Primeiros Passos na Meditação





Primeiros Passos na Meditação


Wu Jyh Cherng


Entrando no silêncio, como fazemos, sempre colocamos nossa consciência na respiração.  Primeiramente, na respiração física, colocando a mente em estado absolutamente passivo.  É como se estivéssemos no quarto dos fundos da casa.  Do quarto à sala e depois à rua tumultuada.  O quarto está tranqüilo e a rua está agitada.  No ambiente mais próximo a nós tudo está quieto; no ambiente mais distante, há tumulto.

Na meditação, quando entramos no silencio, de olhos fechados, colocamos a consciência no fundo de nós mesmos, como se estivéssemos no quarto dos fundos.  E, de repente, percebemos que na parte mais exterior de nós mesmos, somos nós que estamos pensando, são os nossos pensamentos que estão passando, são os nossos diálogos interiores que permanecem - e, no entanto, não temos nada a ver com esses diálogos, com nossa mente falante, com nosso pensamento ativo.  Como identidade real, estamos no fundo - até a identidade está quieta.

Esse é o primeiro passo para tentarmos meditar no silêncio.

E essa tarefa não é muito fácil porque estamos profundamente viciados no tumulto, nos pensamentos, nas atividades mentais.

Não devemos - na prática da meditação - reprimir ou inibir os pensamentos.  Nunca devemos ‘brigar’ com os pensamentos.  Apenas deixamos os pensamentos do lado de fora.  Se eles não quiserem ficar do lado de fora, então, nós é que viremos para o lado de dentro.  Ficando quietinhos e silenciosos.

Dentro desse quarto que está no interior de nós mesmos, começamos a perceber que existe um fluxo de energia.  Esse fluxo de energia pode ser o ar que  estamos respirando.  Pode ser a energia vital que circula em nosso corpo através dos canais, do corpo energético.  Também esse fluxo de energia pode ser as palavras, o mantra, o som, que estamos pronunciando.

Em seguida, essa verdadeira identidade nossa vem gradualmente se aproximando de nós e coloca a tenção por sobre essa referencia de energia - o mantra, a respiração - que está sendo usada na meditação.  Toma consciência, contempla, mas não controla e não julga nada.  Vem se aproximando, aproximando, aproximando até que entra dentro de nós.

O Espírito entra dentro do Sopro.  O Sopro é o ar que estamos respirando.

A partir desse momento, nós entramos em um estado de União.  Normalmente, quando entramos nesse estado, o mantra, a respiração, se tornam mecânicos até que desaparecem...

Entramos então num estado que é chamado de Fixação.  Apenas nos sentiremos sem corpo físico, sem pensamentos, sem intenção, sem nada.  Passamos a ser uma consciência em estado extremamente quieto, dentro de uma energia... vazia.

É como se estivéssemos boiando dentro de uma piscina de águas mornas... Não existem mais corpo, nem tempo, nem espaço e nenhuma referência em torno de nós.




Capítulo 2

Quando os seres sob o céu reconhecem o belo como belo
Então isso já se tornou um mal
E reconhecendo o bem como bem
Então, já não seria um bem

A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o fácil completam-se um ao outro
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e o  baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se um ao outro

Portanto,
O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o ensinamento através da não-palavra

Os dez mil seres fazem-se mas não para se realizar
Iniciam a  realização mas não a possuem
Concluem a obra sem se apegar
E, justamente por realizar sem apego
Não passam.




 foto: Sítio das Estrelas, Janine


Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em maio de 1994,  sobre o Capítulo 2 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward
O Título deste texto
Primeiros Passos na Meditação
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.
A foto é de Janine e retrata o Ashram do Sítio das Estrelas.



A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

 Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching