A Fixação





A Fixação


Wu Jyh Cherng



No desenrolar da prática da meditação, você atinge o estado de se imaginar entrando numa piscina, seu corpo totalmente unido à água.  Nessa hora, você terá a consciência coletiva, a consciência universal e não a consciência do ego.   Esse estado é um estado de profunda paz que é tecnicamente chamado de Fixação.  É como se pregasse um prego, pronto, não mexe mais.  Fixou.  Sua consciência está fixada. 

Normalmente, o homem ocidental tem medo dessa Fixação.  Medo de perder o eu.  Mas, se eu não existo, como poderia eu ter medo?  Eu não existo!  Esse é o momento do universo, da consciência universal, da sensação da piscina - piscina sem corpo -, de paz profunda: o estado da Fixação.


PERGUNTA:  Se uma pessoa atinge esse estado, como é possível que ela continue em contacto com o mundo, como sair para trabalhar, fazer suas coisas?  Não teria, então, que se retirar do mundo?

RESPOSTA de Cherng:

Não.  Existem duas etapas.  A primeira delas é relacionada ao ego.  O homem ocidental tem medo de entrar nesse estado de Fixação.  Não precisa ter medo.  Mesmo porque é muito difícil chegar lá...  E, se chegar, não permanece por muito tempo.  Nosso ego é muito forte.  Trabalha-se, medita-se anos a fio e de repente, alguns segundos de Fixação e pronto!  Caiu-se fora imediatamente, novamente.  Se uma pessoa consegue realizar quinze minutos de Fixação, na realidade conseguiu apenas três ou quatro minutos de Fixação de boa qualidade.  Os gurus entram em Fixação por sete ou oito horas e saem.  Não se consegue manter a Fixação por um tempo interminável porque nosso eu é muito forte.

Quem chega a esse ponto tem que se retirar do mundo?  Não, pelo contrário.  Cada minuto de meditação de efeito vai gerar um efeito secundário e uma conseqüência durante o resto do dia.  O sabor dos minutos ou segundos do estado de Fixação deixa um aroma, um sabor, para o resto do dia.  A paz, a tranqüilidade, o espírito universal adquiridos vão nos acompanhar numa escala menos profunda, nos trazendo um dia mais pacífico, mais harmonioso, mais tranqüilo.  Diariamente, repetindo essa prática, tomamos um cálice de néctar da Vida e da Consciência.


Se uma pessoa repudia o mundano e se torna um eremita, seja porque não consegue mais se relacionar com as pessoas ou seja porque é considerado um mestre espiritual de tal porte - como acontece nos conceitos -, essa espiritualidade, do ponto de vista do Taoísmo, é questionável.  Essa pessoa estaria entrando - de uma polaridade mundana para uma polaridade sagrada.  Se o sagrado é oposto ao mundano, então esse sagrado é como se fosse o Yin oposto ao Yang e o Yang oposto ao Yin: essa pessoa ainda vive num mundo dual, ainda não encontrou a verdadeira união e o verdadeiro equilíbrio dentro de si.  Uma pessoa perfeitamente iluminada pode viver o mundo sem problemas. 

Os taoístas dizem que um grande mestre espiritual é capaz de viver a vida sem ser prisioneiro dela, é capaz de libertar-se da vida sem se afastar dela.  Portanto, ele ainda domina a vida.  um dia, ele deixa o corpo físico e continua sendo iluminado, numa dimensão mais sutil... mas isso é adquirido pela vida.

  

Capítulo 5


O Céu e a Terra não são bondosos
Tratam os dez mil seres como cães de palha
O Homem Sagrado não tem piedade
Trata os homens como cães de palha.

O espaço entre o Céu e a Terra se assemelha a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação.

O excesso de conhecimento conduz ao esgotamento
E não é melhor do que manter-se no meio.

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 Foto: Sítio das Estrelas, Janine

Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 21 de junho de 1994,  sobre o Capítulo 5 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
A Fixação
 foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.



A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

 Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching