A Fixação
Wu Jyh Cherng
Quando nos sentamos para meditar, devemos colocar nossa Consciência
dentro do Sopro. O primeiro passo é
colocar o Fogo dentro da Água. Como
fazê-lo? Colocando nossa atenção dentro
do ar que respiramos.
Enquanto o ar entra e sai, existe um volume mesmo que impegável e
invisível mas que pode ser percebido - assim como soprar um balão de plástico
dentro de um balde de água, fazendo o balão crescer. O ar tem volume. O ar é Sopro, sempre tem volume. Consciência não tem volume. Colocar a Consciência dentro do Sopro é
exatamente mergulhar o Fogo dentro da Água.
Esse é o primeiro passo.
Se conseguirmos fazer essa união, não mais teremos Água em oposição
ao Fogo. Teremos apenas os dois juntos,
no centro. Uma Consciência dentro do
Sopro. Na linguagem simbólica, esse eixo
que liga o ser ao Sopro chama-se ‘eixo norte-sul’; norte embaixo e sul em cima.
No Planeta Terra, o eixo norte-sul significa toda a massa de Terra
girando em torno de si mesma: pode-se dizer, então, que realmente existem norte
e sul. Porém, leste e oeste não existem:
se a Terra é redonda, qualquer ponto de uma direção para frente é leste e
qualquer ponto de uma direção para trás, é oeste - em relação ao ponto
anterior.
É preciso se usar um pouco de imaginação: a partir do momento em
que se adquire essa Consciência, percebe-se que essas duas linhas giram em
torno de um mesmo eixo. Metal vai para o lugar da Madeira e Madeira ocupa o
lugar do Metal e, na verdade, um se junta ao outro. Quando a força converge em direção de si
mesma, a Consciência converge para o centro e o Sopro converge para o
centro. Nesse movimento, o eixo ao mesmo
tempo que se compensa, fica mais
próximo, mais próximo, mais próximo... até chegar a um ponto. A partir daí, tudo se encolhe ao ponto.
Na prática, isto significa que, na meditação, conseguimos colocar a
Consciência dentro do Sopro chegando ao ponto quando a Consciência e o Sopro
não podem mais ser divididos, separados.
Aparecerá, então, uma segunda energia, uma segunda Consciência
girando em torno de nós, entrando em nós, até se fundir conosco. Isso é o que chamamos de “Recolhimento da
Matéria Prima” ou Prima-Matéria.
A matéria-prima é a matéria a ser utilizada na realização de
qualquer coisa.
Se quisermos transformar nossa Consciência e nossa vida, precisamos
juntar, primeiramente, a nossa Consciência, nosso espírito, ao Sopro em um
ponto e ao mesmo tempo, através dessa concentração, criar um centro de
gravidade em nós mesmos. Esse centro de
gravidade vai fazendo com que a energia da Consciência cósmica que vem de fóra,
nos penetre. Essa entrada chama-se
Recolhimento da Matéria Prima.
Essa energia que vem de fóra - a Consciência pura - é muito maior que nós, muito mais
poderosa. É uma energia transformadora:
nossa cabeça muda, nossos sentimentos mudam, nossa Consciência muda - nos
tornamos outra pessoa. Aparentemente,
continuamos os mesmos, mas nos tornamos uma outra pessoa porque pensamos,
sentimos com uma compreensão interior totalmente modificada.
A sociedade, como um todo, doutrina que as experiências de
transformação são perigosas e inaceitáveis..., que o homem não deve dar sequem
um passo na direção da transformação. Do
ponto de vista da Alquimia, o importante é a transformação. A grande busca é a transformação. Ao conseguirmos realizar tal tarefa,
passaremos a ser pessoas mais lúcidas, mais verdadeiras. Os pensamentos e os conceitos não mais nos
atrapalharão e nossa Consciência será uma Consciência de pura luz, clara,
simples. A vida torna-se simples.
Num processo de transformação, a Consciência une-se ao Sopro - a
Consciência do Céu Anterior uni-se ao Sopro do Céu Anterior - nesse momento, a
Consciência se torna translúcida.
O Sopro do Céu Anterior é uma energia genuína, uma energia que
ainda não incorporou os costumes, os hábitos; uma energia que não sofreu as
interferências da emoção e do pensamento.
É uma energia muito poderosa, que vem de fóra de nós, e ao nos penetrar,
acaba nos purificando, purificando nossa energia interior, afastando as
doenças. Quanto mais pura a energia,
mais ativa e energética ela é. Quanto
mais tensa, mais envelhecida e sem qualidade.
Quando mais nova a energia, mais rápida, ativa e luminosa ela é.
Ao entrar a energia do Céu Anterior, a energia do Céu Posterior
também será transformada. Como a
Consciência já estava unida ao Sopro, entrando a nova Consciência do Céu
Anterior e o Sopro do Céu Anterior, haverá uma transformação física. Essa transformação física acontece por três
vezes e chama-se As Três Rodas de Moinho.
A Roda de Moinho é aquela que leva a água para lugares mais altos,
para auxiliar na distribuição de água, na irrigação, etc. Na linguagem da Alquimia, as Rodas de Moinho
significam o despertar da circulação de energias vitais. Água significa energia vital; Fogo simboliza
a Consciência; as Rodas de Moinho levam a água de baixo para cima e de cima para baixo, sempre rodando, rodando,
significando a energia despertando em nosso corpo e começando a circular com
uma intensidade bem maior.
Esse despertar é diferente daquele da Kundalini, bem conhecido no
ocidente. O despertar da Kundalini é
linear, vai debaixo para cima, despertando a energia Inferior do corpo e
fazendo-a subir até a cabeça.
A Roda de Moinho é cíclica, não tem princípio nem fim, e por isso,
chama-se Roda. Não é linear.
No momento em que a energia do Sopro do Céu Anterior entra em nosso
corpo, essa energia começa a se movimentar em movimentos circulares: são
milhares de Rodas que acontecem dentro do corpo girando simultaneamente. Como a Consciência não está separada e
estamos em estado de êxtase, de olhos
fechados, sentados em profunda meditação, nessa hora, nossa Consciência está
viajando por todas as partes do nosso corpo junto com essas Rodas de Moinho.
As Rodas de Moinho vão desbloqueando todos os canais de energia que
existem em nosso corpo. Existem cerca de
36 mil canais de energia incluindo grandes ou pequenos. Na acupuntura, usamos doze grandes canais e
oito ainda maiores. Todos esses 36 mil
canais são purificados, rodando, rodando, rodando... Às vezes, uma rodada dura de vinte a trinta
minutos e a cada vez que sentarmos para meditar, as Rodas vão aparecer. É um fenômeno estrondoso e são poucas as
pessoas que conseguem atingir esse nível.
Capítulo 10
Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível;
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança;
Quem purifica através do conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.
Ame o povo e governe o reino através do “não-conhecimento”;
Ilumine e clareia os quatro cantos através da “não-ação”;
Abra e feche a porta do Céu através da “ação feminina”.
O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 09 e 16 de agosto de 1994, sobre o Capítulo 10 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching