Afetividade
Simplicidade
Humildade
São os três fundamentos do Taoísmo
Wu Jyh Cherng
Por isso,
Nobre é aquele que entrega o
corpo ao mundo
A este o mundo pode se
entregar
Quem ama faz do mundo o seu
corpo
Neste, o mundo pode confiar.
O Verdadeiro Nobre é aquele que entrega o corpo ao mundo,
renunciando ao seu ego. Nada existe
exclusivo dele, até seu corpo físico pertence ao mundo. Tudo o que ele possui pertence ao mundo e não
lhe pertence. Isso é transcender à
limitação do ego.
Quando nos entregamos ao mundo, o mundo se entrega a nós. O mundo não pode se entregar nas mãos de uma
pessoa que não se entrega ao mundo.
Vemos isso acontecendo nos chamados homens poderosos e
conquistadores. Eles conquistaram o
mundo mas não se entregaram como pessoas; quiseram possuir o mundo mas não se
entregaram ao mundo. Dessa forma, o
mundo não pôde se entregar a eles.
São Francisco de Assis se entregou ao mundo, renunciou a si mesmo
para o mundo e o mundo vem devolvendo suas riquezas para ele e para seus
seguidores.
Se uma pessoa quer que o mundo acredite nele, ela tem que se
entregar ao mundo.
Quando Ele diz
Quem ama faz do mundo o seu
corpo
Neste, o mundo pode confiar
Lao Tse nos ensina a amar o mundo como amamos o
nosso próprio corpo. É comum as pessoas
não suportarem a dor física no próprio corpo mas toleram a dor física do
outro. No entanto, amar o mundo como seu
próprio corpo diz que tudo devemos sentir e amar como se fosse em nós mesmos.
O Homem Sagrado abraça o mundo, toma tudo o que existe no mundo
como parte dele, trata todas as coisas e todas as pessoas com afeto e com
carinho.
O Homem Sagrado faz do mundo o seu corpo. Nesse sentido, Ele abraça o mundo sem querer
possuir o mundo, mas sim abraça o mundo amando-o como o seu próprio corpo. Esse é o conceito Taoísta de afetividade.
Em Capítulos posteriores, Lao Tse vai nos dizer que possuímos três
tesouros:
Afetividade
Simplicidade
Humildade
São os três fundamentos do
Taoísmo.
Portanto, temos que viver abraçando o mundo com o nosso próprio
corpo.
Quem vive com simplicidade, não tem neurose de prestígio e
humilhação.
A humildade nos ensina a não querermos ser o primeiro, o máximo do
mundo.
Lao Tse chama a humildade com o simbolismo da água. A água traz a vida para a terra, deixa a
terra fértil, faz com que nos mantenhamos vivos, e, no entanto, a água sempre
desce para baixo, sempre se mantém na parte mais baixa e, às vezes, até mais suja. Corre para os pântanos, torna-se lama,
esgoto, e vai para o fundo do mar. Essa
é a leitura simbólica da humildade, ficar na base, embaixo, beneficiar sem
querer.
Chuang Tzu diz que o Grande Oceano durante dez anos de seca nunca
reduziu um centímetro sequer. Durante
dez anos de enchentes, também o oceano nunca aumentou um centímetro
sequer. Esse oceano simboliza a grande
humildade que nunca se altera pelas circunstâncias.
A água é maleável, persistente, transformadora, vira chuva, cai,
vira rio, vira mar, vira vapor. A água
tem adaptabilidade, é discreta porque se esconde no fundo dos buracos. Simboliza a sabedoria, a profundidade
interior, a discrição. A água é
humilde. A grande sabedoria, a sabedoria
profunda, normalmente nos traz uma característica de humildade.
Nas escolas tradicionais do Taoísmo, não se encontram gurus
amplamente ovacionados, recebendo flores e homenagens, carregados em glória
triunfante. Não. Os mestres taoístas são pessoas extremamente
simples.
Existe uma história sobre Gengis Khan que era um grande conquistar
e que instalou sua capital em Pequim, na China.
Ele era atormentado por visões fantasmagóricas em seu palácio. Um dia, mandou chamar um mestre Taoísta para
exorcizar os fantasmas. O mestre mandou
dizer que iria mais tarde. O que
aconteceu na verdade é que imediatamente os fantasmas fugiram, antes mesmo do
mestre aparecer no palácio e exercer grandes funções e pompas. Também não apareceu o mestre no palácio para
receber as honras de seu trabalho bem feito.
Apenas fez seu trabalho de longe e permaneceu como estava em sua vida.
Isso é o que Lao Tse diz sobre o Homem Sagrado que realiza sua obra
mas que não precisa do reconhecimento disso.
Ele simplesmente faz. E quando
chega sua hora, retirar-se do mundo sem ressentimentos, sem necessidade de prestígio.
Para o Taoísmo, a felicidade homem está em ver que a obra foi
cumprida, realizada. Não importa quem
recebe as honras. O prestígio não é
importante. O Taoísta simplesmente faz o
que tem que fazer. Quem precisa de
prestígio, tem um ego não-resolvido.
Essas são as pequenas diferenças que o Taoísmo propõe. Obviamente, não são todas as pessoas que
concordam com isso. Para aqueles que
concordam, tentar viver essas verdades e ir se transformando aos poucos, é
seguir o Caminho do Tao.
Toda a essência, o espírito do Taoísmo, está dentro do Tao Te
Ching.
Capítulo 13
O prestígio e a humilhação geram susto
A nobreza e a grande preocupação situam-se no corpo
O que são prestígio e humilhação?
Prestígio é inferior
Ao obtê-lo, ficamos assustados
Ao perdê-lo, ficamos assustados
Isto é o que quer dizer “o prestígio e a humilhação geram susto”
O que quer dizer “a nobreza e a grande preocupação situam-se no corpo”?
A razão de eu ter essa ‘grande preocupação’ é ter um corpo
Se eu não tivesse um corpo
Com que teria que me preocupar?
Por isso,
Nobre é aquele que entrega o corpo ao mundo
A este o mundo pode se entregar
Quem ama faz do mundo o seu corpo
Neste, o mundo pode confiar.
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 13
do Tao Te Ching, de LAO TSE,
POR WU JYH CHERNG
Transcrição de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 06 de setembro de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo.
Nesta mesma Editora,
encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching