O Vazio que permite tudo existir é o Tao do Céu Anterior. Todo o que existe é o Tao do Céu Posterior.




 O Vazio que permite tudo existir é o Tao do Céu Anterior.


Todo o que existe é o Tao do Céu Posterior.

Wu Jyh Cherng




Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago


Na prática mística, esse trecho basicamente se refere ao “Caminho do Céu Anterior” - ao Tao do Céu Anterior.

O Céu Anterior difere do Céu Posterior porque este ultimo representa o universo manifestado e o primeiro, representa a condição prévia do Absoluto, aquilo que não tem forma, nem imagem, nem linguagem.  Não tem som, não tem corpo, não pode ser apalpado, não pode ser escutado, não pode ser visto de forma alguma.


Existe um texto intitulado “Tratado da Transparência e da Quietude Permanente”, onde se diz:

“O Grande Caminho não tem forma, e é o criador do céu e da terra.  O Grande Caminho não tem sentimento e movimenta o sol e a lua.  o Grande Caminho não  tem nome e cultiva os dez mil seres.”

O Céu Anterior não tem nome nem nada porém essa mesma natureza pode cultivar todas as imagens, criar todos os seres.

O Vazio que permite tudo existir é o Tao do Céu Anterior.

Todo o que existe é o Tao do Céu Posterior.

Se não houver o Vazio, o céu e a terra não poderiam ser criados.  Também não seria permitido ao céu e à terra entrarem em constante movimento.  Não seria permitido que o céu e a terra se reproduzissem, se alimentassem e gerassem suas reproduções, suas crias.

É nesse Vazio que todas as coisas são criadas, são movimentadas e são cultivadas e alimentadas.

Igualmente, se quisermos tornar nossa vida constante e tornar nossa consciência infinita e tornar nossas energias constantemente renovadas, precisamos possuir uma consciência do Vazio, a consciência do Céu Anterior.

Devemos possuir dentro de nós a quietude, o Vazio, o silêncio, para que todas as nossas expressões possam ser manifestadas e não serem interrompidas.

O Céu Anterior não pode ser visto, nem ouvido, nem apalpado.  Mas pode ser sentido através de uma consciência além da consciência sensorial, além da consciência formal e racional.

Lao Tse fala fundamentalmente de uma experiência interior para sentir esse Tao, para encontrar esse Tao do Céu Anterior.  Não é possível através das palavras, das formas, da linguagem.  É preciso ir além da linguagem, além da forma, além do pensamento, para se poder sentir e perceber o que isso é.  No entanto, quem percebe o Tao não vai conseguir descrevê-lO.

Na prática da meditação, a gente utiliza a não-visão, a não-audição, e o não-toque e o não-possuir.  Para trazer a luz da nossa  visão para o interior.  Para trazer a audição para o interior, abandonando o apego físico.  Fazendo com que a consciência vá além do corpo físico.

Dessa maneira, nós deixamos a respiração fluir naturalmente, colocando a consciência dentro dessa energia que flui e, em seguida, entramos num estado de uma espécie de caos.

Dentro desse caos, surgirá uma força que não conhecíamos antes.  E essa força que surge é o que chamamos de “Matéria Prima”, que é uma energia, ou força primordial, que surge dentro de nós.  Quando essa força surge, precisamos agarrá-la, recolhê-la e trazê-la para nós.  Colocamo-nos dentro dessa força nova, fazendo uma força nova surgir dentro de nós.


O Tao do Céu Anterior não tem forma, portanto não pode ser alcançado através da forma.

Ele está além da linguagem, não podemos chegar a ele através da linguagem.

Na prática espiritual do Taoísmo, se rompe a barreira do racional, a barreira do sensorial, a barreira de tudo aquilo que costumamos viver, que estamos acostumados a sentir.  Entramos num estado que não conseguimos descrever.  Esse estado é o Caos Primordial - onde não há diferenciação, onde não há separação da consciência e da energia.

Nesse estado, encontramos essa força pura que é ao mesmo tempo, uma consciência e uma vitalidade.

Usando a linguagem da Alquimia, é preciso então “recolher” a matéria prima para torná-la parte de nós.  Nós vamos naturalmente nos integrando com ela, fazendo com que essa força desconhecida torne-se nós mesmos, fazendo com que nós nos tornemos essa força até aqui anteriormente desconhecida.  É o Recolhimento da Matéria Prima.

A partir daí, alcança-se a experiência do Céu Anterior.

Por isso, Ele diz “se fundem e se tornam um”.

Nós vamos nos fundindo com algo que é impalpável, inaudível e invisível.  Mesmo sendo pessoas que têm visão, audição e sensação física, rompemos todas essas barreiras e encontramos o invisível, o inaudível e o impalpável.  Nos fundimos com isso e nos tornamos um só.

Esse é o retorno ao Caos Primordial, fazendo com que o caminho interior e o caminho exterior se tornem um só, fazendo com que o caminho do inconsciente e o caminho do consciente se tornem um só.  Fazendo com que o nosso manifestado e o nosso não-manifestado se tornem um só.  Fazendo com que o Céu Anterior e o Céu Posterior se tornem um.

Nesse momento, chegamos a viver uma experiência mística que não pode ser descrita em palavras.

O estado do Um, que é uma fusão entre o praticante do Tao e o próprio Tao, como seria?

Lao Tse tenta interpretar este estado quando diz:

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

Não é uma sensação de irradiação luminosa.  Nem é uma sensação de um vazio, de um vácuo, da falta de alguma coisa.  Trabalha-se com a fusão da Consciência com o Sopro.  Essa é uma das características fundamentais da prática taoísta.

Quando chegamos a esse estado, atingimos uma quietude, um caos que não é propriamente uma espécie de tranqüilidade total, não é uma espécie de vácuo que se entra no vazio e não se sente mais nada.  Não é isso.  Também não é a sensação de mil energias, iluminações radiantes.

Por isso, Ele diz:  Quando superior não é luminoso / Quando inferior não é vago.  Precisamos estar atentos para não cairmos nas polaridades.


Capítulo 14


Aquilo que se olha e não se vê, se chama invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, se chama inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, se chama impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e  se tornam um

Quando superior não é luminoso
Quando inferior não é vago

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado

Encarando-o, não vejo sua face
Seguindo-o, não vejo suas costas

Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho


Foto: Sítio das Estrelas, Janine


TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 14
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 e 20 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching