As perdas de graus de Consciência e de consciência e o desvio do Grande Caminho
Wu Jyh Cherng
Neste Capítulo, veremos o Tao se voltando para os conceitos da
ética e da moral.
A princípio, o Tao é amoral, estando acima de quaisquer conceitos
de ética, moral, etc. Porém, quando
estes se perdem, o Tao desce para alcançar estes níveis. Nesse caso, é preciso que se entenda que o
Taoísmo mostra que a consciência do homem pode atuar em diferentes níveis: no
nível da consciência pura, no nível da consciência una, no nível da consciência dividida e
também no nível da consciência caótica ou desordenada.
Quando se perde a Consciência
Pura, desce-se para a Consciência Una.
Quando se perde a Consciência
Una, desce-se para a consciência antagônica.
Quando se perde a consciência
antagônica, entra-se na consciência complexa.
Quando se perde a
consciência complexa, entra-se na
desordem e na confusão.
Neste Capítulo, portanto, Lao Tse nos fala em como nasce uma série
de conceitos a partir dessas mudanças de consciência.
A leitura do Capítulo 18 pode ser entendida em vários níveis: o
nível superficial, o nível simbólico e o nível da prática espiritual.
No nível superficial, Lao Tse fala sobre quando a humanidade perde
seu Caminho.
O que é o Grande Caminho? É
o caminho da indivisibilidade, o caminho da unidade, o caminho da naturalidade,
o caminho do caos primordial. Onde não
há intenção, não há julgamento, onde tudo acontece dentro da naturalidade, tudo
acontece dentro de uma consciência, onde não há separação das coisas. Nesse estado nada se divide, nada é
diferenciado e tudo está harmoniosamente unido.
Quando se perde o Grande
Caminho,
Surgem a bondade e a justiça.
Quando o ser humano, quando a sociedade humana, perde essa
condição, faz nascer a bondade e a justiça; surgem as antíteses. A bondade são aqueles sentimentos fraternais
de ajuda e a justiça são a severidade, a rigidez, a inflexibilidade.
Na bondade, se perdoam as pessoas.
Na justiça, se punem as pessoas.
Também ambas as coisas podem ser voltadas para a pessoa mesma: é a
pessoa que é bondosa consigo mesma, que se perdoa a cada instante como também é
a pessoa que está sempre criticando, punindo a si mesma, se julgando e se
sentenciando.
Essa oposição surge quando não há o caminho da união. No caminho da união não há separação. Não havendo separação, não existe
julgamento. Não existirão a bondade como
contraste com a justiça ou a justiça como oposta à bondade.
Quando aparece a inteligência,
Surge a grande hipocrisia.
Quando o homem perde a sua Consciência Pura, ele passa a ter uma
consciência inteligente, no sentido pejorativo da palavra. Uma inteligência de esperteza, de
engenhosidade e, conseqüentemente, de malícia.
O que então acontece? Surge a
grande hipocrisia.
Uma pessoa violenta e menos inteligente agirá em relação às outras
pessoas de maneira rústica e primitiva.
Uma outra pessoa também violenta porém extremamente inteligente, agirá
com violência porém de uma maneira mais caprichosa, mais engenhosa, bem mais
aprimorada.
Por isso, Ele diz:
Quando aparece a inteligência,
Surge a grande hipocrisia
As pessoas se tornam mais hipócritas, mais afiadas. Uma pessoa inteligente saberá como camuflar
sua maldade, prejudicando as pessoas mas aparecendo como vítima.
Uma pessoa menos inteligente não sabe fazer isso.
Portanto, a pessoa menos inteligente tem uma potencialidade
enquanto a pessoa mais inteligente, tem uma potencialidade muito maior.
Quando os seis parentes não
estão em paz
Os seis parentes são: o marido e a esposa, os pais e os filhos, os
irmãos e as irmãs. Os seis parentes são
as relações de cima, de baixo e dos lados.
Os irmãos estão no mesmo nível - relação lateral. Os pais estão em cima e os filhos estão
embaixo. A relação dos seis parentes
significa que nós nos relacionamos com nossos pais, nossos filhos e com nossos
irmãos. No nível dos pais, incluem os
tios e os avós. No nível dos filhos
estão incluídos os netos. No nível dos
irmãos incluem os primos e os sobrinhos.
Os caminhos são para cima, para baixo e para todos os lados.
Quando os seis parentes não
estão em paz,
Surgem o amor filial e o amor
paternal.
Quando surge a desarmonia, aparecem os discursos e as doutrinas
sobre o amor filial e o amor paternal.
Esses tipos de amor deveriam ser naturais e não entendidos através das
doutrinas. Quando aparecem as doutrinas
é porque a família já não mais consegue viver naturalmente seu instinto de
amor. Daí, surgem, portanto, o amor
filial e o amor paternal.
Quando o filho é conhecido por cuidar e proteger seus pais, é
reconhecido como tendo amor filial.
Quando o pai cuida e protege seus filhos, é reconhecido como tendo amor
paternal. Enquanto se comenta sobre
esses assuntos, é porque o amor natural não acontece. Numa sociedade onde tudo aconteça de uma
maneira perfeita, em relação ao amor familiar, não existirão quaisquer
comentários porque simplesmente tudo seria tão natural e tão óbvio que não
caberia nada a ser dito. Só se
homenageiam o bom pai e o bom filho se a grande maioria da sociedade não
estiver seguindo o caminho da normalidade e da naturalidade. Aí então, surgiria o conceito de amor filial
e de amor paternal.
O Taoísmo indica o seguimento do Grande Caminho. Se o caminho da melhor qualidade não puder se
seguido, deve-se ir remendando o antigo caminho até que se possa tomar o
caminho correto.
Diferente do Confuncionismo que diz que não se deve optar pelo melhor e mais grandioso, que
diz que se deve contentar com aquilo que é pequeno e pobre.
O Taoísmo permite que sonhemos com o nosso ideal. O Confuncionismo diz que não vale a pena
sonharmos com o nosso ideal, que devemos nos contentar com o que nos convém e o
que nos é possível.
Dessa maneira, o Confuncionismo doutrina sobre como o filho deve se
portar em relação aos pais, c como os pais devem educar seus filhos, como o
governador deve se relacionar com o imperador.
O Confuncionismo fala tudo isso para que a sociedade seja bem educada já
que as pessoas perderam a naturalidade e, artificialmente, devem aprender a
forma correta de conduta.
Quando Lao Tse aponta que é preciso aprender o amor filial e o amor
paternal significa que as pessoas não sabem mais fazer isso.
Quando há desordem e confusão
no reino,
Surge o patriota.
Se todos forem patriotas, ninguém será chamado de patriota porque
todos serão patriotas. O patriota ama
seu país e age com o senso de cidadania.
Se todos os cidadãos são patriotas, não se vai perceber o conceito de
‘patriota’.
Do mesmo modo que se todos se amam, não existirão os conceitos de
amor fraternal, de amor paternal, de amor filial... Nesse caso, as pessoas conseguiriam conservar
um raciocínio simples, uma consciência límpida e natural, não existiriam a
hipocrisia nem a falsidade e a engenhosidade.
Se todas as pessoas estivessem no caminho do equilíbrio, não haveria
a discussão entre a bondade e a justiça.
Não haveria a separação.
Nessa primeira análise do Texto, Lao Tse nos fala da importância de
conservamo-nos no Grande Caminho.
Capítulo 18
Quando se perde o Grande
Caminho,
Surgem a bondade e a justiça.
Quando aparece a inteligência,
Surge a grande hipocrisia.
Quando os seis parentes não
estão em paz,
Surgem o amor filial e o amor
paternal.
Quando há desordem e confusão
no reino,
Surge o patriota.
...............
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA
VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do
Capítulo 18
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula
Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 11 de
outubro de 1994
Transcrição e Síntese de
Janine Milward
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Nesta mesma Editora,
encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em
breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching