TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao
Capítulo 8
A bondade
sublime é como a água
A água, na sua
bondade, beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos
lugares desprezados pelos outros
Por isso,
assemelha-se ao Caminho
Viva com
bondade na terra
Pense com
bondade, como um lago
Conviva com
bondade, como irmãos
Fale com
bondade de quem tem palavra
Governe com a
bondade de quem tem ordem
Realize com a
bondade de quem é capaz
Aja com bondade
todo o tempo
Não dispute,
assim não haverá a rivalidade
Interpretação
No Capítulo 51, Lao Tse nos afirma:
O Caminho gera, a Virtude cria
a matéria forma
a conclusão completa
Por isso, os dez mil seres veneram o
Caminho e estimam a Virtude
O Caminho é venerável, a Virtude é
estimável
Pois eles não segregam e são
constantemente naturais
.........................................
fazem crescer, fazem nutrir
..............................................
geram, porém não se apossam
Agem, porém não retêm
Cultivam, porém não controlam
No Capítulo 8, Lao Tse então
diretamente nos fala sobre a Virtude da bondade (e da humildade) que são
exercidas pelo céu e pela terra quando geram e criam e dentro da matéria
criada, a água, a doação de vida, é aquilo que mais se assemelha à bondade do
céu e da terra inspirados pelo Tao da Criação. Quando o homem torna-se Homem
Sagrado, ele também exerce a Virtude da bondade (ou humildade),
assemelhando-se, dessa maneira, ao seu Tao.
A bondade sublime é como a água
A água, na sua bondade, beneficia os
dez mil seres sem preferência
Água é vida. O bem maior, o bem mais
sublime é como a água. A água, com bem mais sublime, traz a vida a todos. Esta
vida que é trazida e presenteada a todos, sem qualquer preferência, assemelha-se
ao céu e a terra, que geram e criam o tudo e o todo - e nada querem para si,
apenas geram e criam. Assim é o Tao.
A água cai do céu e traz a vida à
terra. Na terra, a água vai escorrendo, descendo montanhas e morros, buscando
sempre os caminhos mais simples, contornando todos os obstáculos,
infiltrando-se dentro da terra e trazendo seus segredos e levando-os até formar
regatos, rios, lagos, mares, oceanos..... para novamente retornar aos céus,
formando as nuvens que um dia novamente se precipitarão em forma de chuva
abençoada e renovadora da vida na terra.
Assim, a água busca os vales, os
lugares mais fundos e por isso, assemelha-se ao Tao. A maior Virtude do Tao é a
humildade e a água nos demonstra sua humildade buscando os lugares mais
profundos.... ali se encontra o Vazio, a Consciência do Vazio. No Capítulo 6,
Lao Tse nos fala sobre isso quando diz:
O Espírito do Vale nunca morre
O Tao repousa naquilo que é mais
profundo dentro de nós, dentro da natureza. O lugar do repouso do Tao não é
visto, apenas sentido. Dessa maneira, Lao Tse nos diz:
Permanece nos lugares desprezados
pelos outros
Por isso, assemelha-se ao Caminho
Sendo a água, em sua sublime bondade, o
maior bem que possuímos, aquilo que mais se assemelha ao Tao da Criação
manifestado através do céu e da terra, Lao Tse segue em sua segunda estrofe,
nos aconselhando a nos espelharmos nas Virtudes da água através as várias
possibilidades do exercício da bondade:
Viva com bondade na terra
Pense com bondade, como um lago
Conviva com bondade, como irmãos
Fale com bondade de quem tem palavra
Governe com a bondade de quem tem ordem
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Quando se trata de aconselhamento sobre
a forma de se vivenciar o Tao, de se realizar o Tao e seu Caminho, Lao Tse nos
mostra a Virtude e suas manifestações:
Viva com bondade na terra
Viver na terra significa vivenciar o
Caminho da Iluminação e o Caminho da Liberação ou Imortalidade. Para tanto, ser
como a água é a Virtude primeira, ser humilde, ter em seu coração o bem maior,
a bondade advinda do céu e da terra inspirados pelo Tao da Criação. Este
primeiro verso engloba em si mesmo toda a essência manifestada no Capítulo 8.
Pense com bondade, como um lago
O pensamento, advindo do coração, deve
ser como um lago, calmo e tranqüilo porém profundo. O pensamento deve ser
abordado com bondade, ou seja, como o bem maior, o bem sublime da mente que
traz a expansão da consciência que a leva a se tornar iluminada e infinita,
colocando o homem em seu Caminho da Iluminação, como Homem Sagrado.
Conviva com bondade, como irmãos
A vida entre o céu e a terra produz
toda os seres da natureza. A convivência entre esses seres deve ser a mais
harmoniosa possível. Dessa forma, Lao Tse nos aconselha a convivermos com o
resto da natureza em redor a nós de forma fraterna, tendo o bem maior, que é a
própria vida, sempre preservado.
Fale com bondade de quem tem palavra
O desenvolvimento da mente traz a
consciência das inter-relações entre todas na natureza e é através da linguagem
que o homem se manifesta e se troca mais intensamente. Dessa forma, esse
terceiro verso conjuga os dois primeiros desta segunda estrofe que versa sobre
as várias manifestações da Virtude da bondade, sob o Tao.
Assim, a linguagem, manifestada através
da palavra, precisa ser atrelada á bondade, ao bem maior que é a vida e sua
preservação em harmonia.
A palavra deve servir apenas ao bem
maior e por isso, ser manifestada com bondade.
Governe com a bondade de quem tem
ordem
A bondade, manifestada como o bem
maior, a vida, deve ser sempre exercida quando se trata do governo dos povos e
de toda a natureza.
Neste verso, Lao Tse conjuga os três
primeiros, fazendo, dessa forma, um encadeamento entre um e outro, como uma
construção de uma corrente forte de elos bem encadeados que demonstram as
várias manifestações da Virtude da bondade.
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Nestes versos, Lao Tse retorna ao seu
pensamento inicial, na primeira estrofe, quando nos fala que a bondade é a
grande Virtude do Tao, O Caminho.
O grande desafio do homem, aquele que
faz a ligação entre o céu e a terra, é tornar-se o Homem Sagrado... e para
tanto, Lao Tse aconselha:
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Ou seja, quanto mais o homem se colocar
no Caminho do Tao através o exercício de suas Virtudes, mais ele se assemelhará
ao céu e à terra e manifestará através de suas ações e capacidades, sua fusão
com o Tao da Criação.
A terceira estrofe nos traz um verso
simples que em si mesmo, nos revela uma grande lição de vida, a maneira pela
qual aquele que se encontra no Caminho do Tao se conduz em suas Virtudes, ou
seja, em suas ações e capacidades de viver a vida dentro da bondade e da
humildade:
Não dispute, assim não haverá a
rivalidade
O homem tem a tendência às disputas:
disputadas no lugar do viver, do pensamento, da manifestação desse pensamento,
da convivência entre os seres, do governo, das ações e das capacidades
individuais e coletivas.... No entanto, todo o Capítulo 8 versa em relação ao
fato de que, sob o Tao, nada disso corresponde á bondade (a humildade), sua
maior Virtude.
Dessa forma, o Homem Sagrado, aquele
que já se encontra em seu Caminho da Iluminação e seu Caminho da Liberação ou
Imortalidade, não se sente voltado às disputas, não encoraja a conseqüente
rivalidade. E por que não?
Lao Tse todo o tempo em seu Tao Te
Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, nos diz:
O Homem Sagrado realiza a obra pela
não-ação (Capítulo 2)
Concluir o nome, terminar a obra,
retirar o corpo
Este é o Caminho do Céu. (Capítulo 9)
O que gera e cria
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude (Capítulo 10)
Finalmente, Lao Tse também quer nos
dizer que a disputa e a rivalidade são questões advindas do homem. O Homem
Sagrado não age dessa forma nem socialmente e menos ainda pessoalmente e
espiritualmente. Espiritualmente, a não-disputa e a não-rivalidade se
relacionam com o corpo e o Corpo - como veremos a seguir...
Na Alquimia do Caldeirão, na Alquimia
do Tao, dentro do Caminho da Iluminação e do Caminho da Imortalidade, a água é
revelada como o Sopro Primordial...
O Sopro Primordial advém do Sopro do
Tao da Criação da terra, são os elos da corrente da linha contínua e infinita
da manifestação da vida. A esse Sopro Primordial, que também pode ser
compreendido como Alma, une-se o Espírito do Tao da Criação do céu, a corrente
da linha contínua e infinita da manifestação da vida.
Assim, a Água é o Sopro Primordial, é a
Alma. E o Fogo é o Espírito. Na meditação, a inspiração e a expiração que se
unem e espelham o próprio Fole Universal, a respiração do universo do Tao,
trazem a realização da fusão entre Água e Fogo, entre Alma e Espírito, entre
Sopro Primordial e Vida. Entre o Gerar e o Criar. O céu é o Fogo e a terra é a
Água. O céu é o Espírito e a terra é a Alma.
No Capítulo 7, Lao Tse nos diz:
O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração
do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para
trás e o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo
A meditação é o melhor veículo para
levar o homem a se tornar Homem Sagrado em seu Caminho da Iluminação e da
Imortalidade.
A Alquimia do Caldeirão - que é o corpo
- prevê a transmutação do corpo físico em Corpo de Luz, do corpo em Corpo. O
corpo morre, se finitiza, e transforma-se em pó. O Corpo avança, permanece,
conclui, se infinitiza. Assim, o corpo é relativo à terra - que é duradoura. O
Corpo é relativo ao céu - que é constante.
A bondade (a humildade) é a Virtude que
Lao Tse nos ensina para caminharmos nosso Caminho rumo ao nosso Tao. A bondade
é o bem maior que possuímos na terra para nos levar ao céu.
A bondade sublime é como a água
A água, na sua bondade,
beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares
desprezados pelos outros
Por isso, assemelha-se ao
Caminho
TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao
Capítulo 8
Interpretação de Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada
por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e posteriormente publicada pela Editora Mauad, São Paulo.
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicaçãodas interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching