Curvar-se permite a plenitude





Curvar-se permite a plenitude

Wu Jyh Cherng


Saber curvar-se é saber ter a maleabilidade.  Movimentos de curva são movimentos circulares e espirais.  A água demonstra a qualidade de saber curvar-se.

Saber curvar-se pode acontecer em vários níveis.  Deve-se se saber curvar-se sem hipocrisia mas com humildade - saber ser humilde.  Em outro sentido, pode ser literalmente o sentido de curva: a água pode fluir em linha reta como pode contornar rochas - a trajetória do leito do rio é toda de movimentos circulares.  Também a energia em nosso corpo se movimenta em forma circular.

Curva, portanto, se entende por humildade, maleabilidade, adaptabilidade, movimento circular e movimento em espiral.


Na prática da meditação, quando se atinge um certo nível de quietude, com o corpo bem relaxado, podemos sentir a entrada de uma energia dentro de nosso corpo.  Essa energia vem de uma fonte desconhecida que é o Vazio e quando ela entra em nosso corpo, começa a circular em forma espiral, ou seja, são movimentos curvos e não são movimentos retos.  São inúmeras energias que geram infinitas rodas de moinho dentro de nós.  Isso é exatamente o que Lao Tse diz: Curvar-se permite a plenitude.

Mestre Maa nos fala de uma frase retirada de um outro texto clássico não especificado por ele, que diz assim: “A curva tem o poder de criação.  A criação tem o poder da formação”.  Ou seja, quem sabe curvar-se e ter energias circulares, tem o poder de criar.  As curvas são criativas.  As retas, não.  A força circular é criativa.


Continuando Mestre Maa:  “E a criação pode gerar formas” - pode então materializar as coisas.  “As formas tornam as coisas visíveis”.  Quando uma coisa adquire uma forma, ela passa a ser visível.

“A visibilidade permite a iluminação” - tudo o que é visível torna-se claro e compreensível.  “A iluminação pode proporcionar o movimento” - porque tudo o que é visível demonstra seu movimento.  “O movimento traz a modificação e a modificação traz a transformação”.


“A curva tem o poder de criação 
A criação tem o poder da formação
  E a criação pode gerar formas
As formas tornam as coisas visíveis
A visibilidade permite a iluminação
  A iluminação pode proporcionar o movimento 
O movimento traz a modificação e a modificação traz a transformação”.


Dessa maneira, coloca-se, passo a passo, através da sabedoria do uso da palavra curvar-se, o entendimento de que pode ser usada nos níveis da adaptabilidade, da maleabilidade e da humildade bem como a utilização da força circular, da energia em espiral e em constante movimento que pode gerar a força da criação.  Essa força da criação pode gerar uma forma.

Uma pessoa que tenha humildade pode criar, pode ser criativa e essa criatividade pode trazer à tona alguma forma, um projeto, uma idéia ou uma intenção de fazer alguma coisa e essa forma pode se tornar visível.  Por tomar uma forma visível, esta criação fica iluminada para esclarecer e iluminar a própria pessoa que a criou ou pode também iluminar e esclarecer outras pessoas.  Gera, portanto, uma movimentação e essa movimentação vai se transformando porque tudo o que se move, se modifica.  Através da movimentação, vem a transformação.

Portanto, uma iniciativa feita com  humildade e com maleabilidade - tanto mental como física - pode girar gradualmente até atingir uma grande transformação.

A partir de um cerne interior, pode-se chegar a uma transformação pessoal ou social.  Pode-se começar de um nível espiritual até alcançar o nível físico de transformação quando muda a expressão física, muda a saúde, a transformação vai se exteriorizando passo a passo.  Partindo de uma pessoa, a transformação pode atingir a sociedade e todos participarem da transformação, conjuntamente.

Mestre Maa, em seu raciocínio, nos coloca a importância de todo esse trajeto que se inicia na importância de se reconhecer a palavra ‘curvar-se’.



Na prática da Alquimia, temos as Rodas de Moinho que são a entrada do Sopro do Céu Anterior que vai purificando nosso corpo.  As Rodas de Moinho têm que acontecer pelo menos nove vezes - em algumas pessoas acontecem mais vezes.  É preciso que haja no mínimo nove entradas das Rodas de Moinho para permitir no corpo a concentração do Elixir que é uma força espiritual e energética.  Para consolidar essa força espiritual e energética, precisamos ter essas Rodas de Moinho circulando dentro do nosso corpo pelo menos por nove vezes.  Menos de nove vezes, não traz a capacidade total de coagulação para a concentração do Elixir.



 Capítulo 22



Curvar-se permite a plenitude
Submeter-se permite a retidão
Esvaziar-se permite o preenchimento
Romper permite a renovação
Possuir pouco permite a aquisição
Possuir muito permite a ganância.

Por isso, o Homem Sagrado abraça a Unidade
Tornando-a modelo sob o céu
Não julga por si, por isso é óbvio
Não vê por si, por isso é resplandecente
Não se vangloria, por isso há realização
Não se exalta, por isso cresce
Só por não disputar, nada pode disputar com ele

Antigamente se dizia:  “Curvar-se permite a plenitude”.
Como poderiam ser palavras vazias?

Assim, ao alcançar a plenitude, encontra-se o retorno

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Foto:Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 22
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 06 de dezembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching