O Grande Caminho e o Pequeno Caminho
Wu Jyh Cherng
Este Capítulo fala da importância, da característica, de uma
conduta perfeita.
Uma pessoa que fala boas palavras, não será criticada. Uma pessoa que faça uma boa caminhada, não
deixa rastros.
“O
bom cálculo não utiliza medida nem número” - Existe um ditado que diz assim:
Não há cálculo do homem melhor do que o cálculo do céu.
Por mais que queiramos driblar o destino, por mais que tenhamos
recursos para alterar e enganar o destino, nunca seremos bem sucedidos.
Uma coisa muito desejada, pode ser perdida. Uma coisa muito bem fechada, não precisa de
ferrolho, não precisa de algo rígido.
Para ser fazer um nó perfeito, não se pode fazê-lo de corda porque
todos os nós feitos de corda podem ser desatados. Somente o nó que não é feito de corda, é que
não pode ser desatado.
Na prática espiritual, a “caminhada que não deixa rastros ou pegadas” refere-se à Grande Realização,
ao Grande Caminho.
Dentro do Taoísmo, existem o Grande Caminho e o Pequeno
Caminho. As puras realizações
espirituais são chamadas de Grande Caminho.
As práticas artísticas ou a sabedoria de viver algo da arte e algo da
vida, são chamadas de Pequeno Caminho.
O Tao, como Absoluto, não tem uma forma definida. Inúmeras vezes, dentro do Taoísmo, nos
utilizamos de simbolismos como a água, a nuvem, o vento para simbolizar a
característica não-formal, da não-forma do Tao.
A nuvem está se modificando todo o tempo. Nunca sabemos de onde surge nem onde
termina. A nuvem está sempre em
constante modificação.
O Grande Tao é também assim.
Ele não pode ser encontrado em uma maneira rígida. Ao mesmo tempo, está em toda parte, ao mesmo
tempo não é limitado por nada, pode ter uma forma ou ter outra forma, pode
modificar sua forma. E, justamente por
essa não-limitação de Sua forma de manifestação, assim se demonstra Sua
infinitude como Sua manifestação. Sua
natureza é o Absoluto.
Mestre Maa nos diz que os Pequenos Caminhos são aqueles onde
podemos encontrar um princípio, um durante e um fim. O Grande Caminho é aquele que não tem princípio,
que não se define o durante e que não tem fim.
Dentro desses Caminhos existem inúmeras práticas espirituais que
trazem efeitos, resultados, fenômenos bastante determinados.
Falemos dos efeitos energéticos:
Conhecemos dentro do Taoísmo a Circulação do Céu ou Pequenos
Círculos Celestes que são energias que sobem pela coluna vertebral através do
vaso governador, chegando até a cabeça e descendo pelo vaso de concepção, pela
frente, circulando assim por todo o corpo da pessoa, até a raiz da vida.
Através da prática mística da Alquimia, ainda dentro das
características do Pequeno Caminho - A Alquimia Inferior -, encontramos o
efeito da transmutação de uma maneira linear onde se encontra o início, o
durante e o fim. Nessas práticas, depois
de um longo tempo de meditação - de boa meditação -, surge uma energia
efervescente na região do baixo abdômen.
Essa energia tende a sair pelos órgãos genitais ou pelo reto. Esse escape de energia pode acontecer através
do próprio processo biológico-físico.
Muita energia centralizada no baixo abdômen começa por vibrar e
procurar uma saída. Nessa hora, o
praticante aprende a controlar-se para que a energia não escape. Em seguida, com as portas fechadas, a energia
normalmente sobe pelo meio até o coração e a garganta e depois, desce. Mas quando encontra um caminho bem mais
aberto, essa energia efervescente entra na região do sacro e vai para trás,
subindo dentro da coluna vertebral através da medula, até chegar ao cérebro. Desce então pela frente e volta para a região
do períneo. Esse é o movimento circular
de energia.
Esse movimento da energia chamado de Pequena Circulação do Céu ou
Pequeno Círculo Celeste acontece durante a meditação. É uma ação natural.
No Chi Kun, mentaliza-se essa energia dentro do corpo, chama-se
______ ____________, ou seja, canalização de energia. (Nota da Transcrição: não foi possível
entender estas palavras).
É um tipo abaixo da Alquimia e se chama Circulação do Veículo
Vazio. Só pode acontecer quando se tem
uma energia bastante grande para sair e ir abrindo o caminho naturalmente. Os canais de energia do corpo vão sendo
abertos e limpos, fazendo-se a conexão entre os centros inferiores com os
meridianos superiores.
Como conseqüência, acontecem inúmeros fenômenos como alteração da
consciência, abertura da visão, premonição, visualização, capacidade de
memória, aumento de poderes energéticos e curativos, auto-cura, etc.
Cada vez que os Círculos Celestes aparecem, aumentam nossa
capacidade humana de ser.
Essa maravilha de efeitos é ainda chamada pelos mestres taoístas de
Pequenos Caminhos.
Por que Pequenos Caminhos ainda?
Porque têm começo, se encontram o durante e o fim. Todos esses fenômenos terminam um dia (dando
lugar a outros fenômenos). Ainda são
fenômenos lineares.
Mestre Maa nos diz que na Alquimia Inferior se coloca a Consciência
unida ao Sopro em outros centros energéticos, o que provoca a Pequena
Circulação do Céu. Tudo com começo,
durante e fim.
Na Alquimia Superior, esse fenômeno não se chama Pequena Circulação
do Céu. Chama-se Roda de Moinho. É também uma circulação de energias. Apenas que são 36 mil canais de energia do
corpo que são despertados de uma só vez.
E a Consciência não consegue detectar de onde começa esse despertar de
energia e não sabe onde termina. O corpo
fica como tomado de milhares de ‘ventiladores’ e todos os 36 mil meridianos são
despertados de uma só vez. Parece que a
pessoa está dentro de uma enorme tempestade.
É preciso, então, deixar a Consciência quieta e deixar todo o corpo
vibrar com a energia. Esse não é um
processo linear.
Esse é Grande Caminho que Mestre Maa nos ensina. Com ele, o fenômeno aconteceu pela primeira
vez durante duas horas e meia. Ele
estava sentado, meditando e, de repente, apareceu um furacão que o tomou por
completo com suas milhares energias circulando por todos os canais do
corpo. Ele sentiu como se fosse uma
explosão de bomba atômica. Pareceu-lhe
ouvir seu Mestre lhe dizendo para ficar calmo e quieto, para não fazer nada e
não ter nenhum controle sobre o que estava acontecendo.
Quando a explosão acontece, a pessoa sai do estado de Fixação e
sente que não tem mais corpo. É preciso
manter a Consciência em Fixação, deixando a tempestade acontecer, sem se ligar
nela, sem nenhuma emoção, nada, apenas buscando manter a Fixação. Por fim, a tempestade acalma, passa.
Quando Mestre Maa abriu seus olhos, viu que estava sozinho. Mais tarde, procurou seu Mestre para lhe
agradecer a ajuda. Seu Mestre então lhe
disse para não mencionar mais sobre aquele fenômeno. Não falar sobre isso.
(Ele nos contou sobre isso em uma de suas aulas e nos contou para
nos alertar).
A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas. Não tem princípio nem
fim. Não se pode saber de nada.
O caminho normal deixa marcas pelo chão, sabe-se o que acontece, de
onde se veio e para onde se vai. Esse é
o Pequeno Caminho.
Lao Tse deixa, no entanto, bem claro que a boa caminhada, o Sublime
Caminho, não deixa rastros nem pegadas.
Simplesmente sabemos que existe e que acontece. E não pode ser descrito. Não dá para falar. Se alguém consegue descrever esse caminho é
porque passou por um fenômeno do Céu Posterior e assim, pode ser nomeado,
pode-se saber onde começou, seu durante e seu fim. É temporal e limitado e está dentro da
linguagem - já que pode ser descrito.
Como sabemos, o Tao, o Absoluto, está além da linguagem. O Céu Anterior não tem linguagem que possa
descrevê-lo.
Logo no Primeiro Capítulo do Tao Te Ching, Lao Tse diz:
O Caminho que pode ser
expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado
não é o Nome constante
Quaisquer fenômeno ou efeito místico que podem ser explicados fazem
parte do Céu Posterior.
Todo nosso trabalho é recuperar o estado do Céu Anterior, e quando
isso acontece, apenas sabemos e não podemos descrevê-lo.
O Taoísmo deixa bem claro que o fenômeno místico existe. E são inúmeros. Uns podem ser descritos e outros, não.
Os que podem ser descritos - de uma maneira abstrata ou concreta -
são chamados de fenômenos do Céu Posterior.
Aqueles que realmente estão no Caminho do Céu Anterior, não têm
forma, não têm linguagem - mas, ao mesmo tempo, existem e não podem ser
descritos.
Os fenômenos e efeitos do Céu Posterior são chamados de Pequenos
Caminhos.
O Grande Caminho é o Caminho do Céu Anterior.
Por isso, Lao Tse diz:
A boa caminhada não deixa
rastros ou pegadas
O efeito da Roda de moinho ainda é a primeira etapa da Alquimia
Superior.
Capítulo 27
A boa caminhada não deixa
rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa
imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza
medida nem número
A boa porta não necessita de
ferrolho para ser fechada
E não pode ser aberta
O bom nó não necessita de
corda para ser atado
E não pode ser desatado
Assim, o Homem Sagrado
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona
homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona
coisas
Isso se chama herdar a luz
O homem bom é mestre daquele
que não é bom
O homem que não é bom é o
recurso daquele que é bom
Quem não valoriza seu mestre e
quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece
enormemente desorientado
A
tudo isso denomina-se Maravilha e Essência
...............
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA
VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do
Capítulo 27
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula
Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 17 de
janeiro de 1995
Transcrição e Síntese de
Janine Milward
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Nesta mesma Editora,
encontra-se
a realização da publicação das
interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching