TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao
Capítulo 6
O Espírito do
Vale nunca morre
Isso se chama
Orifício Misterioso
O portal do
Orifício Misterioso é a raiz do céu e da terra
Seja suave e
constante
Usufruindo sem
se apressar
Interpretação
Este é um capítulo verdadeiramente
"chave" do encontro do Homem Sagrado e seu Tao.
O Espírito do Vale nunca morre
O vale é o lugar mais profundo aonde
podemos estar, seja sobre a terra, seja no fundo do oceano.... Sendo assim, o
Tao sempre repousa na profundidade de nosso coração, de nosso ser espiritual,
do espírito da vida, do universo, do multiverso, do mundo da manifestação e do
mundo da não-manifestação. O Tao ainda está além da profundidade de tudo, na
verdade - assim é o Tao, esse é o Espírito do Vale.
E sendo o Tao aquele a partir tudo
existe, nunca morre, assim como o Espírito do Vale.
Isso se chama Orifício Misterioso
O Orifício Misterioso é como uma
"fenda" por onde o céu e a terra se encontram e se fusionam, por onde
o mundo da não-manifestação se encontra e se fusiona com o mundo da
manifestação... É o revirão, o ponto de mutação, o Retorno do Caminho, a eterna
transformação de tudo a partir do Tao.
O portal do Orifício Misterioso é a
raiz do céu e da terra
Assim, através da meditação, podemos
alcançar o portal e nos depararmos com o Orifício Misterioso, ou seja, o ponto
de encontro entre o mundo da manifestação e o mundo da não-manifestação, a
entrada na Iluminação.
A passagem através o portal, através o
Orifício Misterioso, já é um passo alcançado apenas depois de termos
verdadeiramente trilhado o Caminho da Iluminação. Após então, poderemos
adentrar os degraus do Caminho da Imortalidade, já para além do Orifício
Misterioso, pois nesse Caminho já trilhamos o mundo da não-manifestação
juntamente com o mundo da manifestação, trilhando pelo limiar, pela fronteira,
pelos limites desses dois mundos, vivendo o mundo da terra e do céu - "a
raiz do céu e da terra".
Seja suave e constante
Usufruindo sem se apressar
Nesta segunda estrofe de seu poema, Lao
Tse nos ensina o grande passo da meditação: o tempo e o espaço dentro do mundo
da manifestação e o não-tempo e o não-espaço do mundo da não-manifestação.
O tempo na meditação existe e ao mesmo
tempo não-existe. Ele existe na medida que estamos vivendo dentro do mundo da
manifestação, sob suas regras e medidas, e portanto, o tempo existe. Dentro
desse tempo existe o tempo cronológico da meditação, o tempo da inspiração e da
expiração, o tempo quando alcançamos a fusão da inspiração com a expiração de
tal maneira que fundimos dentro de nós o Sopro Primordial e o Espírito,
trazendo o Elixir da Vida através do tempo conseguido pela Fixação desses
momentos.... a partir de então, se dá a verdadeira meditação com seu tempo e
seu espaço certos abrindo para a meditação com seu não-tempo e seu não-espaço
certos.
Por isso, Lao Tse nos diz: "seja
suave e constante", ou seja, é preciso que deixemos que a meditação tome
conta de nós inteiramente, plenamente, absolutamente e sempre.... assim, nossa
respiração se tornará cada vez mais suave - através da constância da prática da
meditação. Com essa constância e com a suavidade cada vez mais acentuadas,
ambas nos proporcionarão a plenitude da fusão entre o Sopro Primordial e o
Espírito. E, consequentemente, a suavidade e a constância do Elixir da Vida,
cada vez com o tempo mais prolongado, a constância, e com maior paz, a
suavidade.
Quando finalmente conseguimos um tempo
constante e uma suave interação entre o Sopro Primordial e o Espírito, o Elixir
da Vida realiza uma verdadeira transformação em todo nosso corpo físico, bem
como em nossa alma e em nosso espírito, nos aprontando para "usufruirmos
sem nos apressar" da verdadeira meditação.
A constância e a suavidade e o usufruir
sem se apressar trazem a verdadeira meditação, nos lançando para fóra do tempo
e do espaço do mundo da manifestação e nos inserindo no não-tempo e não-espaço
do Mundo da Não-Manifestação, através do portal do Orifício Misterioso para nos
instalar dentro do Espírito do Vale, que nunca morre. Lá é o lugar onde o
Caminhante se encontra com seu verdadeiro Caminho, com seu Tao.
TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao
Capítulo 6
Interpretação de Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada
por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e posteriormente publicada pela Editora Mauad, São Paulo.
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicaçãodas interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching