A TRÍPLICE TRANSPARÊNCIA
E
A CANÇÃO DOS TRÊS TESOUROS
Transcrição da Aula ministrada
e gravada
Por WU JYH CHERNG
Na Sociedade Taoísta do
Brasil, Rio de Janeiro, em 25 de outubro de 1994
Na primeira parte da Aula daquele
dia.
A Tríplice Transparência
Através
da Tríplice Transparência surge o conceito dos três representantes do
Absoluto. Cada um dos três representa
uma virtude e um conceito.
O Primeiro Absoluto chama-se Yu Chin Yuen Tse Tien Djuen, que
literalmente significa o Princípio Inicial.
É a razão e é a causa primordial de todas as coisas. É a condição anterior a qualquer coisa. Representa o próprio Tao, ou seja, o Caminho.
O Segundo Absoluto chama-se San Chin Nim Bao Tien Djuen, que
significa o Tesouro do Espírito. Nin é
Espírito, espírito coletivo, união de todos os espíritos. Bao é Tesouro e significa sopro. É a união de todos os sopros. _______________ significa ‘união de todas as consciências e
de todas as energias”. Portanto, Nin Bao
é o Tesouro do Espírito.
O Terceiro Absoluto é a Sublime Transparência. Chama-se Tao Te, que, literalmente, significa
Caminho e Virtude. O Caminho é a
trajetória que o homem segue; é a realização do Taoísmo. Te significa Virtude. A Virtude significa a realização do homem, ou
seja, o Caminho do Universo e a realização do homem. É preciso seguir o Caminho para poder se
realizar: o fruto é a Virtude. Tudo
aquilo que está de acordo com o Caminho de Realização, todos os frutos que
estão de acordo com o Caminho da Realização, se chamam Virtude - que é a
palavra Te.
Do mesmo modo que o Primeiro Absoluto é fundamentado na Tradição
como o Tao, o Segundo Absoluto é fundamentado na Tradição como a Sagrada
Leitura. O Terceiro Absoluto é
fundamentado na Tradição como as palavras Tai Chin Tao Te Tien Djuen ou ___________, que significam “Mestre”.
Dessa maneira, a Tradição Taoísta se apóia em três pontos: o Caminho Individual, a Sagrada Leitura
revelada e a orientação dos Mestres, a Linhagem dos Mestres.
Se não tivermos um Caminho, se não nos realizarmos por nós mesmos,
não adiante termos um mestre. Também não
adiante tentarmos seguir um Caminho e um Mestre se não estudarmos. Poderemos até estaremos realizando algo mas
sem sabermos onde queremos chegar.
Também não adiante tentarmos o auto-didatismo: muitas vezes temos livros
e fórmulas mas se não tivermos um orientador, podemos até chegar a conclusões
mas o caminho pode se tornar mias difícil e bem menos seguro.
Mestre Maa sempre nos explica que o caminho espiritual tem que se
estruturar sobre quatro pontos:
-
é preciso que haja uma base teórica e filosófica, onde se explica o
que se faz, porque se faz e como se faz.
-
É preciso que haja prática.
Toda a teoria tem que ter um meio de ser exercitada e vivida.
-
É preciso que tenha um resultado.
Podemos ter uma base teórica e a praticarmos disciplinadamente porém sem
atingir qualquer resultado.
Obviamente, o resultado nos leva ao quarto elemento:
-
É preciso ter um freio de mão, uma segurança. Não adiante seguir a teoria e através de uma
prática atingir um resultado se este resultado não for seguro.
Acredita-se na filosofia e pratica-se uma prática mística
alcançando fenômenos e o resultado de tais fenômenos deixa-nos num confusão
mental porque não foi evidenciada a segurança.
Para se poder realizar uma prática estruturada nesses quatro
pontos, temos que ter três
fundamentos; o Caminho Individual, a
Leitura oferecida por todos os mestres iluminados anteriores e mestres vivos
que passem a tradição. Isso tudo porque dentro
da Tradição mística, acima desses três fundamentos, existem dois pontos
fundamentais: as partes exotérica e esotérica.
Questões que podemos encontrar nos livros e questões que jamais serão
encontradas nos livros.
Aquilo que não pode ser encontrado nos livros, pode ser de dois
tipos: os detalhes explicativos e os
segredos. A palavra tem sua
limitação. Muitas coisas podem ser explicadas mas, ao se ver, viver, olhar,
assimilar, aprende-se coisas que são passadas apenas de pessoa para
pessoa. N ao são exatamente segredos,
são apenas coisas da vida que não podem ser passadas através dos livros. Por mais que um livro seja bem escrito, e bem
explicado, ele apenas responde a questões genéricas, sem responder a questões
individuais.
Outra questão são os segredos e as tradições chamadas
‘iniciáticas’. Cada Escola possui sua
técnica, suas chaves. É preciso ter uma
peça-chave para encaixar determinados conceitos. Essa peça-chave, normalmente, é passada de
geração para geração: é o que chamamos de ‘elementos verbais’, que só os
mestres podem passar para seus discípulos.
Assim, o Taoísmo se apóia em três pontos: no Caminho - O Tao, na Sagrada Leitura e no
Mestre. Para que o caminho espiritual
seja seguro, tenha um objetivo, uma prática e um resultado, esses três
fundamentos são essenciais.
Esses três fundamentos são inspirados no conceito da Tríplice
Transparência, o conceito da busca dos Três Absolutos.
No Taoísmo, se considera -
mitologicamente ou misticamente falando - que todos os grandes patriarcas sejam
manifestações físicas da Terceira Transparência ou Sublime Transparência e se
considera Lao Tse como a grande manifestação desse Terceiro Absoluto aqui na
Terra. Por isso, Lao Tse representa o
Mestre.
A Tradição dos Mestres, dentro do Taoísmo, nos últimos três mil
anos, vem de Lao Tse. Ele não é o único
e também não será o único. Anterior a
Ele existiram outros mestres de outros tempos que também são documentados como manifestações
desse Terceiro Absoluto - a representação do Caminho e da Virtude.
O que são o Caminho e a Virtude?
O Caminho é a realização da pessoa, é uma pessoa que se
realiza. A Virtude é a pessoa que
demonstra em sua pessoa física essa realização.
Esse é o Mestre.
O mestre espiritual é aquele que faz o caminho espiritual e
demonstra em sua virtude o que ele faz.
Então, podemos nos inspirar e aprender com os mestres. Por isso, o Caminho e a Virtude representam
os Mestres. O mestre é um exemplo vivo e
por ser vivo pode se tornar possível de ser seguido. Se não for vivo, pode se tornar
psicologicamente impossível para as outras pessoas.
O Taoísmo é bastante liberal.
Esses exemplos vivos existem em inúmeros seres ou seja, o Taoísmo não se
fundamenta em um único mestre. Existem
inúmeros mestres e qual quer um de nós - ao abraçarmos o Caminho e a Virtude -
pode se tornar a própria manifestação e representação do Terceiro Absoluto, que
é a Sublime Transparência. Portanto,
no Taoísmo, qualquer um de os,
potencialmente, pode se tornar um Mestre.
Precisamos apenas é buscar aprender e realizar o Tao e nos tornar o
próprio Tao, ou seja, buscar esse Caminho; tentar estudar sobre esse Caminho e
finalmente realizar esse Caminho. É
preciso que nos tornemos o próprio Caminho para que outros possam caminhar a
partir daquilo que nós tornamos como
Caminho.
A Canção dos Três Tesouros
Saúdo ao Princípio
E refugio-me reverentemente ao
Caminho
O Caminho está no Monte Cidade
de Jade
No Monte Cidade de Jade a Lei
foi revelada
A revelação da Lei é para
favorecer aos homens e aos seres celestiais
Saúdo ao Princípio
E refugio-me reverentemente à
Sagrada Leitura
O Tesouro da Leitura se
transforma em Escritos do Espírito Coletivo
Os Escritos do Espírito Coletivo
estão sob a forma de ideograma de fênix
E os ideogramas de fênix devem ser
amplamente revelados
Refugio-me ao Grande Venerável
Senhor Celeste do Tesouro do Espírito Coletivo
Saúdo ao Princípio
E refugio-me reverentemente ao
Mestre
O Coração do Mestre assemelha-se
à transparência da água
A transparência da água permite
a revelação da lua de outono
A revelação da lua é ampla e
infinita
Refugio-me ao Grande Venerável
Senhor Celeste do Caminho e da Virtude
Os Três Tesouros
Com sua Compaixão
Atribuem e acrescentam sua
proteção.
San Bao
Tze Bei Tzuei Djia Hu
O Canto dos Três Tesouros é divido em três partes mais o refrão que
é cantado por três vezes.
“Saúdo ao Princípio” - gesto de cumprimento ao altar que se chama
Saudação ao Princípio. No ritual,
estamos ao mesmo tempo cantando e fazendo o gesto de reverência.
“E refugio-me reverentemente ao Caminho
o Caminho está no Monte Cidade de Jade”
O Monte Cidade de Jade é um termo específico que pode ser
encontrado em outros textos clássicos do Taoísmo. Jade representa a pureza. A Cidade de Jade é onde se encontra reunida
toda a pureza. É uma cidade mitológica
encravada nas montanhas, toda feita de jade, uma espécie de Olimpo dos Deuses.
“No Monte Cidade de Jade a Lei foi revelada” - Lei é a palavra Fa.
O Taoísmo tem três categorias de conhecimento: o Tao, o Fa e o Su. O Caminho, A Lei e A Arte.
“A revelação da Lei é para favorecer aos homens e aos seres
celestiais” - portanto, esses ensinamentos não apenas ajudam a nós que estamos
na Terra encarnados mas também ajudam as pessoas que estão acima de nós, em
outros níveis - aquelas pessoas que estão nos reinos celestiais, em mundos mais
sutis.
Essa parte do Canto é referente a um capítulo de um texto clássico
fundamental da teologia taoísta, o cânon taoísta e é o que há de mais completo
sobre o Taoísmo. Esse texto tem mais de
cinco mil volumes, sendo que o primeiro livro - com sessenta volumes -, é o
livro mais importante e ainda não foi traduzido. (quando eu for mais velho, talvez o traduza).
É um texto muito difícil e representa o fundamento do misticismo
Taoísta. É bem diferente dos textos do
Tao Te Ching. É pleno de
simbologia. Nesse primeiro livro - de
sessenta volumes -, chamado de Primeiro Tratado (e é o livro mais importante),
falas-e da mística. O Tao Te Ching é
mais filosófico. O Primeiro Tratado
contém toda a teologia taoísta.
No primeiro comentário do Primeiro Livro se diz assim: Nos infinitos tempos, o Venerável Senhor do
Princípio Inicial, no Monte Cidade de Jade, colocou uma pérola flutuando no ar
e invocou todos os deuses de todas as direções, ou seja, frente, trás,
esquerda, direita - os lados cardinais - em cima e embaixo. Invocou todos os deuses e todas as divindades
de todas as categorias e de todos os tempos para virem ao Monte Cidade de Jade. Juntos, todos entraram dentro da pérola
tamanho de um alpiste. Imaginemos todas
as divindades em uma cidade de luz cabendo dentro de um pontinho de luz. Quando todos entraram dentro da pérola, o
mundo tornou-se um vazio. Todas as
galáxias, todas as estrelas, as montanhas, tudo no universo entrou dentro da pérola
tamanho de uma semente de alpiste, dentro de um pequeno ponto de luz. O Venerável Senhor do Princípio Inicial
discursou e ensinou o sublime ensinamento.
Esse sublime ensinamento é o que chamamos de Revelação da Lei. Essa revelação da Lei foi para favorecer aos
homens e aos seres celestiais.
Durante seu pronunciamento, o universo ficou vazio e tudo tornou-se
um silêncio. Terminados os ensinamentos,
estes foram anotados pelas divindades e guardados. Então, as divindades e os deuses saíram da
pérola e o mundo voltou a existir. Cada
deus voltou para seu lugar e para governar seus reinos e o mundo passou a ser
um estado de manifestação.
Esses conhecimentos foram registrados em uma coletânea de sessenta
volumes e passaram pelos reinos celestiais, geração após geração até chegar ao
nível próximo ao do nosso mundo dos homens.
Esses conhecimentos foram finalmente revelados há mais ou
menos cinco mil e quinhentos anos atrás
por um Mestre que alcançou um nível bastante elevado. Esse mestre teve contacto com um nível mais
próximo ao dele e recebendo esse conhecimento, o copiou.
Quando esse conhecimento foi revelado, apareceram no céu ideogramas
em forma de dragões-fênix feito gigantescas luzes douradas. Esse mestre copiou todos esses desenhos,
esses ideogramas em sessenta volumes de registros. No princípio, ele não entendia o que
significavam esses registros. Ao passar
a anotar os ideogramas, ele compreendeu seus significados.
Esses ensinamentos vieram através de infinitos tempos passados a
partir da pérola do tamanho de uma semente de alpiste, através de longo tempo
de prática espiritual pelas divindades.
Foram explicados e passados através das gerações até serem revelados na
Terra.
Essa passagem é contada pela Tradição Taoísta.
Nesses textos, aparecem os selos mágicos e os nomes sagrados de
cada divindade celestial e o nome de cada demônio celestial. Todos os nomes e todas as hierarquias, toda a
arquitetura do universo são revelados em forma de palavra-chave, número-chave,
mantras, maneiras de invocar, maneiras de anular as forças, maneiras de
trabalhar as forças.
A primeira parte do Canto dos Três Tesouros refere-se a essa
revelação dos conhecimentos. Finaliza-se
cantando “Refugio-me ao grande Venerável Senhor celeste do Princípio Inicial”.
Essas revelações introduzem o início da Sagrada Leitura.
Na segunda parte do Canto se diz:
“Saúdo ao Princípio
e refugio-me reverentemente à Sagrada Leitura
o Tesouro da Leitura se transforma em Escritos do Espírito Coletivo
os Escrito do Espírito Coletivo estão sob a forma de ideograma de
fênix
e os ideogramas e fênix devem ser amplamente revelados”.
Mitologicamente, existiram dois animais que na realidade não
existiram: o dragão e a fênix.
O dragão representa a energia pura Yang e a fênix representa a
energia pura Yin.
As luzes douradas que apareceram no céu em forma de ideograma da
fênix pareciam serem feitas por um calígrafo.
Os mestres olhavam e copiavam usando os mesmos gestos. No ritual mágico do Taoísmo, nós desenhamos
ideogramas com as mãos e com mentalização.
“Espírito Coletivo” são palavras da consciência coletiva, são
revelações que transcendem o limite da individualização, são conhecimentos que
abrem caminho para todas as consciências.
Essas revelações foram aquelas feitas em forma de ideograma em círculos
de luz dourada, no movimento que se chama de ideogramas de fênix.
Imaginemos um pássaro de luz dourada voando e desenhando nos
céus. Os ideogramas de fênix devem ser
amplamente revelados. Devem ser passados
para frente para nunca se perderem.
Finaliza-se a segunda parte com a saudação: “ Refugio-me ao Grande
Venerável Senhor Celeste do Tesouro do Espírito Coletivo”.
As revelações feitas com luz dourada pelas próprias divindades
celestiais e os selos são usados para a invocação de forças. No trabalho da Grande Alquimia, é preciso
conhecer todos os caminhos para se saber onde está o caminho da ascensão. Durante o caminho da ascensão de um Imortal,
é preciso saber como enfrentar todas as forças que irão desafiar a pessoa. É preciso saber como se posicionar diante
desses testes.
“Saúdo ao Princípio
e refugio-me reverentemente ao Mestre
o coração do Mestre assemelha-se à transparência da água
a transparência da água permite a revelação da lua de outono
a revelação da lua é ampla e infinita.”
A terceira parte fala do Mestre.
O que é um Mestre?
O Mestre é aquela água quieta e transparente. Imaginemos um lago sereno e quieto como um
espelho. Normalmente, nosso coração é
uma turbulenta correnteza de água. Essa
turbulência nos traz problemas mentais e emocionais. O mestre espiritual consegue atingir um ponto
que é como um grande lago sereno e transparente que guarda toda a força da
água, toda sua força mental e emocional, no fundo dessa lago de maneira
equilibrada e harmoniosa. Essa harmonia
interior de um lago transparente pode refletir a luz da lua de outono. A lua de outono é a lua dourada. A lua da primavera é mais branca. A lua do outono é uma lua dourada.
O mestre espiritual reflete a luz cósmica e é capaz de usar toda a
sua serenidade interior para acolher todas as luzes do universo e assim abraçar
todas as pessoas, indiscriminadamente.
Porque o mestre não discrimina, é que pode abraçar com compaixão e
oferecer sua vida e seu ser como caminho.
Os homens que os seguem encontram a Virtude de ser.
Terminamos a terceira parte, saudando e dizendo: “Refugio-me ao Grande Venerável Senhor
Celeste do Caminho e da Virtude”.
Depois das três saudações, repete-se por três vezes:
Os Três Tesouros, com sua
compaixão,
Atribuem e acrescentam a sua
proteção.
San
Bao Tze Bei Tzuei Djia Hu
Estamos então pedindo que as três forças, a força do Mestre, a
força da Sagrada Leitura e a força do próprio Tao, nos dêem proteção e aumentem
nossa força, através de sua Compaixão.
...............
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA
VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do
Capítulo 9
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula
Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 02 de
agosto de 1994
Transcrição e Síntese de
Janine Milward
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Nesta mesma Editora,
encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em
breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching