o silêncio do Absoluto que não pode ser enunciado



.... o silêncio do Absoluto que não pode ser enunciado

Wu Jyh Cherng


A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número


Medida e número são valores, são linguagens.

Uma vez mais, Lao Tse está nos dizendo, nos lembrando:  não se mede o infinito através os instrumentos finitos.  Menos ainda se alcança o Absoluto através de instrumentos limitados ou medidas.

As boas palavras são não-palavras.  São palavras das não-palavras.  São o silêncio do Absoluto que não pode ser enunciado.  Mas por isso elas não deixam imperfeição, não podem ser criticadas.

Chuang Tzu, em um de seus contos, diz que quando um grupo de pessoas só encontra discordância em suas palavras, a concordância só virá com o silêncio, na ausência das palavras.

Esse é um dos conceitos que influenciou fortemente o Zen Budismo.  Para o Zen, a grande perfeição não está na palavra.


A boa palavra - a palavra do Grande Caminho - é a não-palavra.  E essa não-palavra não pode ser a ausência da palavra.  É a não-palavra de todas as palavras quando tiverem palavras.  A não-palavra em nenhuma palavra quando não houver palavras.

Com essa compreensão, vem o conceito do Taoísmo do não-julgamento, a não-conceituação.  É simplesmente o fluir natural.

Não deixe de falar quando tiver que falar.  Mas não falar com intenção, não falar com premeditação, não falar com julgamento.  Mas falar o que deve ser falado.  E não falar quando não tiver que falar.

E não julgar quando tiver que falar ou não-falar.  Simplesmente a palavra com a não-palavra.   A não-palavra está dentro da palavra.


Quando precisamos de um instrumento material e físico para poder nos interiorizar, essa interiorização ainda não é a interiorização absoluta ou autêntica.

Por isso, a boa interiorização não precisa de ferrolho para ser fechada.  Como não há ferrolho para fechar, então não há nada para se colocar dentro.

Uma boa Fixação na meditação faz com que a respiração pare e a consciência entre em estado Zero.

Nessa hora, ninguém pode interferir em tirar você, alterar você.  A Consciência está em absoluta quietude.  Esse é o estado como se fosse uma porta fechada que ninguém pode abrir, a não ser você.

Uma tradição hermética  - como a Alquimia -, deveria ser compreendia não apenas com um segredo (tradição secreta que somente os iniciados sabem) - embora suas técnicas sejam passadas secretamente.

Mas, o verdadeiro hermetismo está no Caminho Interior - porque a verdadeira Alquimia acontece dentro da Fixação.

A verdade Alquimia acontece dentro da Fixação.  Dentro da Alquimia.  Não se entra dentro do Caldeirão do Mestre para se descobrir os segredos do Elixir realizado e o Corpo Solar construído - e assim é o processo da Alquimia.  Não entra porque a porta está fechada e essa porta não tem forma, não tem ferrolho, não tem como abrir.

Na paranormalidade, depende de um fio, depende de uma linguagem.  Todas as chaves que abrem as Portas do Mistério, são linguagens.

A linguagem pode ser uma palavra-chave, pode ser um Mantra, pode ser uma visão, uma energia, o que for.  Mas a partir do momento em que se entra no Zero do Absoluto, é como se estivéssemos dentro de um cilindro onde não existem aberturas.  Como se fosse um ovo perfeito, sem furos.


No mais importante Tratado Místico do Taoísmo - Tratado da Salvação do Homem - , se diz:

O Venerável Senhor Celestial do Princípio Inicial dos Infinitos Céus Anteriores, invocou todos os deuses de todas as direções e os colocou junto com Ele em uma pérola do tamanho da semente de um alpiste, juntou todos os senhores deuses de todos os tempos e de todos os universos.

E lá dentro da pérola, foi revelado o Mistério de todos os Universos e de todos os Tempos e de todas as Direções.

Essa revelação  dentro dessa pérola é exatamente a idéia de entrar dentro de um ovo e de onde não há retorno.

Todos os deuses de todos os tempos e todas as direções representam todas as consciências onipotentes de todos os lugares e de todos os universos, absorvidos pelo Senhor Celestial do Princípio Inicial - que é o próprio Absoluto.

O Vazio convocou o Zero do Vazio Absoluto e invocou a Onipotência de todos os tempos para dentro do Vazio.  O Vazio engoliu a Onipotência e tudo desapareceu dentro dEle e dentro dEle, o Mistério foi revelado.

Essa é a macrovisão que tentamos realizar em estado de microcosmo e tentar penetrar dentro do estado do Absoluto.

Essa entrada, na Alquimia, é chamada de Portal Negro.

Entrar no Portal Negro significa o que Lao Tse diz:

A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser   aberta


E aí, o grande fenômeno acontece e não se sabe quando começa nem quando termina.



Capítulo 27

A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número
A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser   aberta
O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado

Assim, o Homem Sagrado
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele   que é bom
Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado

A tudo isso denomina-se Maravilha e Essência 

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Foto: Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 27
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching