Abraçando a simplicidade e agindo com força de vontade




Abraçando a simplicidade
e agindo com força de vontade

Wu Jyh Cherng


Quem sabe contentar-se é rico

Contentar-se é não correr atrás das multiplicidades, das diversidades, da abundância de números, é saber não pela quantidade mas pela qualidade.  É viver a vida com uma compreensão profunda e não viver muitas vidas com uma compreensão superficial.

O que é o Mestre Iluminado, esclarecido?

É aquele que tem uma compreensão profunda sobre algo em sua vida.  pode ser um mestre em carpintaria que conhece o traço da madeira e o manuseio do instrumento.  Qualquer arte, seja da madeira, da pintura, do canto, o trabalho em qualquer ofício, qualquer arte é um caminho de vida. 

Por isso o Taoísmo usa o termo Tao, o Caminho.  É preciso que saibamos fazer um caminho que é a própria vida e por ser a própria vida, deve ser vivido profundamente e constantemente.  Essa profundidade e essa constância tornam nossa caminhada simples - e não múltipla - porém rica em qualidade.

Por isso, Ele diz:
Quem sabe contentar-se é rico

Contentar-se é saber ficar com aquilo que realmente se quer e não ansiosamente correr atrás de muitas coisas.

Saber se contentar é saber abraçar a Unidade, saber abraçar a simplicidade.  Quando abrimos a fronteira entre o consciente e o inconsciente, do racional e do intuitivo, quando nossa  consciência se torna única, temos Uma consciência e não cinqüenta consciências.  Uma consciência é imensamente maior do que cinqüenta consciências diversamente constituídas dentro de nós.


Agir fortemente é ter vontade

Essa frase é importantíssima para aqueles que estudam o Taoísmo.  O Taoísmo fala da naturalidade, da intuição, da receptividade.  A compreensão enganosa e parcial desses fatores pode tornar a pessoa sem responsabilidade, sem rédeas na vida.

A obsessão é uma vontade de querer alguma coisa incessantemente.  A grande transformação a que os mestres taoístas se referem é a de transmutar a obsessão em vontade, ou seja, transformar uma força obstinada em algo positivo.  Uma consciência obstinada, Yang, agindo perversamente, é obsessão.  Uma consciência obstinada, agindo de uma maneira sadia, é a força de vontade.

A força de vontade obstinada que existe dentro de nós não pode ser cortada, jogada fora porque é o nosso lado Yang.  Mas também temos o nosso lado Yin que é a nossa receptividade, nossa intuição, nossa contemplação.  A contemplação e a receptividade - quando mal-dirigidas - podem nos levar a um relaxamento preguiçoso, à uma prostração, a uma falta de vontade.

A receptividade deve ser algo tranqüilo, transparente e não pode ser um estado de prostração.

A força Yang é obstinada mas não pode ser uma obsessão e sim uma força de vontade.

Para realizarmos as coisas, devemos ter força de vontade.  Temos que trabalhar com o racional e com o intuitivo.  Por isso, Ele diz:  Agir fortemente é ter vontade

Quem tem força de vontade, terá ação forte.  Mestre Maa nos diz que a força de vontade é a constância, a caminhada incessante.  Seguindo-se o caminho de forma equilibrada e com constância, naturalmente estaremos usando a força de vontade.  Se não a usarmos, estaremos abrindo espaço para a obsessão.  Se não usarmos a força de vontade de uma maneira sadia, ela se tornará perversa.




Capítulo 33


Quem conhece os homens é inteligente
Quem conhece a si mesmo é iluminado
Vencer os homens é ter força
Quem vence a si mesmo é forte
Quem sabe contentar-se é rico
Agir fortemente é ter vontade
Quem não perde a sua residência, perdura
Quem morre mas não perece, se eterniza.

...............

Foto: Sítio das Estrelas, janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 33
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 07 de março de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching



O que é Consciência Una?




O que é Consciência  Una?

Wu Jyh Cherng



Quem conhece os homens é inteligente
Quem conhece a si mesmo é iluminado
Vencer os homens é ter força
Quem vence a si mesmo é forte


Em “conhecer os homens e conhecer a si mesmo / vencer os homens e vencer a si mesmo”, Lao Tse está falando de dois caminhos da vida:  a consciência que se exterioriza e a consciência que se interioriza.  A força que se exterioriza e a força que se interioriza.


O que é a Consciência?

Consciência é Espírito.

O que é a força?

Força é o Sopro.

São os dois princípios da Alquimia Taoísta: o Espírito e o Sopro.

Uma pessoa com muita energia no corpo, tem força.  Se a pessoa perde sua energia, fica sem força.

Quando a pessoa tem o espírito que se dirige para fora, tem uma consciência que se exterioriza.

Quando a pessoa traz o espírito para o interior, traz consciência para dentro.

O Espírito, ou seja, a Consciência tanto pode se interiorizar como se exteriorizar.

A força, ou seja, a Energia Vital tanto pode se interiorizar quanto se exteriorizar.

Evidentemente, no texto, Lao Tse está nos falando que a exteriorização da Consciência é uma inteligência expressiva - mas não é uma Iluminação.

E a exteriorização da energia certamente é uma expressão da força.  Mas ter força não significa necessariamente que se é forte.  Ser forte é ter a capacidade de domar a sua própria força, é ter a força sob controle.

No conceito de Lao Tse, a pessoa forte não é aquela que pode aplicar essa força exteriormente e sim ter o domínio de si próprio, em situações de ofensa, de agressão externa, etc.

A pessoa que é realmente forte em seu auto-conhecimento e em sua convicção pessoal, pode não reagir aos ataques externos em virtude de sua autoconfiança e segurança interior.

Quando duas pessoas se confrontam, aquela que é insegura parte primeiro para o ataque, achando que está ganhando vantagens na disputa ou confronto.

Por isso, Lao Tse diz:
Vencer os homens é ter força

Para derrotar o outro é preciso ter força, mas para dominar a si próprio é preciso ser um homem realmente forte.  Quem é forte, não precisa vencer o outro.  Portanto, terá a capacidade de vencer o outro e não precisa derrotá-lo para vencê-lo.

Conhecer os homens é inteligência.  A inteligência que se exterioriza é demonstrada em forma de clareza, de uma clara análise sobre as coisas externas e sobre as pessoas.

Existem pessoas inteligentes, com uma afiada capacidade de observação e de dedução.  Isso é uma expressão de inteligência.  Toda expressão de inteligência é uma exteriorização da consciência.  Não é uma coisa negativa; é uma capacidade, uma expressão de exteriorização.

O mundo é composto por duas forças que o I Ching chama de Yin e Yang, o recolhimento e a expansão.  A exteriorização é a expansão, o movimento Yang.  A interiorização é o movimento Yin, o recolhimento.

 Quem vence a si mesmo é forte

É muito comum quando não conseguimos criticar algo interiormente que façamos uma transferência dessa capacidade para criticar o externo.  Quando o ser humano não consegue enfrentar a si próprio - através de sua auto-observação e compreensão de sua fragilidade, de sua capacidade, favorável ou desfavorável -, essa observação inevitavelmente irá se exteriorizar.  Essa pessoa se torna então crítica em relação ao mundo externo ou em relação às outras pessoas.

Quando não conseguimos perceber os mínimos detalhes de nossa própria vida, certamente teremos uma capacidade aumentada para percebermos os detalhes que estão fora de nós.

Por outro lado, devido à sedução externa, nós nos voltamos para o que acontece fora de nós.  Nossa atenção se fasta de nosso mundo interior e é sugada, chamada para fora.

Na sociedade moderna, isso fica mais explícito e ativo.  Nas cidades, tudo o que acontece em torno de nós, chama nossa atenção.  E isso é a exteriorização da consciência, isso é ‘conhecer os homens’.  A palavra ‘homens’ pode designar tudo o que nos rodeia.  Quem conhece os seus e as coisas em trono, possui a exteriorização da consciência.  a capacidade e a freqüência de usar essa inteligência faz com que possamos domar essa consciência em relação às coisas que estão em  torno - isso é uma inteligência.

No entanto, a enorme freqüência dos estímulos externos acaba atrapalhando nossa consciência e não permite que nossa consciência se interiorize.


Em nossa meditação, estamos tão habituados a ter nossa consciência interiorizada que, muitas vezes, se não procurarmos um ambiente apropriado, não conseguimos, como iniciantes, começar a meditar.

Num estágio mais avançado, com toda a perturbação externa, nada nos demoverá de nosso estado de interiorização.  Isso é auto-domínio, auto-controle e está relacionado com o auto-conhecimento.  Quanto mais a pessoa consegue se interiorizar - trazendo a consciência para dentro e quando quiser, deixar ir a consciência para fora, com esse controle -, terá mais consciência de si própria, e ao mesmo tempo, terá a consciência das coisas que acontecem em torno. 

A consciência será então acessível tanto ao mundo Yin quanto ao mundo Yang.  Isso abre as fronteiras da inteligência - como conseqüência dessa pratica - acessando tanto ao mundo da razão quanto ao mundo da intuição.  Entrar e sair do racional e do intuitivo e vice-versa com absoluta autonomia.  Essa autonomia é a autonomia da Consciência.  A autonomia da Consciência é a autonomia do Espírito, a verdadeira identidade que está dentro de nós.

Quando uma pessoa cultiva por longo tempo o domínio e a autonomia do Espírito, pode viver o consciente e o inconsciente com absoluto trânsito, pode viver o racional e o intuitivo com absoluta liberdade.  Com o tempo, esse canal de trânsito vai se dilatando até atingir uma única Consciência onde não há separação nem diferenciação do racional e do intuitivo, do consciente e do inconsciente, apenas  A CONSCIÊNCIA.  Essa Consciência é a Consciência Una, não é uma consciência dual.

O que é Consciência  Una?

Consciência Una é a própria Consciência Universal.  É a Consciência que deve estar em toda a parte, em todos os lugares, em todos os seres.  Esse estado de consciência Una, em nível físico dentro de nosso cérebro, está situado no centro do cérebro entre os hemisférios direito e esquerdo.  Entre esses dois hemisférios, nesse centro, esse portão acontece.  É um ponto subjetivo, abstrato, metafísico.

Na prática da meditação, deve-se atingir o ponto intermediário entre pensar e não-pensar, observar e não-observar.  Esse estado é chamado de estado de embriagues, de entorpecimento.  Esse estado não é o do sonho mas já se saiu da realidade externa.

Como fazer isto? Trazendo o Sopro para dentro do Espírito.  Na linguagem da Alquimia Taoísta, o Espírito chama-se mercúrio.  Sabemos que o mercúrio é um metal que se dispersa.  A mente é como mercúrio, está sempre se dispersando.  A consciência, na linguagem simbólica, é chama de mercúrio.  O chumbo não dispersa e na Alquimia Taoísta é o Sopro, a Energia.  A Energia deve envolver a consciência.  O chumbo deve dominar o mercúrio.

Por isso, na meditação, se joga a consciência dentro do Sopro, o Espírito é colocado dentro do Sopro, a consciência que vai para dentro da Energia.  E é a Energia que traz essa sensação de entorpecimento, de embriagues.  Chega uma hora em que não se sente mais nem a Energia nem a consciência.  É uma Energia com consciência e é uma consciência Energética.

A meditação Taoísta trabalha com a fusão da concentração com a contemplação. 

A contemplação é passiva e a concentração é ativa. 

Se fixarmos nossa atenção em um só ponto, estamos fazendo uma meditação ativa, concentrando. 

Na contemplação, fica-se ligado em tudo e em nada, se trabalha com a fusão dos dois elementos, contemplando algo especificamente, sem ser uma contemplação ativa, sem apego, passivamente contemplando, sem esforço.  É uma concentração passiva ou uma contemplação ativa.  É uma fusão.  É a união do Sopro com o Espírito.



Capítulo 33


Quem conhece os homens é inteligente
Quem conhece a si mesmo é iluminado
Vencer os homens é ter força
Quem vence a si mesmo é forte
Quem sabe contentar-se é rico
Agir fortemente é ter vontade
Quem não perde a sua residência, perdura
Quem morre mas não perece, se eterniza.

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Foto: Sítio das Estrelas, janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 33
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 07 de março de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching


O Yang da consciência unido ao Yin do Sopro Vital



O Yang da consciência unido ao Yin do Sopro Vital

Wu Jyh Cherng


Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer

Eis aqui o conceito social do Taoísmo: é muito melhor ganhar a confiança e respeito das pessoas pela virtude e não pela força.


Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho,
O povo não pode interferir nisso, que por si é uniforme.

Quando a energia do céu e da terra se toca, quando a energia da terra sobre para o céu, quando a energia do céu desce para a terra - essa troca de energias, do Yin e do Yang no cosmos - , faz com que a terra fique repleta de vida: o orvalho representa a vida.  de madrugada, podemos ver as gotas de orvalho nas folhas porque cedo pela manhã a energia do sol desce e a energia da terra sobre para o céu e esse choque térmico na linguagem do Taoísmo, é a troca de energia do Yin e do  Yang, fazendo essa união surgir em gotas de orvalho... gotículas de água repletas da energia da Unidade.

O orvalho possui muita força vital em si.  É um fenômeno natural, espontâneo e a ordem humana não pode interferir e sim, integrar-se.

Na prática espiritual também isso acontece.  Quando nosso céu e nossa terra se unem dentro de nós, quando nossa consciência se une com o nosso sopro, as gotas de orvalho surgem dentro de nós.  E seu surgimento nos traz uma energia vital tão grande, tão rejuvenescedora, tão viva, que não pode ser interferida pela ordem racional ou mental.

Por isso, na nossa prática de meditação, devemos ficar passíveis, totalmente quietos, para não interferirmos em nada, para que nossa Consciência se una ao Sopro e dessa união se apresente uma matéria-prima como se fosse uma gota de orvalho repleta de energia vital.  Uma seiva da terra que surge dentro de nós em nossa prática espiritual.  E surge quando nossa Consciência está fundida ao nosso Sopro Vital.

O Yang da consciência unido ao Yin do Sopro Vital.


(Aqui terminou a Aula deixando, portanto, os dois últimos versos do Capítulo 32 sem interpretação - nota da transcritora, Janine).


O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá

A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e dos vales
Com os rios e mares




Capítulo 32


O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e embora pequeno
O mundo não tem coragem de dominá-lo

Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer

Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho,
O povo não pode interferir nisso, que por si é uniforme.

O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá

A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e dos vales
Com os rios e mares


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Foto: Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 32
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching


O que é o Caminho espiritual? O que é o Tao? Como viver o Tao?



O que é o Caminho espiritual? O que é o Tao? Como viver o Tao?

Wu Jyh Cherng


O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e embora pequeno
O mundo não tem coragem de dominá-lo


É genuíno e embora pequeno

‘Pequeno’ significa essência.  O átomo é pequeno e cabe em tudo, em tudo existe o átomo.  O Tao é a essência de todas as coisas, é algo que, apesar de invisível, está por detrás de todas as coisas e está em toda a parte.  Por isso é pequeno, é genuíno, é algo puro.  Existe Tao num cachorro, numa pessoa, numa montanha, no rio.  Podem o cachorro e a pessoa ser diferentes, mas o Tao que neles  existe, é o mesmo.

Lao Tse quer nos dizer que a essência, a existência, é única embora as coisas sejam diversas e diferentes em diferentes épocas e lugares.

O mundo não tem coragem de dominá-lo

O mundo não tem força para dominar, para inibir ou para não permitir que essa essência, essa síntese, se manifestar.  Ou seja, é impossível fazermos com que o Tao seja limitado de uma maneira ou de outra.  O Tao está em toda parte.


A prática espiritual do Taoísmo enfatiza que precisamos encontrar essa essência.  Precisamos encontrar essa síntese, essa essência que está por detrás de todas as coisas, de todos os seres.  Sabendo encontrá-la, encontraremos uma consciência que é comum a todos e encontraremos também a energia que é comum a todos.  Essa consciência e essa energia - no estado de essência - não são separadas, ou seja, na essência, a vida e a consciência são a mesma coisa.

Esse algo que Ele chama de ‘genuíno’ e ‘pequeno’ é uma consciência pura e uma vida pura que existem, que é o próprio Tao, eterno, sem nome, que está em toda a parte e que apenas podemos senti-lo, percebe-lo e vivenciá-lo - uma vez vivamos o Tao.

Como viver o Tao?

Praticando.  Praticando na vida cotidiana, através da meditação, em cada gesto, procurando sensivelmente perceber, sentir a presença do Tao nas pessoas, nos seres, nas coisas, em tudo o que se possa e não possa imaginar.  Em tudo se encontra o Tao.

Dessa maneira, podemos viver no mundo diante das adversidades e das diferentes pessoas e concepções, a tudo encarando com o mesmo espírito e o mesmo sentimento.  Porque nossa relação com o mundo como um todo se dará pela essência e não pela periferia ou pela superficialidade.

Normalmente, tendemos a julgar o certo e o errado pela forma e imagem que a situação é mostrada e não pela essência, ou seja, a intenção ou o sentimento contidos na situação.

Se encararmos tudo o que existe no universo pela sua essência, chegaremos à conclusão de que tudo é igual.  Não existiriam então da discriminação e o preconceito e existiria sim uma aceitação e um respeito em relação a tudo e a todos, através das diversas formas de expressão existentes no mundo.

Essa é a concepção essencial do Taoísmo.  E como se posiciona o Taoísmo - enquanto ensinamento místico ou como religião - diante das outras religiões e dos outros pensamentos?

De forma igual.  O Taoísmo vê todas as religiões e doutrinas místicas como infinitas e variáveis expressões naturais existentes.  E vê que, por detrás de todas elas existe uma essência comum a todas.  E entende que não é porque a essência é comum que todas suas expressões sejam iguais.  A expressão não é igual.  A essência é que é igual.  O Taoísmo confraterniza pela essência mas não precisa necessariamente misturar as linguagens.  O Taoísmo é uma tradição que enfatiza que cada pessoa deve encontrar - entre as inúmeras linguagens - aquela linguagem que mais lhe convém para sua realização e através da linguagem escolhida, alcançar sua essência.  E ao mesmo tempo reconhecer, em última análise, que a essência de todas as religiões e doutrinas místicas, é a mesma.  No entanto, reconhecer que o caminho para se alcançar essa essência, não é o mesmo - porque a expressão é diferente.

O Taoísmo respeita, portanto, todas as expressões porque todas elas são um caminho para se chegar à essência.  Interiorizando-se sob uma forma ou outra forma, chega-se à essência.  A essência é igual.  Como se fosse uma grande pirâmide de quatro faces e inúmeros caminhos e escadarias para se atingir a cúspide.

Entretanto, o Taoísmo não é a favor do sincretismo das tradições, das linguagens.  Porque cada linguagem é um caminho e cada caminho desencadeia mecanismos que nos leva a caminhar.  Como numa corrente, anda-se elo após elo.

O Taoísmo considera, então, que cada tradição se expressa com sua própria característica e que o aprendiz precisa intuitivamente e racionalmente buscar sentir e encontrar o seu caminho e escolher um só caminho para poder atingir assim, a profundidade das coisas.  É na profundidade que se encontra a essência.  E, uma vez se encontrando a essência, alcança-se o estado Universal.  Nesse estado, podemos até compreender as expressões das outras  tradições.  Antes desse estado, apenas se consegue fazer a mistura das expressões.

Cada expressão tem o seu próprio encadeamento.  Nós não precisamos ter todos os caminhos dentro de nós.  Precisamos apenas de um caminho no qual nos definimos.

Como podemos perceber se estamos no caminho certo?

Através da nossa real transformação.

O que se transforma em nós?

Nossa energia, nossa emoção, nossa mente.  Numa realização espiritual real, no final de nossa vida, sentimos que essas transformações aconteceram.  No entanto, se as pessoas saem e entram em várias tradições, as transformações não acontecem, ou acontecem no sentido de trazer às pessoas a fragmentação e a frustração do não-desenvolvimento.  Apegos, medos emoções incontroláveis não devem mais existir no final da vida por causa da real transformação.

Ao morrermos e transmigrarmos para outra vida, os conhecimentos intelectuais religiosos não ajudarão em nada.  O que realmente nos ajuda - mesmo que não atinjamos a iluminação - é a real transformação, é aquilo que muda em nós, ou seja, a aproximação da nossa consciência à essência: quanto mais próximos estivermos na consciência essencial, menos loucuras teremos e mais genuínos, mais transparentes seremos interiormente.

O curso natural de uma vida é geralmente o inverso.  A criança nasce com pureza e genuinidade.  Quanto mais vive, mais os complexos e neuroses vêm à tona.  A vida vai ficando mais pesada e mais periférica.

E o que é o Caminho espiritual? O que é o Tao?

É tentar resgatar e retornar a esse princípio, retornar à essa essência.  Para isso, ao iniciarmos a busca, precisamos ver qual é o caminho que melhor se adapta a nós para irmos mais e mais profundamente.

O Taoísmo é um dos caminhos que existem.  O caminho do Taoísmo não se diz ser o melhor dos caminhos.  O melhor caminho é aquele que cada pessoa escolhe.  O melhor caminho para a pessoa que se sente Taoísta é o Taoísmo.

Como cada caminho é um veículo para transmutar nossa mente, nossa emoção, nosso corpo... nossa energia, para nos transmutar essencialmente, devemos usar o  veículo com seus recursos e potencialidades para a transmutação e não apenas para adquirir conhecimentos sobre esse veículo, ou seja, sobre um caminho.

Desde que nascemos estamos envolvidos por uma grande ilusão que faz com que vivamos no estado da ignorância e do sofrimento.  Estamos limitados pela vida, pelo envelhecimento, pela doença e pela morte.  Dessa maneira, não temos tempo a perder, temos urgência em nos realizar.

Lü Tzu disse que mesmo começando cedo, já está tarde.  Começar o que?  Começar a nos trabalhar, tentar nos transformar.  E como somos muito limitados em forma, linguagem, tipo de personalidade, precisamos encontrar um veículo ideal para nos adaptar a ele e o utilizarmos para a nossa transformação.  No final da caminhada, não precisaremos mais do veículo porque nos tornaremos o próprio veículo.

No cristianismo, Jesus Cristo se realizou a tal ponto que se tornou Ele mesmo um caminho para os outros.  E ele seguiu o seu próprio caminho.

Quem chega à plenitude da realização, pode se tornar um caminho para os outros.

O Taoísmo não pretende ser a única verdade.  Mestre Maa fala sobre a imparcialidade do Taoísmo, quando diz:

Para o Tao, quando o homem deseja a vida, encontra a vida
Quando o homem deseja a morte, encontra a morte.


Nosso caminho é nossa responsabilidade.  Disso surge a concepção do Karma no Taoísmo:  o que vivemos hoje, formulará o nosso amanhã.  Nós somos os responsáveis pelo nosso caminho.

A interferência que existe nesse caminho vem através da forma de ensinamentos: ensinamentos visíveis e ensinamentos invisíveis, transmitidos pelos mestres e pelas divindades, uma espécie de força que nos perpassa de uma maneira inconsciente: a palavra, o silêncio, a expressão do céu e da terra, a água da montanha, a natureza, o sentimento humano.  Aprende-se através dos próprios erros e através dos erros dos outros.


Capítulo 32


O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e embora pequeno
O mundo não tem coragem de dominá-lo

Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer

Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho,
O povo não pode interferir nisso, que por si é uniforme.

O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá

A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e dos vales
Com os rios e mares


...............

Foto: Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 32
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching


O Tao, o Absoluto, além de ser um Caminho a ser seguido é também o próprio Caminho que fazemos, que percorremos.






O Tao, o Absoluto, além de ser um Caminho a ser seguido
 é também o próprio Caminho que fazemos, que percorremos. 

Wu Jyh Cherng



Este Capítulo, apesar de pequeno, é bastante complexo.



O Caminho é eterno e não tem nome

O Tao, o Absoluto, além de ser um Caminho a ser seguido é também o próprio Caminho que fazemos, que percorremos.  Essa busca não tem forma nem limitação; pode acontecer em qualquer lugar, em qualquer época, sob qualquer forma... porque o Tao é o Absoluto e o Absoluto é eterno, atemporal.

Em ‘O Caminho é eterno e não tem nome’ existem duas palavras-chave: Caminho e eterno.

A palavra ‘Caminho’ nos lembra três coisas:

-          O caminho é uma via para alcançarmos um objetivo
-          O Caminho é uma via por onde vivemos e caminhamos
-          O Caminho é aquele que estamos caminhando ou aquele que só existe se estivermos nele caminhando.

A partir daí, teceremos esse Caminho, essa Realização - que só existe quando fazemos o caminho.  E o  Caminho é eterno.  Por ser eterno, faz com que a própria realização seja eterna e a própria vida que existe nesse caminho, seja eterna.  A caminhada é eterna, está além do espaço e da limitação do tempo.

O Caminho é aquele que realizamos e existe porque caminhamos.  Podemos, entretanto, caminhar para qualquer direção, por qualquer meio, em qualquer lugar.  Assim, o Caminho está em toda a parte.  Isso nos faz entender que o Tao é o Absoluto e o Absoluto está em todos os lugares e em todos os tempos, podendo ser de qualquer forma e não se limitando a nenhuma forma.  E não tem nome, não pode ser limitado por uma ou outra linguagem.

Por isso, Lao Tse diz:  O Tao é eterno e não tem nome.




Capítulo 32



O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e embora pequeno
O mundo não tem coragem de dominá-lo

Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer

Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho,
O povo não pode interferir nisso, que por si é uniforme.

O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá

A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e dos vales
Com os rios e mares


...............

Foto: Sítio das Estrelas, Janine



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 32
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching