Os Caminhos da Iluminação e da Liberação


Os Caminhos da Iluminação e da Liberação

O Caminho da Iluminação pressupõe a expansão da mente em consciência e, finalmente, em Consciência, tornando infinita e iluminada.
O Caminho da Liberação pressupõe que, a partir da conclusão última do Caminho da Iluminação, a própria Mente infinita e iluminada trabalhe o corpo físico do homem para torná-lo um Corpo de Luz, trazendo ao Homem Sagrado vida infinita e iluminada.
A Liberação, Mukti, é a conscientização do Ciclo de Brahma e sua realização.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas
Extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO
http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/

Suprema Consciência, Mente Cósmica, mente, consciência, Consciência



Suprema Consciência,
Mente Cósmica,
mente,
consciência,
Consciência

Janine Milward
O Tantra nos revela que a Mente Cósmica é um reflexo da condensação da Consciência Cósmica. A Consciência Cósmica habita, digamos, o Mundo da Não-Manifestação e se objetiva através do Mundo da Manifestação na Mente Cósmica que, por sua vez, se condensa em matéria. Dentro da matéria, surge a mente da Criação.

A mente da Criação é, portanto, uma parte constante e atuante do Mundo da Não-Manifestação e do Mundo da Manifestação. No entanto, mente da Criação e Mente Cósmica são iguais e ao mesmo tempo, diferentes.
Ambas são iguais no sentido de que advêm do Princípio Primordial, da Suprema Consciência, da Consciência Cósmica, de Paramapurusa.
E são diametralmente diferentes no sentido de que ao Mente Cósmica é apenas interiorizada... como reflexo da Consciência Cósmica que apenas possui absoluta Interiorização.
A mente da Criação é tanto interiorizada quanto exteriorizada, tendo, inclusive, maior força na segunda afirmação, ou seja, em sua exteriorização.
A mente em sua qualidade de unicidade, Shiva, é a Mente Cósmica.
A mente em sua qualidade de coletividade, Jiiva, é a mente da Criação que vai deslizando e condensando dentro do Mundo da Manifestação até expandir-se em sua plenitude de infinitude e de iluminação, através da eterna mutação da Criação até retornar à sua sutileza essencial dentro do Mundo da Não-Manifestação, quando volta a ser Shiva, a Mente Cósmica.
Assim, nós – os possuidores da consciência da plenitude de nossa mente – somos aqueles que podemos cruzar a ponte entre a mente da Criação e a Mente Cósmica advinda da Consciência Suprema. É Atman.
Esses são os Caminhos da Iluminação e da Liberação.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO
http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/
FOTO: Sítio das Estrelas, Janine Milward

Nenhum ser humano na Terra permanecerá por muito tempo e a verdadeira meta da vida humana é alcançar a Suprema Instância.



Os seres humanos vêm até a Terra por um curto período de tempo e devem completar tudo durante este curto período.
Portanto, existe um mundo de trabalhos a serem feitos e o tempo é bem curto. Sendo assim, pessoas inteligentes fazem o possível para usar da melhor forma cada momento de suas vidas – a perda de tempo é o mais alto grau de idiotice.
Nenhum ser humano na Terra permanecerá por muito tempo e a verdadeira meta da vida humana é alcançar a Suprema Instância.
Os seres humanos, enquanto caminhando em direção à meta que está fixada anteriormente em suas mentes, terão que realizar muitos trabalhos interrelacionados.
E é por esta razão que dissemos: mantenham uma mão aos pés de Parama Purusa (a Entidade Suprema) e a outra mão nos trabalhos/assuntos mundanos.
Deixem que a mente esteja constantemente voltada para Parama Purusa (a Entidade Cósmica).
E, enquanto estiverem praticando os trabalhos/assuntos mundanos, não se esqueçam jamais de que estes trabalhos/assuntos também são voltados para Parama Purusa
(a Entidade Cósmica).
Srii Srii Anandamurti

Human beings come onto this earth for a very short period, and within this short period they are required to complete everything. So there is a great deal of work to be done, but the time is very short. Thus intelligent people make the best use of every moment of their time – wasting one’s time is the height of foolishness. No human being on this earth will remain for long, and the very goal of human life is to attain the Supreme Stance. Human beings while moving forward towards that Goal which is fixed before their minds, will have to perform many interrelated works. That is why it is said, Keep one hand on the feet of Parama Puruśa,(Cosmic Entity) and with the other hand do your mundane duties. Let the mind be constantly attached to Parama Puruśa,(Cosmic Entity) . And while performing one’s mundane duties one should always remember that these duties are also the task of Parama Puruśa,(Cosmic Entity) .
Shrii Shrii Anandamurti Ji
FOTO; SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

Do Mundo da Não-Manifestação ao Mundo da Manifestação: A Suprema Consciência faz acontecer A Criação e O Ciclo Cósmico



Do Mundo da Não-Manifestação ao Mundo da Manifestação:
A Suprema Consciência faz acontecer
A Criação e O Ciclo Cósmico

Janine Milward

O que for a profundeza do teu SER, assim será teu DESEJO
O que for teu DESEJO, assim será a tua VONTADE
O que for tua VONTADE, assim serão teus ATOS
O que forem teus ATOS, assim será teu DESTINO.
(Upanishad IV,V)


O SER é a Consciência Cósmica, o Tao, Paramapurusa: Eu Sou não-manifestado
O DESEJO é aquele que manifesta o Ser Primordial: Eu Sou manifestado
A VONTADE é aquela que idealiza a realização do movimento da Criação: Eu Farei
Os ATOS são aqueles que realizam o movimento da Criação: Eu Faço
O DESTINO é aquele que manifesta o movimento da Criação: Eu Fiz


O Ser pode ser denominado de Consciência Suprema, a Consciência Cósmica, ou Tao. Também poderemos chamar de Paramapurusa, um têrmo sânscrito.

Sânscrito é uma língua construída há milhares de anos atrás de uma tal maneira que trouxesse uma expansão da consciência. Os antigos yogis concentraram-se profundamente e meditaram intensamente até encontrarem 49 glândulas sutis encravadas nos sete chacras do corpo humano. Cada glândula possui um determinado som, uma vibração sonora percebida pelos mestres yogis e condensadas em 49 letras de um alfabeto que estruturou a língua sânscrita. Sânscrito – Sam’skrt – significa "bem feito, bem realizado".

A partir deste Absoluto ou Princípio Primordial, se dá a interação entre os mundos da Não-Manifestação e da Manifestação.

O Mundo da Não-Manifestação é um estado puro de onde se origina a Criação advinda do Mundo da Manifestação. Ao surgir a manifestação dos primórdios da Criação, com ela se objetiva a Mente Cósmica. Assim, a Mente Cósmica é uma objetivação para agir e nomear a Suprema Consciência dentro do Mundo da Manifestação.... surge Brahma, a Consciência Cósmica, literalmente "O Grande".

Portanto, existe o Mundo da Não-Manifestação, Nirguna Brahma – Consciência Cósmica não-manifesta – que faz nascer o Mundo da Manifestação, Saguna Brahma, a Consciência Cósmica manifesta...

Brahma desmembra-se em dupla qualidade manifestada através de sua própria consciência objetivada em Eu: Purusa. E através de sua capacidade, potencial ou objetiva, de manifestar sua capacidade de expressão, a adição do Sou ao Eu, formando o Eu Sou: Prakrti.

Purusa (a subjetividade da Mente) e Prakrti  (a busca da objetivação da Mente através a Criação) interagem entre si tanto dentro do Mundo da Não-Manifestação – Nirguna Brahma -, quanto dentro do Mundo da Manifestação – Saguna Brahma.

Prakrti atua, dessa forma, de duas maneiras, uma maneira subjetiva - quando está conjugada a Purusa em Nirguna Brahma, o Mundo da Não-Manifestação; e de uma maneira objetiva - quando já busca a objetivação da Mente de Purusa através a Criação e já voltada para realizar esta questão inaugurando, digamos assim, o Mundo da Manifestação.

Num primeiro momento, a mínima expressão de ação ainda acontece de maneira direta e incisiva, em linha reta: é a constância da Vida.  No entanto, essa mínima expressão de ação pode já ser considerado como o Uno, a Unicidade plena.

Num segundo momento, é preciso que se faça acontecer a movimentação, ou seja, entra em cena a linha curva, aquela que irá permitir que a Vida possa vir a manifestar-se desde sua sutil sutileza advinda do Mundo da Não-Manifestação e ainda operada por Prakrti quase estática e apenas começando a tornar-se mais dinâmica. 

A Unicidade plena, o Uno, começa, então, a desdobrar-se através a dupla forma de Prakrti acontecer, ou seja, Prakrti subjetiva e Prakrti objetiva, Prakrti ainda voltada para a latência da Não-Luz e Prakrti já voltada para a manifestação da Luz. Sabemos que a Suprema Consciência, no Mundo da Não-Manifestação, é expressa através da Mente Cósmica imajada para o Mundo da Manifestação através da Luz.

Esse dinamismo passa a acontecer de forma mais evidente já no Mundo da Manifestação com Prakrti efetivamente atuando enquanto Princípio Operativo e Objetivo e trazendo a movimentação da Criação para a sua materialização plena - e essa movimentação faz acontecer o ciclo e, em conseqüência, a duração de cada uma das partes componentes de um ciclo.  A linha curva da movimentação tem sua continuidade ao concluir esta segunda parte do ciclo e dando início ao seu retorno à sua Fonte Original, o retorno à sutil sutileza...

Dessa forma, a partir de Brahma, a Consciência Cósmica, Purusa, e sua expressão de manifestação, Prakrti, interagem, fusionam-se e separam-se, fusionam-se e separam-se, criando o Princípio do Movimento.

Essa movimentação também acontece dentro dos dois Mundos, formando, então, uma tríplice qualidade de forças que competem entre si, infinitamente dando início, vivenciando e trazendo a finalização para dar começo a uma nova jornada.

Aqui tem início o Brahmacakra – o ciclo de Brahma, o movimento da Criação, do princípio sutil ao princípio denso (englobando os princípios mutativo e estático), da Consciência à matéria, e o retorno do denso para o princípio sutil, da matéria à consciência.

O Desejo da Criação – como uma projeção do pensamento da Mente Cósmica advinda da Suprema Consciência – é manifestado como uma semente, Biija, através de Prakrti – o Princípio Operativo, a Energia Cósmica formada através do Mundo da Não-Manifestação e objetivada através do Mundo da Manifestação.

Prakrti, a energia cósmica, o Princípio Operativo, é então concretizada através de uma triangulação de forças – as Gunas – que manifestam o Ciclo de Brahma – Brahmacakra::

Força Sutil – Sattvaguna -: Eu Sou traduzido para fazer acontecer o Eu Farei; a realização voltada para o futuro – A Vontade

Força Mutativa – Rajoguna: força que causa movimento, atividade, agitação – Eu Faço: a realização voltada para o presente – Os Atos

Força Estática – Tamoguna – Eu Fiz; a realização voltada para o passado – O Destino

Enquanto essas três forças estão apenas interagindo entre si, trazendo o desejo do início, da concretização e da finalização, elas apenas vão formando suas possíveis diferentes configurações geométricas. Porém, qualquer desequilíbrio entre essas forças no sentido de alguma desejar superar a outra – ainda dentro do espaço e tempo primordiais – resulta em manifestação de energia que por sua vez se objetiva em criação. Uma onda é a primeira real manifestação de Brahma já em seu estado de concretização.

A onda objetivada e criada é ainda extremamente sutil, é a Mente Cósmica manifestando seu sentido puro e primordial de existência, é a força sutil: o Eu – ou Mahatattva.

O Eu continua a se manifestar em seu porquê, em seu sentido de ser, em sua expressão inicial de objetivação; é o Eu Cósmico expressando o desejo de manifestação de Brahma através da força mutativa: Eu Faço – ou Ahamtatva.

Finalmente, a objetivação final, a capacidade de expressão plena da realização, se manifesta através da força estática: Eu Fiz – ou Cittatattva (que é também conhecida por substância mental cósmica).

Existe, assim, uma condensação da Consciência dentro do Ciclo de Brahma que pode ser denominado de Saincara – expressando o Princípio de Exteriorização: do sutil ao denso, da consciência pura à formação da matéria (advinda das ondas emitidas pelo princípio do movimento).

Existe também, em sua reversão, o Prati-Saincara ou retorno da matéria à consciência pura (ainda conduzida pelo princípio do movimento).

Ao longo do exercício contínuo e infinito dessa movimentação, a Criação vai sendo formada até que a mente – matéria condensada da primordial Mente Cósmica – realize a vida. Quando surge a Vida, é objetivada a chamada "força vital", de Energia Vital – ou Pranah.



Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO
http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/
FOTO: Sítio das Estrelas, Janine Milward

A Semente do Desejo da Criação


A Semente do Desejo da Criação

Janine Milward

Srii Srii Anandamurti, o Mestre do Tantra e chamado Anandamurti por ser considerado como "personificação da Bem-Aventurança", nos legou um Mantra universal a ser entoado pelo Caminhante sempre que assim desejar, tanto intimamente quanto extrovertidamente, ou seja, tanto em voz interior quanto em voz exteriorizada.
Baba Nam Kevalam
A Consciência Suprema a tudo permeia
(assim como eu me permito versar)
Ou, em outra versão:
Somente existe amor divino
(em tradução realizada para o português pelos discípulos de Srii Srii Anandamurti)

Este Mantra apresenta toda a síntese daquilo que o Mestre do Tantra, a meu ver, compreendeu enquanto a Semente do Desejo da Criação, ou seja, em palavras simples: a partir do momento em que a Suprema Consciência, Paramapurusa, manifesta-se para fazer espelhar o Mundo da Não-Manifestação, Nirguna Brahma, em Mundo da Manifestação, Saguna Brahma, faz nascer a Semente do Desejo - Iccha’Biija, em Sânscrito.
Compreende-se, então, que esta Semente do Desejo tem seu berço dentro do Amor Divino - uma outra possibilidade de nomearmos a Suprema Consciência, Brahma, Paramapurusa. E Somente Existe Amor Divino - Baba Nam Kevalam - remete a Criação - nós e o restante dos seres e a natureza, como um todo - a reverenciar o Verdadeiro Pai, Baba, aquele a quem Srii Srii Anandamurti nos revela o porquê de nossa existência e o porquê de nossa verdadeira natureza:
A meta da vida humana é fusionar-se a Paramapurusa, à Suprema Consciência.

E por que o Mestre do Tantra nos diz isso? Porque, a meu ver, este deve ser nosso único desejo, ou seja, nosso único desejo deve ser nos fusionarmos à Semente do Desejo da Criação, o Princípio Primordial, o Retorno à Fonte Original, o retorno ao Verdadeiro Amor - aquele que realiza a Ponte entre o Mundo da Não-Manifestação, a Consciência Suprema, e o Mundo da Manifestação, a Criação.
Enquanto estivermos encarnados e atados à Roda da Vida, Samsara, somos Sementes, Biija, que Nascem de Novo. No momento em que nos tornarmos absolutamente bem-sucedidos na realização do nosso Caminho da Bem-Aventurança - Caminhos da Iluminação e da Liberação, com Mente e Vida Iluminadas e Infinitizadas -, seremos, então, Sementes Queimadas, Dagdhabiija. Ao nos tornarmos Semente Queimada, Dagdhabiija, estaremos também, da mesma forma, nos tornando Iccha’Biija, a Semente do Desejo da Criação - co-criadores da Criação que haveremos de ser, junto à Consciência Suprema espelhada através a Mente Cósmica atuada através seu Princípio Operativo.
E, como nos diz Srii Srii Anandamurti, .... “a jornada de evolução continua eternamente de acordo com a premência do Macrocosmo. E não existe qualquer chance de acontecer uma morte total do universo.”
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO
http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/
FOTO: Sítio das Estrelas, Janine Milward

O Retorno à Fonte Original


O Retorno à Fonte Original


Janine Milward

Uma conversa entre a autora
e um monge do Caminho da Bem-Aventurança
expressando a harmoniosa interação entre o Tao e o Tantra Primordiais


As tardinhas e noites das terças-feiras eram sempre motivo de alegria pois chegavam os monges da Ananda Marga, o Caminho da Bem-Aventurança inspirado por Srii Srii Anandamurti e reunia-se um pequeno grupo na cidade, para a prática de yoga e de meditação.

            Durante alguns poucos anos, eu tive a grande felicidade, o imenso privilégio de poder acolher esses monges no Sítio das Estrelas.  Esse lugar, minha moradia, foi transformada por eles em um Ashram e assim permanece até os dias de hoje...

            Os monges e eu conversávamos muitíssimo, normalmente durante e após nosso jantar, e houve uma conversa entre mim e um dos monges - mais precisamente Dada Jinenananda - que eu julguei de tal importância que, se bem me recordo, no dia seguinte, após ter conduzido o monge até a rodoviária para seu caminho de retorno á cidade grande onde trabalhava e ao Mosteiro onde morava, eu rapidamente me sentei diante do computador e me pus a retirar de minha memória nossa conversa da noite anterior e acabei tecendo o texto abaixo :

......................

Depois do jantar, já tarde da noite, eu ainda resistia em ir para cama, queria muito conversar um pouquinho mais com o monge, queria aprender mais sobre as sementes que nascem de novo e sobre as sementes que não nascem de novo – sobre a mortalidade e sobre a imortalidade.

-   Dada, diga-me alguma coisa sobre a “semente queimada”.

O monge sorriu.

-   “A semente queimada”, Daghdhabiija,  é quando a pessoa consegue atingir um estágio em sua vida onde, para ela, não existem mais Samskaras – nem passados, nem presentes e nem futuros... ”As sementes queimadas” são todos os Samskaras exauridos - ou seja, a ação, Karma,  e sua reação real ou em potencial, Samskara, deixam de existir – porque o aspirante espiritual alcançou a Liberação da Mente, a plenitude de sua consciência, enfim podendo se fusionar inteiramente com Paramapurusa, a Suprema Consciência.

  -  Mas, como se consegue chegar aí, como alcançar este estágio de espiritualidade?

O monge olhou atentamente em meus olhos, com seriedade, com serenidade, com emoção.

-   A meta de nossa vida é alcançar Paramapurusa, a Suprema Consciência e sermos Unos com essa Consciência Cósmica, com o Absoluto. Antes de mais nada, é preciso que  reconheçamos esta meta como a única e verdadeira verdade a ser seguida em nossas vidas... Todo o resto, todo o nosso cotidiano, tudo deve ser vivenciado e dirigido no sentido de nos conscientizamos inicialmente dessa meta....
A meditação, certamente, é o grande primeiro passo  desse longo Caminho.  É por isso que  a Primeira Lição de Meditação, a Iniciação Espiritual, é tão importante porque ela já nos mostra o Caminho.  O Caminho se faz ao caminhar.... Todo o tempo o Guru, o Acarya,  os auxiliares espirituais estarão nos ajudando,  nos apontando nosso Caminho, não nos deixando desviar de nossa meta fundamental de vida.... Mas o verdadeiro caminhar, a realização do Caminho,  somente o aspirante espiritual pode fazê-lo por si mesmo, através de seu esforço, de seu Conhecimento, Jinana, de sua Ação, Karma, e de sua Devoção, Bhakti.

-   Você se lembra, Dada, que eu gravei uma das palestras do Retiro Espiritual em que estivemos recentemente na fazenda-mosteiro, Ananda Kiirtan?  Bem, certamente me parece que o texto – que acabei de transcrever - vem bem a calhar porque trata exatamente desse assunto:  A Liberação,  Mukti.  Você quer ver o texto agora?

-   Bem, já é tarde, você não acha?  O dia hoje foi longo e a noite também!  Quem sabe você poderia fazer uma cópia e eu a levarei comigo?

-   Está bem, está bem....mas, Dada, me diga somente mais uma coisa: liberar-se dos Karmas e Samskaras, alcançar a Liberação, tornar-se uma verdadeira “semente queimada” – aquela que não mais nasce - e se fusionar com a Consciência Cósmica  –  tudo isso  –  significa imortalidade?

-  Sim.

-   Mas... e todo o resto, e todo o mundo,  todas os outros seres que restam....o que será deles, quero dizer, não seria algo um tanto egoísta se atingir a imortalidade, se fusionar com Paramapurusa, se tornar a própria Consciência Cósmica  e abandonar todos os outros seres à sua própria sorte, sua própria busca, seu próprio Caminho?

-  Talvez alcançar a imortalidade – e abrir mão dela – e continuar como semente que sempre pode nascer novamente....para dessa maneira ajudar a todos os outros seres alcançarem também a Liberação – até o último ser – talvez seja essa a Coroação do Caminho, não é verdade?  Chegar até Paramapurusa e voltar para dizer, se isso fosse possível, mas voltar para ajudar todos os outros seres encontrarem também Paramapurusa  -  esta é a meta que está além da meta original!
Retornar à Fonte Original e  alcançar a imortalidade.... e voltar a assumir a mortalidade, re-assumir o Espaço dentro do Tempo – este sim,  este é o verdadeiro Mestre – aquele que já é Semente Queimada, porém que retorna da Fonte Original que tão bem conheceu para se tornar novamente Semente que nasce de novo.... Nosso Guru, nosso Mestre, Baba, sempre dizia que é realmente muito difícil retornar à Roda do Samsara depois que nos fusionamos com Paramapurusa.... É como o inseto que se sente totalmente atraído pela luz e que fica voando em torno dela sem conseguir se afastar..... é um embevecimento, um maravilhamento....

Por alguns segundos pairou um silêncio profundo entre o monge e eu.  O monge levantou-se, fazendo como quem já quer ir dormir, para acordar bem cedo no dia seguinte e seguir seu caminho.  Porém, eu insistia...:

-   Você então diria que esse mestre poderá exercer uma escolha?  E que esta escolha também poderá significar que ao invés de retornar a este universo – quem sabe ele poderá  tornar-se a Semente-que-nasce-de-novo que dá início a um novo universo?

-   Você quer dizer, ainda abraçar a imortalidade através de uma nova condição de Tempo e Espaço? - o monge sentou-se novamente, interessado.

- Sim, é bem isso.

-   Bem,  é possível que isso possa acontecer sim.  Paramapurusa está, na verdade, além do Mundo da Manifestação, ele é o próprio Mundo da Não-Manifestação, a imortalidade da imortalidade, a eternidade da eternidade, a infinitude da infinitude.... o Mundo sobre o qual não se fala – porque não se tem como falar sobre.  A verdade é que quanto mais esticamos a imortalidade, a eternidade, mesmo assim, apenas encontraremos algo em que em algum ponto – espaço - ou  em que em algum momento – tempo -, esbarra em algum tipo de finitude, de final.  Mesmo que esse final sempre leve a um novo começo....
Somente Paramapurusa, Nirguna Brahma, pertence à verdadeira eternidade, o Mundo da Não-Manifestação, a Consciência Cósmica não-manifesta.  Todo o resto é Saguna Brahma, aquilo que existe, o Mundo da Manifestação, a Consciência Cósmica manifesta.
O que importa é compreendermos que Paramapurusa é o núcleo primordial, a fonte original. Quanto mais a compreensão científica do universo avança, tanto mais Paramapurusa conserva sua primordial qualidade, a de ser a totalidade, a de conter a totalidade dentro de si.
Tudo no universo é externo à Paramapurusa.  Somente Paramapurusa possui  interiorização apenas.  Mesmo que o Big Bang seja advindo de um núcleo, de uma semente plena de vida, de tempo e de espaço, sua total interiorização já é uma manifestação proveniente do Mundo da  Manifestação de Paramapurusa, de Saguna Brahma, da Consciência Cósmica manifesta.
 Tudo no universo - ou multiverso, como queira - está contido dentro de Paramapurusa.
Assim, estando contido dentro de Paramapurusa, tudo no universo, tudo, é apenas exteriorização.
Então é  por isso que a meditação é tão importante, ela nos leva a nos interiorizar, nos aprofundar em nós mesmos e nos tornar Unos com a grandiosidade dessa interiorização – nos tornar unos com Paramarurusa.

Enquanto o monge falava, eu fui até a estante e voltei havia  com um pequeno livro em minhas mãos - a tradução que Cherng fez para os 81 Capítulos do Tao Te Ching, de Lao Tse:

- Sobre tudo isto que falamos até agora, Lao Tsé nos diz, no Capítulo 40:

O retorno é o movimento do Tao
A suavidade é a atuação do Tao
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não existência

-    Você bem sabe que o Tao surgiu a partir do Tantra.  O Tao é filho do Tantra. O Tantra é a raiz de tudo.  Tantra em sânscrito quer dizer  “Aquilo que libera da escuridão, da ignorância” – o conhecimento aliado à ação e à devoção..  O Tantra surgiu há cerca de 7 mil anos atrás e a partir dele foram se formando religiões e filosofias.  No entanto o Tantra é uma prática e não simplesmente uma teoria: vivenciar o mundo como expressão da infinitude da Suprema Consciência.   -  o monge nunca se cansa de repetir isso.

-   E a não-existência?  Não seria ela interior, incontaminada – digamos assim?

-   Ainda não totalmente – pois que ela já está sendo nomeada, falada sobre.  Até a não-existência não escapa de ser exterior, ainda pertence ao Mundo da Manifestação – porque ainda nos suscita uma expressão, uma denominação.  .
A não-existência é exterior ao que ela provém.  Daquilo que a não-existência provém, faz parte do reino da absoluta interiorização.  E sobre isso, não se  fala sobre, não se tem linguagem para.  É o Mundo da Não-Manifestação.

- Mais uma vez retomo  Lao Tsé:

O caminho que pode ser expresso
não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado
Não é o Nome constante  (2)


O caminho e o nome (com letra minúscula) pertencem ao Mundo da Manifestação e portanto, podem ser expressos e enunciados.  O Caminho e o Nome (com letra maiúscula)  são o Tao e são constantes, ou seja, são eternos, fazem parte do Mundo da Não-Manifestação. - e continuei: -  Sendo assim, Paramapurusa, Tao, seriam a denominação mínima e máximamente possível para a  absoluta  interiorização sem qualquer possibilidade de exteriorização.

-   Interiorização absoluta, sim, isso é correto.  Porém, certamente com absoluta exteriorização que seria o princípio da não-existência que faz surgir a existência.
É a criação.  A criação nos remete a seu criador... que por sua vez seria anterior à própria criação...No Tantra, Saguna Brahma nos revela Paramapurusa do Mundo da Manifestação que provém de Nirguna Brahma que nos revela Paramapurusa do Mundo da Não- Manifestação.  -  O monge também não mais parecia querer retirar-se para seu Ashram, ele sempre adora uma boa conversa!

Eu quis trazer à tona um tema que volta e meia me perpassa a mente:

- A idéia de uma mente suprema, de uma consciência cósmica, me parece demasiadamente humana, pouco abstrata ..... ainda pertencente ao campo da existência - assim como o cristianismo se refere a Deus, por exemplo.. .
O Tao, talvez o Tao nos revele algo mais abstrato, menos humanizado.... e certamente mais universalizado e impersonalizado.

-   Uma vez mais lembro a você que o Tao nasceu do Tantra. – retrucou o monge, pacientemente. Ao que eu emendei:

-   A verdade é que todo o tempo a ciência caminha mais profundamente no tempo e no espaço para procurar as respostas para suas questões. Eu venho lendo várias artigos onde os cosmólogos dizem, e dizem bem, que o  universo – ou multiverso – é como a Liila,  O Jogo Cósmico.  Se tentarmos compreender a Liila através de nossa exteriorização, do Mundo da Manifestação, então poderemos pensar que se existe um Criador, uma Consciência Cósmica .... certamente nem mesmo esse criador saberia aonde alguns dados desse grande jogo se esconderam....

O monge sorriu:

-   Se, no entanto, tentarmos compreender a Liila através da nossa interiorização absoluta,  mergulhando no Mundo da Não-Manifestação -  então poderemos finalmente nos calar... e compreender.

Eu  continuava folheando seu livrinho do Tao Te Ching:

-          Lao Tsé diz:

O que é da compreensão, não é a palavra
O que é da palavra, não é a compreensão. (3)


O que se sabe, fala-se somente através da existência , mesmo que baseando-se na não- existência.
E o que não se fala, sabe-se também através da existência, mesmo que baseando-se na não existência..... 

O monge concordou:

-   O Conhecimento, Jinana, é a base do triângulo cujas vértices são Karma, a Ação e Bhakti, a Devoção.  Este triângulo cujas vértices apontam para o céu,  é a estrutura fundamental para alcançarmos a Liberação, Mukti.
    
Eu parecia querer ainda uma última resposta antes de irmos todos dormir:

-   E o que se faz para se encontrar o Conhecimento, Jinana, .... para não saber.... e no entanto, saber?
 O monge sorriu:

-  Srii Srii Anandamurti, nosso Baba, nosso querido Guru, nos diz:

“A Consciência Suprema se encontra dentro de você assim como a manteiga está no leite; bata a sua mente através da meditação e Ela aparecerá – você verá que a resplandecência da Consciência Suprema ilumina todo o seu Ser interior.  Ela é como um rio subterrâneo dentro de você.  Remova as areias da mente e você encontrará a água fresca e límpida no interior.”

Enquanto falávamos, fomos andando  em direção ao Ashram do monge, ajudando-o com sua pequena bagagem e seus cobertores para protegê-lo da madrugada gelada, quando a neblina  desce e envolve todo o vale verde da Estrada do Belém....

-   Bem, acredito que já seja hora de todos irmos nos entregar à nossa absoluta interiorização de uma boa – porém curta – noite de sono.... Namaskar, Dada, boa noite, tenha bons sonhos....

-   Namaskar!


Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO
http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/
FOTO: Sítio das Estrelas, Janine Milward





O Mestre e seus Discípulos





O Mestre e seus Discípulos

Janine Milward


O Mestre é como um grande rio que caminha para o mar, o Tao da Criação, carregando consigo seus discípulos, os outros pequenos rios (os Caminhantes mestres), os riachos (os Caminhantes pequenos mestres), os regatos (os Caminhantes iniciados), os olhos d’água (os Caminhantes iniciantes)...

O Caminho da Espiritualidade começa assim como um pequeno olho d’água que surge naturalmente – assim como o Tao – em qualquer lugar, no vale ou na montanha. Esse pequeno olho d’água vai avolumando seu líquido transparente, cristalino, formando quase como um pequeno lago, escondido pelas plantinhas e pelo capim molhado. Então, porque o volume de águas ainda crianças cresce, passa a escorrer, andar, correr alegremente, buscando sempre as brechas mais profundas entre a terra agradecida por sua passagem, por seu desfilar carregando vida.

Correndo, correndo, sempre buscando por lugares mais baixos, essas crianças-águas vão se empurrando, enrolando, marolando, montanha abaixo, saciando nos morros verdes a sede do gado que pasta, buscando os vales, enveredando pelas matas, encantando pedras e criando peixes.

Ao longo de seu caminho, o regato vai encontrando seus outros amigos, outras águas já adolescendo, crescendo, avolumando, espelhando em seus pingos as nuvens corredeiras dos céus que lhes cobrem por todos os lugares por onde vão passando, desfilando, já cantantes e cada vez mais alegres e agradecidas pela vida que vão esparramando em suas margens, criando margens... é agora um riacho.

Chega o momento em que essas águas-adolescentes tornam-se maduras, crescidas e recebem sua maioridade através o nome de rio.

O rio é sempre o encantamento de todos os seres, é a certeza da continuidade da vida, é a compreensão mais clara e límpida e transparente do ciclo da própria vida: águas que descem dos céus expulsas pelas chuvas, que criam olhos d’água, que formam lagos que derramam e correm pelas terras encontrando-se com suas outra águas amigas e vão se tornando um rio, vida de rio que cria a vida.

O rio continua seu caminho em seu desfilar mais garboso, mais sério, mais amadurecido. Vai também encontrando seus amigos-rios de águas alforriadas que se juntam; cada vez mais avolumando, encorpando, crescendo, amealhando vida para mais e mais vida fazer acontecer.

Finalmente, o volumoso rio encontra seu rio-mestre chamado de mar, aquele que sempre o atraiu, desde que nasceu como vida manifestada em pequeno olho d’água, esquecido em algum lugar, quase oculto, porém sempre vivo.

O mar, o mestre das águas, chama para si todos os rios que já chamaram para si todas as outras águas que lhes eram vizinhas.... Ali, sob e sobre o mestre das águas - o mar, - os rios descansam, se misturam, se despersonalizam, perdem seus nomes, perdem a cor de suas águas, perdem seu volume, perdem suas ondinhas corredeiras que outrora correram cantantes por todas as pedras, superando todos os obstáculos – vida que sempre traz vida.

Na imensidão do conjunto de todas as águas - o mar - tudo se torna sempre da cor do céu, ora azul, ora plúmbeo, ora cor de nada nem de ninguém, cor de dia, cor de noite, cor do mar.  O mar é o espelho do céu.

No mar, os rios encontram outros seres, outras vidas, continuam a ser vida que cria vida.

Até que um dia, aquela águinha ... que um dia foi rio, que um dia foi riacho, que um dia foi regato, que um dia foi um olho d’água.... sobe para o céu, assim como se fosse uma sutil fumaça, para tornar-se a fumaça das nuvens sutis que haverão de correr pelos céus, brincando sempre com a terra, prometendo um dia voltar, em um pingo de chuva, lágrima do céu, vida que sempre renova a vida.
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O Caminho da Espiritualidade começa assim como um pequeno olho d’água que surge naturalmente – assim como o Tao – em qualquer lugar, no vale ou na montanha.

Ao formar um pequeno lago, o Caminhante passa a ter a consciência sobre si mesmo, em sua Missão de Encarnação na Terra – porque agora já pode espelhar o céu!

O pequeno lago sempre vai encontrar uma brecha por onde suas águas sempre crescentes vão começar a realizar seu Caminho.

Quando o regato encontra seus amigos – sua família espiritual, sua Linhagem, a Guruampara – torna-se um riacho.

Sempre correndo através os campos, o riacho vai cada vez mais encontrando-se com sua família espiritual, seus amigos, tornando-se mais e mais encorpado até que é alforriado, já plenamente amadurecido em suas águas, como rio.

O Mestre é como um grande e volumoso rio que corre recolhendo todas as águas vicinais que se lhe aproximam, que buscam por essa absoluta fusão.

O grande rio, no entanto, o Mestre, também continua percorrendo seu próprio Caminho carregando consigo todos os seus discípulos – olhos d’água, regatos, riachos, outros pequenos rios.....

              Entre esses outros pequenos rios e mesmo entre os riachos e simples regatos e até mesmo entre os olhos d’água também existem mestres caminhando seus Caminhos da Espiritualidade. Podemos então chamá-los de pequenos mestres ou mestres. No entanto, Mestre é o grande e volumoso rio, prestes a desembocar na imensidão do mar e lá se fusionar plenamente...

O Mestre é aquele que demonstra em si mesmo o ciclo da vida através da vida que nos é dada e sempre devolvida através das águas. Fundamentalmente, o Mestre nos mostra que durante sua vida, ele atrai para si todas as outras águas dispersas no Caminho.... e ao final de sua vida, fusiona-se plenamente com o mar, com o Tao da Criação, com o Mestre da Criação, em total desapego de sua identidade individual, voltando a fazer parte do tudo, do todo e do nada do Vazio – ao retornar aos céus sem mesmo poder ser visto pelos outros seres, em forma de fumaça sem cor, sem forma, sem nada.

Apenas um Vazio.  O Caminho é o Vazio. O Caminho é o Tao.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO

http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/
Foto: Sítio das Estrelas,