O Caos primordial não pode ser determinado




O Caos primordial não pode ser determinado

Wu Jyh Cherng

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado

O Caos primordial não pode ser determinado.  Por um lado é constante, tem uma constância, esse Caos é eterno.  Mas não pode ser nomeado porque está além das palavras.

E como seria?

É o retorno à não-existência” -  Retorno além da forma e anterior às manifestações.

É a imagem da não-existência”  -   E a expressão dessa não-expressão é exatamente a imagem da não-existência.  Imaginamos a imagem da existência.  A imagem da pessoa.  E a imagem da não-pessoa, como seria?

Lao Tse joga com os contrários.

Não dá para imaginar a imagem da não-imagem porque imagem da não-imagem está além das imagens - então não se pode imaginar.

É preciso ir além da imaginação e então se saberá.

O que o Taoísmo interpreta como Caminho Esotérico não é o instrumento técnico, o segredo, mas sim a experiência profunda que só pode ser saboreada pela pessoa e esse sabor não pode ser transcrito, revelado diretamente.

Tudo o que Lao Tse está dizendo, está rodeando o Tao, tentando fazer com que nós usemos nossa intuição e que não leiamos ao pé-da-letra.  Ele está tentando nos dizer algo que não pode ser falado.

Encarando-o, não vejo sua face
Seguindo-o, não vejo suas costas


Nós olhamos para uma pessoa, encarando-a no rosto.  Se a olharmos por trás, veremos suas costas.

O Tao do Céu Anterior, ao ser encarado, nada se vê.  Seguindo-o por trás, nada vemos.



Capítulo 14


Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado

Encarando-o, não vejo sua face
Seguindo-o, não vejo suas costas

Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho


Foto: Sítio das Estrelas, Janine


TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 14
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 e 20 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Terminologia do Tao





TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao


Terminologia do Tao


Absoluto – O Tao
Céu Anterior - Wu Chi , o Mundo da Não-Manifestação
Céu Posterior - Tai Chi, o Mundo da Manifestação
Ching - Tratado, Livro
Com-Nome – O Tao do Céu Posterior
Corpo - (com C maiúsculo) o corpo espiritual
corpo - (com c minúsculo) o corpo físico
Fu - O Retorno do I Ching; representa no auge da quietude, o nascimento da atividade. (1)
Espírito - manifestação objetiva no Mundo da Manifestação da subjetividade do Tao da Criação pertencente ao Mundo da Não-Manifestação. Fusionado ao Sopro Primordial, produz o Elixir da Vida.
Homem Sagrado - Aquele que se encontra no Caminho da Iluminação e posterior Imortalidade; - a união da Consciência Pura com a Vida Infinita (1)
Luz - O Sublime Yang
Mundo da Manifestação - A existência
Mundo da Não-Manifestação - A Não-Existência
Não-Existência – da classe do Wu Chi, do Não-Manifestado
Não-Luz – O Sublime Yin
Não-Ação - ação sem intenção, Wu Wei (1)
Portal Negro – lugar onde o Céu Posterior se funde ao Céu Anterior
Princípio Primordial – O Tao
Rei Celeste - Criador de todas as formas, - a consciência real que está em toda parte (1)
Revirão - o ponto de Retorno; o ponto de interseção entre o consciente e o inconsciente, entre a matéria e o espírito, entre a Luz e a Não-Luz
Revirão do Universo - o ponto onde o universo termina e começa novamente; o ponto onde o universo torna-se não-universo
Tai Chi – O Mundo da Manifestação, O Céu Posterior
Tao - O Caminho
Tao Te Ching - O Livro do Caminho e da Virtude
Te - A Virtude
Tesouro do Espírito - O Conhecimento
Universo Manifestado – Tai Chi, O Céu Posterior, A Existência
Universo Não-Manifestado – Wu Chi, O Céu Anterior, A Não-Existência
Wei Wu Wei - Ação na Não-Ação
Wu Chi - O Céu Anterior
Wu Wei - Não-Ação, ação sem intenção (1)
Yang - Força Criativa, Masculina, A Luz
Yin - Força Receptiva, Feminina, A Não-Luz


Bibliografia da Terminologia do Tao

  (1) Tao Te Ching - O Livro do Caminho e da Virtude - Lao Tse
Tradução Wu Jyh Cherng
Editora Ursa Maior, Brasil - Hoje encontrado através da Editora Mauad, Brasil








O Vazio que permite tudo existir é o Tao do Céu Anterior. Todo o que existe é o Tao do Céu Posterior.




 O Vazio que permite tudo existir é o Tao do Céu Anterior.


Todo o que existe é o Tao do Céu Posterior.

Wu Jyh Cherng




Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago


Na prática mística, esse trecho basicamente se refere ao “Caminho do Céu Anterior” - ao Tao do Céu Anterior.

O Céu Anterior difere do Céu Posterior porque este ultimo representa o universo manifestado e o primeiro, representa a condição prévia do Absoluto, aquilo que não tem forma, nem imagem, nem linguagem.  Não tem som, não tem corpo, não pode ser apalpado, não pode ser escutado, não pode ser visto de forma alguma.


Existe um texto intitulado “Tratado da Transparência e da Quietude Permanente”, onde se diz:

“O Grande Caminho não tem forma, e é o criador do céu e da terra.  O Grande Caminho não tem sentimento e movimenta o sol e a lua.  o Grande Caminho não  tem nome e cultiva os dez mil seres.”

O Céu Anterior não tem nome nem nada porém essa mesma natureza pode cultivar todas as imagens, criar todos os seres.

O Vazio que permite tudo existir é o Tao do Céu Anterior.

Todo o que existe é o Tao do Céu Posterior.

Se não houver o Vazio, o céu e a terra não poderiam ser criados.  Também não seria permitido ao céu e à terra entrarem em constante movimento.  Não seria permitido que o céu e a terra se reproduzissem, se alimentassem e gerassem suas reproduções, suas crias.

É nesse Vazio que todas as coisas são criadas, são movimentadas e são cultivadas e alimentadas.

Igualmente, se quisermos tornar nossa vida constante e tornar nossa consciência infinita e tornar nossas energias constantemente renovadas, precisamos possuir uma consciência do Vazio, a consciência do Céu Anterior.

Devemos possuir dentro de nós a quietude, o Vazio, o silêncio, para que todas as nossas expressões possam ser manifestadas e não serem interrompidas.

O Céu Anterior não pode ser visto, nem ouvido, nem apalpado.  Mas pode ser sentido através de uma consciência além da consciência sensorial, além da consciência formal e racional.

Lao Tse fala fundamentalmente de uma experiência interior para sentir esse Tao, para encontrar esse Tao do Céu Anterior.  Não é possível através das palavras, das formas, da linguagem.  É preciso ir além da linguagem, além da forma, além do pensamento, para se poder sentir e perceber o que isso é.  No entanto, quem percebe o Tao não vai conseguir descrevê-lO.

Na prática da meditação, a gente utiliza a não-visão, a não-audição, e o não-toque e o não-possuir.  Para trazer a luz da nossa  visão para o interior.  Para trazer a audição para o interior, abandonando o apego físico.  Fazendo com que a consciência vá além do corpo físico.

Dessa maneira, nós deixamos a respiração fluir naturalmente, colocando a consciência dentro dessa energia que flui e, em seguida, entramos num estado de uma espécie de caos.

Dentro desse caos, surgirá uma força que não conhecíamos antes.  E essa força que surge é o que chamamos de “Matéria Prima”, que é uma energia, ou força primordial, que surge dentro de nós.  Quando essa força surge, precisamos agarrá-la, recolhê-la e trazê-la para nós.  Colocamo-nos dentro dessa força nova, fazendo uma força nova surgir dentro de nós.


O Tao do Céu Anterior não tem forma, portanto não pode ser alcançado através da forma.

Ele está além da linguagem, não podemos chegar a ele através da linguagem.

Na prática espiritual do Taoísmo, se rompe a barreira do racional, a barreira do sensorial, a barreira de tudo aquilo que costumamos viver, que estamos acostumados a sentir.  Entramos num estado que não conseguimos descrever.  Esse estado é o Caos Primordial - onde não há diferenciação, onde não há separação da consciência e da energia.

Nesse estado, encontramos essa força pura que é ao mesmo tempo, uma consciência e uma vitalidade.

Usando a linguagem da Alquimia, é preciso então “recolher” a matéria prima para torná-la parte de nós.  Nós vamos naturalmente nos integrando com ela, fazendo com que essa força desconhecida torne-se nós mesmos, fazendo com que nós nos tornemos essa força até aqui anteriormente desconhecida.  É o Recolhimento da Matéria Prima.

A partir daí, alcança-se a experiência do Céu Anterior.

Por isso, Ele diz “se fundem e se tornam um”.

Nós vamos nos fundindo com algo que é impalpável, inaudível e invisível.  Mesmo sendo pessoas que têm visão, audição e sensação física, rompemos todas essas barreiras e encontramos o invisível, o inaudível e o impalpável.  Nos fundimos com isso e nos tornamos um só.

Esse é o retorno ao Caos Primordial, fazendo com que o caminho interior e o caminho exterior se tornem um só, fazendo com que o caminho do inconsciente e o caminho do consciente se tornem um só.  Fazendo com que o nosso manifestado e o nosso não-manifestado se tornem um só.  Fazendo com que o Céu Anterior e o Céu Posterior se tornem um.

Nesse momento, chegamos a viver uma experiência mística que não pode ser descrita em palavras.

O estado do Um, que é uma fusão entre o praticante do Tao e o próprio Tao, como seria?

Lao Tse tenta interpretar este estado quando diz:

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

Não é uma sensação de irradiação luminosa.  Nem é uma sensação de um vazio, de um vácuo, da falta de alguma coisa.  Trabalha-se com a fusão da Consciência com o Sopro.  Essa é uma das características fundamentais da prática taoísta.

Quando chegamos a esse estado, atingimos uma quietude, um caos que não é propriamente uma espécie de tranqüilidade total, não é uma espécie de vácuo que se entra no vazio e não se sente mais nada.  Não é isso.  Também não é a sensação de mil energias, iluminações radiantes.

Por isso, Ele diz:  Quando superior não é luminoso / Quando inferior não é vago.  Precisamos estar atentos para não cairmos nas polaridades.


Capítulo 14


Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado

Encarando-o, não vejo sua face
Seguindo-o, não vejo suas costas

Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho


Foto: Sítio das Estrelas, Janine


TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 14
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 e 20 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Quem vive o Tao, vive com simplicidade





Quem vive o Tao, vive com simplicidade

Wu Jyh Cherng


Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago


Uma consciência transparente não é ofuscante.  Os mestres  taoístas são humildes.  Não irradiam luzes ofuscantes.  Agem como pessoas normais.

Quem vive o Tao, vive com simplicidade.

Na verdade, nem todos os mestres taoístas chegaram ao Absoluto.  São poucas as pessoas que atingem a Vida e a Consciência infinitas.  Eles podem ser mestres porque já atingiram algumas escalas acima de nós, mais ainda não atingiram o centro.

O mestre taoísta vive como uma pessoa comum.

Mestre Maa, nosso mestre, durante sua vida teve vários problemas quando jovem por causa da primeira guerra mundial.  Abandonou a família, viveu só entre os 20 e 35, 40 anos.  Encontrou-se com seu mestre, entrou na floresta, se retirou, atingiu um nível bastante alto mas não chegou ao Absoluto.  Mais tarde, ele sentiu a necessidade de ter mais segurança social no sentido de ter uma família, casou-se, trabalhou e teve filhos e  viveu até se aposentar e depois continuar, paralelamente, ensinando.


No Taoísmo, a primeira coisa que se faz é cair na real.  Tentar se conhecer.  O que eu consigo, o que eu não consigo, quais são minhas necessidades de vida.  tudo isso é muito lento.  Não existem ‘receitas’ para se atingir a iluminação.

No processo de iluminação e no processo da consciência, não adianta criar falsas expectativas, criar mentiras para si mesmo.




Capítulo 14


Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado

Encarando-o, não vejo sua face
Seguindo-o, não vejo suas costas

Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho


Foto: Sítio das Estrelas, Janine


TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 14
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 e 20 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Um caminho de segredos, um caminho interior




 Um caminho de segredos, um caminho interior

Wu Jyh Cherng


Nosso corpo é um pequeno reino. Temos mil pedacinhos dentro de nós.  E temos um  governante que é nossa consciência, nossa mente.  Nossa consciência faz com que nosso corpo, ou seja, nossa totalidade, possa fluir sem sentir o peso da consciência.  e a consciência nunca deixa de fazer as coisas.  Apenas que deve ser transparente, menos julgadora, mais quieta, ouvindo as necessidades de cada célula, de cada osso, de cada músculo.  Não através de um processo racional mas através de um processo natural de correspondência que a tudo  soluciona, fazendo com que o corpo todo fique em harmonia.

Isso é a primeira governança.  Através desse conceito do Taoísmo, a pessoa dá seu primeiro passo na convivência com tudo.  E usa esse mesmo princípio para administrar tudo aquilo que está em torno de sua vida, sua família, seu trabalho, todo o ciclo.  Realizando a vida nesse princípio, a pessoa pode expandir e organizar sua convivência com o mundo inteiro.

A consciência é o núcleo de onde tudo gira em torno: nosso corpo, nosso sangue, nossa energia, tudo o que está vivo em nós.  Nosso espírito, nossa consciência é um centro de gravidade, como se fosse um imã.

Igualmente, o homem, através de um processo de auto-realização, se torna um espírito puro que se amplia se tornando um espírito iluminado em nível individual, depois familiar e social, então da sociedade e muitas pessoas girarão em torno desse Espírito Iluminado.  Quanto maior o grau de Iluminação, maior grau se torna o Espírito para o mundo.  Esse é o processo de Sagração do Homem.

Isso é o que chamamos de Tao.

O Tao é algo bonito, algo como a união da consciência e a vida, algo vital que possui em si uma consciência.


Para isso acontecer, em nossa prática de meditação, temos que colocar a consciência dentro do ar que respiramos.

Com o tempo, em nossa meditação, a respiração vai ficando mais lenta, mais lenta até que a respiração física fica praticamente parada.  Ficamos todo o tempo observando a respiração e chaga uma hora em que não se tem mais respiração.  Com o tempo, se sente uma força suave, bem suave e vamos nos integrando com esta força.  Essa experiência é invisível, inaudível e impalpável, porém existente.


No Taoísmo, existe um conceito muito importante sobre o Caminho Esotérico.  Essa definição diz que o Caminho Esotérico não significa astrologia, tarot, magia, etc.  O Caminho Esotérico é uma experiência que somente a pessoa pode saborear.  Onde a consciência rompe as barreiras daquilo que é visível, audível e palpável.  É quando a consciência consegue romper as barreiras físicas do visual, do auditivo e do sensorial e consegue entrar no universo.  E aí encontra uma força, que é a força primordial, uma força que é a raiz do universo.  É quando se consegue mergulhar para dentro desse universo, dessa força, e fluir com esta força e se tornar a própria força.

Nesse momento, se alcança uma experiência que não pode ser descrita através das palavras ou das imagens ou da forma ou da linguagem.

Uma sensação, uma compreensão, uma consciência que só nós sabemos que lá chegamos.  Isso é o Caminho Esotérico.  Um caminho de segredos, um caminho interior.  Interior no sentido de que não é visível aos outros.


Nos trechos posteriores, Lao Tse vai falar sobre isso.  Essa experiência é uma experiência única, ou seja, é uma experiência que não dividimos com ninguém.  Não existem polaridades, estamos num estado onde tudo é um só.  É como se tivéssemos diferentes cores de tinta, vermelho, azul, amarelo, verde, laranja... e, ao juntá-las todas, teremos uma mistura, sem nenhuma definição.

A nossa consciência, em sua viagem interior, chega a um ponto onde não existe a separação das coisas.  É algo indivisível e inseparável como se fosse um caos - esse caos é exatamente a raiz do universo.  É lá que nascem todas as forças e todos os verdadeiros e eternos poderes que geram os seres, os planetas, as galáxias e todos os espíritos.

Nessa hora se chegou à raiz do universo e nos tornamos a raiz do universo.  A raiz do universo é o que chamamos de caos primordial.

Para se mergulhar no caos primordial, é preciso ter despojamento, tirar as amarras, as limitações e, inevitalmente, jogar o ego fóra.

Entramos profundamente e quando atingimos a raiz do universo, passamos a ser o centro de todas as coisas, e então podemos perceber que tudo aquilo que jogamos fóra, não foi perdido, simplesmente se tornou periferia em nossa vida e não mais o centro de nossa vida.

Portanto, o Homem Sagrado que alcança a plenitude da vida e da consciência, não se torna incapacitado nem perde a memória, pelo contrário, ele passa a ser a raiz que tem acesso a todas as atividades, trabalhos e acontecimentos.  Ele passa a ter suas potencialidades aumentadas e não diminuídas.

Para se descobrir essa experiência não precisa se chegar até a raiz.  Existem muitas dimensões com estágios da consciência de acordo com o nível em que estamos vivendo.  De uma raiz nascem dois terminais que se expandem até o infinito, progressivamente.  Nessas infinitas expansões, existe um centro.

Na prática mística, esse mergulho ao caos primordial é gradual, leva tempo; às vezes anos e anos  ou mesmo vidas e mais vidas para se realizar essa viagem.  Cada vez se consegue ir mais profundamente.

Na prática mística, vemos que a consciência, em vez de se limitar, se amplia.  Não precisa se atingir o último ponto - o caos primordial - para poder abraçar todas as coisas.  Andando um milésimo, teremos um milésimo de resultado que é análogo ou similar a aquele de quem chegou até o centro, à raiz.  Apenas que, quem atinge o centro, atinge uma plenitude absoluta.  Quem alcança outros pontos, atinge uma plenitude mais limitada.  No entanto, sempre haverá uma ampliação da consciência.

Por isso, a prática da meditação é essencial.  É um instrumento para desenvolvermos nossa ascensão.

Por que se faz isso?

Porque numa condição comum, é muito difícil realizar a subida da consciência.  Nossos hábitos, costumes e problemas cotidianos nos viciam.  Comportamentos de ira e de raiva fazem com que nossa consciência não transcenda.

Por isso devemos, diariamente, tirar uma hora do nosso cotidiano de vida, sem interferência de ninguém, para podermos desenvolver essa quietude interior para se tentar mergulhar no caos primordial.


Capítulo 14


Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado

Encarando-o, não vejo sua face
Seguindo-o, não vejo suas costas

Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho


Foto: Sítio das Estrelas, Janine


TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 14
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 e 20 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Ver, escutar e abraçar aquilo que não tem forma




Ver, escutar e abraçar aquilo que não tem forma

Wu Jyh Cherng


Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível

Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um


No primeiro trecho, aparentemente, Lao Tse está no falando sobre o óbvio: aquilo que não se Vê se chama invisível, aquilo que não se ouve se chama inaudível, o que não se possui se chama impalpável.

Se Ele dissesse o contrário, que o que não se Vê se chama visível, aí então estaria em contradição.  No entanto, para que o invisível, o inaudível e o impalpável possam ser visível, audível e palpável, têm que ser o que se olha, o que se escuta e o que se abraça.  Ao mesmo tempo que não se vê, que não se ouve e que não se possui.

Nessas três frases Ele fala da importância de se encontrar algo que está além dos sentidos.

Ele diz que

-          olhar é diferente de ver
-          escutar é diferente de ouvir
-          abraçar é diferente de possuir


A terceira frase que diz: “Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável” é bem mais fácil de entender porque no Capítulo anterior, Lao Tse diz que o Homem Sagrado abraça o mundo mas não possui o mundo.

O abraço que não possui não é o abraçar a forma.  E não é uma forma de abraço.  Qualquer coisa que tenha uma forma pode ser abraçada.  É palpável.  Quando se abraça sem possuir, não se pode abraçar através da forma.  Nosso corpo é uma forma.  Uma forma abraça outra forma.  Para poder abraçar sem possuir não se pode abraçar através da forma.

Dessa maneira, Lao Tse está falando em ver, escutar e abraçar aquilo que não tem forma.

Em seguida, através da não-forma, pode-se abraçar o que se vê, o que se ouve, o que é palpável.

Em relação às coisas do mundo, devemos abraçá-las através da não-intenção, do não-julgamento. 

Dessa maneira, podemos ver mas não olhar; abraçar mas não possuir; escutar mas não ouvir.

Aquilo que é invisível, inaudível e impalpável não pode ser visto através dos olhos, nem ouvido através dos ouvidos, nem apalpado com as mãos.

É preciso se ouvir através de um sentido mais profundo.  Ver, não através dos olhos e sim com a consciência mais profunda.  Abraçar, não com as mãos mas através de um sentido mais profundo.

Ao mesmo tempo que se fala de uma busca, de uma procura de algo que está além da linguagem.  Tudo o que pode ser visto, ouvido, apalpado, são coisas que estão dentro da linguagem.

Ele fala de se buscar algo que está além da linguagem, além da forma.  Além da limitação.  Além do tempo e além do espaço. 

Esse algo que é infinito, indivisível, que não tem forma e não tem imagem nem linguagem, é o que chamamos de Tao.  A pessoa que consegue encontrar esse algo, está se realizando no Tao.

Essa é exatamente a busca do Tao.

Por outro lado, Lao Tse nos diz que isso também não significa que iremos renunciar ao que está do lado de cá...

Não podemos deixar de viver e encarar a vida, ou seja, a busca desse algo que está além do tempo e do espaço, não serve como pretexto para deixarmos de ser responsáveis, para deixarmos de trabalhar, de viver a vida, de fazer o que tem que ser feito.

Se pressupormos esse algo infinito que não tem forma nem imagem como algo fóra de nós, estaremos buscando algo fóra de nós.  E isso é uma espécie de fuga.

A infinitude se encontra dentro de nós.

E porque essa infinitude está dentro de nós é que a maneira de encontrá-la é vivê-la!  Vivê-la é utilizá-la para viver a coisa certa.  Ou seja, viver através do não-julgamento, da não-intenção, da não-linguagem, do coração esvaziado, transparente e quieto para encarar tudo aquilo que está em torno de nós, que nos envolve.

Isso é o que Ele quer significar quando diz “olhar e não ver, escutar e não ouvir, abraçar e não possuir”.

Sempre que queremos abraçar e possuir algo passamos a enfrentar nossas grandes frustrações.

Tudo o que existe no mundo que pode ser abraçado, não pode ser possuído.  Seu carro um dia apodrecerá, seu amor um dia morrerá ou deixará você.  Você pode ter uma ideologia e um dia pode mudar de opinião.  Tudo o que existe no universo está em constante transformação e assim, não pode ser abraçado.  A fotografia um dia amarelece e se perde.  A memória de algo que já não mais existe, um dia desaparece.

 No Taoísmo, não se projeta uma meta para ser alcançada e depois se projeta outra meta.  O tempo inteiro temos que ir integrando as coisas, caminhando junto, sem que haja a intenção de alterar o fluir das coisas.

Quando se faz as coisas com intenção, quando o projeto fica pronto, tem que se buscar outro.  A intenção é um condicionamento que não nos permite fluir com naturalidade, que não nos permite nos integrar com o todo, sem barreiras.  A intenção é fruto do ego.  Na intenção, pensamos que as coisas são eternas e indissolúveis, no entanto, na é eterno ou indissolúvel.

Temos que reconhecer até que ponto é  possível ou impossível; temos que reconhecer nossos apegos ou não-apegos.  Quando não criamos nenhum truque para esconder nossas incapacidades, aí então teremos a oportunidade de transformá-las.

A intenção não é necessária, é apenas um fator que existe e que, ao ser trabalhado, um dia deixará de existir.  A intenção inicial é para despertar a auto-destruição do ego.

Um governante taoísta deve usar a intenção de governar seu povo, administrar o país de acordo com as necessidades de seu povo, ele tem que abraçar o povo sem possuí-lo, sem dominá-lo.  Tem que deixar o destino do povo fluir, sendo apenas um assistente e não um interventor.

Uma consciência em estado mais puro não tem desejo, não tem intenção, não tem julgamento.  É uma consciência transparente.

O Homem Sagrado é aquele que realiza obras para as pessoas e essas pessoas nem realmente percebem que foram beneficiadas.  O Homem Sagrado não tem necessidade de ser reconhecido.  Faz o que tem que ser feito e quando chega a hora, se retira e pronto.  Acabou.


Chung Tzu, em um dos seus contos, fala de um encontro simulado entre três pessoas provenientes de três reinos.  Essas pessoas falam cada um sobre seu país:

O primeiro diz:  Meu governante é um tirano, explorador, escravizador.

O segundo diz:  Meu rei é muito bom, organizador, as leis são claras, tudo está em seu lugar.

O terceiro diz:  Não sei quem é meu rei.  O povo vive, planta, colhe e tudo acontece.  Nunca vimos o rei, nem ouvimos falar sobre ele, nem ao menos sabemos onde vive.

Essa é a utopia do Taoísmo.  As coisas apenas são e não precisam aparecer nem serem reconhecidas.  Apenas são.



Capítulo 14


Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado

Encarando-o, não vejo sua face
Seguindo-o, não vejo suas costas

Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho


Foto: Sítio das Estrelas, Janine


TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 14
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 e 20 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching