o Caminho do Céu




o Caminho do Céu

Wu Jyh Cherng


Este Capítulo expressa tipicamente o pensamento e o comportamento do Taoísmo:


saber se submeter,
 saber se esvaziar,
saber romper,
saber possuir pouco

...  Essas são exatamente as maneiras taoístas de viver e de ver as coisas.


Pode-se então entende que essas maneiras sejam contrárias a aquilo que se chama de ‘vitória’ ou ‘glória’.  Normalmente, os valores sociais falam da pessoa que não se curva diante de nada, da pessoa que não se submete a nenhum pensamento disciplinar ou a nenhuma ordem social - isso é que é interessante para a sociedade.

O contrário do vazio é tê-lo preenchido, é possuir muitas coisas, ficar cheio de conhecimentos, cheio de dinheiro, cheio de riquezas, cheio de idéias e possuir muito: tudo isso expressa o valor comum das coisas.

Mestre Maa nos diz em suas aulas que dentro da cultura chinesa, se não existissem os ensinamentos de Confúcio, não haveria a ordem para governar o mundo; e se não existissem os ensinamentos de Lao Tse, não haveria onde os grandes heróis se aposentarem.

O Confucionismo é um ensinamento muito dogmático, muito voltado para a sociedade, voltado para o mundo.  Através desses ensinamentos, uma pessoa pode chegar ao auge de sua realização, de se tornar uma pessoa realizada.  Mas, por outro lado, será uma pessoa muito exteriorizada.  Isso leva a pessoa a ir cada vez mais subindo na sociedade e chega uma hora que fica tão evidente e tão desgastada que não tem mais fôlego para sair dessa situação - mesmo porque seu ego não permitiria, seus ensinamentos e sua formação não permitiriam.  Então, essa pessoa ou se destrói ou desiste.  Mas também não pode desistir porque a sociedade chamaria de covardia, de abandono, de exílio.  Significaria uma série de razões que normalmente o Taoísmo considera como ‘virtudes’.

Nesse caso, se não tivéssemos os ensinamentos de Lao Tse, chegaria uma hora em que os grandes heróis não teriam onde se aposentar.  Chega uma certa hora em que temos que nos retirar.  Não existe um progresso constante sem retiro.  Não existe uma ascensão sem descida.  Ao invés de o homem buscar seu progresso constante e sofrer uma queda involuntária - por essa mesma razão -, é melhor que ele saiba se retirar na hora própria de se retirar e avançar no momento próprio de avançar.

Isso é o que Lao Tse chama de Curso do Céu ou Caminho do Céu.  O Caminho do Céu é o caminho da natureza.  Existe o momento em que o sol nasce, existe o momento em que o sol chega ao meio dia, existe o momento em que o sol se põe, e existe o momento em que o sol desaparece e nós entramos em repouso e ficamos quietos, dormindo.  Existem períodos quando nós dormimos mais e ficamos menos tempo acordados - no inverno.  Existem períodos quando dormimos menos e ficamos mais tempo acordados - no verão.  Tudo isso acontece dentro da grande lei do planeta.  No verão, a energia da natureza está mais exteriorizada, a energia sai debaixo da terra e fica flutuando no espaço.  Assim, o homem fica mais tempo acordado sem perder energia e recebendo a energia da natureza sem se prejudicar.  Durante o inverno, existe menos tempo do dia e menos tempo de recebimento da energia e por ser noite por um longo tempo, a energia fica retida dentro da terra e então temos que repousar mais para não gastarmos energia.
O caminho da natureza é o Caminho do Céu: o caminho do dia e da noite, do movimento das estrelas, do sol e da lua.

Quem conhece o Caminho do Céu conhece o processo da mutação que nos fala o I Ching.  Todo o momento Yang traz um momento Yin, depois da ascensão vem a queda, toda expansão traz um recolhimento, depois do momento Yang vem o momento Yin.

Se uma pessoa apenas valoriza o lado Yang e não valoriza o lado Yin, ela não saberá se recolher e não saberá se calar e não saberá viver o silêncio, não saberá se interiorizar, não saberá abaixar a cabeça e se retirar.  Daí então esse grande herói não saberá a hora de se retirar e por isso será marcado pelo destino porque a grande roda não espera... É como um vulcão que ameaça explodir e deixar sua lava cobrir toda a aldeia - que deve então se retirar.  Se alguém se recusar sair, será coberto pela lava, queira ou não queira.

Saber se retirar é como Lao Tse diz: saber  curvar-se, saber submeter-se, saber esvaziar-se, saber romper e saber possuir pouco.

Nesse caso, os ensinamentos falam do não-herói.  Para o Taoísmo, o não-herói é o verdadeiro herói.




Capítulo 22


Curvar-se permite a plenitude
Submeter-se permite a retidão
Esvaziar-se permite o preenchimento
Romper permite a renovação
Possuir pouco permite a aquisição
Possuir muito permite a ganância.

Por isso, o Homem Sagrado abraça a Unidade
Tornando-a modelo sob o céu
Não julga por si, por isso é óbvio
Não vê por si, por isso é resplandecente
Não se vangloria, por isso há realização
Não se exalta, por isso cresce
Só por não disputar, nada pode disputar com ele

Antigamente se dizia:  “Curvar-se permite a plenitude”.
Como poderiam ser palavras vazias?

Assim, ao alcançar a plenitude, encontra-se o retorno

...............

Foto:Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 22
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 06 de dezembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching