O espaço entre o Céu e a Terra se assemelha a um fole
Wu Jyh Cherng
O espaço entre o Céu e a Terra
se assemelha a um fole
Fole é o Vazio.
É um vazio que não distorce
O vazio não pode ser distorcido.
Qualquer coisa que seja concreta por ser distorcida, mas não o vazio.
Seu movimento é a contínua
criação
Como diz o I Ching, o Céu é Yang e a Terra é Yin, o Céu está em
cima e a Terra está embaixo: entre o Yin e o Yang há um espaço. Um espaço onde o Céu desce atravessando a
Terra e a Terra sobe atravessando o Céu: a energia do Céu e da Terra se
entrecruza e novamente a energia do Céu volta para cima e a da Terra volta para
baixo.
Esse eterno trânsito de energia de subida e energia de descida faz
exatamente parecer como um fole. O fole
tem dois lados, um lado Terra e outro lado, Céu. Eles se movimentam entre si e esse movimento
atinge uma situação de energia entre as duas polaridades. Essa situação de energia entre as duas
polaridades jamais poderá ser distorcida por causa do Sopro do Vazio. Esse sopro do vazio é que traz a contínua
criação e a contínua renovação das vidas entre o Céu e a Terra.
Todas as energias vitais que recebemos vêm do espaço em que vivemos
entre o Céu e a Terra. Essa energia é
capaz de nos transformar, nos regenerar, nos renovar. Por ser uma energia do vazio, ela jamais se
esgota, jamais acaba. Por isso, na
prática espiritual do Taoísmo, para nos renovar, nos rejuvenescer e nos
regenerar, precisamos abrir o canal e receber essa energia do vazio que existe
entre o Céu e a Terra. Essa energia está
sempre em constante movimento e é dessa maneira, que nós a extraímos e a
trazemos para dentro de nós.
Para podermos trazer essa energia vital para dentro de nós, é
preciso que nos tornemos vazios como o próprio fole. Não se pode ser um alvo compacto e fechado,
assim nada poderá entrar. É preciso haver
um vazio. Do mesmo modo, precisamos nos
esvaziar interiormente para podermos receber essa energia.
Como esvaziar-nos
interiormente? Através da redução do
pensamento, da redução da emoção, da redução da tensão física. Quando o corpo está relaxado, a emoção
abrandada, o pensamento zerado, nesta hora, naturalmente, entrará uma energia
dentro do nosso corpo, dentro do nosso ser que faz com que nossa consciência
fique mais forte, todos os nossos sentimentos fiquem mais profundos, nosso
corpo fique mais energizado.
O excesso de emoção torna-se sentimento profundo. Excesso de emoção é trabalho, nos
confunde. Excesso de pensamento nos
perturba. Pensamento não é consciência,
emoção não é sentimento e tensão física não é
vitalidade. O corpo físico tem
que ficar relaxado, a emoção deve ser abrandada até se tornar sentimento
profundo e o pensamento deve ser diminuído até se tornar consciência.
Esse esvaziamento interior é normalmente conseguido através da
prática da meditação. Meditação através
do silêncio, através do domínio da respiração, através do mantra, do canto...,
sempre com o sentimento de não-intenção.
Se você está contemplando a sua respiração como meio de meditação,
isso deverá ser feito de uma maneira passiva, sem controle nem julgamento. Se você estiver entoando um mantra - mesmo
que você saiba que cada mantra tem uma função própria (purificação da mente, do
corpo e da emoção) -, você deverá fazê-lo sem intenção. Você deve entoar o mantra simplesmente
repetindo aquelas palavras de maneira correta até tudo se tornar mecanizado e,
a partir daí, sua consciência torna-se ‘empatada’ nessa repetição, sem
julgamentos, sem diálogos internos.
Quando se consegue diminui o diálogo interno, já se conseguiu um grande
progresso.
Nós temos diálogos interiores em excesso e cenas em excesso. Muitas das vezes, você está conversando com
você mesmo ou está simulando um diálogo com outra pessoa ou ainda está
simulando ou repetindo um diálogo do passado; ou mesmo você está observando e
participando do diálogo de outra pessoa dentro da sua mente - diálogos
simulados ou observados. Nossa cabeça se
assemelha a um radinho de pilha que fica falando o tempo inteiro. Devido à nossa distração, não nos apercebemos
disso. A partir do momento em que
tomamos consciência disso, percebemos que esse radinho está falando alto
demais.
No desenrolar da prática da meditação, você atinge o estado de se
imaginar entrando numa piscina, seu corpo totalmente unido à água. Nessa hora, você terá a consciência coletiva,
a consciência universal e não a consciência do ego. Esse estado é um estado de profunda paz que
é tecnicamente chamado de Fixação. É
como se pregasse um prego, pronto, não mexe mais. Fixou.
Sua consciência está fixada.
Capítulo 5
O Céu e a Terra não são
bondosos
Tratam os dez mil seres como
cães de palha
O Homem Sagrado não tem
piedade
Trata os homens como cães de
palha.
O espaço entre o Céu e a Terra
se assemelha a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua
criação.
O excesso de conhecimento
conduz ao esgotamento
E não é melhor do que
manter-se no meio.
Este texto é extraído da
transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 21 de
junho de 1994, sobre o Capítulo 5 do Tao
Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e
Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e
sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
O Espaço entre o Céu e a Terra se assemelha a
um Fole
foi idealizado por Janine e não faz parte do
texto original.
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a
realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh
Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching