Discernimento é saber fluir no destino




Discernimento é saber fluir no destino

Wu Jyh Cherng


Entre aceitar e repudiar, qual a diferença?
Entre apreciar e desprezar, qual a distância?
O que os homens temem, poderiam não temer?


Basicamente, Ele quer dizer que entre aceitar e repudiar, não há diferença.  Entre apreciar e desprezar, não há distância.  E aquilo que os homens temem, também nós devemos temer.

O que significa aceitar e repudiar?  Aceitar é o que gostamos e repudiar é o que não gostamos.  Tanto aceitar como repudiar são formas de apego.  Então, dentro da condição do apego, aceitar ou repudiar são a mesma coisa..... mesmo que muitas vezes nós consideremos que aceitar é uma virtude e repudiar é um defeito.

Também, muitas vezes consideramos como qualidade uma pessoa que sabe apreciar as coisas... tudo o de bom e do melhor no mundo... e consideramos algo ruim com desprezo.

Se uma pessoa consegue apenas apreciar e não desprezar ou uma pessoa que só consegue desprezar - essas pessoas vivem nas polaridades, nas extremidades: um lado como antítese do outro.  Por isso, Lao Tse diz que não há distância entre apreciar e desprezar.  Ambos estão no mesmo ponto.  Não há diferença entre aceitar e repudiar porque são dois lados da mesma moeda. 

É preciso, portanto, estar acima do apreciar e do repudiar, do aceitar e do desprezar para se poder ter discernimento. 

O discernimento não é julgamento.  Julgamento é exatamente aceitar ou repudiar, apreciar ou desprezar.  Discernimento é saber fazer a escolha certa simplesmente sem que essa escolha crie uma série de reboliços ou murmúrios interiores.  É saber fluir no destino: quando é necessário fazer uma escolha, uma opção, simplesmente optar pelo caminho que é natural, que é melhor, que é conveniente para a pessoa que está vivendo aquele momento, aquele instante, aquela situação.  Fazer a opção sem cultivar remorsos posteriores.  Fazer a opção sem temor antes, sem medo de escolher o caminho da direita ou da esquerda... o que vai acontecer?  É preciso fluir no destino e simplesmente fazer aquilo que deve ser feito e, depois de ter  feito, não ficar mais remoendo...

Mestre Maa sempre diz que não devemos ficar preocupados antes de fazer uma coisa e não ficar remoendo, arrependidos, por aquilo que já foi feito.  O que é preciso é na hora de fazer tomar uma atitude consciente e seguir em frente, simplesmente.

Dessa maneira, nós podemos viver a cada instante e não viver com antecipação e nem viver o passado que já se foi.  Se uma pessoa a cada instante ficar questionando o que fez no passado, estará esquecendo de viver o presente.  Se uma pessoa ficar antecipando algo que ainda não aconteceu, também não estará vivendo o presente.  O que então acontece?  A pessoa vive sempre com a consciência deslocada no passado ou no futuro, fóra da realidade, fóra do presente.  Assim, vive-se um longo tempo da vida sem grande parte da vida ter sido realmente vivida.

Entre aceitar e repudiar, qual a diferença?
Entre apreciar e desprezar, qual a distância?
O que os homens temem, poderiam não temer?


Basicamente, Ele quer dizer que entre aceitar e repudiar, não há diferença.  Entre apreciar e desprezar, não há distância.  E aquilo que os homens temem, também nós devemos temer.

O que significa aceitar e repudiar?  Aceitar é o que gostamos e repudiar é o que não gostamos.  Tanto aceitar como repudiar são formas de apego.  Então, dentro da condição do apego, aceitar ou repudiar são a mesma coisa..... mesmo que muitas vezes nós consideremos que aceitar é uma virtude e repudiar é um defeito.

Também, muitas vezes consideramos como qualidade uma pessoa que sabe apreciar as coisas... tudo o de bom e do melhor no mundo... e consideramos algo ruim com desprezo.

Se uma pessoa consegue apenas apreciar e não desprezar ou uma pessoa que só consegue desprezar - essas pessoas vivem nas polaridades, nas extremidades: um lado como antítese do outro.  Por isso, Lao Tse diz que não há distância entre apreciar e desprezar.  Ambos estão no mesmo ponto.  Não há diferença entre aceitar e repudiar porque são dois lados da mesma moeda. 

É preciso, portanto, estar acima do apreciar e do repudiar, do aceitar e do desprezar para se poder ter discernimento. 

O discernimento não é julgamento.  Julgamento é exatamente aceitar ou repudiar, apreciar ou desprezar.  Discernimento é saber fazer a escolha certa simplesmente sem que essa escolha crie uma série de reboliços ou murmúrios interiores.  É saber fluir no destino: quando é necessário fazer uma escolha, uma opção, simplesmente optar pelo caminho que é natural, que é melhor, que é conveniente para a pessoa que está vivendo aquele momento, aquele instante, aquela situação.  Fazer a opção sem cultivar remorsos posteriores.  Fazer a opção sem temor antes, sem medo de escolher o caminho da direita ou da esquerda... o que vai acontecer?  É preciso fluir no destino e simplesmente fazer aquilo que deve ser feito e, depois de ter  feito, não ficar mais remoendo...

Mestre Maa sempre diz que não devemos ficar preocupados antes de fazer uma coisa e não ficar remoendo, arrependidos, por aquilo que já foi feito.  O que é preciso é na hora de fazer tomar uma atitude consciente e seguir em frente, simplesmente.

Dessa maneira, nós podemos viver a cada instante e não viver com antecipação e nem viver o passado que já se foi.  Se uma pessoa a cada instante ficar questionando o que fez no passado, estará esquecendo de viver o presente.  Se uma pessoa ficar antecipando algo que ainda não aconteceu, também não estará vivendo o presente.  O que então acontece?  A pessoa vive sempre com a consciência deslocada no passado ou no futuro, fóra da realidade, fóra do presente.  Assim, vive-se um longo tempo da vida sem grande parte da vida ter sido realmente vivida.

Em seguida, Lao Tse diz:

Abandone isso antes que se esgote!

 Ou seja, antes de esgotar a vida.

Antes de virmos para essa vida, nós nascemos com um monte de sementes transmigratórias que trouxemos de outras vidas.  Essas sementes são como cristaizinhos concentrados de nossa alma desidratada de outras vidas.  Nós viemos com mil apegos, vícios, frustrações, costumes, hábitos, mil loucuras, mil felicidades, mil desejos; e quando chega a hora da morte essa grande aglomeração de memórias que se chama “alma humana” vira cristaizinhos.  Esses cristaizinhos são como se fosse a água salgada do mar, que se desidrata.  Quando esses cristais são jogados dentro de uma nova água, com o tempo acabam se diluindo fazendo com que essa água se torne novamente uma água salgada.

Um bebê recém-nascido traz as memórias de suas vidas passadas ainda em forma de cristaizinhos, ainda não manifestas com intensidade e com amplitude.  Numa água bastante límpida são colocados os cristaizinhos, e conforme a vida vai acontecendo, com a ansiedade e com as aflições, a água límpida começa a aquecer os cristais e a dissolvê-los.  A água vai ficando mais e mais salgada.  Essa água límpida do princípio é a nossa Pura Consciência.  Ao incorporarmos mais e mais questões de nossa alma de vidas passadas, a água vai ficando turva,  grossa e salgada, ressuscitando todos os vícios passados - mesmo que não tenhamos consciência disso - e nossa vitalidade vai se reduzindo.

Enquanto nós vivemos, essa consciência da água junto com a alma vai podendo ser trabalhada através de um processo espiritual.  Esse processo espiritual vai filtrando e jogando fóra esse sal, tentando recuperar a água límpida e pura.  No entanto, se isso não for feito a tempo e se não for realmente feito, teremos que encarar uma outra morte e carregar todos esses cristaizinhos novamente para uma outra vida.  Também é possível que esse punhado de cristais aumente ou reduza - dependendo de como a vida foi vivida.

Por isso, Lao Tse diz que antes de esgotarmos nossa vida, devemos abandonar o mais rápido possível, os vícios da alma do passado através de um caminho espiritual.  O caminho espiritual é o Caminho da Conscientização.  Não é uma conscientização racional mas sim um processo que faz com que a nossa Consciência Pura cada vez mais se amplie, cada vez mais se torne iluminada, nos trazendo uma limpidez interior.  Não é um fenômeno de ver luzes e sim de trazer para nós uma lucidez diante de cada acontecimento de nossa vida.  Lucidez de atitudes em relação  a nós mesmos e em relação a todas as coisas em torno de nós.  Lucidez para podermos enxergar e ver as coisas e compreendê-las.

Dentro do Taoísmo, devemos trabalhar para que as pessoas que têm menos condições possam ter alguma chance de se iluminar.  Num mosteiro tradicional taoísta, existem três rituais diários: pela manhã, o ritual da purificação; ao meio-dia, o ritual da oferenda; e à noite, o ritual da distribuição.  Neste último, a distribuição é feita para aquelas pessoas que estão abaixo da condição humana de uma pessoa viva, ou para pessoas que estão no mundo da obscuridade, ou para pessoas que estão muito próximas de nós mas que não conseguem enxergar, tomar contato com a luz.  O Ritual da Distribuição é realizado para beneficiar esses seres.

Os homens se agitam como um festejo na grande prisão
ou como subir à varanda na primavera

Isto quer significar que somos prisioneiros do mundo físico, somos prisioneiros de nossos hábitos, costumes, apegos e vícios e não percebemos isso, continuando num estado de festejo e esses festejos nos levam a não termos a consciência da realidade.  Festa é algo fóra da rotina.  A festa nos leva para fóra da realidade.  Às vezes, estar fóra da realidade serve terapeuticamente como alívio: naquele momento estamos isolados temporariamente dos problemas.  No entanto, de uma maneira geral, os seres humanos passam suas vidas como se estivessem dentro de uma festa para não verem a realidade e, conseqüentemente, não precisarem trabalhar essa realidade.

Tudo o que é difícil a gente tem a consciência de quer jogar fóra;  mas tudo o que é  fácil a gente não quer  jogar fóra.  Se jogarmos fóra aquilo que consideramos agradável, podemos ser tachados de loucos.  Por isso, a frase: “Entre apreciar e desprezar, qual a distância?”  Não há distância alguma: é o apego pelo repúdio ao desagradável ou o apego por aquilo que sentimos como agradável.  Ambos fazem parte da grande  festa dentro de uma prisão ou ambos fazem parte da grande festa da primavera.


Capítulo 20


No ensinamento pela supressão não há preocupações

Entre aceita e repudiar, qual a diferença?
Entre apreciar e desprezar, qual a distância?
O que os homens temem, poderiam não temer?

Abandone isso antes que se esgote!

Os homens se agitam como um festejo na grande prisão
Ou como subir à varanda na primavera

Meu corpo não tem expressão
Como uma criança antes de nascer
Como a estrela Kuei que não tem onde se apoiar

As pessoas todas possuem em excesso
Somente eu aparento estar perdendo
Sou como um ignorante que tem o coração puro

Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu aparento estar confuso
Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu estou introspectivo
Indefinido como uma infinita noite silenciosa

As pessoas todas têm um ego
Somente eu o ignoro considerando-o precário

O que quero que me distinga dos demais
É valorizar o alimentar-se da Mãe.



foto: Sítio das Estrelas, Janine




TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 20
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 08 de novembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng

 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching