... além da palavra e além do puro racionalismo
Wu Jyh Cherng
Sobre esse assunto, quem fala é outro grande pensador, Chuang
Tzu. Em seus inúmeros contos, ele fala
da incompreensão do pequeno perante o grande e da incompatibilidade do grande
perante o pequeno.
Uma das histórias de Chuang Tzu fala de uma tartaruga que vive em
um gigantesco oceano. Um dia, a
tartaruga saiu do mar para se tornar peregrina na terra. Encontrou um poço d’água e dentro dele viu um
sapo, alegre e dançante, pererecando.
A tartaruga perguntou quem ele era e o sapo respondeu:
“Eu sou o sapo feliz, que pula
dali para lá, de lá para cá; fico o tempo todo olhando para o céu
redondo. Quando sinto fome, como, quando
me canso, não faço nada: meu mundo é maravilhoso! E quem é você? De onde vem?”
“Eu sou a tartaruga e venho do oceano.”
“E como é o oceano?” - perguntou o sapo, curioso.
“O oceano é sempre o mesmo, não diminui nem aumenta e contém em si
toda a vida.”
O sapo não gostou do que ouvir e retrucou:
“Isso é uma grande mentira, não pode existir um lugar assim” - e
não quis mais conversa com a tartaruga.
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Nesse conto, Chuang Tzu fala da incompreensão e da
incompatibilidade das coisas e seres.
Ele não chega a falar na moral da história. Ele simplesmente termina a história.
Esse simples término vem gerando grandes polêmicas entre seus
leitores e estudiosos. Alguns defendem a
tartaruga e outros defendem o sapo.
Estes últimos argumentam:
“De que vale o grande? O grande é
tão grande que é incapaz de se submeter a um poço. A vida pode ser simples e feliz, como a que
vive o sapo, sem sofrimentos nem frustrações”.
Os primeiros, aqueles que defendem a tartaruga, dizem: “É impossível para o sapo compreender a
grandiosidade do universo, como o oceano.
Para se compreender a grandiosidade, é preciso ser grande”.
Por outro lado, aparentemente, Chuang Tzu defende ambos os lados
porque expõe os fatos sem colocar a “moral” da história, no final. Através da colocação paradoxal, ele nos leva
a uma compreensão que está além da discussão do grande e do pequeno.
Porque....
Sob o ponto de
vista do grande, o grande está correto.
E
Sob o ponto de
vista do pequeno, o pequeno está correto.
Na realidade, para a tartaruga, não existe a questão do certo ou do
errado. Assim como para o sapo.
Se estivermos nos deparando com essas duas realidades - uma é tão
real quanto a outra -, nesse momento não podemos julgar. E, através desse não-julgamento, nós entramos
numa terceira dimensão onde simplesmente se compreende que não se pode nem
decifrar nem interpretar essas duas realidades.
Portanto, devemos ir além da questão do grande e do pequeno.
E é a isso que Lao Tse chama de O Grande; portanto, é minúsculo.
Para entrar nessa viagem, é preciso que compreendamos além da
palavra e além do puro racionalismo.
Quando a compreensão vai além do grande e do pequeno, essa
compreensão é grande. Essa compreensão
alcança algo que pode ser chamado de grande.
Portanto, esse algo grande, é minúsculo, não é grande, não tem volume.
Lao Tse nos fala da força de vontade; e, sobretudo, da grande visão
que é, ao mesmo tempo, grande e minúscula.
Capítulo 34
O Grande Caminho é vasto
Pode ser encontrado na
esquerda e na direita
Os dez mil seres dEle dependem
para viver
E Ele não os rechaça
Conclui a obra sem mostrar a
Sua existência
É o manto que cobre os dez mil
seres, sem agir como senhor,
Podendo ser chamado de pequeno
Os dez mil seres voltam para
Ele, sem que aja como senhor,
Podendo ser chamado de grande.
Assim, o Homem Sagrado nunca
age como grande
Por isso pode atingir sua grandeza.
...............
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA
VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do
Capítulo 34
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula
Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 14 de março
de 1995
Transcrição e Síntese de
Janine Milward
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Nesta mesma Editora,
encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em
breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching