intenção e não-intenção




intenção e não-intenção

Wu Jyh Cherng


Este Capítulo fala da intenção e da não-intenção.


Um dos conceitos fundamentais do Taoísmo é a não-intenção.  A não-intenção é fazer as coisas não intencionalmente.  Mas como?  (Isso pode gerar uma série de polêmicas).  Como é possível fazer algo não intencionalmente?  O que significa agir e viver não intencionalmente?

Agir e viver não intencionalmente é agir e viver sem colocar um interesse especial ou específico em troca do que se faz e vive.

Na ação intencional, a troca que se pretende pode ser social ou material.  Também pode ser com intuito de algum ganho espiritual.

Na verdade, a ação em si é muito semelhante tanto no ato não-intencional como no ato com intenção.  O importante, então, é se trabalhar a intenção observando a ação.

Antes de tudo, é preciso entender que ação não-intencional não significa não fazer nada ou não-ação literal.  No entanto, para que não haja ação intencional, é preferível não haver ação.  Mas a ação se faz necessária e  assim, a intenção é que deve ser trabalhada.

Quando alguém precisa de ajuda e nós podemos ajudar, devemos fazer a ação (de ajuda).  Se essa ajuda é sem intenção de se ter algum ganho, é o ideal.  Mas, se isso for impossível (porque o ego é muito forte), ao menos não devemos deixar de agir - mesmo que tenhamos intenção de prestígio social ou espiritual.  Não devemos deixar de ajudar como desculpara para mantermos nossa consciência limpa desses conflitos.

Ajudar significa beneficiar alguém - mesmo que a intenção seja também a de benefício próprio - material, social ou espiritual.  Não ajudar significa não beneficiar o outro.

Intenção é interesse.  Intenção e julgamento são questões fortes, dentro de nós: culpa remorsos, auto-crítica - tudo isso é julgamento.  Portanto, intenção e julgamento estão enraizados dentro de nós - não apenas nessa vida mas nas vidas anteriores.  Tudo vem com a Alma e tudo é um infinito passado que tem que ser despojado.

Uma ação na prática, positiva, mesmo que não seja espiritualmente ideal - por ser positiva, nos renderá algum Karma positivo, algum resultado que projete um melhor desenrolar da vida no futuro.  O bom Karma acumulado tem menos laços, menos dependências emocionais, mentais e sociais e nos torna mais espontâneos.  Dessa maneira, nossa ação tem que, pelo menos, ser correta.

No Taoísmo, o primeiro passo a ser dado é o de cair na real.   Dessa maneira, se agirmos com intenção temos que ter consciência dessa nossa atitude.  Se temos atitudes viciadas, devemos ter a consciência de que não temos controle sobre esses vícios.  Sempre temos que ter a consciência do que estamos fazendo.

Cair na real significa ver a própria real situação, a real necessidade e real ação nossa.  Aceitando a realidade, a transformação torna-se mais fácil e vem com o tempo, naturalmente.

A transformação depende da conscientização, a clareza sobre quem somos e como somos no cotidiano.  Também depende das práticas místicas: cantos, mantras, meditação.  Essas práticas possuem uma força invisível,  vibrante e atuante sobre nós, sem que percebamos.  São instrumentos que vão limpando nossos canais interiores e nossa vida acaba fluindo melhor.  As práticas espirituais têm um poder purificador.

Como a conscientização e com a prática espiritual, nossa transformação acontece de uma maneira natural e purificadora.  E essa transformação não projeta sombras, não deixa resíduos que permaneçam e que voltem à ação depois de um certo tempo.


Capítulo 38

A Virtude Superior não é virtude
Assim, possui a virtude
A Virtude Inferior não perde a virtude
Assim, não possui a virtude

A Virtude Superior é não-ação
Pois não utiliza ação
A Virtude Inferior é ação
Que tem uso da ação

A Bondade Superior é ação
Porém não utiliza a ação
A Justiça Superior é ação
Que tem uso da ação

A Suprema Polidez é ação
Que, se não obtém correspondência
Então, repele usando o braço como reação

Por isso, à perda do Caminho segue-se então a virtude
À perda da Virtude, segue-se então a Bondade
À perda da Bondade segue-se então a Justiça
À perda da Justiça segue-se então a Polidez
Assim, a Polidez é o empobrecimento da fidelidade e da confiança
É o princípio da confusão

Aquele de conhecimentos avançados,
Como a flor do Caminho,
É o princípio da estupidez
Por isso, o Grande Homem
Coloca-se no consistente e não se coloca no rarefeito
Habita no Fruto e não habita na Flor
Por isso, afasta essa e persiste naquele.


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Foto: Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 38
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 11 de abril de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching