A Fusão da Consciência com o Sopro




A Fusão da Consciência com o Sopro

Wu Jyh Cherng


No Taoísmo, simbolicamente, se considera que existam cinco forças dentro do universo, ou cinco elementos: fogo, água, madeira, meta e terra.  Estes elementos representam simbolicamente os cinco tipos de energia, cinco tipos de Consciência, cinco partes do ser.

O elemento Fogo corresponde ao espírito da pessoa.

O elemento Água corresponde às essências vitais da pessoa, fluidos, hormônios, os componentes do sangue, todas as matérias orgânicas e vitais que existem dentro de nós.

A Madeira corresponde à alma.  A alma é a Consciência com personalidade; o espírito é a Consciência sem personalidade.

O Metal corresponde ao corpo.

A Terra corresponde à vontade.


Na prática da Alquimia Taoísta, para uma pessoa alcançar a Unidade do ser, tem que unir o corpo à alma; tem que juntar o espírito à essência e colocar esses dois eixos verticais e horizontais dentro de um único elemento, que é o elemento terra, elemento do centro, da vontade.

A vontade, portanto, é a capacidade de juntar o corpo à alma, o espírito ao físico, fazendo a pessoa abraçar a Unidade.



Os cinco elementos também podem ser interpretados dentro de uma outra visão:

Pode-se entender o Fogo como Consciência, a Água como o Sopro.  Em nossa prática de meditação, nós juntamos a Consciência com o Sopro.  Sopro é energia vital.  Na medicina chinesa, os cinco elementos atuam como estimuladores e controladores.

A Madeira tem o poder de criar Fogo; o Metal tem o poder de criar Água.

Em outro simbolismo, se o Fogo é a Consciência, a Madeira é uma condição prévia que permite a criação da Consciência, que chamamos a Consciência do Céu Anterior.

O Metal tem a capacidade de criar Água, ou seja, ao se derreter o metal, ele se torna líquido.  A Água representa o Sopro, o Metal é a condição prévia que é capaz de ser transformada em emergia, essa energia é chamada de Sopro do Céu Anterior.

O que é a Consciência do Céu Posterior?  Céu Posterior significa as coisas manifestadas.  Uma árvore natural na floresta tem uma madeira do Céu Anterior, genuína, nunca foi polida, sempre foi assim.  Uma cadeira é uma madeira já em estado de Céu Posterior porque foi modificada, polida.

Desse modo, a energia vital que existe no universo tem duas qualidades: uma energia que já tenha sido moldada pelo pensamento, pelo costume, pela genética e uma outra que nunca foi tocada, é genuína, não possui forma.  A energia, o Sopro do Céu Posterior, tem forma, o Sopro do Céu Anterior não tem forma.

A Consciência do Céu Posterior é uma Consciência que tem forma.  O pensamento é uma forma concreta ou uma forma abstrata; o sentimento tem uma forma concreta ou uma forma abstrata.

A Consciência pura é apenas uma Consciência, pertencendo ao Céu Anterior.  A Consciência do Céu Posterior tem um julgamento, uma intenção, um valor: assim, não é uma Consciência pura.


Quando nos sentamos para meditar, devemos colocar nossa Consciência dentro do Sopro.  O primeiro passo é colocar o Fogo dentro da Água.  Como fazê-lo?  Colocando nossa atenção dentro do ar que respiramos.

Enquanto o ar entra e sai, existe um volume mesmo que impegável e invisível mas que pode ser percebido - assim como soprar um balão de plástico dentro de um balde de água, fazendo o balão crescer.  O ar tem volume.  O ar é Sopro, sempre tem volume.  Consciência não tem volume.  Colocar a Consciência dentro do Sopro é exatamente mergulhar o Fogo dentro da Água.  Esse é o primeiro passo.

Se conseguirmos fazer essa união, não mais teremos Água em oposição ao Fogo.  Teremos apenas os dois juntos, no centro.  Uma Consciência dentro do Sopro.  Na linguagem simbólica, esse eixo que liga o ser ao Sopro chama-se ‘eixo norte-sul’; norte embaixo e sul em cima.

No Planeta Terra, o eixo norte-sul significa toda a massa de Terra girando em torno de si mesma: pode-se dizer, então, que realmente existem norte e sul.  Porém, leste e oeste não existem: se a Terra é redonda, qualquer ponto de uma direção para frente é leste e qualquer ponto de uma direção para trás, é oeste - em relação ao ponto anterior.

É preciso se usar um pouco de imaginação: a partir do momento em que se adquire essa Consciência, percebe-se que essas duas linhas giram em torno de um mesmo eixo. Metal vai para o lugar da Madeira e Madeira ocupa o lugar do Metal e, na verdade, um se junta ao outro.  Quando a força converge em direção de si mesma, a Consciência converge para o centro e o Sopro converge para o centro.  Nesse movimento, o eixo ao mesmo tempo que  se compensa, fica mais próximo, mais próximo, mais próximo... até chegar a um ponto.  A partir daí, tudo se encolhe ao ponto.

Na prática, isto significa que, na meditação, conseguimos colocar a Consciência dentro do Sopro chegando ao ponto quando a Consciência e o Sopro não podem mais ser divididos, separados. 

Aparecerá, então, uma segunda energia, uma segunda Consciência girando em torno de nós, entrando em nós, até se fundir conosco.  Isso é o que chamamos de “Recolhimento da Matéria Prima” ou Prima-Matéria.

A matéria-prima é a matéria a ser utilizada na realização de qualquer coisa. 

Se quisermos transformar nossa Consciência e nossa vida, precisamos juntar, primeiramente, a nossa Consciência, nosso espírito, ao Sopro em um ponto e ao mesmo tempo, através dessa concentração, criar um centro de gravidade em nós mesmos.  Esse centro de gravidade vai fazendo com que a energia da Consciência cósmica que vem de fóra, nos penetre.  Essa entrada chama-se Recolhimento da Matéria Prima.

Essa energia que vem de fóra - a Consciência pura - é  muito maior que nós, muito mais poderosa.  É uma energia transformadora: nossa cabeça muda, nossos sentimentos mudam, nossa Consciência muda - nos tornamos outra pessoa.  Aparentemente, continuamos os mesmos, mas nos tornamos uma outra pessoa porque pensamos, sentimos com uma compreensão interior totalmente modificada.


A sociedade, como um todo, doutrina que as experiências de transformação são perigosas e inaceitáveis..., que o homem não deve dar sequem um passo na direção da transformação.  Do ponto de vista da Alquimia, o importante é a transformação.  A grande busca é a transformação.  Ao conseguirmos realizar tal tarefa, passaremos a ser pessoas mais lúcidas, mais verdadeiras.  Os pensamentos e os conceitos não mais nos atrapalharão e nossa Consciência será uma Consciência de pura luz, clara, simples.  A vida torna-se simples.



Num processo de transformação, a Consciência une-se ao Sopro - a Consciência do Céu Anterior uni-se ao Sopro do Céu Anterior - nesse momento, a Consciência se torna translúcida.

O Sopro do Céu Anterior é uma energia genuína, uma energia que ainda não incorporou os costumes, os hábitos; uma energia que não sofreu as interferências da emoção e do pensamento.  É uma energia muito poderosa, que vem de fóra de nós, e ao nos penetrar, acaba nos purificando, purificando nossa energia interior, afastando as doenças.  Quanto mais pura a energia, mais ativa e energética ela é.  Quanto mais tensa, mais envelhecida e sem qualidade.  Quando mais nova a energia, mais rápida, ativa e luminosa ela é.

Ao entrar a energia do Céu Anterior, a energia do Céu Posterior também será transformada.  Como a Consciência já estava unida ao Sopro, entrando a nova Consciência do Céu Anterior e o Sopro do Céu Anterior, haverá uma transformação física.  Essa transformação física acontece por três vezes e chama-se As Três Rodas de Moinho.

A Roda de Moinho é aquela que leva a água para lugares mais altos, para auxiliar na distribuição de água, na irrigação, etc.  Na linguagem da Alquimia, as Rodas de Moinho significam o despertar da circulação de energias vitais.  Água significa energia vital; Fogo simboliza a Consciência; as Rodas de Moinho levam a água de baixo para cima e de  cima para baixo, sempre rodando, rodando, significando a energia despertando em nosso corpo e começando a circular com uma intensidade bem maior.

Esse despertar é diferente daquele da Kundalini, bem conhecido no ocidente.  O despertar da Kundalini é linear, vai debaixo para cima, despertando a energia Inferior do corpo e fazendo-a subir até a cabeça.

A Roda de Moinho é cíclica, não tem princípio nem fim, e por isso, chama-se Roda.  Não é linear.

No momento em que a energia do Sopro do Céu Anterior entra em nosso corpo, essa energia começa a se movimentar em movimentos circulares: são milhares de Rodas que acontecem dentro do corpo girando simultaneamente.  Como a Consciência não está separada e estamos em estado de  êxtase, de olhos fechados, sentados em profunda meditação, nessa hora, nossa Consciência está viajando por todas as partes do nosso corpo junto com essas Rodas de Moinho.

As Rodas de Moinho vão desbloqueando todos os canais de energia que existem em nosso corpo.  Existem cerca de 36 mil canais de energia incluindo grandes ou pequenos.  Na acupuntura, usamos doze grandes canais e oito ainda maiores.  Todos esses 36 mil canais são purificados, rodando, rodando, rodando...  Às vezes, uma rodada dura de vinte a trinta minutos e a cada vez que sentarmos para meditar, as Rodas vão aparecer.  É um fenômeno estrondoso e são poucas as pessoas que conseguem atingir esse nível.


Capítulo 10


Quem conduz a realização do corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível;
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança;
Quem purifica através do conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.

Ame o povo e governe o reino através do “não-conhecimento”;
Ilumine e clareia os quatro cantos através da “não-ação”;
Abra e feche a porta do Céu através da “ação feminina”.

O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.

Foto: Sítio das Estrelas, Janine


Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 09 e 16 de agosto de 1994,  sobre o Capítulo 10 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
Título deste texto
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

 Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng


 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching