Os Grandes Realizadores - Parte 2




Os Bons Realizadores
Parte 2

Wu Jyh Cherng


Lao Tse, como não consegue descrever através das palavras, tenta dizer mais ou menos como seriam esses homens, bons realizadores da antiguidade:

Eram receosos como quem atravessa um rio no inverno


Como se atravessa um rio no inverno?

A pé.

No inverno, o rio congela.  Temos que atravessá-lo com cautela porque, em alguns lugares, o gelo é muito fino e se cairmos, afundamos e morremos.  Deve-se atravessar o rio no inverno com  passos leves, sutis, como um gatinho andando.
Eram cautelosos como quem teme seus vizinhos

Devemos ter cuidado ao nos relacionarmos com os outros.  Som alto, estridente, exagerado, não é aconselhável.  Os grandes realizadores eram sutis, cautelosos, cheios de tato no trato com as pessoas, procurando sempre não incomodar.


Eram reservados como o hóspede

Quando estamos na casa dos outros, devemos ser reservados, tendo o cuidado de não infringir os costumes do dono da casa.


Eram solúveis como gelo fundente

O gelo, ao contacto com o calor, começa a perder sua forma, amoldando-se, fundindo-se.  Ao perder a forma, não dá para descrever.  Os grandes sábios vão perdendo a forma.


Eram genuínos como a madeira bruta

A madeira que foi talhada tem uma forma definida, muitas vezes engenhosa.  A madeira bruta é genuína, não tem engenhosidade, é como é, simplesmente - isso é a pureza do ser.


Eram vazios como os vales

O vale é a Abrangência, a tudo acolhe.


Entorpecidos como a água turva.

A água turva é a não-divisão.  Na água turva não se vê a diferença de cores, é um caos.  O caos primordial lembra um pouco isso.

O vale é a abrangência; a madeira bruta é a naturalidade; a água turva é a não-divisão.

Os sábios da antiguidade são lúcidos, têm clareza das coisas.



Nos trechos acima, existe uma frase que é fundamental:

Eram reservados como o hóspede

O hóspede reservado é o hóspede que colabora com o dono da casa, que não contraria os costumes da casa.

Na nossa prática mística, nós também devemos ser o hóspede e não o dono.

Devemos deixar o universo ser o dono.  Como no universo existe o Grande Caminho da Naturalidade, onde todas as coisas acontecem dentro de uma lei natural, há uma grande força que flui  dentro do equilíbrio.  Dessa forma devemos ser hóspedes e deixar essa grande força que flui ser a dona do destino.

Na meditação, devemos ser abertos, receptivos, para colaborarmos com o grande destino do universo, integrando-nos ao grande destino do universo em vez de lutarmos contra.

Lutar contra o grande destino do universo é inútil.  É preciso saber fluir, integrar.

Na prática da meditação, vamos nos integrando com essa grande força.  A partir do momento em que nos integramos com ela, essa força entra dentro de nós.

Então, nos renovamos e nos purificamos.

Essa energia muda nossas células, nossa energia, nosso corpo físico, nossa mente, nossa estrutura psíquica.  Então nos transformamos.



Capítulo 15


Os bons realizadores da antiguidade eram sutis,
Maravilhosos, misteriosos e despertados.
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E, justamente por não poderem ser compreendidos,
É preciso esforçar-se para ilustrá-los.

Eram receosos como quem atravessa um rio no inverno
Eram cautelosos como quem teme seus vizinhos
Eram reservados como o hóspede
Eram solúveis como gelo fundente
Eram genuínos como a madeira bruta
Eram vazios como os vales
Entorpecidos como a água turva.

O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer
E, justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar.



Foto: Sítio das Estrelas, Janine

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 15
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng



 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching