O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante

                           Em direção ao Moinho de Meditação - Sítio das Estrelas, Janine Milward



TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 1

O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas
Assim, a constante não-aspiração é contemplar as Maravilhas
E a constante aspiração é contemplar o Orifício
Ambos são distintos em seus nomes mas têm a mesma origem
O comum entre os dois se chama Mistério
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas

...............................................

Interpretação de Janine Milward

Os conceitos fundamentais e estruturais para uma melhor compreensão do Tao e do Livro do Caminho e da Virtude, já são apresentados no Capítulo 1 em sua primeira estrofe.

Primeiramente, Lao Tse nos diz que não existe linguagem possível que possa alcançar a verdadeira essência do Tao, ou seja, o verdadeiro Tao está além de qualquer linguagem, bem como além de qualquer possibilidade de manifestação tanto do consciente quanto do inconsciente.

Jacques Lacan, discípulo direto de Freud e filósofo e psicanalista, nos disse que: "O inconsciente é estruturado como uma linguagem". Assim, é possível que o inconsciente seja acessado e decodificado - como acontece com a linguagem.
Quanto ao Tao, no entanto, nada, nada, pode verdadeiramente denominá-lo. Nem todo o inconsciente que traz à tona toda a sabedoria e conhecimento do universo pode falar acerca da realidade do Tao.

Sendo o Tao a única possível constância do Todo e do Tudo, a única possível realidade que é imutável, Lao Tse a Ele se refere como impossível de se referenciar. Quando algo semelhante ao Tao é referenciado, já não é o Tao verdadeiro, é apenas algo que se pode referenciar como Tao, como O Caminho.

O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Não podendo ser referenciado de nenhuma forma, do Tao parte o princípio criador e formador de todas as coisas. Esse princípio, primordialmente, ainda é a não-vida, a não-existência, a não-forma, a não-realidade - que dá berço à vida, à existência, à forma, à realidade. Esse é o Wu Chi, o Mundo da Não-Manifestação, onde o Tudo e o Todo - o céu e a terra - são gestados ainda dentro do Ventre do Tao.

Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Sem-Nome, então, é o Wu Chi, O Mundo da Não-Manifestação que dá criação ao Tudo e ao Todo, o Mundo da Manifestação, Tai Chi.

O Mundo da Manifestação, Tai Chi, inclui o Tudo e o Todo advindos do Mundo da Não-Manifestação.

No entanto, o Tudo faz ainda parte da idéia de totalidade advinda do Tao do Mundo da Não-Manifestação. O Todo faz parte da idéia da totalidade advinda do Tao do Mundo da Manifestação. O Tudo ainda é indefinível enquanto o Todo já pode ser definido e identificado. Assim, O Todo adquire um nome.

Com-Nome é a mãe das dez mil coisas

Dessa maneira, na primeira estrofe do Capítulo 1 Lao Tse nos apresenta o Tao e a total impossibilidade de se falar sobre Ele em sua essência. Quando alguma linguagem passa a se referir sobre o Tao, então, já não é mais o Tao essencial e sim, o Tao através de alguma forma ou linguagem. Também nessa primeira estrofe, Lao Tse nos introduz á estrutura da formação do Tudo e do Todo do qual somos parte: o Wu Chi, O Mundo da Não-Manifestação e o Tai Chi, O Mundo da Manifestação - conceitos fundamentais e estruturais de compreensão da verdadeira natureza do céu e da terra.

Na segunda estrofe, Lao Tse nos reforça a necessidade de não nos desviarmos do sentido da Constância: somente o Tao é constante. Sendo assim, tudo aquilo que se deve fazer em relação à busca do Tao estará contido dentro da constância. Todo o resto, é entendido como duração, ou seja, algo que tem seu começo, seu meio e seu fim.... para que seja transmutado em um novo começo..... infinitamente, porém, dentro da duração, da cisão, da separação, da descontinuidade. Apenas o Tao, O Caminho, se encontra dentro da constância, da continuidade.

Assim, nos dois primeiros versos da segunda estrofe, são demonstradas duas formas distintas, porém dentro da mesma essência, de se vivenciar o Tao, O Caminho, praticando o Te, A Virtude: a constância da não-aspiração e a constância da aspiração.

A não-aspiração é agir o Te, A Virtude, apenas por agir, sem intenção, ou seja, sempre praticando o Wu Wei, a não-ação. Não-ação não significa nada fazer.... significa sim, fazer quando deve e como deve ser feito no momento em que deve ser feito, fluindo junto ao Tao, naturalmente, sem que conscientemente se use a intenção de fazer algo. Agindo naturalmente, certamente o Caminhante estará agindo dentro da natureza do Tao - essa é a não-ação. Lao Tse usa o termo Maravilhas para nos elucidar sobre o Tudo e o Todo que o Tao pode nos proporcionar através de suas manifestações.

Assim,
A constante não-aspiração é contemplar as Maravilhas

A aspiração, que aparece no segundo verso da segunda estrofe, é também agir o Te, A Virtude, apenas que nesse momento, usando a vontade, a intenção de seguir rumo ao Tao, rimo ao Caminho, buscando suas Maravilhas através da contemplação do Orifício. O Orifício é o instante supremo do Revirão do universo, o instante supremo onde e quando o Mundo da Manifestação se encontra com o Mundo da Não-Manifestação - ou seja, quando se está muito, muito próximo ao Tao, ao Caminho.

A constante aspiração é contemplar o Orifício

Essa aspiração é constante, ou seja, a meta do Caminhante é sempre, sempre, alcançar o Tao, O Caminho e com Ele se fusionar plenamente, é retornar ao Mundo da Não-Manifestação - para então continuar sua Jornada, seu Caminho. E a não-aspiração também é constante porque é movida, inspirada pelo Tao, pelo Caminho, exercendo, naturalmente, O Wu Wei, a não-ação, a naturalidade advinda do Tao e que a Ele retorna.

Ambos são distintos em seus nomes mas têm a mesma origem

Na última parte da segunda estrofe, completando o Capítulo 1, Lao Tse nos revela o Mistério. O Mistério é a verdadeira saída do Mundo da Manifestação e a verdadeira entrada no Mundo da Não-Manifestação. O Mistério dos Mistérios é, ao se tornar o Homem Sagrado, tendo adquirido a Iluminação e a Imortalidade, o Caminhante atravessa o Portal que ainda o separava da verdadeira essência do Tao, do Caminho. O Portal está ainda além do Mundo da Não-Manifestação, já faz parte do Sem-Nome.

O comum entre os dois se chama Mistério
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas

A partir daí, da travessia do Portal, tudo retorna a seu começo, ou seja, retorna ao primeiro verso da primeira estrofe do Capítulo 1 do Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude.

O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho Constante
O Nome que pode ser expresso não é o Nome Constante

................

FOTO SÍTIO DAS ESTRELAS - Janine Milward

TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 1

Interpretação de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.

Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Foto: TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 1

O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante 
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante 
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra 
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas 
Assim, a constante não-aspiração é contemplar as Maravilhas
E a constante aspiração é contemplar o Orifício 
Ambos são distintos em seus nomes mas têm a mesma origem 
O comum entre os dois se chama Mistério 
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas 

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Interpretação de Janine Milward

Os conceitos fundamentais e estruturais para uma melhor compreensão do Tao e do Livro do Caminho e da Virtude, já são apresentados no Capítulo 1 em sua primeira estrofe.

Primeiramente, Lao Tse nos diz que não existe linguagem possível que possa alcançar a verdadeira essência do Tao, ou seja, o verdadeiro Tao está além de qualquer linguagem, bem como além de qualquer possibilidade de manifestação tanto do consciente quanto do inconsciente.

Jacques Lacan, discípulo direto de Freud e filósofo e psicanalista, nos disse que: "O inconsciente é estruturado como uma linguagem". Assim, é possível que o inconsciente seja acessado e decodificado - como acontece com a linguagem.
Quanto ao Tao, no entanto, nada, nada, pode verdadeiramente denominá-lo. Nem todo o inconsciente que traz à tona toda a sabedoria e conhecimento do universo pode falar acerca da realidade do Tao.

Sendo o Tao a única possível constância do Todo e do Tudo, a única possível realidade que é imutável, Lao Tse a Ele se refere como impossível de se referenciar. Quando algo semelhante ao Tao é referenciado, já não é o Tao verdadeiro, é apenas algo que se pode referenciar como Tao, como O Caminho.

O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Não podendo ser referenciado de nenhuma forma, do Tao parte o princípio criador e formador de todas as coisas. Esse princípio, primordialmente, ainda é a não-vida, a não-existência, a não-forma, a não-realidade - que dá berço à vida, à existência, à forma, à realidade. Esse é o Wu Chi, o Mundo da Não-Manifestação, onde o Tudo e o Todo - o céu e a terra - são gestados ainda dentro do Ventre do Tao.

Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Sem-Nome, então, é o Wu Chi, O Mundo da Não-Manifestação que dá criação ao Tudo e ao Todo, o Mundo da Manifestação, Tai Chi.

O Mundo da Manifestação, Tai Chi, inclui o Tudo e o Todo advindos do Mundo da Não-Manifestação.

No entanto, o Tudo faz ainda parte da idéia de totalidade advinda do Tao do Mundo da Não-Manifestação. O Todo faz parte da idéia da totalidade advinda do Tao do Mundo da Manifestação. O Tudo ainda é indefinível enquanto o Todo já pode ser definido e identificado. Assim, O Todo adquire um nome.

Com-Nome é a mãe das dez mil coisas

Dessa maneira, na primeira estrofe do Capítulo 1 Lao Tse nos apresenta o Tao e a total impossibilidade de se falar sobre Ele em sua essência. Quando alguma linguagem passa a se referir sobre o Tao, então, já não é mais o Tao essencial e sim, o Tao através de alguma forma ou linguagem. Também nessa primeira estrofe, Lao Tse nos introduz á estrutura da formação do Tudo e do Todo do qual somos parte: o Wu Chi, O Mundo da Não-Manifestação e o Tai Chi, O Mundo da Manifestação - conceitos fundamentais e estruturais de compreensão da verdadeira natureza do céu e da terra.

Na segunda estrofe, Lao Tse nos reforça a necessidade de não nos desviarmos do sentido da Constância: somente o Tao é constante. Sendo assim, tudo aquilo que se deve fazer em relação à busca do Tao estará contido dentro da constância. Todo o resto, é entendido como duração, ou seja, algo que tem seu começo, seu meio e seu fim.... para que seja transmutado em um novo começo..... infinitamente, porém, dentro da duração, da cisão, da separação, da descontinuidade. Apenas o Tao, O Caminho, se encontra dentro da constância, da continuidade.

Assim, nos dois primeiros versos da segunda estrofe, são demonstradas duas formas distintas, porém dentro da mesma essência, de se vivenciar o Tao, O Caminho, praticando o Te, A Virtude: a constância da não-aspiração e a constância da aspiração.

A não-aspiração é agir o Te, A Virtude, apenas por agir, sem intenção, ou seja, sempre praticando o Wu Wei, a não-ação. Não-ação não significa nada fazer.... significa sim, fazer quando deve e como deve ser feito no momento em que deve ser feito, fluindo junto ao Tao, naturalmente, sem que conscientemente se use a intenção de fazer algo. Agindo naturalmente, certamente o Caminhante estará agindo dentro da natureza do Tao - essa é a não-ação. Lao Tse usa o termo Maravilhas para nos elucidar sobre o Tudo e o Todo que o Tao pode nos proporcionar através de suas manifestações.

Assim,
A constante não-aspiração é contemplar as Maravilhas

A aspiração, que aparece no segundo verso da segunda estrofe, é também agir o Te, A Virtude, apenas que nesse momento, usando a vontade, a intenção de seguir rumo ao Tao, rimo ao Caminho, buscando suas Maravilhas através da contemplação do Orifício. O Orifício é o instante supremo do Revirão do universo, o instante supremo onde e quando o Mundo da Manifestação se encontra com o Mundo da Não-Manifestação - ou seja, quando se está muito, muito próximo ao Tao, ao Caminho.

A constante aspiração é contemplar o Orifício

Essa aspiração é constante, ou seja, a meta do Caminhante é sempre, sempre, alcançar o Tao, O Caminho e com Ele se fusionar plenamente, é retornar ao Mundo da Não-Manifestação - para então continuar sua Jornada, seu Caminho. E a não-aspiração também é constante porque é movida, inspirada pelo Tao, pelo Caminho, exercendo, naturalmente, O Wu Wei, a não-ação, a naturalidade advinda do Tao e que a Ele retorna.

Ambos são distintos em seus nomes mas têm a mesma origem

Na última parte da segunda estrofe, completando o Capítulo 1, Lao Tse nos revela o Mistério. O Mistério é a verdadeira saída do Mundo da Manifestação e a verdadeira entrada no Mundo da Não-Manifestação. O Mistério dos Mistérios é, ao se tornar o Homem Sagrado, tendo adquirido a Iluminação e a Imortalidade, o Caminhante atravessa o Portal que ainda o separava da verdadeira essência do Tao, do Caminho. O Portal está ainda além do Mundo da Não-Manifestação, já faz parte do Sem-Nome.

O comum entre os dois se chama Mistério
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas

A partir daí, da travessia do Portal, tudo retorna a seu começo, ou seja, retorna ao primeiro verso da primeira estrofe do Capítulo 1 do Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude.

O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho Constante
O Nome que pode ser expresso não é o Nome Constante

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FOTO SÍTIO DAS ESTRELAS - Janine Milward

TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 1

Interpretação de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.

Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se  a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Coisas exuberantes dirigem-se à velhice

Foto: TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Capítulo 30

Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens
Não utiliza a arma e a força, sob o céu
Pois esta atividade beneficia o revide

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo

Isto é, determinado porém sem se forçar

Coisas exuberantes dirigem-se à velhice
Isso se chama negar o Caminho
Negando o Caminho irá falecer cedo.

Lao Tse está falando exatamente o oposto da cultura moderna que é construída em cima da  fartura, da exuberância, da rapidez.  As pessoas vivem a vida em excesso, de forma muito intensa, rapidamente: tudo o que cresce precocemente, termina precocemente.  Isso é o que Ele chama de ‘falecer cedo’.

Se observarmos a lógica e a estrutura do texto, basicamente está se falando sobre a meditação.

Na meditação, temos que ter a consciência das coisas sem sermos prisioneiros das coisas.  É sabermos entrar no mundo sem sermos prisioneiros dele.  É sabermos sair do mundo sem nos afastarmos dele.  Nos libertar do mundo, sem nos afastar dele.

Isso parece fácil, mas, na realidade, é muito difícil.  Normalmente, ou entramos no mundo e nos sentimos prisioneiro dele ou nos libertamos do mundo nos afastando dele.

Ao colocar o desejo de libertação dos laços mundanos, o eremita rompe seus laços com o mundo, com a família, com os amigos e se esconde de tudo e de todos, na floresta.

E existem as pessoas - que nós estamos tentando ser -, que se encontram dentro do mundo e ao mesmo tempo sendo prisioneiros dos laços da amizade, do relacionamento afetivo, da família, do dinheiro, da estrutura social, dos conceitos, da educação e de tudo o que existe em torno.

E o que Lao Tse está falando?

Ele fala em se saber viver esse complexo chamado mundo sem ser prisioneiro dele.  E ao mesmo tempo saber se libertar desse complexo chamado mundo sem se afastar dele.

Isso é o que Mestre Maa chama de ‘entrar e sair sem se manchar’.

Nós nascemos e entramos no mundo.  Um dia iremos morrer e sairemos do mundo.  Entramos na vida sem trazer nada e sairemos da vida sem levar nada.

Apenas que não é bem assim que vivemos.  Nós já entramos na vida, no mundo, trazendo uma bagagem das infinitas vidas anteriores, nas nossas costas, como sementes kármicas.  E um dia sairemos dessa vida, deixando tudo o que possuímos, levando apenas as sementes kármicas para a próxima viagem.

Assim, nós não entramos sem nada e não saímos sem nada.

E o que o  Taoísmo propõe?

O Taoísmo propõe que um dia possamos ‘entrar e sair sem nos manchar’.

Esse ‘entrar e sair sem nos manchar’ nos permite viver a vida sem sermos prisioneiros da vida.  nos permite nos libertar do mundo sem nos afastarmos dele.

Como fazer isto?

Desenvolvendo uma consciência sem apego.

Como começar? (já que é um estágio alto a ser alcançado)

Começando com a simples tomada de consciência, começando a ver as coisas e como elas podem ser simples.  Julgando menos, interferindo menos, colocando uma quietude interior, uma calma interior mínima e necessária para podermos ver a vida como ela é.  Nem sempre queremos ver a vida como ela é.

Essa primeira tomada de consciência - no sentido de vermos a vida como ela é e de ver a nós mesmos como realmente somos, nos aceitando e aceitando o mundo - essa aceitação simples não é um discurso manipulador de conformismo.

Essa simples aceitação é apenas um método didático para podermos dar o primeiro passo, ou seja, para ‘cairmos na real’.

No Taoísmo, o primeiro ensinamento é ‘cair na real’:

Quem sou eu?  O que sou?

Sem críticas nem elogios.  Apenas ver a vida e a nós mesmos com realismo.  Sem criar falsas expectativas.  Esse é o primeiro passo para uma visão mais clara da realidade.  Num estágio mais avançado, mesmo uma visão mais clara da realidade pode ser percebida como nem sempre sendo a realidade...  Mas no início se dá dessa maneira.

Como alcançar isso?

Através da quietude, tendo mais calma e mais silêncio interior para se poder possuir maior sobriedade dentro de nós, para encararmos a vida de forma simples.

Essa ‘sobriedade’ tem certa semelhança com uma espécie de ‘frieza’.  Não é uma frieza pejorativa, não é como se fosse uma pessoa de sangue frio, que não se emociona com nada.  Não é isso.  essa aparente frieza é a calma que deve ser encontrada para se alcançar a visão simples das coisas.

Muitas vezes, em nossa vida, passamos por uma experiência de silêncio e de observação, parecendo que estamos ‘fóra’ do ambiente onde estamos, uma aula, uma festa.  Olhamos as coisas acontecendo em torno de nós, sem nos envolver com elas.  Essa sensação é muito semelhante com a quietude interior que faz com que nós simplesmente olhemos as coisas.  No entanto, nossa vida é normalmente tão envolvida com tudo que não conseguimos viver com quietude.  Daí a importância da meditação.

A prática da meditação é o  exercício que faz com que nós - pelo menos por 10 a 15 minutos - fiquemos sem fazer nada.  Nos sentamos no silêncio, sem pensarmos em nada - nem em coisas alegres, nem em coisas tristes.  Apenas ficamos no silêncio para acostumarmos a ter esse silêncio dentro de nós.  Com a prática, ficamos mais calmos, mais relaxados, nossa saúde física e psíquica melhora.  E percebemos que esse silêncio se instala paralelamente ao nosso trabalho, às nossas conversas com as pessoas.  E aprendemos a não perder tempo com as coisas, aprendemos a não compreender as coisas de uma maneira errada ou ilusória e  aprendemos a não criar expectativas irreais.  Com a visão mais clara, temos menos desgastes emocionais e geramos uma roda positiva de vida, sem ilusões.

Este Capítulo de Lao Tse fala do homem que, apesar de sua determinação, pode ser sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem se tornar excessivo.

É muito comum encontrarmos pessoas determinadas porém excessivamente insistentes, fanáticas, até.

No I Ching, existe um Hexagrama chamado O Ferimento da Luz.  Esse Hexagrama fala do excesso de luz, fala daquela pessoa que é muito lúcida, muito consciente, que vê tudo.  E isso é quase insuportável porque tudo em excesso, fere.  Com a luz em excesso, a terra torna-se estéril.  Com o excesso de chuva, a terra torna-se inundada.  A vida vivida em excesso é consumida rapidamente.

A determinação pode, dessa maneira, gerar excessos.  Excesso de convicção, de fé, pode ser transformado em fanatismo.  E Lao Tse está nos avisando em relação a isso.

A determinação sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem excessos, significa termos a consciência das coisas sem sermos prisioneiros delas.

Voltando ao texto:

Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens

O senhor dos homens é o governante.  Também é um termo que pode abranger, de uma maneira simbólica, todas as coisas.  Nosso corpo é composto de inúmeros segmentos, incontáveis células.  Se cada célula é como um ser, é como se fosse o povo pertencente a um país.  O corpo é o território.  Os órgãos e as vísceras, os ministérios e departamentos.  E nossa consciência é o governante, o rei que governa esse reino.

O senhor dos homens é o governante.  O governante é o rei.  Rei é a Consciência.  Teoricamente falando, o senhor dos homens é a consciência que governa cada ser.

Num sistema administrativo, o senhor dos homens é aquele que é capaz de tomar decisões que interferem na vida de todos.

Num sentido mais metafísico, o senhor dos homens é aquele que governa a vida de todos os homens.  Quem governa a vida de todos os homens?  A consciência.  é a consciência que existe em cada ser, em cada pessoa.  Essa consciência não é a consciência egóica, particular de cada um de nós, mas sim a consciência que está em toda a parte, aquela que nós chamamos de Consciência Universal.

Na consciência egóica, a minha consciência é diferente da sua.  É a consciência da personalidade.  É uma consciência que tem uma tendência para agir de uma maneira ou de outra maneira.  É uma consciência aparentemente isolada das outras consciências.

A consciência universal é uma consciência mais sutil, que atua em todas as pessoas.  A minha consciência universal e a consciência universal de qualquer outra pessoa é a mesma.  É ao mesmo tempo individual e coletiva.

O senhor dos homens é essa consciência universal.  Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens  é aquele que utiliza o Tao - Caminho é Tao -, o Absoluto, para auxiliar a consciência de cada ser.

Essa pessoa  Não utiliza a arma e a força, sob o céu.  Não age através da força e da violência para atuar nas coisas do mundo.  Não interfere na ordem natural das coisas.
Por que não se utiliza da arma e da força?

Pois esta atividade beneficia o revide

Os grandes conquistadores, depois de suas grandes conquistas, obtiveram grandes derrotas e destruição.  Não existiram conquistadores que permaneceram em suas próprias vitórias, todos foram devorados pela própria força do retorno.

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Na guerra, tudo é destruído, as pessoas morrem, sobram apenas ruínas.

Em relação à esta frase, também existe um fator histórico a ser conhecido.  Antigamente, na China, o soldado do exército, em tempos de paz, era agricultor.  O cavalo de guerra era o cavalo do arado.  O soldado que precisasse de uma atividade física forte, trabalhava na enxada ao invés de ficar lutando com armas.  É preferível se transformar soldados em camponeses do que camponeses em soldados.  Em épocas de paz, existe a abundância de alimentos.  Em épocas de guerra, quando os camponeses se tornam soldados, as plantações são perdidas ou destruídas.

Por isso, Ele diz:
Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Neste texto, Lao Tse nos fala basicamente da importância de se viver a vida através da consciência.  e onde devemos nos inspirar para obtermos essa consciência?

Através do Tao.  

E o que o Tao nos mostra?  Nos mostra o conceito do Vazio, da receptividade e da naturalidade.

O que é o Caminho?  

O Caminho é a estrada por onde podemos caminhar.  E o caminho só existe se caminharmos nele.  Se o fizermos.  Nós fazemos o Caminho.  Um caminho que não é caminhado, deixa de ser caminho.  Um caminho que não é vivido, não é um caminho.  O Taoísmo é uma Tradição essencialmente prática.

Seguimos o Taoísmo.  Não se tem o Tao, não se tem o Caminho.  Vivemos o Tao.  Vivemos o Caminho.  E o Caminho passa a existir quando O vivemos.

O Tao do Taoísmo tem 3 significados:

O Caminho
O Caminhante
O Ato de Caminhar

Se não existir o homem fazendo o Caminho caminhando, não há caminho, nem homem, nem o ato de caminhar.  E não existiria o Tao.

A busca da Consciência é a busca do Espírito.  Em chinês, o termo ‘espírito’ é o conceito da consciência.

O que é o Caminho espiritual?

O Caminho espiritual é o Caminho da Consciência.

O que é o Caminho da Consciência?

É a consciência vivida, caminhada.  Dessa maneira, a Consciência passa a existir.

Por isso, Lao Tse diz:  Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens -  é aquele que segue e vive a Consciência em sua vida.

Não utiliza a arma e a força, sob o céu - ou seja, é aquele que não interfere na ordem natural das coisas, que sabe se integrar na ordem natural das coisas.

Na linguagem do I Ching, é a união do homem coma Terra e com o Céu.

Em outro Capítulo, Lao Tse diz:

O homem se orienta pela Terra
A Terra se orienta pelo Céu
O Céu se orienta pelo Tao
E o Tao se orienta por sua própria natureza

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas  -  seguir o destino da vida através da Consciência significa cair na real, cometer menos erros, fazer um caminho mais iluminado e mais lúcido.  Esse Caminho é o caminho da integração, da naturalidade, do respeito e da não-violência.  A violência traz a própria destruição da vida.

Essa frase também fala do conceito que interferiu em várias das atividades do Taoísmo em relação às terapias corporais, à medicina chinesa e outros.

A medicina chinesa trabalha com o conceito de que a doença não é inimiga - embora possa ser nociva -, mas a doença faz parte da pessoa.  Obviamente, a contenção é essencial e o equilíbrio é adotado como meio de resolver o problema.  Quanto à alopatia, é uma forma de cura mais guerreira.  O remédio é o guerreiro que combate, que luta, com a doença.

E Lao Tse continua:
Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso

O termo ‘cauteloso’ é usado em referencia à não-utilização da arma e da força.  Ele nos diz para que o uso da arma e da força seja cauteloso.
A determinação, saber o que se quer na vida, é bom.  Mas é preciso ser cauteloso para que essa determinação não se torne algo agressivo que violente a nossa própria vida, destruindo o que está em torno de nós.

A determinação deve ser compreendida como ‘saber-se o que se quer’.  O Taoísmo nos pede para que saibamos encontrar a prioridade da vida.  sabendo a prioridade da vida, nós não ficamos tão perdidos.  E chegamos ao final da vida com a consciência de que fizemos o que devíamos ter feito.

Essa prioridade é a determinação.  E a determinação tem que ser vivida com cautela para que não se torne fanatismo ou radicalismo - que é a utilização da força.

Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo

Devemos procurar não ter orgulho e vaidades.  Não tendo essas atitudes e tendo a determinação, naturalmente estaremos vivendo o Tao.

Inúmeros outros textos de Lao Tse dizem:

O Homem Sagrado realiza a obra, conclui a obra e se retira, sem precisar de reconhecimento.

Essa não-personalização é a marca do Taoísmo.  Por isso o Taoísmo se chama Taoísmo e não Laoísmo (sendo Lao Tse o grande patriarca), e isso abre uma visão mais liberal da linhagem dos patriarcas: antes de Lao Tse existiram outros patriarcas como também depois dEle.

Isto é, determinado porém sem se forçar  - sem forçar a ordem natural das coisas.

Coisas exuberantes  - fóra da realidade - dirigem-se à velhice

Isso se chama negar o Caminho

Negar o Caminho é negar a fluidez natural, não respeitando o tempo natural das coisas, não sabendo viver a cada momento.  

Vivendo a nostalgia do passado ou a ilusão do futuro, não se vive o presente.

Negando o Caminho irá falecer cedo.

Viver em excesso é viver  fóra da realidade e isso acaba conduzindo à morte.

Respeitando-se a ordem natural das coisas, a cada segundo, a cada minuto, a cada hora, se faz o que deve ser feito.

Essa é a Consciência.

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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de LAO TSE,
POR WU JYH CHERNG

Transcrição de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, 
Rio de Janeiro, em 07 de fevereiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Capítulo 30

Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens
Não utiliza a arma e a força, sob o céu
Pois esta atividade beneficia o revide

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo

Isto é, determinado porém sem se forçar

Coisas exuberantes dirigem-se à velhice
Isso se chama negar o Caminho
Negando o Caminho irá falecer cedo.

Lao Tse está falando exatamente o oposto da cultura moderna que é construída em cima da fartura, da exuberância, da rapidez. As pessoas vivem a vida em excesso, de forma muito intensa, rapidamente: tudo o que cresce precocemente, termina precocemente. Isso é o que Ele chama de ‘falecer cedo’.

Se observarmos a lógica e a estrutura do texto, basicamente está se falando sobre a meditação.

Na meditação, temos que ter a consciência das coisas sem sermos prisioneiros das coisas. É sabermos entrar no mundo sem sermos prisioneiros dele. É sabermos sair do mundo sem nos afastarmos dele. Nos libertar do mundo, sem nos afastar dele.

Isso parece fácil, mas, na realidade, é muito difícil. Normalmente, ou entramos no mundo e nos sentimos prisioneiro dele ou nos libertamos do mundo nos afastando dele.

Ao colocar o desejo de libertação dos laços mundanos, o eremita rompe seus laços com o mundo, com a família, com os amigos e se esconde de tudo e de todos, na floresta.

E existem as pessoas - que nós estamos tentando ser -, que se encontram dentro do mundo e ao mesmo tempo sendo prisioneiros dos laços da amizade, do relacionamento afetivo, da família, do dinheiro, da estrutura social, dos conceitos, da educação e de tudo o que existe em torno.

E o que Lao Tse está falando?

Ele fala em se saber viver esse complexo chamado mundo sem ser prisioneiro dele. E ao mesmo tempo saber se libertar desse complexo chamado mundo sem se afastar dele.

Isso é o que Mestre Maa chama de ‘entrar e sair sem se manchar’.

Nós nascemos e entramos no mundo. Um dia iremos morrer e sairemos do mundo. Entramos na vida sem trazer nada e sairemos da vida sem levar nada.

Apenas que não é bem assim que vivemos. Nós já entramos na vida, no mundo, trazendo uma bagagem das infinitas vidas anteriores, nas nossas costas, como sementes kármicas. E um dia sairemos dessa vida, deixando tudo o que possuímos, levando apenas as sementes kármicas para a próxima viagem.

Assim, nós não entramos sem nada e não saímos sem nada.

E o que o Taoísmo propõe?

O Taoísmo propõe que um dia possamos ‘entrar e sair sem nos manchar’.

Esse ‘entrar e sair sem nos manchar’ nos permite viver a vida sem sermos prisioneiros da vida. nos permite nos libertar do mundo sem nos afastarmos dele.

Como fazer isto?

Desenvolvendo uma consciência sem apego.

Como começar? (já que é um estágio alto a ser alcançado)

Começando com a simples tomada de consciência, começando a ver as coisas e como elas podem ser simples. Julgando menos, interferindo menos, colocando uma quietude interior, uma calma interior mínima e necessária para podermos ver a vida como ela é. Nem sempre queremos ver a vida como ela é.

Essa primeira tomada de consciência - no sentido de vermos a vida como ela é e de ver a nós mesmos como realmente somos, nos aceitando e aceitando o mundo - essa aceitação simples não é um discurso manipulador de conformismo.

Essa simples aceitação é apenas um método didático para podermos dar o primeiro passo, ou seja, para ‘cairmos na real’.

No Taoísmo, o primeiro ensinamento é ‘cair na real’:

Quem sou eu? O que sou?

Sem críticas nem elogios. Apenas ver a vida e a nós mesmos com realismo. Sem criar falsas expectativas. Esse é o primeiro passo para uma visão mais clara da realidade. Num estágio mais avançado, mesmo uma visão mais clara da realidade pode ser percebida como nem sempre sendo a realidade... Mas no início se dá dessa maneira.

Como alcançar isso?

Através da quietude, tendo mais calma e mais silêncio interior para se poder possuir maior sobriedade dentro de nós, para encararmos a vida de forma simples.

Essa ‘sobriedade’ tem certa semelhança com uma espécie de ‘frieza’. Não é uma frieza pejorativa, não é como se fosse uma pessoa de sangue frio, que não se emociona com nada. Não é isso. essa aparente frieza é a calma que deve ser encontrada para se alcançar a visão simples das coisas.

Muitas vezes, em nossa vida, passamos por uma experiência de silêncio e de observação, parecendo que estamos ‘fóra’ do ambiente onde estamos, uma aula, uma festa. Olhamos as coisas acontecendo em torno de nós, sem nos envolver com elas. Essa sensação é muito semelhante com a quietude interior que faz com que nós simplesmente olhemos as coisas. No entanto, nossa vida é normalmente tão envolvida com tudo que não conseguimos viver com quietude. Daí a importância da meditação.

A prática da meditação é o exercício que faz com que nós - pelo menos por 10 a 15 minutos - fiquemos sem fazer nada. Nos sentamos no silêncio, sem pensarmos em nada - nem em coisas alegres, nem em coisas tristes. Apenas ficamos no silêncio para acostumarmos a ter esse silêncio dentro de nós. Com a prática, ficamos mais calmos, mais relaxados, nossa saúde física e psíquica melhora. E percebemos que esse silêncio se instala paralelamente ao nosso trabalho, às nossas conversas com as pessoas. E aprendemos a não perder tempo com as coisas, aprendemos a não compreender as coisas de uma maneira errada ou ilusória e aprendemos a não criar expectativas irreais. Com a visão mais clara, temos menos desgastes emocionais e geramos uma roda positiva de vida, sem ilusões.

Este Capítulo de Lao Tse fala do homem que, apesar de sua determinação, pode ser sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem se tornar excessivo.

É muito comum encontrarmos pessoas determinadas porém excessivamente insistentes, fanáticas, até.

No I Ching, existe um Hexagrama chamado O Ferimento da Luz. Esse Hexagrama fala do excesso de luz, fala daquela pessoa que é muito lúcida, muito consciente, que vê tudo. E isso é quase insuportável porque tudo em excesso, fere. Com a luz em excesso, a terra torna-se estéril. Com o excesso de chuva, a terra torna-se inundada. A vida vivida em excesso é consumida rapidamente.

A determinação pode, dessa maneira, gerar excessos. Excesso de convicção, de fé, pode ser transformado em fanatismo. E Lao Tse está nos avisando em relação a isso.

A determinação sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem excessos, significa termos a consciência das coisas sem sermos prisioneiros delas.

Voltando ao texto:

Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens

O senhor dos homens é o governante. Também é um termo que pode abranger, de uma maneira simbólica, todas as coisas. Nosso corpo é composto de inúmeros segmentos, incontáveis células. Se cada célula é como um ser, é como se fosse o povo pertencente a um país. O corpo é o território. Os órgãos e as vísceras, os ministérios e departamentos. E nossa consciência é o governante, o rei que governa esse reino.

O senhor dos homens é o governante. O governante é o rei. Rei é a Consciência. Teoricamente falando, o senhor dos homens é a consciência que governa cada ser.

Num sistema administrativo, o senhor dos homens é aquele que é capaz de tomar decisões que interferem na vida de todos.

Num sentido mais metafísico, o senhor dos homens é aquele que governa a vida de todos os homens. Quem governa a vida de todos os homens? A consciência. é a consciência que existe em cada ser, em cada pessoa. Essa consciência não é a consciência egóica, particular de cada um de nós, mas sim a consciência que está em toda a parte, aquela que nós chamamos de Consciência Universal.

Na consciência egóica, a minha consciência é diferente da sua. É a consciência da personalidade. É uma consciência que tem uma tendência para agir de uma maneira ou de outra maneira. É uma consciência aparentemente isolada das outras consciências.

A consciência universal é uma consciência mais sutil, que atua em todas as pessoas. A minha consciência universal e a consciência universal de qualquer outra pessoa é a mesma. É ao mesmo tempo individual e coletiva.

O senhor dos homens é essa consciência universal. Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens é aquele que utiliza o Tao - Caminho é Tao -, o Absoluto, para auxiliar a consciência de cada ser.

Essa pessoa Não utiliza a arma e a força, sob o céu. Não age através da força e da violência para atuar nas coisas do mundo. Não interfere na ordem natural das coisas.
Por que não se utiliza da arma e da força?

Pois esta atividade beneficia o revide

Os grandes conquistadores, depois de suas grandes conquistas, obtiveram grandes derrotas e destruição. Não existiram conquistadores que permaneceram em suas próprias vitórias, todos foram devorados pela própria força do retorno.

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Na guerra, tudo é destruído, as pessoas morrem, sobram apenas ruínas.

Em relação à esta frase, também existe um fator histórico a ser conhecido. Antigamente, na China, o soldado do exército, em tempos de paz, era agricultor. O cavalo de guerra era o cavalo do arado. O soldado que precisasse de uma atividade física forte, trabalhava na enxada ao invés de ficar lutando com armas. É preferível se transformar soldados em camponeses do que camponeses em soldados. Em épocas de paz, existe a abundância de alimentos. Em épocas de guerra, quando os camponeses se tornam soldados, as plantações são perdidas ou destruídas.

Por isso, Ele diz:
Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Neste texto, Lao Tse nos fala basicamente da importância de se viver a vida através da consciência. e onde devemos nos inspirar para obtermos essa consciência?

Através do Tao.

E o que o Tao nos mostra? Nos mostra o conceito do Vazio, da receptividade e da naturalidade.

O que é o Caminho?

O Caminho é a estrada por onde podemos caminhar. E o caminho só existe se caminharmos nele. Se o fizermos. Nós fazemos o Caminho. Um caminho que não é caminhado, deixa de ser caminho. Um caminho que não é vivido, não é um caminho. O Taoísmo é uma Tradição essencialmente prática.

Seguimos o Taoísmo. Não se tem o Tao, não se tem o Caminho. Vivemos o Tao. Vivemos o Caminho. E o Caminho passa a existir quando O vivemos.

O Tao do Taoísmo tem 3 significados:

O Caminho
O Caminhante
O Ato de Caminhar

Se não existir o homem fazendo o Caminho caminhando, não há caminho, nem homem, nem o ato de caminhar. E não existiria o Tao.

A busca da Consciência é a busca do Espírito. Em chinês, o termo ‘espírito’ é o conceito da consciência.

O que é o Caminho espiritual?

O Caminho espiritual é o Caminho da Consciência.

O que é o Caminho da Consciência?

É a consciência vivida, caminhada. Dessa maneira, a Consciência passa a existir.

Por isso, Lao Tse diz: Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens - é aquele que segue e vive a Consciência em sua vida.

Não utiliza a arma e a força, sob o céu - ou seja, é aquele que não interfere na ordem natural das coisas, que sabe se integrar na ordem natural das coisas.

Na linguagem do I Ching, é a união do homem coma Terra e com o Céu.

Em outro Capítulo, Lao Tse diz:

O homem se orienta pela Terra
A Terra se orienta pelo Céu
O Céu se orienta pelo Tao
E o Tao se orienta por sua própria natureza

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas - seguir o destino da vida através da Consciência significa cair na real, cometer menos erros, fazer um caminho mais iluminado e mais lúcido. Esse Caminho é o caminho da integração, da naturalidade, do respeito e da não-violência. A violência traz a própria destruição da vida.

Essa frase também fala do conceito que interferiu em várias das atividades do Taoísmo em relação às terapias corporais, à medicina chinesa e outros.

A medicina chinesa trabalha com o conceito de que a doença não é inimiga - embora possa ser nociva -, mas a doença faz parte da pessoa. Obviamente, a contenção é essencial e o equilíbrio é adotado como meio de resolver o problema. Quanto à alopatia, é uma forma de cura mais guerreira. O remédio é o guerreiro que combate, que luta, com a doença.

E Lao Tse continua:
Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso

O termo ‘cauteloso’ é usado em referencia à não-utilização da arma e da força. Ele nos diz para que o uso da arma e da força seja cauteloso.
A determinação, saber o que se quer na vida, é bom. Mas é preciso ser cauteloso para que essa determinação não se torne algo agressivo que violente a nossa própria vida, destruindo o que está em torno de nós.

A determinação deve ser compreendida como ‘saber-se o que se quer’. O Taoísmo nos pede para que saibamos encontrar a prioridade da vida. sabendo a prioridade da vida, nós não ficamos tão perdidos. E chegamos ao final da vida com a consciência de que fizemos o que devíamos ter feito.

Essa prioridade é a determinação. E a determinação tem que ser vivida com cautela para que não se torne fanatismo ou radicalismo - que é a utilização da força.

Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo

Devemos procurar não ter orgulho e vaidades. Não tendo essas atitudes e tendo a determinação, naturalmente estaremos vivendo o Tao.

Inúmeros outros textos de Lao Tse dizem:

O Homem Sagrado realiza a obra, conclui a obra e se retira, sem precisar de reconhecimento.

Essa não-personalização é a marca do Taoísmo. Por isso o Taoísmo se chama Taoísmo e não Laoísmo (sendo Lao Tse o grande patriarca), e isso abre uma visão mais liberal da linhagem dos patriarcas: antes de Lao Tse existiram outros patriarcas como também depois dEle.

Isto é, determinado porém sem se forçar - sem forçar a ordem natural das coisas.

Coisas exuberantes - fóra da realidade - dirigem-se à velhice

Isso se chama negar o Caminho

Negar o Caminho é negar a fluidez natural, não respeitando o tempo natural das coisas, não sabendo viver a cada momento.

Vivendo a nostalgia do passado ou a ilusão do futuro, não se vive o presente.

Negando o Caminho irá falecer cedo.

Viver em excesso é viver fóra da realidade e isso acaba conduzindo à morte.

Respeitando-se a ordem natural das coisas, a cada segundo, a cada minuto, a cada hora, se faz o que deve ser feito.

Essa é a Consciência.

...............................................................

FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de LAO TSE,
POR WU JYH CHERNG

Transcrição de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 07 de fevereiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching


Foto: TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Capítulo 30

Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens
Não utiliza a arma e a força, sob o céu
Pois esta atividade beneficia o revide

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo

Isto é, determinado porém sem se forçar

Coisas exuberantes dirigem-se à velhice
Isso se chama negar o Caminho
Negando o Caminho irá falecer cedo.

Lao Tse está falando exatamente o oposto da cultura moderna que é construída em cima da  fartura, da exuberância, da rapidez.  As pessoas vivem a vida em excesso, de forma muito intensa, rapidamente: tudo o que cresce precocemente, termina precocemente.  Isso é o que Ele chama de ‘falecer cedo’.

Se observarmos a lógica e a estrutura do texto, basicamente está se falando sobre a meditação.

Na meditação, temos que ter a consciência das coisas sem sermos prisioneiros das coisas.  É sabermos entrar no mundo sem sermos prisioneiros dele.  É sabermos sair do mundo sem nos afastarmos dele.  Nos libertar do mundo, sem nos afastar dele.

Isso parece fácil, mas, na realidade, é muito difícil.  Normalmente, ou entramos no mundo e nos sentimos prisioneiro dele ou nos libertamos do mundo nos afastando dele.

Ao colocar o desejo de libertação dos laços mundanos, o eremita rompe seus laços com o mundo, com a família, com os amigos e se esconde de tudo e de todos, na floresta.

E existem as pessoas - que nós estamos tentando ser -, que se encontram dentro do mundo e ao mesmo tempo sendo prisioneiros dos laços da amizade, do relacionamento afetivo, da família, do dinheiro, da estrutura social, dos conceitos, da educação e de tudo o que existe em torno.

E o que Lao Tse está falando?

Ele fala em se saber viver esse complexo chamado mundo sem ser prisioneiro dele.  E ao mesmo tempo saber se libertar desse complexo chamado mundo sem se afastar dele.

Isso é o que Mestre Maa chama de ‘entrar e sair sem se manchar’.

Nós nascemos e entramos no mundo.  Um dia iremos morrer e sairemos do mundo.  Entramos na vida sem trazer nada e sairemos da vida sem levar nada.

Apenas que não é bem assim que vivemos.  Nós já entramos na vida, no mundo, trazendo uma bagagem das infinitas vidas anteriores, nas nossas costas, como sementes kármicas.  E um dia sairemos dessa vida, deixando tudo o que possuímos, levando apenas as sementes kármicas para a próxima viagem.

Assim, nós não entramos sem nada e não saímos sem nada.

E o que o  Taoísmo propõe?

O Taoísmo propõe que um dia possamos ‘entrar e sair sem nos manchar’.

Esse ‘entrar e sair sem nos manchar’ nos permite viver a vida sem sermos prisioneiros da vida.  nos permite nos libertar do mundo sem nos afastarmos dele.

Como fazer isto?

Desenvolvendo uma consciência sem apego.

Como começar? (já que é um estágio alto a ser alcançado)

Começando com a simples tomada de consciência, começando a ver as coisas e como elas podem ser simples.  Julgando menos, interferindo menos, colocando uma quietude interior, uma calma interior mínima e necessária para podermos ver a vida como ela é.  Nem sempre queremos ver a vida como ela é.

Essa primeira tomada de consciência - no sentido de vermos a vida como ela é e de ver a nós mesmos como realmente somos, nos aceitando e aceitando o mundo - essa aceitação simples não é um discurso manipulador de conformismo.

Essa simples aceitação é apenas um método didático para podermos dar o primeiro passo, ou seja, para ‘cairmos na real’.

No Taoísmo, o primeiro ensinamento é ‘cair na real’:

Quem sou eu?  O que sou?

Sem críticas nem elogios.  Apenas ver a vida e a nós mesmos com realismo.  Sem criar falsas expectativas.  Esse é o primeiro passo para uma visão mais clara da realidade.  Num estágio mais avançado, mesmo uma visão mais clara da realidade pode ser percebida como nem sempre sendo a realidade...  Mas no início se dá dessa maneira.

Como alcançar isso?

Através da quietude, tendo mais calma e mais silêncio interior para se poder possuir maior sobriedade dentro de nós, para encararmos a vida de forma simples.

Essa ‘sobriedade’ tem certa semelhança com uma espécie de ‘frieza’.  Não é uma frieza pejorativa, não é como se fosse uma pessoa de sangue frio, que não se emociona com nada.  Não é isso.  essa aparente frieza é a calma que deve ser encontrada para se alcançar a visão simples das coisas.

Muitas vezes, em nossa vida, passamos por uma experiência de silêncio e de observação, parecendo que estamos ‘fóra’ do ambiente onde estamos, uma aula, uma festa.  Olhamos as coisas acontecendo em torno de nós, sem nos envolver com elas.  Essa sensação é muito semelhante com a quietude interior que faz com que nós simplesmente olhemos as coisas.  No entanto, nossa vida é normalmente tão envolvida com tudo que não conseguimos viver com quietude.  Daí a importância da meditação.

A prática da meditação é o  exercício que faz com que nós - pelo menos por 10 a 15 minutos - fiquemos sem fazer nada.  Nos sentamos no silêncio, sem pensarmos em nada - nem em coisas alegres, nem em coisas tristes.  Apenas ficamos no silêncio para acostumarmos a ter esse silêncio dentro de nós.  Com a prática, ficamos mais calmos, mais relaxados, nossa saúde física e psíquica melhora.  E percebemos que esse silêncio se instala paralelamente ao nosso trabalho, às nossas conversas com as pessoas.  E aprendemos a não perder tempo com as coisas, aprendemos a não compreender as coisas de uma maneira errada ou ilusória e  aprendemos a não criar expectativas irreais.  Com a visão mais clara, temos menos desgastes emocionais e geramos uma roda positiva de vida, sem ilusões.

Este Capítulo de Lao Tse fala do homem que, apesar de sua determinação, pode ser sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem se tornar excessivo.

É muito comum encontrarmos pessoas determinadas porém excessivamente insistentes, fanáticas, até.

No I Ching, existe um Hexagrama chamado O Ferimento da Luz.  Esse Hexagrama fala do excesso de luz, fala daquela pessoa que é muito lúcida, muito consciente, que vê tudo.  E isso é quase insuportável porque tudo em excesso, fere.  Com a luz em excesso, a terra torna-se estéril.  Com o excesso de chuva, a terra torna-se inundada.  A vida vivida em excesso é consumida rapidamente.

A determinação pode, dessa maneira, gerar excessos.  Excesso de convicção, de fé, pode ser transformado em fanatismo.  E Lao Tse está nos avisando em relação a isso.

A determinação sem orgulho, sem vaidade, sem glorificação, sem excessos, significa termos a consciência das coisas sem sermos prisioneiros delas.

Voltando ao texto:

Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens

O senhor dos homens é o governante.  Também é um termo que pode abranger, de uma maneira simbólica, todas as coisas.  Nosso corpo é composto de inúmeros segmentos, incontáveis células.  Se cada célula é como um ser, é como se fosse o povo pertencente a um país.  O corpo é o território.  Os órgãos e as vísceras, os ministérios e departamentos.  E nossa consciência é o governante, o rei que governa esse reino.

O senhor dos homens é o governante.  O governante é o rei.  Rei é a Consciência.  Teoricamente falando, o senhor dos homens é a consciência que governa cada ser.

Num sistema administrativo, o senhor dos homens é aquele que é capaz de tomar decisões que interferem na vida de todos.

Num sentido mais metafísico, o senhor dos homens é aquele que governa a vida de todos os homens.  Quem governa a vida de todos os homens?  A consciência.  é a consciência que existe em cada ser, em cada pessoa.  Essa consciência não é a consciência egóica, particular de cada um de nós, mas sim a consciência que está em toda a parte, aquela que nós chamamos de Consciência Universal.

Na consciência egóica, a minha consciência é diferente da sua.  É a consciência da personalidade.  É uma consciência que tem uma tendência para agir de uma maneira ou de outra maneira.  É uma consciência aparentemente isolada das outras consciências.

A consciência universal é uma consciência mais sutil, que atua em todas as pessoas.  A minha consciência universal e a consciência universal de qualquer outra pessoa é a mesma.  É ao mesmo tempo individual e coletiva.

O senhor dos homens é essa consciência universal.  Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens  é aquele que utiliza o Tao - Caminho é Tao -, o Absoluto, para auxiliar a consciência de cada ser.

Essa pessoa  Não utiliza a arma e a força, sob o céu.  Não age através da força e da violência para atuar nas coisas do mundo.  Não interfere na ordem natural das coisas.
Por que não se utiliza da arma e da força?

Pois esta atividade beneficia o revide

Os grandes conquistadores, depois de suas grandes conquistas, obtiveram grandes derrotas e destruição.  Não existiram conquistadores que permaneceram em suas próprias vitórias, todos foram devorados pela própria força do retorno.

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Na guerra, tudo é destruído, as pessoas morrem, sobram apenas ruínas.

Em relação à esta frase, também existe um fator histórico a ser conhecido.  Antigamente, na China, o soldado do exército, em tempos de paz, era agricultor.  O cavalo de guerra era o cavalo do arado.  O soldado que precisasse de uma atividade física forte, trabalhava na enxada ao invés de ficar lutando com armas.  É preferível se transformar soldados em camponeses do que camponeses em soldados.  Em épocas de paz, existe a abundância de alimentos.  Em épocas de guerra, quando os camponeses se tornam soldados, as plantações são perdidas ou destruídas.

Por isso, Ele diz:
Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas

Neste texto, Lao Tse nos fala basicamente da importância de se viver a vida através da consciência.  e onde devemos nos inspirar para obtermos essa consciência?

Através do Tao.  

E o que o Tao nos mostra?  Nos mostra o conceito do Vazio, da receptividade e da naturalidade.

O que é o Caminho?  

O Caminho é a estrada por onde podemos caminhar.  E o caminho só existe se caminharmos nele.  Se o fizermos.  Nós fazemos o Caminho.  Um caminho que não é caminhado, deixa de ser caminho.  Um caminho que não é vivido, não é um caminho.  O Taoísmo é uma Tradição essencialmente prática.

Seguimos o Taoísmo.  Não se tem o Tao, não se tem o Caminho.  Vivemos o Tao.  Vivemos o Caminho.  E o Caminho passa a existir quando O vivemos.

O Tao do Taoísmo tem 3 significados:

O Caminho
O Caminhante
O Ato de Caminhar

Se não existir o homem fazendo o Caminho caminhando, não há caminho, nem homem, nem o ato de caminhar.  E não existiria o Tao.

A busca da Consciência é a busca do Espírito.  Em chinês, o termo ‘espírito’ é o conceito da consciência.

O que é o Caminho espiritual?

O Caminho espiritual é o Caminho da Consciência.

O que é o Caminho da Consciência?

É a consciência vivida, caminhada.  Dessa maneira, a Consciência passa a existir.

Por isso, Lao Tse diz:  Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens -  é aquele que segue e vive a Consciência em sua vida.

Não utiliza a arma e a força, sob o céu - ou seja, é aquele que não interfere na ordem natural das coisas, que sabe se integrar na ordem natural das coisas.

Na linguagem do I Ching, é a união do homem coma Terra e com o Céu.

Em outro Capítulo, Lao Tse diz:

O homem se orienta pela Terra
A Terra se orienta pelo Céu
O Céu se orienta pelo Tao
E o Tao se orienta por sua própria natureza

Onde o exército de instala, surgem espinhos e ervas secas  -  seguir o destino da vida através da Consciência significa cair na real, cometer menos erros, fazer um caminho mais iluminado e mais lúcido.  Esse Caminho é o caminho da integração, da naturalidade, do respeito e da não-violência.  A violência traz a própria destruição da vida.

Essa frase também fala do conceito que interferiu em várias das atividades do Taoísmo em relação às terapias corporais, à medicina chinesa e outros.

A medicina chinesa trabalha com o conceito de que a doença não é inimiga - embora possa ser nociva -, mas a doença faz parte da pessoa.  Obviamente, a contenção é essencial e o equilíbrio é adotado como meio de resolver o problema.  Quanto à alopatia, é uma forma de cura mais guerreira.  O remédio é o guerreiro que combate, que luta, com a doença.

E Lao Tse continua:
Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso

O termo ‘cauteloso’ é usado em referencia à não-utilização da arma e da força.  Ele nos diz para que o uso da arma e da força seja cauteloso.
A determinação, saber o que se quer na vida, é bom.  Mas é preciso ser cauteloso para que essa determinação não se torne algo agressivo que violente a nossa própria vida, destruindo o que está em torno de nós.

A determinação deve ser compreendida como ‘saber-se o que se quer’.  O Taoísmo nos pede para que saibamos encontrar a prioridade da vida.  sabendo a prioridade da vida, nós não ficamos tão perdidos.  E chegamos ao final da vida com a consciência de que fizemos o que devíamos ter feito.

Essa prioridade é a determinação.  E a determinação tem que ser vivida com cautela para que não se torne fanatismo ou radicalismo - que é a utilização da força.

Por isso,
O homem bom é determinado porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado porém sem se orgulhar
É determinado porém sem se envaidecer
É determinado porém sem se glorificar
É determinado porém sem se tornar excessivo

Devemos procurar não ter orgulho e vaidades.  Não tendo essas atitudes e tendo a determinação, naturalmente estaremos vivendo o Tao.

Inúmeros outros textos de Lao Tse dizem:

O Homem Sagrado realiza a obra, conclui a obra e se retira, sem precisar de reconhecimento.

Essa não-personalização é a marca do Taoísmo.  Por isso o Taoísmo se chama Taoísmo e não Laoísmo (sendo Lao Tse o grande patriarca), e isso abre uma visão mais liberal da linhagem dos patriarcas: antes de Lao Tse existiram outros patriarcas como também depois dEle.

Isto é, determinado porém sem se forçar  - sem forçar a ordem natural das coisas.

Coisas exuberantes  - fóra da realidade - dirigem-se à velhice

Isso se chama negar o Caminho

Negar o Caminho é negar a fluidez natural, não respeitando o tempo natural das coisas, não sabendo viver a cada momento.  

Vivendo a nostalgia do passado ou a ilusão do futuro, não se vive o presente.

Negando o Caminho irá falecer cedo.

Viver em excesso é viver  fóra da realidade e isso acaba conduzindo à morte.

Respeitando-se a ordem natural das coisas, a cada segundo, a cada minuto, a cada hora, se faz o que deve ser feito.

Essa é a Consciência.

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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 30
do Tao Te Ching, de LAO TSE,
POR WU JYH CHERNG

Transcrição de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, 
Rio de Janeiro, em 07 de fevereiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

MUNDO DA MANIFESTAÇÃO E MUNDO DA NÃO-MANIFESTAÇÃO E O ETERNO RETORNO


Foto do ANALEMA
Realizada por John Raffell combinando 52 exposições individuais, perto do Trópico de Câncer (latitude 23 1/2 norte). As fotos foram tiradas todos as semanas do ano a partir de maio de 2000, na mesma posição visando o leste, às 07:30 da manhã, em Muscat, Oman. Publicada na revista Sky&Telescope, edição de março de 2003, página 78, dentro do artigo "What is an Analemma? Assinado por Edwin L Aguirre. Esta revista é uma publicação de Sky&Telescope Publishing Co., Cambridge, MA, EUA.



MUNDO DA MANIFESTAÇÃO E MUNDO DA NÃO-MANIFESTAÇÃO
E O ETERNO RETORNO


Janine Milward

O fio da existência é advindo do Mundo da Manifestação ou Céu Posterior através da Luz e da Não-Luz, certamente. Porém, a existência é advinda da não-existência – o Mundo da Manifestação é o espelho do Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior.

Lao Tsé nos diz em seu Capítulo 40:

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

O Mundo da Não-Manifestação é a própria não-mutação, ou seja, a única coisa que nunca entra em mutação é a própria não-mutação que somente existe no Mundo da Não-Manifestação e é exatamente aquilo que Lao Tsé nos diz que não se têm palavras para falar sobre, ou para se definir... É o Tao.

O Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior – Wu Chi (Tao) ou Nirguna Brahma (Tantra) -, no entanto, não possui qualquer dualidade, apenas a Unidade, o Absoluto, Paramapurusa, Tao, Deus – o Tao da Criação.

E no Mundo da Não-Manifestação, em não havendo lugar para a dualidade – apenas para a Unidade absoluta – então, poderia nos trazer a idéia da Imortalidade, certamente. Dessa maneira, a palavra Imortalidade poderia ser sinônima de Unidade absoluta.

....... Apenas não podemos nos esquecer que o Tao está ainda além do Tudo, do Todo e do Nada....

Lao Tsé nos diz que o próprio Tao, o Caminho, faz brotar sua semelhança dentro de si mesmo – em sua absoluta interiorização, constância e não-mutação realizadas pelo Mundo da Não-Manifestação – dando berço à Criação advinda Mundo da Manifestação, ou seja, o Caminho realiza uma movimentação.

A movimentação realizada pelo Caminho em seu espelhamento plenamente interiorizado é a própria Criação.

No entanto, essa Criação é apenas um espelho do Caminho e sendo assim, sempre a Ele retorna – por ser Seu absoluto pertencimento.

Chegamos, então, à conclusão de que o movimento do Caminho em seu retorno é o princípio primordial do conceito da mutação, ou seja, existe uma movimentação entre o Caminho e a Criação, entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação.

A verdade é que essa movimentação dá berço ao Mundo da Manifestação. O Mundo da Manifestação existe a partir da mutação.

Não podemos nos esquecer, entretanto, que o Tao, o Caminho é plenamente interiorizado - assim como o Mundo da Não-Manifestação que acolhe e realiza o Mundo da Manifestação..., que, por sua vez, possui tanto interiorização quanto exteriorização.

Sendo o Tao, o Caminho, absolutamente interiorizado, constante e não-mutável, a mutação constante e existente dentro do Mundo da Não-Manifestação, se expressa na Criação – em seu Eterno Retorno.

Assim, a Criação, antes de mais nada, é o espelhamento do Tao, o Caminho, e cabe dentro Dele – que possui apenas a plenitude da interiorização.

A Criação – nascendo dentro do útero do Tao, o Caminho – em seu processo de eterna mutação, vai apresentar a constância da realização da duração, ou seja, a Criação, em sua multiplicidade, vai sempre se metamorfoseando, transformando, mudando, transmutando em tempo e espaço e em seu Caminho de eterno retorno – realizando assim, o movimento do Caminho dentro do Mundo da Manifestação.

A Criação – em sua multiplicidade e coletividade – apresenta sua exterioridade (na medida que toda a Criação cabe dentro do Mundo da Não-Manifestação advindo do Tao, o Caminho), bem como apresenta sua interioridade (na medida que é espelhamento do Tao, o Caminho, que é absolutamente interiorizado).

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward

Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO - http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/

FOTO DO SOL: ESA -http://www.esa.int/spaceinimages/Images/2014/02/Proba-2_view_of_post-eruptive_loops_on_Sun#.UwiaPGJOhMo.facebook

Foto do ANALEMA
Realizada por John Raffell combinando 52 exposições individuais, perto do Trópico de Câncer (latitude 23 1/2 norte). As fotos foram tiradas todos as semanas do ano a partir de maio de 2000, na mesma posição visando o leste, às 07:30 da manhã, em Muscat, Oman. Publicada na revista Sky&Telescope, edição de março de 2003, página 78, dentro do artigo "What is an Analemma? Assinado por Edwin L Aguirre. Esta revista é uma publicação de Sky&Telescope Publishing Co., Cambridge, MA, EUA.


O Pequeno Caminho e o Grande Caminho

   Ponte no Sítio das Estrelas, Janine Milward



O Pequeno Caminho e o Grande Caminho

Janine Milward

Eu penso ser fundamental que aprendamos a olhar para o princípio, para o durante, e para o fim de tudo na natureza do céu e da terra, com o mesmo olhar... porque tudo, em verdade, faz parte de um ciclo... até a própria criação da Criação... - esse é o chamado Pequeno Caminho - , e então orientar nossas ações e nossos passos voltados para a iluminação e infinitude de nossa consciência bem como a iluminação e infinitude de nossa vida - esse é o chamado Grande Caminho.

O Pequeno Caminho existe dentro do Mundo da Manifestação, denominado de Céu Posterior, de tudo aquilo que podemos nomear enquanto Criação e sobre o qual temos linguagem para podermos nos expressar. O Pequeno Caminho realiza um ciclo total, com princípio, meio e fim. É um Caminho estruturado na duração, nos ciclos em eterna mutação.

O Grande Caminho existe dentro do Mundo da Não-Manifestação, denominado de Céu Anterior, onde não existe qualquer possibilidade de alcance de linguagem que possamos usar para nos expressar. O Grande Caminho não tem princípio, não tem meio e não tem fim - porque pode ser compreendido como o próprio Tao. É um Caminho estruturado na constância.

Lao Tse nos alerta, em seu Capítulo 53 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, em termos de nossas escolhas para realizarmos nossa Caminhada:

Torne-me naturalmente firme e possuidor do saber
Percorrendo o Grande Caminho
Temendo apenas o desperdício

O Grande Caminho é bastante tranqüilo
Mas os homens gostam bastante de trilhas

A escolha entre um Caminho e outro tende a ser realizada através o Dharma do Caminhante, ou seja, o Dharma representa a essência essencial de cada um de nós - e posteriormente, esta escolha é confirmada a partir do Livre-Arbítrio (que é sempre também estruturado sobre o Dharma pessoal) que leva as ações serem realizadas efetivamente.

Podemos também pensar que a escolha entre um Caminho e outro tende a ser calcada nos Karmas, ações, que o Caminhante traz para serem vivenciados e resgatados e exauridos nessa sua atual encarnação bem como seus Samskaras, ou seja, reações em potencial às ações realizadas e sintetizadas de vidas anteriores e também às ações realizadas nesta vida e apontadas ou para ainda serem resgatadas nesta vida ou para vidas posteriores.

O Dharma vem falar daquilo que traz maior alegria, maior felicidade, à vida do Caminhante - e isso acontece porque é algo que fala profundamente da raiz de seu ser, é sua essência essencial podendo ser vivenciada ao longo de sua vida; é como se fosse (e é) como uma lembrança suave advinda do mais profundo recôndito do coração, advinda de vivências sucessivas passadas, ou seja, de vidas passadas e sendo revivenciada esta lembrança, esta essência essencial do ser, também nesta vida atual.

Se este Dharma é conscientizado o suficiente para superar os obstáculos, as vicissitudes impostas pelos Karmas e pelos Samskaras, o Livre-Arbítrio do Caminhante o leva a optar bem conscientemente sobre o Caminho que lhe é mais favorável de ser trilhado... - pelo menos, nesta sua encarnação de aqui-e-agora.

Existe O Caminho e o Caminhante elege seu Caminho de acordo com o nível que sua mente, sua consciência, acredita como o Seu Caminho.

Lao Tse nos diz, ao iniciar seu Capítulo 41:

O homem superior ao ouvir sobre o Caminho
Esforça-se para poder realizá-lo
O homem mediano ao ouvir sobre o Caminho
Às vezes o resguarda, às vezes o perde
O homem inferior ao ouvir sobre o Caminho
Trata-o às gargalhadas
Se não fosse tratado às gargalhadas
Não seria suficiente para ser o Caminho

E Ele desenvolve:

....................................
A iluminação do Caminho é como se fosse a obscuridade
O avanço do Caminho é como se fosse o retrocesso
.................................

E o Mestre do Tao conclui:
....................................

A grande imagem não tem forma
O Caminho é invisível e não tem nome
Assim, apenas o Caminho é bom em auxiliar e concluir.

A bem da verdade, a única coisa que levamos de uma encarnação para outra é nossa mente que, por sua vez, ao longo de nossas vivências sucessivas e anteriores, vai acolhendo nossos Karmas, ações, e Samskaras, reações em potencial, a serem sintetizados e vivenciados e resgatados e exauridos nesta encarnação atual e em encarnações posteriores.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO - http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com/

FOTO: PONTE NO SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

Os trechos dos Capítulos do Tao Te Ching são de tradução de Wu Jyh Cherng e publicados pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Foto: O Pequeno Caminho e o Grande Caminho

Janine Milward

Eu penso ser fundamental que aprendamos a olhar para o princípio, para o durante, e para o fim de tudo na natureza do céu e da terra, com o mesmo olhar... porque tudo, em verdade, faz parte de um ciclo... até a própria criação da Criação... - esse é o chamado Pequeno Caminho - , e então orientar nossas ações e nossos passos voltados para a iluminação e infinitude de nossa consciência bem como a iluminação e infinitude de nossa vida - esse é o chamado Grande Caminho. 

O Pequeno Caminho existe dentro do Mundo da Manifestação, denominado de Céu Posterior, de tudo aquilo que podemos nomear enquanto Criação e sobre o qual temos linguagem para podermos nos expressar. O Pequeno Caminho realiza um ciclo total, com princípio, meio e fim. É um Caminho estruturado na duração, nos ciclos em eterna mutação.

O Grande Caminho existe dentro do Mundo da Não-Manifestação, denominado de Céu Anterior, onde não existe qualquer possibilidade de alcance de linguagem que possamos usar para nos expressar. O Grande Caminho não tem princípio, não tem meio e não tem fim - porque pode ser compreendido como o próprio Tao. É um Caminho estruturado na constância. 

Lao Tse nos alerta, em seu Capítulo 53 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, em termos de nossas escolhas para realizarmos nossa Caminhada:

Torne-me naturalmente firme e possuidor do saber
Percorrendo o Grande Caminho
Temendo apenas o desperdício

O Grande Caminho é bastante tranqüilo
Mas os homens gostam bastante de trilhas

A escolha entre um Caminho e outro tende a ser realizada através o Dharma do Caminhante, ou seja, o Dharma representa a essência essencial de cada um de nós - e posteriormente, esta escolha é confirmada a partir do Livre-Arbítrio (que é sempre também estruturado sobre o Dharma pessoal) que leva as ações serem realizadas efetivamente. 

Podemos também pensar que a escolha entre um Caminho e outro tende a ser calcada nos Karmas, ações, que o Caminhante traz para serem vivenciados e resgatados e exauridos nessa sua atual encarnação bem como seus Samskaras, ou seja, reações em potencial às ações realizadas e sintetizadas de vidas anteriores e também às ações realizadas nesta vida e apontadas ou para ainda serem resgatadas nesta vida ou para vidas posteriores.

O Dharma vem falar daquilo que traz maior alegria, maior felicidade, à vida do Caminhante - e isso acontece porque é algo que fala profundamente da raiz de seu ser, é sua essência essencial podendo ser vivenciada ao longo de sua vida; é como se fosse (e é) como uma lembrança suave advinda do mais profundo recôndito do coração, advinda de vivências sucessivas passadas, ou seja, de vidas passadas e sendo revivenciada esta lembrança, esta essência essencial do ser, também nesta vida atual. 

Se este Dharma é conscientizado o suficiente para superar os obstáculos, as vicissitudes impostas pelos Karmas e pelos Samskaras, o Livre-Arbítrio do Caminhante o leva a optar bem conscientemente sobre o Caminho que lhe é mais favorável de ser trilhado... - pelo menos, nesta sua encarnação de aqui-e-agora.

Existe O Caminho e o Caminhante elege seu Caminho de acordo com o nível que sua mente, sua consciência, acredita como o Seu Caminho. 

Lao Tse nos diz, ao iniciar seu Capítulo 41:

O homem superior ao ouvir sobre o Caminho
Esforça-se para poder realizá-lo
O homem mediano ao ouvir sobre o Caminho
Às vezes o resguarda, às vezes o perde
O homem inferior ao ouvir sobre o Caminho
Trata-o às gargalhadas
Se não fosse tratado às gargalhadas
Não seria suficiente para ser o Caminho

E Ele desenvolve:

....................................
A iluminação do Caminho é como se fosse a obscuridade
O avanço do Caminho é como se fosse o retrocesso
.................................

E o Mestre do Tao conclui:
....................................

A grande imagem não tem forma
O Caminho é invisível e não tem nome
Assim, apenas o Caminho é bom em auxiliar e concluir.

A bem da verdade, a única coisa que levamos de uma encarnação para outra é nossa mente que, por sua vez, ao longo de nossas vivências sucessivas e anteriores, vai acolhendo nossos Karmas, ações, e Samskaras, reações em potencial, a serem sintetizados e vivenciados e resgatados e exauridos nesta encarnação atual e em encarnações posteriores.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO - http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com/

FOTO: PONTE NO SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward

Os trechos dos Capítulos do Tao Te Ching são de tradução de Wu Jyh Cherng e publicados pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Algumas Palavras sobre o Altar

Foto: Algumas Palavras sobre o Altar

Wu Jyh Cherng

No Taoísmo, o altar é um espelho, o espelho que reflete a nossa verdadeira identidade.  

Quando se faz  um altar, concentra-se lá a força.  Quando uma pessoa reverencia um altar, vai ali deixar sua força.  No entanto, essa energia é uma concentração.  É uma troca de energias porque se manda energia para o Tao e o Tao manda sua energia de volta.

Essa centralização de força no altar é feita com o sentimento de respeito, de reverência, de humildade.  São energias boas.

Portanto, o altar acaba se tornando um campo, um centro de força que vai magnetizar quem perto dele chegue.

Nos aproximamos do altar de força positiva e nos sentimos trocando energias.

Nos meus tempos de aprendiz, há sete anos atrás, conheci uma moça que estava bem mais adiantada.  Ela me ensinou a perceber o tipo de forças presentes em vários lugares.  Energia boa ou não.

Para se reconhecer um Mestre, basta se prestar atenção no altar.  Se o altar tiver muita força, o mestre tem muita força.  Se o altar causar enjôo, dor-de-cabeça ou mal-estar, certamente a energia daquele mestre não está equilibrada para você.  Sentindo uma força mais nítida, certamente é um sacerdote que trabalha com força de justiça, de exorcismo, de algo mais rígido.  Sentindo uma sensação mais leve, ficando-se emocionado, certamente é uma pessoa mais devocional, que trabalha com força mais emotiva.

Conhece-se então a pessoa a partir da força de seu altar. 

 O altar é o centro de vibração, a gente se aproxima do altar e o campo de vibração nos envolve.

Todos os altares recebem energia.  Quando lá vamos rezar, orar, acender um incenso, estamos externando nossa energia em direção ao altar.

Parece um fundo, um clube de investimentos.  Chega uma hora que concentrou tanta força, que todas as vezes que nos aproximamos nos sentimos re-equilibrados, re-energizados.

Essa é a função do altar.

....................

Foto realizada por Patrícia Gomes, do meu altar, em meu Sítio – https://www.facebook.com/partgomes?fref=ts


O ALTAR TAOÍSTA
Transcrição realizada por Janine Milward
de Aulas Ministradas e  Gravadas
Por WU JYH CHERNG
Na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro.
Fusão de textos de partes das aulas de 21 de junho e 27 de setembro de 1994
E ainda parte do Texto relativo ao Capítulo 12, 
em aulas ministradas em agosto/setembro de 1994

Algumas Palavras sobre o Altar

Wu Jyh Cherng


No Taoísmo, o altar é um espelho, o espelho que reflete a nossa verdadeira identidade.

Quando se faz um altar, concentra-se lá a força. Quando uma pessoa reverencia um altar, vai ali deixar sua força. No entanto, essa energia é uma concentração. É uma troca de energias porque se manda energia para o Tao e o Tao manda sua energia de volta.

Essa centralização de força no altar é feita com o sentimento de respeito, de reverência, de humildade. São energias boas.

Portanto, o altar acaba se tornando um campo, um centro de força que vai magnetizar quem perto dele chegue.

Nos aproximamos do altar de força positiva e nos sentimos trocando energias.

Nos meus tempos de aprendiz, há sete anos atrás, conheci uma moça que estava bem mais adiantada. Ela me ensinou a perceber o tipo de forças presentes em vários lugares. Energia boa ou não.

Para se reconhecer um Mestre, basta se prestar atenção no altar. Se o altar tiver muita força, o mestre tem muita força. Se o altar causar enjôo, dor-de-cabeça ou mal-estar, certamente a energia daquele mestre não está equilibrada para você. Sentindo uma força mais nítida, certamente é um sacerdote que trabalha com força de justiça, de exorcismo, de algo mais rígido. Sentindo uma sensação mais leve, ficando-se emocionado, certamente é uma pessoa mais devocional, que trabalha com força mais emotiva.

Conhece-se então a pessoa a partir da força de seu altar.

O altar é o centro de vibração, a gente se aproxima do altar e o campo de vibração nos envolve.

Todos os altares recebem energia. Quando lá vamos rezar, orar, acender um incenso, estamos externando nossa energia em direção ao altar.

Parece um fundo, um clube de investimentos. Chega uma hora que concentrou tanta força, que todas as vezes que nos aproximamos nos sentimos re-equilibrados, re-energizados.

Essa é a função do altar.

....................

Foto realizada por Patrícia Gomes, do meu altar, em meu Sítio –https://www.facebook.com/partgomes?fref=ts


O ALTAR TAOÍSTA
Transcrição realizada por Janine Milward
de Aulas Ministradas e Gravadas
Por WU JYH CHERNG
Na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro.
Fusão de textos de partes das aulas de 21 de junho e 27 de setembro de 1994
E ainda parte do Texto relativo ao Capítulo 12,
em aulas ministradas em agosto/setembro de 1994

Foto: Algumas Palavras sobre o Altar

Wu Jyh Cherng

No Taoísmo, o altar é um espelho, o espelho que reflete a nossa verdadeira identidade.  

Quando se faz  um altar, concentra-se lá a força.  Quando uma pessoa reverencia um altar, vai ali deixar sua força.  No entanto, essa energia é uma concentração.  É uma troca de energias porque se manda energia para o Tao e o Tao manda sua energia de volta.

Essa centralização de força no altar é feita com o sentimento de respeito, de reverência, de humildade.  São energias boas.

Portanto, o altar acaba se tornando um campo, um centro de força que vai magnetizar quem perto dele chegue.

Nos aproximamos do altar de força positiva e nos sentimos trocando energias.

Nos meus tempos de aprendiz, há sete anos atrás, conheci uma moça que estava bem mais adiantada.  Ela me ensinou a perceber o tipo de forças presentes em vários lugares.  Energia boa ou não.

Para se reconhecer um Mestre, basta se prestar atenção no altar.  Se o altar tiver muita força, o mestre tem muita força.  Se o altar causar enjôo, dor-de-cabeça ou mal-estar, certamente a energia daquele mestre não está equilibrada para você.  Sentindo uma força mais nítida, certamente é um sacerdote que trabalha com força de justiça, de exorcismo, de algo mais rígido.  Sentindo uma sensação mais leve, ficando-se emocionado, certamente é uma pessoa mais devocional, que trabalha com força mais emotiva.

Conhece-se então a pessoa a partir da força de seu altar. 

 O altar é o centro de vibração, a gente se aproxima do altar e o campo de vibração nos envolve.

Todos os altares recebem energia.  Quando lá vamos rezar, orar, acender um incenso, estamos externando nossa energia em direção ao altar.

Parece um fundo, um clube de investimentos.  Chega uma hora que concentrou tanta força, que todas as vezes que nos aproximamos nos sentimos re-equilibrados, re-energizados.

Essa é a função do altar.

....................

Foto realizada por Patrícia Gomes, do meu altar, em meu Sítio – https://www.facebook.com/partgomes?fref=ts


O ALTAR TAOÍSTA
Transcrição realizada por Janine Milward
de Aulas Ministradas e  Gravadas
Por WU JYH CHERNG
Na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro.
Fusão de textos de partes das aulas de 21 de junho e 27 de setembro de 1994
E ainda parte do Texto relativo ao Capítulo 12, 
em aulas ministradas em agosto/setembro de 1994