...o que realmente dura?
O Vazio do Absoluto.
Wu Jyh Cherng
De onde provêm essas coisas?
Do Céu e da Terra
Se nem o céu e a terra podem
produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?
Nesses versos, Lao Tse nos coloca na ‘real’. O homem sempre quer produzir grandes
fenômenos. Não existe fenômeno maior do
que uma grande tempestade.
A arte moderna trabalha - não sei o termo exato - com a expressão
dos fenômenos. Quando essas expressões
são fortes, expressivas, provocantes, o artista consegue um grande
prestígio. As criações são chocantes,
como se fossem uma tempestade.
Não há expressão mais forte do que uma tempestade. Uma tempestade nunca é igual à outra. A arte,
não. A arte - por mais expressiva que
seja - sempre traz a sua sombra. As
pessoas tentam criar algo que não se parece com nada. Antigamente, arte significa pincel e
tintas. Hoje são acrílicos, metais,
colagens, instalações... a arte não parece arte. Um joga cocô de cavalo na parede e o outro
faz um caldeirão de chocolate fervente.
Tudo isso parece ser uma expressão para cortar o cordão umbilical que,
na verdade, é incortável.
Não existe obra de arte mais intensa que a própria natureza. Não existe expressão tão expressiva quanto a
de uma tempestade. E quem produz a
tempestade? O céu e a terra.
Se o céu e a terra duram muito mais do que nós, vivem muito mais do
que nós, e suas expressões não duram uma manhã ou um dia, imagine o que o ser
humano poderia produzir da mesma maneira...
O que dura é aquilo que é constante, que é contínuo.
A chuva fininha dura bem mais tempo do que a rajada de chuva.
Por último, o que realmente dura?
O Vazio do Absoluto.
Até o universo, enquanto performance, é passageiro. Só que um passageiro constante. Mesmo assim, a expressão dessa constância -
como a fotografia - não dura. O próprio
universo é contínuo, infinito.
A única coisa que verdadeiramente dura para sempre é o Zero do
Absoluto e o Um do universo. Tudo depois
são simplesmente efeitos ou fenômenos produzidos pelo céu e pela terra ou pelo
próprio universo - que, por mais expressivo
que seja, não dura para sempre.
Dessa maneira, podemos compreender:
por que nos desgastar tanto?
Fenômenos sociais, familiares, financeiros, políticos - ou o que
for. Nada dura para sempre.
Basicamente, o Taoísmo trabalha com dois pontos:
- Essencialmente, se pudermos viver o
Absoluto, não estaremos presos a nenhum fenômeno e por conseguinte, teremos
todos os fenômenos dentro de nós acontecendo naturalmente. Temos o dia, a noite, a chuva, o fogo, a
água, o vento, a família, o trabalho, o dinheiro, a fama, o prestígio - tudo o
que for necessário, naturalmente.
Quem tem a consciência do Zero, tem a consciência que abraça todas
as consciências e abraça todas as pessoas.
Isso é uma vitória, uma felicidade.
E a felicidade, desse modo, é a felicidade de todas as pessoas. A nossa realização é a realização de todas as
pessoas.
- Se não conseguirmos
viver o Vazio, o Absoluto, de forma transparente, pelo menos devemos tentar
viver a vida de forma mais harmoniosa, mais equilibrada e para isso, devemos
tentar evitar as coisas em excesso, não levar as coisas aos extremos. Também é preciso não nos anular porque senão
estaríamos caindo na outra extremidade do excesso: excesso de Vazio, ausência
das coisas, excesso de possuir coisas.
Capítulo 23
Falar pouco é o natural
Um redemoinho não dura uma manhã
Uma rajada de chuva não dura um dia
De onde provêm essas coisas?
Do Céu e da Terra
Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?
Por isso,
Quem segue e realiza através do Caminho, adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Quem se iguala à perda, perde o Caminho
Convicção insuficiente leva à não-convicção
...............
Foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 23
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 de dezembro de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching