Precisamos saber viver a atividade e resgatar a quietude.




 Precisamos saber viver a atividade e resgatar a quietude

Wu Jyh Cherng


Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno


Nessa primeira estrofe, as quatro frases têm que ser separadas em dois conjuntos.  Lao Tse não está falando em seqüência.  Ele diz que todas as coisas têm manifestação e todas se manifestam simultaneamente.

Nós encontramos no universo uma enorme diversidade de coisas: o homem está vivo, o cavalo está vivo, pedras, montanhas, vulcões, rios, sol - todos se manifestam simultaneamente no universo.  Cada um à sua maneira de expressão, num estágio, numa dimensão, com uma característica própria.  Em todas as coisas existe a raiz primordial que é a mesma raiz e todas as coisas que estão em manifestação também têm seu momento de repouso.

É exatamente através do processo de repouso que se retorna à raiz.

Quando todos os animais estão dormindo, voltam a entrar no silêncio que é o silêncio de todos os seres.  O silêncio de um cachorrinho dormindo é o mesmo silêncio de um homem dormindo.  Nessa hora, todos os seres voltam às suas raízes, à raiz de seu ser.  O silêncio de um homem vivo e que não está pensando é o mesmo silêncio do homem que já morreu e não está pensando.


O silêncio desse nosso mundo, dessa nossa dimensão, é o mesmo silêncio do outro mundo, da outra dimensão.  Nosso universo possui infinitas dimensões que se interpenetram umas nas outras.  O silêncio de todas as dimensões é o mesmo silêncio.  O Vazio de todas as dimensões é o mesmo Vazio.  A quietude de todas as dimensões é a mesma quietude.

Isso é o que Lao Tse chama de ‘raiz de todos os seres’: o Princípio Inicial que é o Tao do Céu Anterior que gera e permite a manifestação de todas as coisas.


Para todos nós que nesse momento estamos vivos e vivendo em atividade, é como se estivéssemos vivendo a primavera e o verão.  Porém, tudo o que vive na primavera e no verão, em seguida viverá o outono e o inverno para então novamente voltar à primavera e ao verão.  A vida é cíclica.

Se hoje vivemos a atividade, podemos viver também a não-atividade.  Se hoje nossa mente é agitada e não pára, nós não conseguiremos não nos preocupar, não nos emocionar.  Às vezes, essa emoção e essa atividade mental são tão grandes que ficamos doentes: não conseguimos dormir, ficamos emocionalmente alterados.  Todos nós que vivemos em atividade - seja mental, emocional ou física - e não temos controle sobre isso, precisamos saber que também podemos ter a quietude.

É preciso re-descobrir essa quietude e voltar para ela.  Fazer renascer dentro de nós uma nova consciência, mais jovial, mais saudável.

Precisamos saber viver a quietude - o outono e o inverno  - em cada momento da primavera e do verão.  Precisamos viver o outono e o inverno guardando, em cada instante, a primavera e o verão dentro de nós.

Em cada momento de quietude, devemos manter dentro de nós a potencialidade da criatividade.  Em cada momento da criação, do trabalho, da atividade, devemos manter a quietude dentro de nós.  Sempre.  Então viveremos o Yin e o Yang ao mesmo tempo.  o Yin dentro do Yang e o Yang dentro do Yin.  No momento Yin, não perder o Yang.  No momento Yang, não perder o Yin.

Esse é o símbolo do Tai Chi, metade Yin, metade Yang.  Dentro do Yin, o pontinho do Yang e dentro do Yang, o pontinho do Yin.  Essa é a maneira sábia de viver a primavera e o verão mantendo dentro de si a sobriedade e a profundidade do outono e do inverno.

No momento do repouso do inverno e do recolhimento do outono, manter dentro de nós a força e a criação da primavera e do verão.  Essa é a sabedoria que Lao Tse quer passar para nós. 

Por isso, Ele diz: 

Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

O retorno da quietude está dentro de nós.  Precisamos saber viver a atividade e resgatar a quietude.  Viver o mundo resgatando o silêncio.


Como resgatar esse silêncio?  Dentro da meditação, tecnicamente falando.



Capítulo 16

Alcançando o extremo Vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz
O regresso à raiz se chama ‘quietude’
Quietude se chama ‘retornar a viver’
O retornar a viver se chama ‘constância’
Conhecer a constância se chama ‘Iluminação’
Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca o infortúnio.

Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Tao
O Tao tem o poder do eterno
Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer


...............

Foto: Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 16
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 27 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng


 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching