu da boca. Os olhos devem ser cerrados quando o Caminhante estiver olhando para a ponta de seu nariz... e então, imediatamente, os olhos interiores se dirigem para o ponto onde se cruzam a Lua e o Sol, ou seja, o ponto do conhecimento que mora entre os dois olhos, esquerdo e direito: o primeiro passo já indica o começo da Alquimia.

Existe a contemplação e existe a concentração e ambas são interiorizadas, ou seja, o Caminhante deve se abster de prestar atenção em tudo aquilo que lhe pode acontecer exteriormente - e isso pode significar suas próprias vicissitudes físicas nos primeiros tempos de prática de meditação, ou seja, dores, coceiras, incômodos de posição, etc.

A contemplação é poder manter os olhos interiores no ponto de cruzamento entre Sol e Lua e também o de se deixar envolver pela entrada de ar e pela saída de ar - a inspiração e a expiração. Tudo deve entrar num compasso harmonioso, juntamente com a harmonização das batidas do coração e dos pensamentos que devem chegar e irem embora, suavemente, fazendo com que a mente possa ir se liberando, se esvaziando...

A concentração é poder manter a atenção interiorizada e fusionadora do ponto de entrecruzamento entre os dois olhos interiores, o Sol e a Lua, olho direito e esquerdo, respectivamente, com a Respiração e com o Coração e a Mente. A meta desta realização é fazer com que a Respiração acolha o Coração e a Mente do Caminhante. Assim fazendo, tem inicio a verdadeira meditação, ou seja, a partir do momento em que aconteceu a fusão real entre Respiração e Coração e Mente, fazendo acontecerem o Sopro Vital enlaçado à Consciência. Todos os estágios a seguir, na meditação da Alquimia do Tao, acontecem a partir desse fusionamento entre Sopro Vital e Consciência - que também alcançam o patamar de Alma e de Espírito Puros.

O segundo passo é o Caminhante decidir-se quanto ao Caminho que quer realizar em seu processo espiritual, em sua meditação, em seu sentar-se no silêncio, em sua Alquimia: o Pequeno Caminho ou o Grande Caminho?

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO

O Caminho da Iluminação: Mente Iluminada e Infinita


O Caminho da Iluminação: Mente Iluminada e Infinita

Janine Milward

Quando o Caminhante, após um longo tempo de trabalho espiritual através do exercício do Tao, o Caminho e do Te, a Virtude, e do aprofundamento na meditação, alcança, finalmente, a infinitude e iluminação da mente, já não mais existe retorno ou mesmo estacionamento neste mesmo Caminho, não.

A infinitização e a iluminação da mente pressupõem que o Caminhante – já Homem Sagrado – possa se tornar o co-autor de sua própria criação bem como de todo o restante da Criação. Isso porque ele já realizou a fusão de sua mente coletivizada, Jiiva, com a Mente Unitária, a Mente Cósmica, Shiva.

Porém, a infinitização e a iluminação da mente não retiram o Caminhante da Samsara, a Roda da Vida, as encarnações em um Planeta de materialização plena, assim como a Terra, porque é ainda dentro da vida encarnada que a preservação do Elixir da Vida pode ser amadurecido e processado – questões que serão tratadas quando o Caminhante se colocar no Caminho da Imortalidade ou Iluminação.

No entanto, o fato de possuir a mente infinita e iluminada e o Elixir da Vida em sua essência já fazendo parte da mente, certamente leva o Caminhante, neste estágio, a compreender que não existe outro caminho a ser realizado dentro da encarnação!

Se acontecer do Caminhante ainda dentro da mesma encarnação tiver tempo para trabalhar o seu Elixir da Vida realizando seu Caminho da Imortalidade ou Liberação, ótimo. Se não, o Caminhante sai desta vida carregando em sua mente a essência do Elixir da Vida e na encarnação seguinte, ‘desperta’ para a vida espiritual já com sua base plenamente bem estruturada – porque já traz consigo a infinitização e iluminação da mente bem como a essência do Elixir da Vida bem preservada.

Dessa forma, o Caminhante, após seu jovem ‘despertar’, já como mestre, possivelmente conseguirá, em sua nova encarnação, realizar plenamente o processamento da essência do Elixir da Vida em real vida – a Alquimia do Caldeirão, a transmutação de seu corpo físico em Corpo de Luz – o Caminho da Imortalidade ou Liberação, que lhe trará também a iluminação e a infinitização de seu corpo físico, transformando o Caminhante – já como Homem Sagrado – em uma Estrela de Seis Pontas, aquela que bem realiza a fusão entre o céu e a terra, entre mente e vida e Mente e Vida Cósmicas.

É por isso, então, que o alcance da mente iluminada e infinita – o que já significa uma longa viagem espiritual, certamente, não retira o Caminhante da Roda da Vida, a Samsara, ao contrário, exatamente por possuir a expansão plena de sua mente, este compreende que é somente dentro da encarnação, da materialização que a vida advinda do seu Elixir da Vida poderá realmente acontecer.
No entanto, entre uma encarnação e outra, o Caminhante, o mestre, já poderá usufruir e compartilhar da companhia de seres mais elevados e isso faz com que a mente iluminada e infinita não se perca da essência do Elixir da Vida e permaneça ativa, aguardando o momento adequado para uma nova descida à materialização do corpo físico.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward
FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward