O que é Caminho?




O que é Caminho?

Wu Jyh Cherng


Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho


Eu não conheço seu nome” - nem poderia, porque o Tao não tem nome.

Chamo-o de Caminho” - essa é a diferença essencial entre o Taoísmo e as demais religiões.  Enquanto as religiões usam o termo “Deus”, nós usamos Caminho.

O que é Caminho?

Caminho é um curso que só existe ao caminharmos sobre ele.  Se não praticarmos o Caminho, o caminho não existe.

Para a pessoa que não vive em si a integração com o Absoluto, não existe Caminho, não existe o Tao.  Dentro da linguagem ocidental para aqueles que usam o termo “Deus”, essa pessoa pode ser chamada de ‘ateu’.

Para aquela pessoa que vive essa integração e essa busca interior, existe o Caminho.  O Caminho é aquele que se anda, é a própria busca.  Nessa busca se encontra o Absoluto.  Quando o homem aprende a viver o silêncio, está no Caminho.  O Caminho é o próprio silêncio.  O Silêncio é o próprio Absoluto.  O sagrado, o Absoluto, o Deus, está dentro do homem que está em seu Caminho.

Não existe o Caminho se todas essas coisas não acontecerem.

Lao Tse diz que “não conhece seu nome” mas precisa dizer alguma coisa para a pessoa que ainda não alcançou esse estado do Absoluto, então chama-O de Tao.  Tao significa Caminho.

Parece que Ele diz “não procure Deus, busque seu Caminho.  Realizando seu Caminho, Deus estará em você”, naturalmente.

E o Tao não se chama Deus porque se se chamar Deus haverá de ter um nome e o Tao não tem nome.

Dentro do Taoísmo existe um termo para “Deus” que é a palavra Shen e não é a palavra Tao que é claramente colocada como uma compreensão simbólica e externa de uma manifestação formal do Absoluto.

Por isso, hierarquicamente, o Absoluto não se chama Deus, se chama Tao, ou seja, o Caminho.

Shen é a parte expressiva do Absoluto.  É a parte visível do Absoluto, da Onipotência, do Todo manifestado e existente, ou seja, o Universo em si, o Uno em si.  A consciência desse Uno, desse Um, chama-se Shen que é o espírito de todas as coisas e é representado alegoricamente como entidade.

As divindades estão na categoria do Shen.  Qualquer um de nós, vivendo virtuosamente, poderá  tornar-se uma divindade, um Shen ou uma manifestação do Shen.

O Rei de Jade é a soma de todos os Shen.  Na linguagem simbólica e alegórica, uma pessoa que se torna uma divindade, que se torna um Shen - em linguagem ocidental, um “santo” -, passa a ser uma divindade de hierarquia inferior ao Rei de Jade.  É como se fosse um ‘deusinho’ fazendo parte do grande Deus.  Na consciência sagrada cabem todas as consciências sagradas e todas as consciências sagradas são manifestações da consciência sagrada.  Cada divindade é o Rei de Jade manifestado em forma de Santo Guerreiro, em forma de compaixão, em forma de misericórdia, em forma de justiça, em forma de demônio, tudo o que se possa imaginar.

Como todas as formas são mutáveis, todas as misericórdias podem se transformar em justiça e todas as justiças podem se transformar em  misericórdia.

Na magia superior isso significa a transfiguração da divindade.  A divindade é como um espelho, simplesmente reflete tudo.  As divindades são simbolicamente representadas pelo ouro metafísico.

O ouro pode ser derretido e ir se modificando na forma; mas em sua natureza, sempre será ouro.  O ouro pode estar debaixo da terra, pode ser uma jóia, pode ser um tesouro, pode ser unido a outro ouro mas sempre será ouro.

Como o ouro que permanece ouro sempre pode mudar de forma, o Shen - o espírito iluminado - é a consciência sagrada que pode tomar uma forma e outra forma e faz parte do grande ouro da grande consciência sagrada.  Ao mesmo tempo é individual e coletiva.  Como indivíduo, reflete o coletivo; como coletivo, traz dentro de si o indivíduo.

Portanto, cada divindade Shen pequena é um reflexo de um Shen puro que nós chamamos de Rei de Jade.  O Santo Guerreiro e as outras divindades fazem parte - como células - da composição do Rei de Jade.  O Rei de Jade tudo inclui.  Dessa maneira, outras divindades que não são o Santo Guerreiro - por serem reflexos do Rei de Jade - podem se transfigurar em forma de Santo Guerreiro ou em outras divindades.

Na magia, isso se chama ‘transfiguração das divindades’.  As divindades podem se transfigurar porque todas são múltiplas e unas ao mesmo tempo.  o múltiplo e o uno são as partes manifestadas e visíveis do Tao.

A parte invisível do Tao é a Mãe de todas as coisas.  É algo quieto, êrmo, entorpecido, independente e inalterável, anterior a todas as coisas.

Dessa maneira, percebemos um ponto essencial: o Tao, didaticamente, pode ser partido ao meio - o Céu Anterior e o Céu Posterior.

O Céu Anterior é a Mãe e o Céu Posterior é o Filho.  O Filho é o Uno que dentro de si faz nascer o múltiplo.

Teologicamente falando, o Taoísmo é matriarcal em primeiro lugar e patriarcal em segundo lugar; e múltiplo patriarcal em terceiro lugar.  Diferente das outras várias religiões que trabalham com o múltiplo patriarcal em primeiro lugar e não mencionam o matriarcal.

Chamamos o matriarcal de Tao e não de ‘deusa’.  Se fosse deusa seria o contrário de deus ou ao complementação feminina do deus masculino.  Não se usa ‘deusa’, se usa Tao.


Para descrevermos o Tao, O chamamos de Transparência.  No Taoísmo, o Absoluto está representado como a Tríplice Transparência.  A transparência é o vazio e o invisível.



CAPÍTULO 25

Há algo completamente entorpecido
Anterior à criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente e inalterável
Move-se em círculo e não se exaure
Pode-se considera-lo a Mãe sob o céu

Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Me esforçando por denominá-lo, chamo-o de Grande
“Grande” significa Ir
“Ir” significa Distante
“Distante” significa Retornar

O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei é grande
Dentro do universo há quatro grandes e o rei é um deles

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza



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Foto: Sítio das Estrelas, Janine


TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 25
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 03 de janeiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching