Não-Ação e Não-Palavra
Wu Wei e Wu Yen
Wu Jyh Cherng
O Homem Sagrado realiza a obra
pela não-ação
E pratica o ensinamento
através da não-palavra
Não-ação e não-palavra são dois conceitos específicos do Taoísmo.
Não-ação é o famoso conceito do Wu Wei e a não-palavra é Wu Yen.
Na verdade, temos que entender não-palavra como
palavra-não-intencional, a que não tem intenção, pronunciada sem intenção e não
pronunciada com intenção.
Wu Wei é a ação-não-intencional.
Fazer as coisas simplesmente, e não fazer as coisas através de uma intenção. No entanto, não devemos confundir a não-ação
com não-fazer-nada. Constantemente, os
mestres taoístas nos alertam sobre isso, sobre esse conceito que poder ser
bastante distorcido.
Wu Wei significa fazer as coisas naturalmente, fazer o que tiver
que ser feito, não deixar de agir, não acrescentar desnecessários afazeres e
não fugir do que deve ser feito. Não
reduzir nem acrescentar, simplesmente fazer o que é natural.
Tudo na natureza é natural.
O sol é natural, a lua é natural, o mundo é natural, a árvore, calor,
frio. O sol nasce sempre dentro de seus
ciclos cósmicos bem como a lua. Por que
então o ser humano teria que fazer alguma coisa que não esteja de acordo com a
natureza? A natureza age naturalmente,
ela tem sua própria e natural ordem.
Por isso, Lao Tse, em outro Capítulo, diz:
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
E o Caminho se orienta por sua própria natureza
Assim, o homem deveria recuperar a sua naturalidade integrando-a
com tudo o que está na terra. E fazendo parte de tudo o que está na terra,
ele se integra com tudo o que está no céu, ou seja, no cosmos.
Como tudo no cosmos é o fruto do Tao, é a parte manifestada do Tao,
então o homem deve se integrar com a parte invisível que esse todo abrange.
A partir desse momento, tudo se torna o Tao e, dentro dessa grande
condição, todas as coisas acontecem dentro de uma naturalidade e se cria uma
ordem que não é uma norma e sim a ordem natural das coisas.
O Taoísmo enfatiza a ordem natural das coisas. Valorizar a ordem natural das coisas é deixar
as coisas fluírem. Deixar as coisas
fluírem significa viver cada coisa e cada instante de nossa vida, de nosso destino,
de forma natural.
Não fugindo das coisas - o que seria uma má interpretação; não
vivendo a vida modificando-a intencionalmente - o que seria contrariar a
naturalidade.
Esse é o simbolismo do caminho das águas: ela nasce no alto da
montanha, vai descendo a serra, sempre correndo pelos caminhos mais
apropriados, simplesmente correndo, e fluindo até encontrar o oceano. No oceano, ela evapora e sobe ao céu onde se
transforma em nuvem. Então chove, a
chuva entra na terra, forma a fonte e assim vai, infinitamente transformando..
O grande ensinamento do I Ching nos fala da infinita transformação
das coisas. Todas as coisas estão
constantemente em transformação. A nossa
impressão fotográfica não existe. A
imagem não pode ser mantida estática.
O apego às coisas faz o homem morrer e essa morte acontece a cada
instante. Todas as vezes que nos
apegamos a alguma coisa, estamos morrendo um pouco. Os apegos traumatizam nossa consciência e
prejudicam nosso corpo. Dessa maneira, o
homem morre a cada instante, morre em sua consciência, morre em seu corpo.
A partir do momento em que o ser humano consegue viver a infinitude
da transformação, ele não se apega mais à forma. Se pensarmos que o universo em um princípio e
terá um fim, estaremos nos condicionando dentro de um universo ilusório.
O universo é como uma grande corrente - um elo encadeando no outro
- e portanto, é o próprio infinito. O
infinito é a própria vida. A partir do
momento em que nos tornamos a infinita transformação, não teremos a morte. Teremos, sim, a Plenitude da Consciência e a
Plenitude da Vida.
E quando a Vida e a Consciência infinitas forem um único ponto, um
único elemento, o homem passa a ser chamado de Imortal.
Os grandes mestres taoístas ascensionados da antigüidade são
chamados de Imortais. Assim como o Buda
é chamado de O Desperto. O simbolismo
não é muito diferente. Existem as
interferências culturais e também o propósito e a linguagem são um pouco
diferentes.
Capítulo 2
Quando os seres sob o céu
reconhecem o belo como belo
Então isso já se tornou um mal
E reconhecendo o bem como bem
Então, já não seria um bem
A existência e a inexistência
geram-se uma pela outra
O difícil e o fácil
completam-se um ao outro
O longo e o curto
estabelecem-se um pelo outro
O alto e o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são
juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se
um ao outro
Portanto,
O Homem Sagrado realiza a obra
pela não-ação
E pratica o ensinamento
através da não-palavra
Os dez mil seres fazem-se mas
não para se realizar
Iniciam a realização mas não a possuem
Concluem a obra sem se apegar
E, justamente por realizar sem
apego
Não passam.
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Este texto é extraído da
transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em maio de
1994, sobre o Capítulo 2 do Tao Te
Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e
Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e
sintetizada por Janine Milward
O Título deste texto
Não-Ação e Não-Palavra - Wu
Wei e Wu Yen
foi idealizado por Janine e
não faz parte do texto original.
A foto é de Janine e retrata
o Ashram do Sítio das Estrelas.
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da
publicação
das interpretações de Wu Jyh
Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching