Temos que ter a consciência da Unidade,
onde tudo é um só,
íntegros em tudo o que somos e no que fazemos.
Wu Jyh Cherng
O céu, não se tornando
transparente, irá rachar
A terra, não se tornando
tranqüila, irá temer estremecer
O espírito, não se tornando
desperto, irá temer exaurir
Os vales, não se tornando
opulentos irão temer secar
Os dez mil seres, não se
tornando vivos irão temer se extinguir
Os príncipes e os reis, não se
tornando nobres irão temer a derrota.
Aqui Lao Tse nos mostra a importância de adquirir a Unidade.
A terra, não se tornando
tranqüila, irá temer estremecer
‘A terra não se tornando tranqüila’ - Em chinês, pronuncia-se
‘tranqüila’, com o mesmo som de coagulada e solidificada.
Quando a terra não é sólida, não é tranqüila. Terra sólida é uma terra tranqüila. Sem tranqüilidade, ‘irá estremecer’. Estremecer significa que surgirão desastres,
terremotos, tempestades, alterações do ambiente.
O céu, não se tornando
transparente, irá rachar
Olhando para o céu e não vendo a transparência - porque está
coberto de nuvens -, isso é sinal de tempestade. A tempestade traz o raio e assim, não parece
que o céu se racha?
O espírito, não se tornando
desperto, irá temer exaurir
Quando o espírito não é transparente, não é despertado, ele irá se
‘exaurir’, se fragmentar, cansar.
O Espírito é a Consciência.
Quando a Consciência não consegue a integridade e começa a se
fragmentar, fica cansada, vai viver muitas personalidades e muitos seres dentro
de si. Cada vez mais eus. Isso cria uma grande confusão, isso é a
fragmentação.
Quando o Espírito não consegue despertar para esta Unidade - essa
compreensão da inseparabilidade, essa consciência de tudo que é o Um e consegue
sentir isso -, então se vive a fragmentação, entra-se em contradição.
O que é fragmentação?
É o Yin oposto ao Yang.
É a contradição, um discordando do outro. Ora o Yin e o Yang se aproximam, ora se
separam. Ora estamos de acordo conosco,
ora estamos em desacordo. Esse eu contra
o outro eu, é a fragmentação.
Se o eu e o outro somos Um, isso é a Unidade.
Os dez mil seres, não se
tornando vivos, irão temer se extinguir
Quando a humanidade não percebe que todos os seres - apesar das
diferentes aparências - são uma só coisa, inicia-se a fragmentação, a
contradição onde us se aliam com outros contra terceiros. Em todos os momentos, estão se aliando e se
separando, encontrando e desencontrando.
Essa fragmentação pode levar a humanidade à sua extinção, à sua
morte.
Quando a humanidade perde a sua consciência coletiva, quando o
espírito coletivo é partido, é a morte da humanidade. A espécie humana chegará à extinção se um dia
vier a perder a sua consciência coletiva.
E todas as almas transmigrarão para estados menos desenvolvidos.
Os príncipes e os reis, não se
tornando nobres, irão temer a derrota.
Quando a natureza de nossa consciência e a manifestação de nossa
consciência não são nobres, temos que temer a nossa derrota, ou seja, o
não-alcance de nossos objetivos.
A natureza de nossa consciência precisa ser nobre.
O que é nobre?
É o Uno, o indivisível. A
Consciência precisa ser nobre, íntegra, verdadeira, autêntica, real.
Tanto a manifestação do Yang precisa ser transparente para não
haver tempestade quando a manifestação do Yin precisa ser sólida para não
estremecer.
Os vales, não se tornando
opulentos, irão temer secar
Nosso espírito precisa ser iluminado para não entrar em
fragmentação. Nosso coração precisa ser
aberto como um vale para permitir a vida fluir e não restringir a fluidez da
vida - senão nos tornaremos estéreis. A
vida precisa ser fértil e, para isso, precisamos ter espaço aberto dentro de
nós. É uma aceitação, uma abertura para
que as coisas possam acontecer em nossa vida.
O que é bloqueio?
O que significa concretar um vale para impedir a água de correr?
É não abrir espaço para a vida fluir. Isso é a não aceitação das coisas.
Normalmente, temos dificuldade em aceitar as coisas em nossa
vida. criamos os apegos, fazemos
julgamentos, não queremos aceitar as coisas desagradáveis e não nos desgarramos
das mágoas, dos sofrimentos. Assim, a
vida não flui.
Devemos deixar a vida fluir por nós como um vale deixa a água
fluir. A água que não flui é uma água
estagnada, morta, apodrecida.
O apego é nos agarrar a algo que deveria ser passageiro. Porque tudo na vida é passageiro. O rio, o vale, a água é passageira, tudo está
em constante transformação. Também a
vida. se nos agarrarmos a algum momento
da vida e não o deixarmos ir embora - algo agradável ou não - , não estaremos
sendo como o espírito do vale que deixa tudo fluir.
Lao Tse nos diz para nos desapegarmos e abrirmos espaço para a
vida.
Temos que ter a consciência da Unidade, onde tudo é um só, íntegros
em tudo o que somos e no que fazemos.
Capítulo 39
Esses adquiriram o Um na antiguidade:
O Céu adquiriu o Um e tornou-se transparente
A Terra adquiriu o Um e tornou-se tranqüila
O espírito adquiriu o Um e tornou-se desperto
Os vales adquiriram o Um e tornaram-se opulentos
Os dez mil seres adquiriram o Um e tornaram-se vivos
Os príncipes e os reis adquiriram o Um e tornaram-se o eixo do mundo
Esses alcançaram a supremacia.
O céu, não se tornando transparente, irá rachar
A terra, não se tornando tranqüila, irá temer estremecer
O espírito, não se tornando desperto, irá temer exaurir
Os vales, não se tornando opulentos, irão temer secar
Os dez mil seres, não se tornando vivos, irão temer se extinguir
Os príncipes e os reis, não se tornando nobres, irão temer a derrota.
Por isso,
O nobre utiliza a humildade como princípio
O alto utiliza o baixo como base.
Sendo assim,
Os príncipes e os reis denominam-se a si mesmos de órfãos, carentes e indignos
Isso seria utilizar a humildade como princípio, não seria?
Por isso,
Alcançar o valor é aproximar-se do não-elogio
Não desejando o vulgar como o jade
Sendo simples como a pedra.
...............
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 39
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 18 de abril de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil