Paz e Lucidez
Wu Jyh Cherng
“O que tem paz
é fácil de manter
O que é
anterior ao despertar é fácil de planejar
O que é frágil
é fácil de quebrar
O que é pequeno
é fácil de dissolver”
São quatro frases que falam do óbvio,
das coisas óbvias da vida.
“O que tem paz
é fácil de manter”
O que é paz?
A paz, no conceito do Taoísmo, é a
tranqüilidade e a quietude do corpo e da mente.
Havendo a tranqüilidade e a quietude no
corpo e na mente, naturalmente não seremos abalados, movidos, pelos fatores
externos.
A paz também pode ser entendida como a
não-criação dos desejos interiores. Não
criando o anseio interior, o desejo (o desejo vem de dentro) não existe.
Uma pessoa perde a quietude interior
porque dentro dela nasce um desejo incontrolável que faz com que ela fique
alterada. Ou porque algo de fóra
interfere, abalando a pessoa.
Normalmente as duas coisas co-existem.
Se conseguirmos manter a quietude em
nosso interior, não criaremos o desejo interior em relação a algo externo, não
criaremos ansiedade, nem um impulso interior.
A ansiedade é querer se fazer alguma
coisa sem uma referencia definida. Mas,
por ser algo inquieto, buscamos esse algo fóra de nós para corresponder à nossa
inquietação interior.
Então, com a inquietação interior ou a
interferência exterior, ficamos abalados.
Tudo aquilo que balança, não permanece.
Uma opinião balançada, não permanece.
A confiança balançada, traz o descrédito.
Para podermos nos manter numa mesma
situação, precisamos ter a paz interior.
E quem tem a paz interior, tem a quietude interior. Quem tem a quietude interior, tem a paz
interior. Ambos se atraem.
Existindo a paz e a quietude
interiores, não existem remorso ou culpa.
A consciência, a lucidez dos atos, não
traz nem remorsos nem culpas. Em paz
consigo mesma, a pessoa alcança a quietude interior. A paz permite a quietude interior.
Por outro lado, através da meditação,
dos mantras, da oração, da doação no cotidiano - mesmo sem consciência
suficiente, a plena lucidez dos atos -, ganha-se a quietude interior.
E a quietude interior faz com que a
consciência se torne mais clara, a mente fica mais lúcida, mais nítida.
Essa nitidez permite a pessoa ver se
seus atos, pensamentos, sentimentos são verdadeiros, se não são verdadeiros, se
a pessoa está sendo sincera ou não, se estará fazendo o meu melhor ou não.
Essa lucidez acaba por nos disciplinar
na consciência de nossos atos.
Por isso, a paz interior permite a
quietude. E a quietude interior permite
a paz. Uma coisa é a outra.
Tudo o que é feito com paz, se mantém -
se mantém porque não é abalado por fatores interiores ou exteriores. Mesmo com a destruição da estrutura externa,
a convicção interior é capaz de superar os obstáculos.
Essa convicção é a força
espiritual. E o eixo do homem é a força
espiritual. É a força espiritual que faz
com que ao perdermos a nós mesmos na vida - como aos outros - a convicção
permaneça.
E para mantermos tudo isso é preciso
que tenhamos a paz interior.
A paz interior se conquista basicamente
de duas maneiras:
-
a sinceridade interior - sem remorsos, sem culpas.
-
A quietude, o silêncio - a contemplação, o aprofundamento da
respiração; aprendendo a ouvir a ausência da
palavra, aprendendo a ouvir o silêncio.
Com a quietude, encontra-se a consciência.
Com a consciência, encontra-se a
quietude.
Uma fortalece a outra. Com isso, passaremos a ter lucidez naquilo
que fazemos. Naturalmente seremos
pessoas compassivas, nos integrando com o mundo e com a natureza.
Esse resultado espiritual vem de dentro. Dessa maneira, o Taoísmo trabalha com a
consciência que surge dentro de nós.
Com o despertar de nossa consciência,
conseguiremos nossa realização espiritual e teremos habilidade para ajudar o
despertar das outras pessoas.
Não é verdade que os mestres
espirituais conseguem despertar mais pessoas do que nós? Com um simples toque, eles conseguem fazer
com que as pessoas acordem.
“O que é
anterior ao despertar é fácil de planejar”
A lucidez permite que a pessoa tome
atitudes bem próximas daquilo que é correto, que é o ideal.
Sempre é bom sabermos planejar as
coisas antes que elas aconteçam. Mas Lao
Tse também está dizendo que se a coisa já está acontecendo, é melhor saber
solucioná-la enquanto for possível.
Inúmeros Hexagramas do I Ching falam
sobre isso e mostram, em suas primeiras linhas, os obstáculos desde o início,
mostrando as possibilidades para se reverter a situação.
“O que é frágil
é fácil de quebrar
O que é pequeno
é fácil de dissolver”
Podemos entender essas duas frases sob
duas faces - a positiva e a negativa.
Do lado positivo, entendemos que tudo o
que está começando é frágil, pequeno, fácil de ser quebrado e de ser
dissolvido. Portanto, deve ser
fortalecido, deve ser alimentado, nutrido, para que se desenvolva.
Do outro ângulo, Lao Tse quer dizer que
qualquer problema - em sua fase inicial - ainda é frágil e portanto pode ser
interrompido. Qualquer situação mais
enraizada, é difícil de ser removida. Aquilo
que é leve e pequeno, é mais fácil de ser removido.
Todas as coisas boas, é melhor que
sejam enraizadas. Todas as coisas
problemáticas, é melhor que sejam removidas.
Por isso, Ele diz:
“O que é
anterior ao despertar é fácil de planejar”
O que tem paz
é fácil de manter
O que é
anterior ao despertar é fácil de planejar
O que é
frágil é fácil de quebrar
O que é
pequeno é fácil de dissolver
Realiza-se a
partir de antes da existência
Organiza-se a
partir de antes da desordem
Uma árvore de
grande abraço gera-se de uma fina muda
Uma torre de
nove andares levanta-se de um acúmulo de terra
Uma viagem de
mil léguas inicia-se debaixo dos pés
Quem age,
fracassa
Quem se apega,
perde
Assim, o
Homem Sagrado não age, por isso não fracassa
Não se apega,
por isso não perde
Os homens, na
realização das atividades,
Sempre
fracassam em suas quase-conclusões
Cautela tanto
no fim como no princípio
Conduz à
atividade sem fracasso
Assim, o
Homem Sagrado deseja através do não-desejo
Não valoriza
as coisas de difícil aquisição
Aprende
através do não aprender
Possui o que
ultrapassa a todos os homens
Para auxiliar
a naturalidade dos dez mil seres
E não
encorajar a ação.
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Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 64
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 19 de setembro de 1995
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching