A Virtude Superior é agir sem ser condicionado por uma forma.
A Virtude Inferior é agir sendo condicionado por uma forma.
Wu Jyh Cherng
A Virtude Superior é não-ação
Pois não utiliza ação
A Virtude Inferior é ação
Que tem uso da ação
Ação é atitude, método, gesto.
A não-ação é agir não através de um método, de uma forma, ou de uma
norma. Assim, todas as formas nascem
espontaneamente e não de uma maneira dogmática. Por isso “não se utiliza a ação”.
A Virtude Superior é agir sem ser condicionado por uma forma.
A Virtude Inferior é agir sendo condicionado por uma forma.
Assim também acontece na prática espiritual onde existem diferentes
níveis de técnicas.
Numa meditação de nível mais alto, existe a técnica da
não-técnica. Senta-se, fecham-se os
olhos e naturalmente a Consciência e o Sopro já estão unidos. Essa não-ação, esse não-método é tão difícil
que então é preciso haver um método, um condicionamento para gradualmente
começar a relaxar o corpo, a mente, prestar atenção na respiração e só então
entrar na respiração. É um
condicionamento simples.
Um condicionamento mais formal é sentir o corpo, mentalizar um
centro energético, atuar a respiração abdominal.
Ainda mais condicionada é a meditação com palavras, mantras e
repetição intensa de palavras até que a mente fique mais concentrada. Mantra mais respiração mais mandala, ou letra
ou símbolo.
E o que tudo isso significa?
Significa que cada vez mais usando ferramentas para se entrar no
Absoluto, perdemos a natural espontaneidade.
Temos que aprender a largar todas as ferramentas para entrarmos no
Vazio.
A Virtude Superior, numa prática espiritual, deve ser uma natural
integração do Espírito com o Sopro - não
apenas na hora da meditação mas a cada instante da vida.
A Virtude Superior é a não-ação, é a atuação natural em todas as
ações, sem ação. Isso é a Sublime
Prática. E, aos poucos, vamos dominando
todas as práticas.
Mestre Maa diz que, no início, o aprendiz de meditação precisa de
um local apropriado, de um momento para criar a disciplina, de método. Por causa de nossos apegos e laços,
inicialmente precisamos começar com disciplina e método.
Depois de um tempo, após termos andado um pouco do Caminho,
aprendemos a nos conservar sempre no estado de meditação, tendo nossa
consciência sempre no estado de meditação, em todos os instantes de nossa vida.
A técnica da Consciência no Sopro deve acontecer todo o tempo. existem a consciência externa e a Consciência
sutil. Esta última deve ficar unida ao
Sopro enquanto a consciência mais externa atua no mundo.
Para o iniciante, a disciplina de horário, local e método o
acondiciona na lei do destino. E, no
sentido do Absoluto, ainda ele é prisioneiro do tempo. quem é prisioneiro do tempo ainda não
alcançou a Vida e a Consciência infinitas.
Num nível mais adiantado, a meditação torna-se natural de acontecer
em todos os momentos. O estado
meditativo cotidiano torna a pessoa mais serena.
No início, é preciso uma certa concentração para se manter a
atenção no Sopro. Essa concentração
freia a velocidade mental e o raciocínio.
Com o tempo, este efeito passa e a velocidade da mente é normal e não
retira a Consciência do Sopro. Esse é o
trabalho espiritual perfeito.
As duas primeiras linhas desse verso:
A Virtude Superior é não-ação
Pois não utiliza ação
Nos dizem sobre a meditação sem outra ação do cotidiano. A meditação profunda e desligada de tudo.
As duas últimas linhas
A Virtude Inferior é ação
Que tem uso da ação
Nos dizem sobre a forma de conjugar a meditação com o trabalho do
cotidiano.
Na verdade, lendo os 81 Capítulos do Tao Te Ching, vemos que cada
texto fala da prática de meditação e serve como orientação para a meditação.
Mestre Maa nos diz que para fazer a meditação taoísta, é preciso
ler e reler o Tao Te Ching, sempre.
O Tao Te Ching é muito interessante porque é muito sintético. A cada vez que o lemos, chegamos a uma
compreensão. E cada vez mais alcançamos
uma sutileza maior de compreensão.
Meditação e leitura do texto conjugadas auxiliam a compreensão do
texto e ajudam numa melhor meditação. A
força do Texto Sagrado induz a uma meditação mais profunda.
Capítulo 38
A Virtude Superior não é virtude
Assim, possui a virtude
A Virtude Inferior não perde a virtude
Assim, não possui a virtude
A Virtude Superior é não-ação
Pois não utiliza ação
A Virtude Inferior é ação
Que tem uso da ação
A Bondade Superior é ação
Porém não utiliza a ação
A Justiça Superior é ação
Que tem uso da ação
A Suprema Polidez é ação
Que, se não obtém correspondência
Então, repele usando o braço como reação
Por isso, à perda do Caminho segue-se então a virtude
À perda da Virtude, segue-se então a Bondade
À perda da Bondade segue-se então a Justiça
À perda da Justiça segue-se então a Polidez
Assim, a Polidez é o empobrecimento da fidelidade e da confiança
É o princípio da confusão
Aquele de conhecimentos avançados,
Como a flor do Caminho,
É o princípio da estupidez
Por isso, o Grande Homem
Coloca-se no consistente e não se coloca no rarefeito
Habita no Fruto e não habita na Flor
Por isso, afasta essa e persiste naquele.
...............
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 38
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 11 de abril de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching