Sobre os Conceitos do Sofrimento e da Compaixão, no Taoísmo



Sobre os Conceitos do Sofrimento e da Compaixão, no Taoísmo

Wu Jyh Cherng

Existe um conceito bem difundido de que o sofrimento é um instrumento para o crescimento. Isto é um conceito espiritualista. O Taoísmo não trabalha com esse conceito. Para o Taoísmo, deve-se simplesmente aprender a sair do sofrimento. Só se sai do sofrimento se se entrou nele. A partir daí, aprende-se a sair do sofrimento com suavidade.
O Taoísmo tem uma visão em relação ao conceito do sofrimento, bem como de outros conceitos , diferente de outras escolas. Por exemplo: o conceito da compaixão (que é um dos fundamentos do Budismo), é visto de forma diferenciada.
Para o Budismo, a compaixão é a pessoa entrar profundamente no sofrimento do outro para poder entender o outro e compartilhar de sua dor.
O Taoísmo diz que - sim, é preciso compreender a tristeza e o sofrimento dos mais ignorantes, para poder ter compaixão. O fundamental, entretanto, é que é preciso se ter uma alegria contagiante para se aprender a tirar o outro de seu profundo sofrimento. Portanto, é importante não apenas compreender o sofrimento do outro mas fundamentalmente, é imperioso que o outro não sofra mais. Pode ser até que não se compreenda bem o sofrimento do outro, no entanto, o que importa é a alegria que ajuda o outro a sair de seu sofrimento. Para o Taoísmo, a palavra compaixão é usada como ‘afetividade’.
A leveza e a suavidade do exemplo taoísta são positivas e construtivas. A partir do momento em que se trabalha com o vazio universal que abraça todas as coisas no universo, naturalmente haverá a compreensão do sofrimento do próximo. No entanto, não se deve sintonizar exclusivamente nesse canal de freqüência, mas sim deixar seu abraço envolver todas as outras freqüências. Quem está no estágio do abraço do vazio, acolhe tudo em seu próprio ser. Porém, o envolvimento não pode ser absolutamente direto, porque, dessa maneira, traria limitações.
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Capítulo 9
O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno
Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada
Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Fazem restar para si sua própria culpa
Concluir o Nome, terminar a Obra,
Retirar o Corpo - este é o Tao do Céu
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TRECHO EXTRAÍDO POR JANINE DE
Tradução e Interpretação do Capítulo 9
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 02 de agosto de 1994.
Transcrição realizada por Janine Milward

O que é mantido cheio não permanece até o fim


O Pequeno Recipiente e o Grande Recipiente

Wu Jyh Cherng

Mestre Maa diz que quando uma pessoa está cheia, repleta, ela se torna um pequeno recipiente. Quando não está cheia, torna-se um grande recipiente. A palavra ‘recipiente’ quer significar literalmente ‘aquilo que recebe algo’. Pode ser do tamanho de uma tigela como pode ser do tamanho de um estádio de futebol. Não importa qual o tamanho: quando o recipiente está cheio, torna-se pequeno e quando se torna pequeno, nele não cabe mais nada, está saturado. Se se jogar um pouco fóra, poderá ainda ter uma tolerância, ainda aceitar alguma coisa.
Uma pessoa pode ser um grande recipiente ou um pequeno recipiente. Uma vez cheio, sempre será um pequeno recipiente, mesmo que seja um grande recipiente.
Uma pessoa pode ser um pequeno recipiente; se não estiver cheio, sempre haverá a potencialidade de enchê-lo - por isso o recipiente torna-se grande.
Obviamente, o homem não é um recipiente feito uma cumbuca ou uma tigela. A capacidade humana, enquanto recipiente, é a de receber conhecimentos e tudo da vida. Somos um recipiente que tem a capacidade de aumentar ou de reduzir de tamanho. Se tivermos humildade - não encher até o máximo -, se não tivermos orgulho, o sentido de ‘especial destino’, ou arrogância, seremos aquele recipiente infinitamente grande onde sempre caberão mais conhecimentos e mais ensinamentos.
Se atingirmos o ponto de cheios, mesmo que sejamos altamente intelectualizados, altamente instruídos, com um imenso domínio das coisas, sempre seremos um pequeno recipiente. Porque dentro de nós não cabe mais nada.
É realmente extremamente importante e fundamental que saibamos não ser cheios. Uma pessoa que assim aja, conseguirá absorver infinitamente tudo aquilo que o universo pode dispensar.
O grande caminho do Taoísmo é exatamente uma realização infinita. A infinitude se revela naqueles quinze a vinte por cento que não estão preenchidos. Se um dia o caminho da infinitude alcançar a sua plenitude, a infinitude deixa de ser infinita e se torna finita. O Caminho da Imortalidade termina quando um dia se morre. O Caminho da Infinitude acaba no dia em que este caminho se torna finito. Para ser infinitamente infinita, uma pessoa precisa nunca chegar ao máximo. Para nunca se atingir o ponto máximo, é preciso conservar a humildade, a simplicidade.
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Capítulo 9
O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno
Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada
Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Fazem restar para si sua própria culpa
Concluir o Nome, terminar a Obra,
Retirar o Corpo - este é o Tao do Céu
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
TRECHO EXTRAÍDO POR JANINE DE
Tradução e Interpretação do Capítulo 9
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 02 de agosto de 1994.
Transcrição realizada por Janine Milward

A Criação - A História de Fu Xi e Nu Guo


TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
A Criação
A História de Fu Xi e Nu Guo

Wu Jyh Cherng

A mitologia chinesa conta que em tempos imemoriais houve um grande dilúvio. No dilúvio, morreram todas as pessoas da Terra, com exceção de duas - um homem e uma mulher. O homem era Fu Xi, que concebeu o I Ching e a mulher se chamava Nu Guo ou Lü Wa. Algumas versões desse mito dizem que Fu Xi e Nu Guo eram irmãos. Outras versões, dizem que eles eram marido e mulher. A verdade é que Fu Xi e Nu Guo se casaram e procriaram.
A partir dessas duas figuras simbólicas tecem-se duas linhagens de mitologias e de conhecimentos que representam a Tradição Patriarcal de Fu Xi e a Tradição Matriarcal de Nu Guo.
Todo o conhecimento d I Ching deriva de Fu Xi - bem como a matemática, os números, a astronomia, a metafísica: uma força patriarcal, uma força Yang.
De Nu Guo nasce a Tradição Matriarcal que contou muitas lendas. Uma dessas lendas narra que Nu Guo foi a responsável em reestruturar e restaurar a desordem que acontecera na natureza.
Antes de acontecer o cataclismo na Terra, houve uma grande guerra entre dois líderes do mundo. Depois de muitas mortes, vitórias e derrotas, finalmente, um líder venceu o outro. Aquele que perdeu a guerra, irado por sua derrota, resolver bater com sua cabeça na coluna de sustentação do céu. Em linguagem simbólica, a coluna era como a base de um cogumelo, o céu. O céu, então, desabou, tudo ficou escuro e aconteceu a grande tempestade, o grande cataclismo. O mar subiu, a terra partiu-se a afundou em si mesma, as pessoas morreram: o vitorioso e o derrotado também morreram. Restaram apenas Fu Xi e Nu Guo que fugiram para o alto de uma montanha e assim, conseguiram sobreviver.
Nu Guo era uma pessoa extremamente sábia e resolver restaurar o céu. Para tanto, colheu pedras de cinco cores, dos cinco elementos: vermelha, branca, amarela, azul e preta. Usou o fogo para destilar os pigmentos e processar as pedras. Quando as pedras ficaram prontas, Nu Guo as colocou, uma a uma, no céu, tapando todos os buracos. Ela havia processado exatamente 100 pedras e usou 99 para restaurar a abobada celeste. O céu ficou repleto de estrelas.
As nuvens, então, desapareceram, o mar desceu e o mundo pacificou-se. Criou-se uma nova civilização.
Nu Guo não somente teve filhos com seu marido Fu Xi mas fez do barro homens, sempre usando as cinco cores, representando as cinco raças.
Como vimos, sobrou uma pedra. Essa pedra que sobrou foi colocada no coração de cada ser humano que nasceu posteriormente...
Assim, sentimos uma angústia, uma tristeza ao olharmos para o céu, querendo, com certeza, estar lá em cima. É que dentro de nós existe um pedacinho daquela pedra que teria sido uma estrela - se tivesse sido colocada no céu por Nu Guo...
Desde os tempos imemoriais, todos os homens fazem uma imensa força espiritual para conseguirem se iluminar, ascensionar, subir para o céu e se tornar uma estrela.....
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Capítulo 9
O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno
Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada
Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Fazem restar para si sua própria culpa
Concluir o Nome, terminar a Obra,
Retirar o Corpo - este é o Tao do Céu
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
TRECHO EXTRAÍDO POR JANINE DE
Tradução e Interpretação do Capítulo 9
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 02 de agosto de 1994.
Transcrição realizada por Janine Milward



As Virtudes da Água




As Virtudes da Água


Wu Jyh Cherng


A água é humilde.  A água sempre cai para baixo.  Uma pessoa que sempre consegue se colocar embaixo da outra, é humilde.  Uma pessoa que não se coloca por cima dos outros, tem humildade.  Assim como a água.

A água também tem abrangência.  A água é  capaz de abraçar todas as coisas.  A água vai descendo pelos rios e se, durante o caminho, encontrar pedras grandes, não as cobre, contorna-as.  O homem deveria contemplar essa virtude da água, a de ser abrangente.  Em vez de lutar contra as coisas, o homem deveria abraçar essas coisas e abrangê-las, transformá-las.

A água é criação.  A terra sem água é estéril.  O homem sem água não sobrevive.  A água é fundamental para criar e trazer a vida.  a água, então, é a criatividade, traz a vida.

A água também traz a mensagem da transformação.  Tanto pode estar em seu estado de água como no de nuvem.  Tanto pode estar vindo de cima para baixo, como a chuva; como debaixo para cima, como o vapor.  

Água é   transformação, porém é uma transformação que não descaracteriza a essência de seu ser.  Os grandes mestres iluminados, inspirados por esse conceito, dizem que o homem é capaz de se transformar e de se transmutar ao mesmo tempo que mantendo em si mesmo a sua verdadeira natureza, seu espírito.

O espírito da água pode estar no leito do rio.  Assim, é o espírito da água que corre dessa maneira.  Quando a água se transforma em vapor, o espírito da água continua sendo o mesmo, apenas que seu corpo passou a ser de uma maneira mais etérea.

Quando a água se  torna nuvem, o espírito continua o mesmo, nesse momento o espírito está no céu.  Quando a chuva desce e a água cai nas montanhas, entrando nas rochas, nas grutas e nas vias subterrâneas - transformando-se de inúmeras maneiras - ainda assim mantém a água o mesmo espírito, a mesma consciência: a forma física não lhe limita.

Isso o homem deve aprender com a água: a água deixa a vida em todo o lugar por onde passa, entra no corpo das pessoas, sai, entra nas rochas, sai, entra nos vegetais, vira chuva, vira nuvem, vem do riacho e vai para o mar, vira onda, sempre trazendo e criando vida por onde passa.

Por isso a água simboliza a transformação, a vida, a abrangência, a humildade e ao mesmo tempo simboliza a não-disputa.

A água vai andando... e quando encontra uma rocha em seu caminho, naturalmente contorna essa rocha ou outro obstáculo da mesma maneira.  A água corre para o subterrâneo, ou contorna, ou passa por cima de alguma maneira, assim a água continua correndo não criando qualquer choque.  Por outro lado, apesar da grandeza, da suavidade da água, sua força através da concentração ou da resistência pode perfurar rochas, derrubar barragens e criar tempestades...  como pode também ser tão suave.

Igualmente, a força espiritual pode ser branda, suave, constante, perseverante.  Pode abraçar todas as coisas ao mesmo tempo como pode concentrar e criar uma tempestade e demolir todas as coisas de uma vez.

A força espiritual é exatamente como a água.  Por isso, no Texto, Lao Tse fala das virtudes da água.

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Capítulo 8

A Bondade Sublime é como a água
A bondade da água beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Tao

Viva com Bondade na terra
Pense com Bondade como um lago
Conviva com Bondade como irmãos
Fale com a Bondade de quem tem palavra
Governe com a Bondade de quem tem ordem
Realize com a Bondade de quem é capaz
Aja com Bondade todo o tempo

Não dispute, assim não haverá rivalidade.

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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward



Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em  26 de julho de 1994,  sobre o Capítulo 8 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng. 

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

 Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil, 
encontra-se  a realização da publicação 
das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Sobre o Lago



Sobre O Lago

Wu Jyh Cherng

Pense com Bondade como um lago

O lago é sereno. Podemos comparar a água com a água corrente, a água turbulenta que arrasta tudo. No simbolismo do I Ching, água é magia, armadilha, abismo, perigo: enquanto o lago é sereno, profundo, alegre, parece um espelho quieto, sua força não é ameaçadora.
A força do lago é interior. A força do lago está debaixo do nível da superfície da água. Não se vê a força do lago: parece suave mas contém muita força em seu interior. Pensar com bondade como um lago fala daquele bom pensador que pensa profundamente, pensa serenamente, não agitadamente, e é alegre.
No I Ching, lago significa alegria. Uma pessoa com a mente serena, profunda, está sempre alegre. Uma pessoa que pensa profundamente mas sem alegria, sentir-se-á esmagada por essa profundidade. É preciso serenidade para se ter a mente com bondade - bondade da mente.
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Capítulo 8
A Bondade Sublime é como a água
A bondade da água beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Tao
Viva com Bondade na terra
Pense com Bondade como um lago
Conviva com Bondade como irmãos
Fale com a Bondade de quem tem palavra
Governe com a Bondade de quem tem ordem
Realize com a Bondade de quem é capaz
Aja com Bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 26 de julho de 1994, sobre o Capítulo 8 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

A Força Espiritual é como a Água










A Força Espiritual é como a Água











Wu Jyh Cherng

A água é humilde. A água sempre cai para baixo. Uma pessoa que sempre consegue se colocar embaixo da outra, é humilde. Uma pessoa que não se coloca por cima dos outros, tem humildade. Assim como a água.
A água também tem abrangência. A água é capaz de abraçar todas as coisas. A água vai descendo pelos rios e se, durante o caminho, encontrar pedras grandes, não as cobre, contorna-as. O homem deveria contemplar essa virtude da água, a de ser abrangente. Em vez de lutar contra as coisas, o homem deveria abraçar essas coisas e abrangê-las, transformá-las.
A água é criação. A terra sem água é estéril. O homem sem água não sobrevive. A água é fundamental para criar e trazer a vida. a água, então, é a criatividade, traz a vida.
A água também traz a mensagem da transformação. Tanto pode estar em seu estado de água como no de nuvem. Tanto pode estar vindo de cima para baixo, como a chuva; como debaixo para cima, como o vapor.
Água é transformação, porém é uma transformação que não descaracteriza a essência de seu ser. Os grandes mestres iluminados, inspirados por esse conceito, dizem que o homem é capaz de se transformar e de se transmutar ao mesmo tempo que mantendo em si mesmo a sua verdadeira natureza, seu espírito.
O espírito da água pode estar no leito do rio. Assim, é o espírito da água que corre dessa maneira. Quando a água se transforma em vapor, o espírito da água continua sendo o mesmo, apenas que seu corpo passou a ser de uma maneira mais etérea.
Quando a água se torna nuvem, o espírito continua o mesmo, nesse momento o espírito está no céu. Quando a chuva desce e a água cai nas montanhas, entrando nas rochas, nas grutas e nas vias subterrâneas - transformando-se de inúmeras maneiras - ainda assim mantém a água o mesmo espírito, a mesma consciência: a forma física não lhe limita.
Isso o homem deve aprender com a água: a água deixa a vida em todo o lugar por onde passa, entra no corpo das pessoas, sai, entra nas rochas, sai, entra nos vegetais, vira chuva, vira nuvem, vem do riacho e vai para o mar, vira onda, sempre trazendo e criando vida por onde passa.
Por isso a água simboliza a transformação, a vida, a abrangência, a humildade e ao mesmo tempo simboliza a não-disputa.
A água vai andando... e quando encontra uma rocha em seu caminho, naturalmente contorna essa rocha ou outro obstáculo da mesma maneira. A água corre para o subterrâneo, ou contorna, ou passa por cima de alguma maneira, assim a água continua correndo não criando qualquer choque. Por outro lado, apesar da grandeza, da suavidade da água, sua força através da concentração ou da resistência pode perfurar rochas, derrubar barragens e criar tempestades... como pode também ser tão suave.
Igualmente, a força espiritual pode ser branda, suave, constante, perseverante. Pode abraçar todas as coisas ao mesmo tempo como pode concentrar e criar uma tempestade e demolir todas as coisas de uma vez.
A força espiritual é exatamente como a água. Por isso, no Texto, Lao Tse fala das virtudes da água.
A Bondade Sublime é como a água
A bondade da água beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Tao
O Tao é sublime porque está embaixo. No Capítulo 6, Lao Tse diz que o Tao é como o espírito do vale. O espírito do vale é o espírito do Vazio que está embaixo. E porque está embaixo, é receptivo e acolhe tudo. Por isso, a água é muito parecida com o Tao. A natureza da água é muito próxima, muito semelhante à natureza do Absoluto, do próprio Sagrado.
A água deve ser contemplada para podermos aprender com ela.
A Bondade Sublime não é uma bondade oposta à maldade. O Sublime é aquele que está acima do bem e do mal. Por isso, sempre vence e não tem preferências. Não diz que Yin é melhor do que Yang ou o inverso. Não diz que o dia é melhor do que a noite ou o inverso. Pleno de Bondade, abraça a claridade e a obscuridade ao mesmo tempo. Abraça a tudo com igualdade, por isso não tem preferência.
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Capítulo 8
do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude,
de Lao Tse, o Mestre do Tao
A Bondade Sublime é como a água
A bondade da água beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Tao
Viva com Bondade na terra
Pense com Bondade como um lago
Conviva com Bondade como irmãos
Fale com a Bondade de quem tem palavra
Governe com a Bondade de quem tem ordem
Realize com a Bondade de quem é capaz
Aja com Bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 26 de julho de 1994, sobre o Capítulo 8 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da publicaçãodas interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

A Água é muito parecida com o Tao


A Água é muito parecida com o Tao

Wu Jyh Cherng

A Bondade Sublime é como a água
A bondade da água beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Tao
O Tao é sublime porque está embaixo. No Capítulo 6, Lao Tse diz que o Tao é como o espírito do vale. O espírito do vale é o espírito do Vazio que está embaixo. E porque está embaixo, é receptivo e acolhe tudo. Por isso, a água é muito parecida com o Tao. A natureza da água é muito próxima, muito semelhante à natureza do Absoluto, do próprio Sagrado.
A água deve ser contemplada para podermos aprender com ela.
A Bondade Sublime não é uma bondade oposta à maldade. O Sublime é aquele que está acima do bem e do mal. Por isso, sempre vence e não tem preferências. Não diz que Yin é melhor do que Yang ou o inverso. Não diz que o dia é melhor do que a noite ou o inverso. Pleno de Bondade, abraça a claridade e a obscuridade ao mesmo tempo. Abraça a tudo com igualdade, por isso não tem preferência.
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Capítulo 8
A Bondade Sublime é como a água
A bondade da água beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Tao
Viva com Bondade na terra
Pense com Bondade como um lago
Conviva com Bondade como irmãos
Fale com a Bondade de quem tem palavra
Governe com a Bondade de quem tem ordem
Realize com a Bondade de quem é capaz
Aja com Bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade.
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FOTOS: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 26 de julho de 1994, sobre o Capítulo 8 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

A Água e sua Capacidade de Transformação




A Água e sua Capacidade de Transformação

Wu Jyh Cherng

Realize com a Bondade de quem é capaz


A capacidade da água é a transformação, a nutrição, e ao mesmo tempo, a purificação. A água é capaz de lavar tudo aquilo que é impuro. A água é capaz de irrigar uma terra estéril, trazendo a vida de volta. A água tem a capacidade de transformar, purificar, criar; e é isso exatamente a realização do Tao.
O taoísta tem que se realizar, se transformar, se purificar e, ao mesmo tempo, purificar o próximo, transformar o grupo e criar a vida.
O Taoísmo não trabalha com aspectos pessimistas. É preciso viver com alegria, com otimismo, com positividade porque assim é que fazemos ávida e o mundo. Ao mesmo tempo fazemos esse mundo sem intenção pessoal, sem ego.
Criar a vida, simplesmente, criar alegria, criar harmonia: se seguirmos as virtudes da água, o mundo nos seguirá.
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Capítulo 8
A Bondade Sublime é como a água
A bondade da água beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Tao
Viva com Bondade na terra
Pense com Bondade como um lago
Conviva com Bondade como irmãos
Fale com a Bondade de quem tem palavra
Governe com a Bondade de quem tem ordem
Realize com a Bondade de quem é capaz
Aja com Bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade.
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FOTOS: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 26 de julho de 1994, sobre o Capítulo 8 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching


Impermanência e Imortalidade



Impermanência e Imortalidade


Wu Jyh Cherng



O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.


O Céu e a Terra não criam nada para si.  A razão do Céu e da Terra serem duráveis e constantes é que a força primordial que os move, que mobiliza ambos, não é a força do próprio Céu nem da própria Terra e sim a força do Grande Tao.  Céu e Terra são movidos pelo Tao.  O Tao está em todas as partes, é o princípio de tudo, está presente em todas as coisas.  É essa força do Tao, como o Absoluto, que move o Céu e a Terra.

A diferença entre o ser humano e o Céu e a Terra é que o Céu e a Terra trazem dentro de si uma coisa chamada ‘naturalidade’.

  No Céu e na Terra todas as coisas acontecem dentro de uma naturalidade: o Céu e a Terra não pensam, não premeditam.  Eles emanam consciência, emanam força energética, produzem movimentos físicos de uma maneira natural enquanto o ser humano já perdeu, em sua grande parte, essa naturalidade.  Nós agimos com demasiada intenção.  Sempre tentamos produzir com nossa própria mente, questionar com nosso próprio julgamento, com nossas próprias idéias, ignorando a integridade do universo.  Vivemos a nossa vida consumindo a nossa própria energia e nossa própria força enquanto esquecemos que existe uma energia cósmica que poderia estar nos conduzindo em vez de nós estarmos conduzindo a nossa vida com a nossa própria força.  Precisamos aprender a permitir que a força cósmica conduza nossa vida.

A natureza em consciência sem ego, energia sem ego, movimento físico sem ego.  Você já imaginou se o sol tivesse um ego tão forte quanto o nosso?  Também a Terra não tem ego.  A Terra não pode decidir deixar de girar, por exemplo.  Bem como o sol, não pode recusar doar sua luz aos planetas.  Tudo acontece naturalmente, sem intenção.  

No caso do homem, ele usa sua intenção para conduzir os eventos: o ser humano complica a sua vida ao ponto de perder a própria naturalidade.  Essa perda da naturalidade faz com que as nossas vidas não tenham mais constância e duração: que não sejam constantes e duradouras, como o Céu e a Terra.

Os mestres iluminados ou ascensionados são exatamente aquelas pessoas que conseguiram de alguma maneira recuperar essa constância e essa duração.  Dependendo do grau de recuperação dessa naturalidade e integração entre o Céu e a Terra, eles se tornam ascensionados de um nível mais alto, mais amplo e profundo, ou menos alto, menos amplo e menos profundo.

A continuar permanecendo como estamos, nos tornamos sempre os mesmos: vivendo, morrendo, vivendo, morrendo.  E ainda podemos piorar mais ainda essa condição, migrando para níveis inferiores.  

O Taoísmo busca, portanto, essa recuperação dessa integração da naturalidade.  O primeiro passo dessa jornada é a não-intenção.  Não-intenção não deve ser entendida como não fazer nada.  Quando o Taoísmo fala do famoso conceito da não-ação, deve ser entendido como ação-não-intencional.  Uma ação que seja, pelo menos, menos intencional.  Não se deixa de fazer as coisas.  O que deve ser feito será feito, apenas que feito de uma maneira mais natural, de uma maneira mais espontânea, menos premeditada e menos engenhosa, com menos ego.  Isso não significa que renunciaremos a nossa capacidade mental, racional, intelectual, física e energética.  Não.  Temos plena consciência das cosias apenas que usufruímos delas de uma maneira mais natural, mais espontânea, mais suave.  Isso é chamado de ação-não-intencional.  As pessoas não perdem o pensamento, a capacidade de pensar, de sentir, de sensibilizar-se, porém não são prisioneiras da sensibilidade, do pensamento, de quaisquer capacidades.


Os animais são mais espontâneos do que os homens.  E menos disciplinados em relação aos instintos.  Porém o animal não possui uma complexidade racional e uma complexidade emocional como o ser humano.  O ser humano possui uma múltipla capacidade, como se fosse uma máquina bem mais sofisticada.  O espírito primordial - que é o espírito universal que existe na essência de cada ser - é igual tanto para o animal quanto para o homem.  A alma que envolve a transfiguração desse espírito é que tem uma intensidade diferente, carregando dentro de si todos os códigos e todo o constante processamento e as modificações.  Quando essa alma entra dentro de um corpo, dependendo do grau de sofisticação, o aproveitamento dos dados é diferente.  O espírito de cada um de nós é como se fosse um disquete de computador, virgem, potencialmente infinito.  A alma é como o sol.  O programa sofisticado e complexo gravado e colocado numa máquina de alto potencial funciona de uma maneira diferente da de um mesmo programa colocado numa máquina de menor intensidade.  O corpo dos animais dispõe de uma capacidade menor do que o corpo de uma alma encarnada humana.  A diferença entre o disquete e a alma é de que o disquete não é moldável; quando inserido numa máquina de menor capacidade, trabalha conseqüentemente muito menos.

A alma não é assim tão rígida, ela se amolda conforme o tempo que passa numa potencialidade limitada, se enquadrando no nível daquela potencialidade e a partir daí, as encarnações vão acontecendo em níveis mais inferiores - o que é denominado de ‘caminho da obscuridade’.  Do mesmo modo, a alma de um animal pode reencarnar num ser humano, ampliando sua programação e melhorando aos poucos, também.



Nessa infinitude de encarnações, a alma está todo o tempo se moldando e esse é um dos conceitos fundamentais do I Ching, a mutabilidade.  O tempo inteiro tudo está mudando.  O corpo muda, a alma muda, o conceito muda, a capacidade da consciência muda.

O Taoísmo não trabalha com os conceitos de evolução e de involução.  Também não trabalha com os conceitos de castigo e punição.  Você fez o seu destino até o ponto anterior que fez com que você hoje seja assim.  Continuando a viver progressivamente a sua vida, você vai fazer com que sua(s) próxima(s) vida(s) seja(m) o resultado daquilo que você fez até lá.

Portanto, não existe um juízo supremo que faz um julgamento.  Se um ser humano encarnou num animal, ele criou essa situação para si mesmo, ele se transformou num animal.  Ao contrário, se um animal se transformou num ser humano, ele também fez por isso.  Se após um longo tempo de vivência, um homem se tornou uma divindade em nível superior, tornou-se uma divindade celestial num mundo mais sutil e mais iluminado, ele fez por isso.

Se existe evolução ou involução, isso é uma questão de semântica.  No Taoísmo, não existe o chamado conceito de evolução espiritual onde acredita-se que as pessoas podem progressivamente ir se desenvolvendo até chegarem à perfeição.

Uma divindade pode retornar ao nosso mundo como mestre.  Volta e meia existem pessoas do reino celestial encarnados na Terra por motivos diferentes.  Podem também migrar para uma outra dimensão que não seja humana, migrar para outros mundos.  No Taoísmo, quando das mudanças de dimensão ou de encarnação, não existe uma decisão pragmática do homem.  Ele apenas faz, apenas constrói sua vida.  Dois mais dois são quatro e pronto.  Não pode ser diferente.  As mudanças vão simplesmente acontecendo, sem que haja qualquer juízo sobre isso.

No caso de descenso de pessoas já em níveis superiores, existem dois tipos: aqueles que por matemática somaram 5 a -2 e obtiveram 3.  E aqueles que por voto próprio de compaixão, descem como trabalhadores.  Eles vêm ajudar e depois retornam.  Podemos perguntar se eles têm consciência disso.  Alguns sim, outros não, dependendo do nível da pessoa e dependendo do nível do espírito encarnado.

As divindades não necessariamente são imortais.  Há o conceito interior de divindades comuns e divindades imortais.  Imortais são aquelas divindades que têm uma autonomia maior.  Existem inúmeros reinos, mundos superiores ao nosso nível que ainda estão dentro do universo.  O Imortal é aquele que rompeu a fronteira do universo e foi para o mundo Wu Chi.  Todas as divindades que estão dentro do mundo do Tai Chi estão no mundo do Um.  Os Imortais foram para o mundo do Zero, o mundo do Wu Chi.  Dentro do mundo do Tai Chi existem trinta e três Céus, ou seja, existem trinta e três níveis de universos no mundo sagrado.

As bênçãos vêm através do merecimento, não de forma gratuita.  Uma divindade, por votos de afetividade e compaixão, pode estar o tempo todo trabalhando em benefício das pessoas.  Essa divindade pertence a um nível mais baixo, mais próximo ao de nosso mundo.  Mas mesmo essa ajuda só pode acontecer no momento em que estamos sintonizados com ela.  Palavras como merecimento, bênção, julgamento, etc, são perigosas de serem usadas por trazerem idéias distorcidas.  Essas coisas não existem no Taoísmo.  É simplesmente uma questão de causa e efeito.



O crescimento e a conscientização são processos graduais.  É preciso mudar uma série de hábitos e costumes deturpados e a vida do ser humano é sempre tão curta, 60, 70, 80 anos.  Às vezes, levam-se quinhentos, seiscentos, mil anos para mudar alguns fragmentos...  Tecnicamente falando, dentro de uma só vida, a mudança torna-se muito difícil, o tempo é muito pouco e é preciso um enorme esforço.

O Taoísmo propõe esta mudança, mas não através de se consertar pedaço por pedaço.  O Taoísmo propõe que a pessoa se ‘esqueça’ de todos esses detalhes de falhas e coloque sua consciência diretamente no Vazio novamente.  Desse modo, dentro desse Vazio, ressurgirão a nova alma e a nova consciência de forma íntegra, inteira.  Somente a partir desse Vazio é que nasce naturalmente a força para consertar a alma e não da tentativa intencional de mudar a consciência. 

Quanto maior o grau de mudança da consciência, maior o grau de modificação do Karma - do empreendimento da pessoa.  No entanto, como conseguimos mudar muito pouco, conseqüentemente também nosso Karma muda pouco.

Existem vários tipos de modificações da consciência.  Uma pessoa denominada mestre espiritual, sacerdote famoso, grande pensador ou homem virtuoso pode, muitas vezes, através da mudança de sua consciência, varrer uma boa parte dos efeitos, ou seja, dos vícios que traz num nível mais sutil, no nível do pensamento, no nível da emoção, no nível mais energético.  Mas também muitas vezes não consegue varrer partes mais densas ligadas ao dinheiro, à matéria, à situação social...  Teoricamente falando, é possível varrer tudo isso.

Os grandes mestres ascensionados são o exemplo das pessoas que conseguem varrer todos os seus Karmas de uma só vez.  Também eles podem renascer com defeitos físicos, emocionais, mentais - embora isso seja bastante raro.  Teoricamente falando, os grandes mestres conseguem alcançar uma modificação completa, uma grande transformação alquímica, varrendo todos seus Karmas, tornando-se outros seres com saúde física, emocional e mental.  Principalmente saúde espiritual.  Tudo isso é muito difícil, tecnicamente falando.

O Karma pode ser transformado dinamicamente através de seu débitos e créditos numa transformação espiritual.

Na história do budismo Mahayana, havia um discípulo entre os 16 discípulos de Buda, que era considerado aquele com maior poder mágico.  Antes mesmo de ele se converter ao budismo, já era um grande tantrista que voava, desmaterializava-se e tinha poderes de derrotar um exército inteiro com sua força mágica.  Dizem as lendas que anteriormente, ele já tinha vivido várias vidas como um homem muito poderoso.  Embora tivesse tanto poder, ele não conseguiu escapar da morte física violenta, sendo trucidado em pedacinhos...  Outro discípulo indagou ao Buda por que aquilo tinha acontecido a aquele irmão tão poderoso e o Buda respondeu que, apesar de toda uma transformação da consciência, existiu uma parte que não conseguiu se modificar e o destino teve que ser cumprido.  Aquele homem não havia conseguido dissolver aquela parte.  A partir do momento que o corpo do discípulo foi trucidado totalmente, houve uma dilatação espiritual, uma entrega.  Obviamente, o budismo traz aquele conceito de desapego ao corpo físico.



Hoje em dia, encontramos menos mestres espirituais tão poderosos quanto aqueles lendários da antiguidade.  Nosso mundo hoje não traz uma condição tão favorável para o desenvolvimento de uma pessoa - muita poluição, muito som, muito barulho, muitas ondas elétricas e eletrônicas.  Devido a essa nossa redução de capacidade, estamos mais descrentes, mais céticos e não acreditamos naqueles textos sagrados da antiguidade que narravam sobre levitação e vôo dos mestres espirituais.  Hoje, na leitura dos textos, as pessoas vão buscar suas considerações psicológicas e simbólicas tentando provar coisas através dos entendimentos psico-simbólicos atuais.

Quando se trata dos mestres tradicionais que honram a Tradição, ao fazerem a leitura dos textos de alquimia, de magia, etc., eles não fazem leitura psicológica e sim lêem os textos da forma como foram escritos: os textos simbólicos são lidos como textos simbólicos, a história é lida como história.

Existem, realmente, textos escritos em linguagem figurada, em códigos, em linguagem simbólica.  Nesse caso, assim se faz para manter o ensinamento em condição hermética, para que não seja revelado a qualquer um, simplesmente, de qualquer maneira.  A linguagem, então, é transformada em linguagem de código, simbólica.

Os mestres antigos, entretanto, tinham realmente uma maior capacidade de realização.  Hoje em dia, vêem-se muitos mestres que, apesar da modificação da mente, da consciência, da emoção, ainda não conseguiram escapar a uma série de problemas físicos, ambientais, muitas vezes materiais, dificuldades financeiras, de saúde, etc.


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Capítulo 7

O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.

Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança.
Além do corpo, o Corpo permanece.
Através do não-corpo, conclui o Corpo.

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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward



Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 19 de julho de 1994,  sobre o Capítulo 7 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng. 

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
Impermanência e Imortalidade
 foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

 Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil, 
encontra-se  a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Constância e Duração



Constância e Duração


Wu Jyh Cherng


O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.


Há uma diferença entre a constância e a duração.  A duração, apensar de ser um tempo longo, tem um princípio e um fim.  A constância não.  A constância não tem princípio nem fim.

O céu simboliza o Vazio, o Yang do espaço.  A terra simboliza a forma, o Yin da matéria.  Todas as matérias têm forma.  As matérias e as formas existem no espaço dentro do Vazio.  Dessa maneira, o vazio do espaço é simbolizado como o céu e a matéria são as matérias formais que existem dentro desse espaço.  No cosmos, as coisas funcionam assim.

Esse vazio do céu, vazio do espaço, esse espaço do céu, é constante, não tem princípio nem fim.  Por isso, é Yang e o Yang é criativo, é a constante criatividade.  A constante criatividade não tem princípio nem fim e por isso se chama a Constante Criatividade.

Se uma criatividade tem um princípio e tem um fim, deixará de ser uma constante criatividade.  A Terra é exatamente o fruto criado dentro dessa potencialidade chamada constância.  A duração, portanto, está contida dentro da constância.

A Terra, os planetas, as estrelas estão dentro do espaço.  Como o Yin está dentro do Yang.  Ou as formas estão dentro do vazio.  A soma da forma com o vazio, a união do céu com a terra forma então o cosmos e o universo.  Essa união se chama Tai Chi.

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O Céu e a Terra não criam nada para si.  A razão do Céu e da Terra serem duráveis e constantes é que a força primordial que os move, que mobiliza ambos, não é a força do próprio Céu nem da própria Terra e sim a força do Grande Tao.  Céu e Terra são movidos pelo Tao.  O Tao está em todas as partes, é o princípio de tudo, está presente em todas as coisas.  É essa força do Tao, como o Absoluto, que move o Céu e a Terra.

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Porque o Céu e a Terra conseguem ser constantes e duradouros e  por não se criarem e serem sem-intenção própria e sem meta própria, deixam suas vidas, suas existências serem conduzidas por uma grande energia única que é o Supremo Uno oferecido pelo próprio Tao.  É, portanto, a própria unidade de energia Una que existe no Céu e na Terra que faz com que o Céu não se separe da Terra e a Terra não se separe do Céu.   Isso é a grande energia do Uno que abraça todas as coisas.  Se o homem consegue ser como o Céu e a Terra, recebe essa energia Una.


Por ser possível que o homem se torne constante e duradouro, em seguida Lao Tse nos diz:

Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança.


Imagine que você está dentro de seu corpo, você avança mas seu corpo fica para trás, o que então acontece?  Você entra no Vazio.

Deixar o corpo para trás” também pode ser entendido de uma maneira mais liberal, mais poética.  Na verdade, somos muito apegados à nossa forma e dificilmente deixamos nosso corpo para trás.  Nós achamos que somos esse corpo.  Essa forma, no entanto, está o tempo todo mudando, envelhecendo, piorando de saúde, melhorando de saúde, ficando triste, ficando alegre...  A partir do momento em q eu nossa consciência acha que somos isso - esse corpo - nós somos a impermanência do ser porque nosso corpo é a maior revelação da impermanência do ser.  Nós vemos a impermanência a cada momento.  No momento em que nossa consciência é pressionada pelo corpo, a consciência torna-se uma consciência de impermanência.  Estaremos, então, vivendo todo o tempo a vida e a morte, a vida e a morte.  A cada instante é a vida; a cada instante é a morte.  A cada instante estamos descobrindo um novo nascimento, a cada instante estamos descobrindo a morte.


E Ele continua:

Além do corpo, o Corpo permanece


Mestre Maa, nosso mestre, dia que para você carregar uma xícara de chá, você tem que estar fóra da xícara para poder carregá-la.  Se você estiver dentro da xícara, você não vai conseguir carregar esta xícara.  Se você quiser carregar o seu corpo, você não vai poder estar dentro dele.  Se você quiser possuir seu corpo você não poderá estar limitado por ele.  Sem ser limitado pelo corpo, você domina a forma.  Sem ser limitado pela forma, assim você pode dominá-la.



Capítulo 7


O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.

Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança.
Além do corpo, o Corpo permanece.
Através do não-corpo, conclui o Corpo.

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 FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 19 de julho de 1994,  sobre o Capítulo 7 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
Constância e Duração
 foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

 Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se  a realização da publicação,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching