A Meditação Taoísta




A Meditação Taoísta


A Alquimia Superior e seus Cinco Esquecimentos:
Corpo, Sopro, Espírito, Vazio, Verdade


Wu Jyh Cherng


Na prática da Meditação Taoísta, basicamente existem cinco etapas importantíssimas, cinco esquecimentos que são conceitos da Alquimia Superior.  A Alquimia Taoísta possui três níveis: Superior, Mediano e Inferior.  Esses cinco esquecimentos trazidos pela Alquimia Superior nos foram revelados pelo nosso Mestre Maa e são ensinamentos importantíssimos e preciosos.  Eles são: CORPO, SOPRO, ESPÍRITO, VAZIO, VERDADE. 

Corpo é corpo; Sopro é energia; Espírito é consciência.  Vazio e Verdade são mais difíceis de entender.  Normalmente, a consciência da pessoa está condicionada no corpo, ou seja, as pessoas são limitadas por seus níveis sensoriais e formais.  Do sentido e da forma não conseguimos emitir uma só frase sem que ela contenha uma idéia, uma forma.  Não conseguimos comer alguma coisa sem que lhe adivinhemos o sabor.  Isso é o sentido, o sensorial.  Portanto, tudo o que vivemos está condicionado no nível do sensorial e da forma. 

Na prática da Alquimia Superior - prática de meditação -, o primeiro passo é esquecer o corpo.  Não é brigar com ele, anulá-lo, e sim, esquecê-lo.  É preciso esquecer o corpo para se poder atuar no Sopro.

Na prática da meditação, o primeiro estágio - que se leva anos para ser alcançado - é o de inicialmente se colocar o corpo imóvel, depois se relaxa da cabeça aos pés, de cima para baixo.  A partir daí, é preciso esquecer o corpo não se colocando a atenção e a consciência no corpo e sim na respiração, no Sopro.  Quando não se sente mais o corpo físico ou se realmente o corpo físico foi esquecido, nesse momento a consciência vai estar atuando no nível do Sopro.  A consciência, então, torna-se outra, mais diluída, menos compacta, menos rígida.  A consciência torna-se uma consciência energética.

Basicamente, é isso o que tentamos fazer em nossa meditação.

Após bastante tempo dessa prática, bastou se sentar que não mais se sente o corpo, entra-se num estado como se estivesse boiando dentro de uma piscina sem corpo físico.  Entramos dentro de uma imensa energia, nós somos a própria energia, lenta, gostosa.  Apenas que isso não é a realização.  Isso é apenas o resultado do primeiro esquecimento: não existe mais corpo, nós somos o Sopro.

No segundo estágio, é preciso esquecer o Sopro.  Havia uma consciência integrada ao corpo físico sendo portanto limitada  pelo corpo físico.  Esquecendo o corpo físico, ingressa-se num nível mais sutil, mais energético de ser: a consciência do Sopro.  Também nesse momento se é limitado por esse nível de energia, pelo universo da energia.

O universo, a dimensão física, já não mais nos limita; no entanto, a dimensão energética, sim.  a consciência está aprisionada pela energia.  Entra-se então, no segundo estágio da Alquimia: esquecer a energia do mesmo modo que se esqueceu o corpo físico.  É preciso se sentar e meditar, esquecendo-se o corpo e também a energia.  Nesse momento, a consciência é uma pura consciência, somos apenas um espírito que não tem qualquer energia para aprisioná-lo.  Chegando nesse estágio, nós somos pura luz.

Sentamo-nos em meditação e imediatamente ingressamos numa imensa piscina, sem corpo.  Em seguida, a piscina desaparece e somos apenas uma imensa luz, a própria luz que está em toda a parte.  Somos pura luz.  Sentimos essa luz.  Somos muito irradiantes.  Então, se atingiu o terceiro passo.

Estamos iluminados, sim, mas não estamos no último passo da Alquimia.  É preciso que esqueçamos o Espírito.  Isso é muito mais difícil.  Esquecemo-nos como Espírito e ainda esquecemo-nos como Espírito de Luz, puro, sem forma, sem cor: somos uma imensa luz como a luz do sol.  Também isso deve ser esquecido.

Senta-se em meditação e, em alguns minutos, não se sente mais o corpo e em outros segundos, não se sente mais energia e mais alguns segundos, nos tornamos uma imensa luz e também essa luz desaparece e sentimos um imenso Vazio.

Nesse momento, todas as luzes, todas as energias, todos os corpos, o universo inteiro está dentro de nós porém o universo inteiro não é você nem sou eu.  Somos exatamente aquele Vazio que abraça todas as coisas.  Talvez não consigamos sentir isso, apenas uma anulação da luz, do Espírito e o ingresso numa espécie de Vazio que abraça todas as coisas.  Talvez não consigamos sentir isso, apenas uma anulação da luz, do Espírito e o ingresso uma espécie de Vazio, uma profunda quietude.   Um Vazio Absoluto.

Chegou-se finalmente ao Absoluto?

Não.

Aí se encontra o quarto passo que se abre para o quinto estágio que é dificílimo: quebrar o Vazio.  Já quebramos o corpo físico, já rompemos a barreira da energia, também rompemos a barreira da consciência e finalmente, atingimos o Vazio.  Agora temos que romper a barreira do Vazio.

Romper a barreira do Vazio, quebrar o Vazio, significa quebrar aquilo que não se tem, que não existe; romper com algo que não se possui.  Este estágio do Vazio significa, na verdade, quebrar o que não se tem.  Nós tínhamos a nós mesmos e isso foi quebrado.  Tínhamos nosso corpo, a energia, o espírito e tudo foi quebrado e não existe mais corpo, mais energia, mais espírito.  Somos o Vazio e temos que quebrar o Vazio.

A partir do momento em que se quebra o Vazio, retornamos a ser a Verdade.  Nessa hora, estamos em toda a parte e estamos em lugar nenhum.  Nessa hora, chegamos a ser o Tao.



Esses são os Cinco Passos da Alquimia Superior.  São cinco estágios estruturados por quatro esquecimentos.  Isso não é feito de um dia para outro.  Se conseguirmos passar do Corpo para o Sopro - que é o primeira estágio -, já é maravilhoso.  Se conseguirmos chegar ao nível do Espírito, provavelmente seremos aquelas pessoas irradiando luz, muita luz, com muitos discípulos.  A partir do momento em que entramos no Vazio, nos tornamos aquele mestre que desaparece do mundo.  A partir do momento em que ingressamos na Verdade, estamos presentes em toda a parte.  Estaremos em cada partícula do universo.



Quebrar o Vazio é algo que se aprende somente quando se alcança este estágio da meditação.  Não se pode quebrar o Vazio com algo que não seja o Vazio.  Também não se pode quebrar o Vazio com o próprio Vazio.  Nessa hora, aparece a grande questão.

Não se queria a forma, mas se acaba caindo nela.  Do Espírito para o Vazio, já é o estágio do inimaginável.  Nos três primeiros estágios, ainda se consegue ter uma relativa linguagem.  Quanto mais voltado para o Corpo, mais linguagem.  Do Vazio em diante não existe mais linguagem.  Até o Espírito, pode-se medir qualquer medida retrocedendo-a até alcançar o Um.  No momento que se chega ao Um, tornamo-nos a própria luz infinita, uma consciência feito uma luz, atinge-se o Uno.  Nessa hora, somos onipotentes.  Com a onipotência  e ainda encarnados, provavelmente nos tornamos um grande mestre.  Seríamos o próprio Sagrado, o Uno, em pessoa.

Daí em diante, para entrarmos no quarto e no quinto passos, teríamos que sair de qualquer medida.  Os instrumentos de medição, nesses casos, não funcionariam mais.  Pode-se medir até o Um, em processo de retrocesso, mas do Um para trás, não dá mais para se medir.  Não se pode usar o finito para medir o infinito.  Não se pode usar a existência para medir a não-existência.  A partir daí, não se ensina mais através das palavras.  Muitas vezes, a pessoa atinge o Um e fica aguardando durante muito tempo o momento próprio para conhecer alguém que vá lhe dar essa Passagem.  Porém, esse ensino, esse conhecimento, não é mais repassado através das palavras ou através doe ensinamentos palpáveis, como anteriormente foi feito.

Essa passagem do Um para o Zero e do Zero para a quebra do Zero...............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................   



Nota da Transcritora:

Sincronicamente, aqui terminou a fita de gravação desta aula. 
Foi uma aula bastante longa, acontecendo em sua primeira parte, o Canto do Incenso seguido de entoação do Mantra e de Meditação.  Foram gravadas, em suas totalidades, duas fitas de 60 minutos. 
Infelizmente, a segunda fita interrompeu-se no momento em que se falava da impossibilidade do uso da linguagem...


Capítulo 7


O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.

Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança.
Além do corpo, o Corpo permanece.
Através do não-corpo, conclui o Corpo.


Foto: Sítio das Estrelas, Janine


Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 19 de julho de 1994,  sobre o Capítulo 7 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
A Meditação Taoísta  - A Alquimia Superior
 foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

 Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching