Existe um ditado chinês que diz que algumas pessoas vêem a árvore
e não vêem a floresta.
Outras, vêem a floresta e não vêem a árvore.
Wu Jyh Cherng
Em inúmeros Capítulos do Tao Te Ching, Lao Tse fala que é melhor
ser fraco do que ser forte, é melhor ser flexível do que ser rígido, é melhor
recolher e interiorizar ao invés de exteriorizar e expandir, é melhor abandonar
do que possuir.
Neste Capítulo, Ele volta a falar nestas questões, como um
alerta. Ele deixa bem claro que aquele
que precisa suavizar e enfraquecer, primeiramente precisa fortalecer. Aquele que pretende renunciar o abandonar,
primeiramente precisa possuir o amparo.
Aquele que pretende subtrair ou extrair, precisa primeiramente aumentar
a si próprio. A tudo isso Ele chama de
Breve Iluminação.
O que é Breve Iluminação?
É a Pequena Iluminação.
O que é Pequena Iluminação?
É saber, enxergar e chegar à Grande Conclusão através da pequena
observação. É saber ver o universo maior
através da pequena observação, do pequeno empreendimento.
Essa compreensão fala de uma capacidade de contemplação que é
extremamente útil, principalmente para aquelas pessoas que ainda não alcançaram
a Grande Iluminação - que é pura e simples sabedoria, em toda a parte.
Como ainda não possuímos a sabedoria de compreendermos todas as
coisas, precisamos saber compreender relativamente todas as coisas através da
compreensão das pequenas coisas.
Lao Tse nos fala em como podemos ver - através de pequenos gestos -
se a pessoa com quem estamos nos relacionando está sendo honesta ou não,
verdadeira ou não. Os pequenos gestos
revelam o grande espírito. Se não
conseguirmos enxergar o Grande Espírito, o espírito inteiro, a personalidade
completa da pessoa, muitas vezes podemos detectar a característica geral
através dos pequenos gestos., hábitos, vícios e costumes e a maneira de se
comportar. Isso é uma pequena iluminação
que a pessoa pode ter, uma pequena lucidez.
Lao Tse trabalha através da construção de frases opostas:
Para recolher, é preciso expandir
Para enfraquecer, é preciso fortalecer
Para iniciar o abandono, é preciso consolidar o amparo
Para iniciar a subtração, é preciso possibilitar o aumento.
Aparentemente, são frases simples, mas não são simples. À primeira vista, parece que entendemos...
mas, pensando um pouco mais, deixamos de entendê-las.
Para querer iniciar o
recolhimento
É necessário consolidar a
expansão
O que é recolher?
Recolher é concentrar.
Antes de nos concentrarmos em alguma coisa, é necessário que
primeiramente ampliemos nossa visão a fim de termos uma noção geral das coisas.
Existe um ditado chinês que diz que algumas pessoas vêem a árvore e
não vêem a floresta. Outras, vêem a
floresta e não vêem a árvore.
Lao Tse nos diz, de uma maneira construtiva, que, para podermos
enxergar um mínimo de detalhe nas coisas, temos que ter a noção geral
delas. Antes de nos especializarmos em
algo, devemos ter a noção geral de todas as possíveis opções existentes - assim
efetuaremos a escolha acertada. Dessa
maneira, podemos ser mais sensatos e mais equilibrados em relação aos nossos
atos e às nossas observações. Também
desenvolvemos uma maior tolerância para com as pessoas e podemos perdoar as
pequenas falhas.
Todo o trabalho do Taoísmo é sintético e pode ser interpretado de
uma maneira construtiva porém não restritiva.
Numa visão mais estratégica sobre a mesma frase, entende-se que
quando queremos recolher o poder de alguém, temos que dilatá-lo, inflamá-lo (o
poder). Quando a pessoa é consumida pela
dilatação, sua imagem fica desgastada.
Esse desgaste faz com que a pessoa perca a força... Isso pode ser
maquiavélico.
A síntese a que me referi antes, no Taoísmo, nos leva a saber como
trabalhar as coisas, como saber usar um conhecimento de uma maneira construtiva
em vez de usá-lo de uma maneira destrutiva.
No entanto, não se diz que o construtivo é bom e que o destrutivo é
ruim. Se a construção é vida, a destruição
é morte. Vida e morte fazem parte de um
ciclo perfeito. Tudo o que tem vida,
morrerá. Tudo o que morreu, já teve uma
vida e provavelmente terá outra. A vida
e a morte são complementares entre si. É
preciso que haja a vida para que haja a morte.
Precisa haver a morte, para haver a vida.
O importante é sabermos qual é o momento de construir e qual o
momento de destruir. Qual é o momento de
armar o de desarmar. Qual é o momento de
se tornar herói e qual o momento de se entregar, de render-se ao destino.
Essa compreensão é que faz com que o estudo do Taoísmo se torne
complexo.
Muitas vezes, perigosamente, as pessoas preferem ficar com a vida,
ignorando a morte; preferem ficar com a construção, ignorando a
destruição. Conseqüentemente, julgam a
construção, a vida, a luz como algo bom e consideram a destruição, a morte, a
obscuridade, a noite, como algo ruim.
Na verdade, não é bem assim porque um é o complemento do outro.
Para o Taoísmo, o bom está no equilíbrio dos dois. O bom é saber seguir a ordem do universo, a
ordem natural do macrocosmo: saber ter o recolhimento no momento do
recolhimento. Saber entrar em expansão
no momento da expansão. Nascer no
momento do nascimento. Morrer, ou seja,
transformar no momento da morte. Dessa
maneira, estaremos fluindo no curso natural das coisas. E teremos a naturalidade. E poderemos recuperar a infinitude do
espírito, o mesmo espírito que peregrina na infinitude do universo, entrando e
saindo de cada ciclo, naturalmente.
No Taoísmo se fala, portanto, tanto na vida quanto na morte, tanto
na luz como na obscuridade - tudo com igual importância.
Um lugar com luz sem obscuridade seria estéril, com excesso de
luz. Num lugar somente com sombra sem
luz também não tem vida, não tem fotossíntese.
Capítulo 36
Para querer iniciar o
recolhimento
É necessário consolidar a
expansão
Para querer iniciar o
enfraquecimento
É necessário consolidar o
fortalecimento
Para querer iniciar o abandono
É necessário consolidar o
amparo
Para querer iniciar a
subtração
É necessário consolidar o
aumento
Isso se chama Breve
Iluminação.
O suave e o fraco vencem o
rígido e o forte
Os peixes não podem separar-se
do lago
O reino que tem o instrumento
afiado
Não pode colocá-lo à vista do
homem.
...............
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA
VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do
Capítulo 36
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula
Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 28 de março
de 1995
Transcrição e Síntese de
Janine Milward
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Nesta mesma Editora,
encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em
breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching