TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 16
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 27 de setembro de 1994
Capítulo 16
Alcançando o
extremo Vazio e
Permanecendo
na quietude da extrema quietude
Os dez mil
seres se manifestam simultaneamente
E, através
disso, contemplamos o seu retorno
Apesar da
diversidade dos seres,
Cada um deles
pode retornar à sua raiz
O regresso à
raiz se chama ‘quietude’
Quietude se
chama ‘retornar a viver’
O retornar a
viver se chama ‘constância’
Conhecer a
constância se chama ‘Iluminação’
Desconhecer a
constância é a impropriedade
Que provoca o
infortúnio.
Quem conhece
a constância é abrangente
Quem é
abrangente pode ser coletivo
O coletivo
tem o poder da criação
A criação tem
o poder do céu
O céu tem o
poder do Tao
O Tao tem o
poder do eterno
Assim,
Mesmo
perdendo o corpo, não irá perecer.
Na China, a Tradição Taoísta é também
chamada de Tradição do Mistério.
A Tradição do Mistério é a tradição que
busca uma vivência através de uma prática mística que nos leva, que nos conduz
a um universo mais profundo, a um universo onde não há limitação, não há
linguagem, não há forma... porém é um universo que abraça todas as linguagens e
todas as formas.
Essa vivência, esse caminho, se realiza
através do alcance do extremo Vazio e a permanência nesse estado - mesmo que a
pessoa esteja em estado de lucidez.
Devemos entrar no Vazio da extrema
quietude e permanecer nesse estado de extrema quietude mesmo que estejamos em
atividade.
É fácil estar na quietude quando estamos fóra
da atividade; difícil é estar em atividade e ao mesmo tempo permanecendo na
quietude.
Didaticamente, portanto, é necessário
primeiro renunciar à atividade para se poder entrar na quietude e só então
retornar à atividade sem perder a quietude que foi conquistada quando estávamos
quietos.
É esse exatamente o processo do efeito
da meditação.
O que é a meditação? Fechamos as portas e as janelas, desligamos o
telefone e colocamos um aviso de ‘não perturbe’ na porta. O que então acontece? Estamos nos isolando da atividade para
entrarmos na quietude. Através do
processo da quietude, alcançamos o Vazio.
E, conquistada a calma da quietude, do Vazio, saímos da meditação,
voltamos a abrir portas e janelas, religamos o telefone e começamos a trabalhar
e a falar com as pessoas. Ainda, porém,
permanece dentro de nós aquele efeito da quietude que foi conquistado através
do isolamento.
Dessa maneira, uma pessoa que
diariamente encontra um tempo para se isolar e entrar na meditação, quando
volta ao mundo, carregará consigo aquela quietude enquanto exercer suas
atividades cotidianas.
Para o iniciante, esse efeito não dura
tanto tempo.
Para um mestre de nível mais elevado, é
possível entrar em meditação e sair da meditação e continuar permanecendo com a
mesma calma e quietude até a próxima meditação.
Para o mestre, a quietude não é alterada durante o seu dia: algumas
horas ele pode passar em quietude, até mesmo numa quietude física. Em outras horas, ele estará trabalhando,
conversando, agindo e seu corpo físico também estará agindo mas ele terá sempre
a sua mente quieta. Sua mente é
igualmente quieta durante a meditação ou fora dela. Se houver alguma oscilação, será mínima.
Mesmo sendo um grande mestre, enquanto
ainda estiver encarnado, ele estará carregando seu corpo e possui, portanto, as
limitações desse corpo. Não terá
limitações do espírito e assim pode ter um grande poder para transmutar as
limitações do corpo físico. Essas
limitações são as doenças, o cansaço. O
estágio onde as limitações do corpo físico são transmutadas é um estágio
difícil de ser alcançado.
Deve-se alcançar um estágio onde o espírito
não seja mais limitado e o corpo físico esteja dentro de uma razoável
conservação. Para tanto, existem
inúmeras práticas de manutenção física - o Tai-Chi, o Chi Kun, a Yoga, etc. - e
cuidados com a dieta, em relação ao que se ingere; cuidados com a saúde de
todas as maneiras.
Na verdade, não se encontra um Mestre
Taoísta com a cabeça boa e o corpo sedentário.
A Tradição Taoísta dá um imenso valor à saúde física. Saúde física significa que a pessoa tem uma
estrutura material que sustenta o espírito para que essa consciência iluminada
encarnada no corpo físico possa trabalhar no mundo, possa ajudar as pessoas,
divulgar trabalhos e beneficiar a passagem da Tradição para frente.
O Taoísmo gerou grandes terapias: os
grandes mestres da medicina chinesa, da acupuntura, vieram todos do Taoísmo.
Na China, portanto, o Taoísmo é chamado
de Tradição do Mistério.
Mistério é a entrada na dimensão que
vai além da linguagem.
Como se faz essa entrada?
Através do alcance do extremo
Vazio. Esse Sublime Vazio, esse extremo
Vazio, que é o sublime Vazio que abrange todas as coisas, que é o próprio Wu
Chi do I Ching, que é o próprio Absoluto, que é o próprio zero da matemática.
É permanecendo na quietude da extrema
quietude, da sublime quietude, que a pessoa consegue se realizar.
Alcançando o
extremo Vazio e
Permanecendo
na quietude da extrema quietude
Mestre Maa nos diz que para realizar o
Caminho e a Virtude - Caminho é o Princípio e Virtude é aquilo que está de
acordo com o Princípio -, o Taoísta deve
partir de dois pontos: viver o Tao do Céu Anterior e viver o Tao do Céu
Posterior.
No livro do Tao Te Ching - Ching
significa Tratado; Tao significa Caminho e Te significa Virtude: portanto o
Tratado do Caminho e da Virtude - nos é ensinado que o Tao do Céu Anterior é a
própria palavra Tao, o Caminho. E o Tao
do Céu Posterior é a Virtude.
Virtude é uma palavra que simboliza
aquele que está de acordo com o Absoluto.
O Tao do Caminho significa o próprio Absoluto. Uma vez que se esteja sintonizado com o
Absoluto, tudo o que for feito estará dentro da normalidade e das Leis cósmicas
do Absoluto. Então, a pessoa será
naturalmente virtuosa e mesmo que não tiver a intenção de fazer as coisas
corretamente, sempre tomará a postura correta.
Quando uma pessoa consegue sintonizar
com a grande natureza - viver, comer, caminhar, conviver seguindo a lei da
natureza do universo -, tudo o que fizer naturalmente estará correto, sem que
prejudique ninguém, sem que faça as coisas fóra do momento ou fóra da
normalidade ou fóra do curso natural do universo. Todos os seus atos serão virtuosos.
A Virtude é, então, aquilo que está de
acordo com as leis cósmicas, com a
fluidez e a naturalidade do universo.
Esses não são preceitos e regras
rígidas. O Taoísmo diz que precisamos
assimilar e compreender os conceitos através do processo de conscientização
para então se poder tomar as decisões naturais e se modificar naturalmente.
Em seguida, Ele diz:
Os dez mil
seres se manifestam simultaneamente
E, através
disso, contemplamos o seu retorno
Nessa primeira estrofe, as quatro
frases têm que ser separadas em dois conjuntos.
Lao Tse não está falando em seqüência.
Ele diz que todas as coisas têm manifestação e todas se manifestam
simultaneamente.
Nós encontramos no universo uma enorme
diversidade de coisas: o homem está vivo, o cavalo está vivo, pedras,
montanhas, vulcões, rios, sol - todos se manifestam simultaneamente no
universo. Cada um à sua maneira de
expressão, num estágio, numa dimensão, com uma característica própria. Em todas as coisas existe a raiz primordial
que é a mesma raiz e todas as coisas que estão em manifestação também têm seu
momento de repouso.
É exatamente através do processo de
repouso que se retorna à raiz.
Quando todos os animais estão dormindo,
voltam a entrar no silêncio que é o silêncio de todos os seres. O silêncio de um cachorrinho dormindo é o
mesmo silêncio de um homem dormindo.
Nessa hora, todos os seres voltam às suas raízes, à raiz de seu
ser. O silêncio de um homem vivo e que
não está pensando é o mesmo silêncio do homem que já morreu e não está
pensando.
O silêncio desse nosso mundo, dessa
nossa dimensão, é o mesmo silêncio do outro mundo, da outra dimensão. Nosso universo possui infinitas dimensões que
se interpenetram umas nas outras. O silêncio
de todas as dimensões é o mesmo silêncio.
O Vazio de todas as dimensões é o mesmo Vazio. A quietude de todas as dimensões é a mesma
quietude.
Isso é o que Lao Tse chama de ‘raiz de todos
os seres’: o Princípio Inicial que é o Tao do Céu Anterior que gera e
permite a manifestação de todas as coisas.
Para todos nós que nesse momento
estamos vivos e vivendo em atividade, é como se estivéssemos vivendo a
primavera e o verão. Porém, tudo o que
vive na primavera e no verão, em seguida viverá o outono e o inverno para então
novamente voltar à primavera e ao verão.
A vida é cíclica.
Se hoje vivemos a atividade, podemos
viver também a não-atividade. Se hoje
nossa mente é agitada e não pára, nós não conseguiremos não nos preocupar, não
nos emocionar. Às vezes, essa emoção e
essa atividade mental são tão grandes que ficamos doentes: não conseguimos
dormir, ficamos emocionalmente alterados.
Todos nós que vivemos em atividade - seja mental, emocional ou física -
e não temos controle sobre isso, precisamos saber que também podemos ter a
quietude.
É preciso re-descobrir essa quietude e
voltar para ela. Fazer renascer dentro
de nós uma nova consciência, mais jovial, mais saudável.
Precisamos saber viver a quietude - o
outono e o inverno - em cada momento da
primavera e do verão. Precisamos viver o
outono e o inverno guardando, em cada instante, a primavera e o verão dentro de
nós.
Em cada momento de quietude, devemos
manter dentro de nós a potencialidade da criatividade. Em cada momento da criação, do trabalho, da
atividade, devemos manter a quietude dentro de nós. Sempre.
Então viveremos o Yin e o Yang ao mesmo tempo. o Yin dentro do Yang e o Yang dentro do
Yin. No momento Yin, não perder o
Yang. No momento Yang, não perder o Yin.
Esse é o símbolo do Tai Chi, metade
Yin, metade Yang. Dentro do Yin, o
pontinho do Yang e dentro do Yang, o pontinho do Yin. Essa é a maneira sábia de viver a primavera e
o verão mantendo dentro de si a sobriedade e a profundidade do outono e do
inverno.
No momento do repouso do inverno e do
recolhimento do outono, manter dentro de nós a força e a criação da primavera e
do verão. Essa é a sabedoria que Lao Tse
quer passar para nós.
Por isso, Ele diz:
Os dez mil
seres se manifestam simultaneamente
E, através disso,
contemplamos o seu retorno
O retorno da quietude está dentro de
nós. Precisamos saber viver a atividade
e resgatar a quietude. Viver o mundo
resgatando o silêncio.
Como resgatar esse silêncio? Dentro da meditação, tecnicamente falando.
Dentro do Taoísmo existem três categorias de conhecimento:
O Tao, O Caminho
A Lei
As Artes
Dessa maneira, são infinitas as opções. Existem dezenas de Ordens e Escolas que
oferecem um sem número de técnicas. Na
medicina chinesa existem infinitas questões a serem estudadas. Na acupuntura existem infinitos pontos a
serem trabalhados. Dentro dessas
infinitas atividades existe um fundamento interior. É preciso buscar esse fundamento, que é
exatamente a quietude que existe dentro da atividade. Igualmente na vida cotidiana que pode ser
repleta de atividades - no entanto, é preciso sempre resguardar a quietude
interior.
Na prática da Alquimia, essa quietude é
conquistada através da prática da meditação.
Dentre as infinitas técnicas, em todas as escolas taoístas sempre se
considera fundamental a meditação pura.
O que é a meditação pura? Simplesmente sentar-se com as pernas
cruzadas, de olhos fechados e deixar-se entrar no silêncio. E através do silêncio, penetrar no Mistério. Através do Mistério, abrir, romper a barreira
que limita o universo com o universo. A
partir daí, se terá acesso à vivência do Tao para abrir a grande biblioteca
sagrada do universo que revelará os sagrados conhecimentos e se entrará em
contato direto com os grandes mestres.
A meditação é fundamental, ela é parte
do conhecimento, mesmo sendo o mais simples de todos os conhecimentos. No Taoísmo, os mais altos níveis de técnica
são os mais simples, os mais altos conhecimentos são os mais simples. O próprio Tao Te Ching deixa muito claro que
o Sublime Tao está no Vazio, na quietude, na simplicidade. Não está na complexidade. Mesmo as coisas complexas têm que ser vividas
de maneira simples. Se temos qualquer
conhecimento complexo, complicado, devemos usá-lo de forma simples, com naturalidade.
O mecanismo do automóvel pode ser
complicado mas o espírito do mecânico que realiza o trabalho pode e deve ser
simples para poder melhor atuar no momento da feitura ou do conserto. Assim, igualmente acontece para todas as
coisas.
Podemos também estar encarnados como um
homem ou como um animal, podemos estar no mundo das almas ou podemos ser uma
divindade de luz ou uma divindade de obscuridade, podemos estar em qualquer
condição - mas a essência permanece a mesma.
Por isso, Lao Tse diz:
Os dez mil
seres se manifestam simultaneamente
E, através
disso, contemplamos o seu retorno
Como retornar?
No Taoísmo, tecnicamente, colocamos o
Espírito dentro do Sopro e o Sopro dentro de um ponto que chamamos de Portão
Negro ou Orifício do Mistério. Ambos
significam aquele buraquinho por onde surge o universo e por onde desaparece o
universo: uma espécie de buraco negro, onde tudo nasce e onde tudo desaparece.
Através de um processo de meditação
profunda, quando se atinge o nível que é chamado de Fixação - quando não mais
se tem respiração, pulsação ou pensamento - em qualquer ponto pra frente, chega
uma hora em que se atinge uma dimensão onde se encontra esse buraquinho. Esse é o Orifício do Mistério ou Portão
Negro. O Espírito está unido ao Sopro, o
Sopro segura a Consciência e a Energia vai conduzindo a Consciência até uma
espaçonave que entra dentro de um buraquinho onde exatamente nasce, inicia e
termina todo o universo. Nesse ponto,
iniciamos nosso mergulho no Mistério.
Também o Orifício do Mistério ou Portão
Negro pode ser chamado de “Cova”. O
Sopro entrando dentro do buraco é acompanhado pelo Espírito - porque o Espírito
já estava dentro do Sopro - e o Sopro se instala dentro da cova que não é um buraco
e sim um ponto vazio. Um ponto vazio que
é infinito. Essa cova se revela após o
atingimento do nível de Fixação: é o próprio Absoluto. O Absoluto é o ponto que se abre.
Essa grande viagem é a viagem do
Mistério. Como entrar nessa viagem? Através do extremo Vazio e da extrema quietude,
todos os seres podem retornar ao princípio.
Assim, Ele diz:
Apesar da
diversidade dos seres,
Cada um deles
pode retornar à sua raiz
Apesar da personalidade, da cultura, da
raça, da característica pessoal, apesar de tudo
Cada um deles
pode retornar à sua raiz
O regresso à
raiz se chama ‘quietude’
Quietude se
chama ‘retornar a viver’
A pessoa volta a viver o infinito, a
vinda infinita que volta ao Vazio e passa a abraçar o universo inteiro dentro
de si.
O universo, segundo o Taoísmo, não tem
princípio nem fim. O universo é a
própria infinitude dentro do Absoluto.
Abraçar a vida e retornar a viver
O retornar a
viver se chama ‘constância’
A constância não tem princípio nem fim
- é constância. Constância significa
viver a infinitude, viver todos os seres como um só, viver todos os lugares com
um só. Viver todos os momentos como um
só. Viver o universo como a si
próprio. Isso é constância. Isso é infinito.
Conhecer a constância se chama
‘Iluminação’ - A pessoa passa a ser
Iluminada.
Desconhecer a
constância é a impropriedade
Que provoca o
infortúnio
Uma pessoa que não consegue compreender
e não consegue alcançar a infinitude do ser, todo o tempo estará se debatendo
contra mil coisas.
Quando vivemos a infinitude, percebemos
que a vida e a morte são mera ilusão, são infinitos pontos, são infinitos
acontecimentos simultâneos que existem abraçados a um grande Vazio que é o
Absoluto. Essa é a grande libertação.
O Taoísmo é uma Tradição que traz em si
duas características: ao mesmo tempo que é uma tradição mística é também uma
tradição existencial.
Existem religiões que se ligam mais às
questões que surgem a partir de uma crise existencial: de onde viemos? O que acontecerá conosco, com nossas
vidas? Por que estamos aqui?... As pessoas não suportam as próprias crises
existenciais e são levadas a uma busca metafísica ou a solução de suas
angústias de vida. isso pode gerar um
caminho religioso.
Outras Tradições - as místicas - são
aquelas que querem compreender a vida: a vida é maravilhosa e por detrás dessa
vida maravilhosa devem existir universos maravilhosos... É preciso compreender,
viver não apenas o mundo físico como também o mundo paralelo, o mundo das
luzes, dos anjos e dos arcanjos... Isso é a busca do místico.
O Taoísmo trabalha com esses dois
aspectos juntos. O misticismo significa
os infinitos universos e a necessidade da busca existencial é exatamente a de
romper esses universos para se alcançar o Vazio. Dessa maneira, o Taoísmo trabalha com ambos
os aspectos.
Aquele que atinge o Vazio, abraça o
mistério do universo, abraça o misticismo mas ao mesmo tempo, rompe a barreira
da crise existencial através da viagem da quietude.
Nós estamos dentro da vida. apenas que não temos o domínio da vida. Podemos ter o domínio da vida quando estamos
fóra dela. Aí então é possível tornar a
ter domínio da vida. Não se pode
carregar uma xícara se estivermos dentro dela.
Se somos limitados pelos fenômenos do mundo que para nós é ilusoriamente
representado pelo início, o durante e o fim
- e não temos domínio sobre o anterior, ao início e sobre o depois do fim - nos
iludimos, nos sentimos limitados e não dominamos o destino. Só teremos o domínio sobre o destino se estivermos fóra dele. E se estivermos fóra do destino, perceberemos
que não existe um destino e sim uma infinitude e se o fim não existe, é mesmo o
infinito. Então, passaremos a possuir de
verdade a vida que é a própria infinitude.
Para o Taoísmo, a vida é igual e
infinita. A infinitude é igual, é
constante, é eterna. A vida é
eterna. Queiramos ou não, conseguindo
sentir isso ou não.
Quem conhece
a constância é abrangente
Existe uma frase em outro texto Taoísta
que diz assim: O homem que é capaz de
viver a constante quietude e transparência,
tanto o céu quanto a terra retornarão a ele.
Quando o homem possui uma quietude
interior, uma transparência interior, ele é tão abrangente que é capaz de
abraçar o mundo inteiro. Até o céu e a
terra cabem dentro dele, simbolicamente.
Na prática mística, uma pessoa que
possui a transparência e a quietude
interior, tanto a força do céu quanto a força da terra podem penetrá-la e
movimentá-la e essa pessoa não será limitada.
Quando o Espírito do homem não é
limitado pelo corpo físico, o Espírito e a Energia do céu e da terra podem
penetrá-lo e então acontecerá uma grande transmutação. Esse é o Recolhimento da Matéria-Prima:
esvaziar para receber.
Quem é
abrangente pode ser coletivo
Coletivo é aquilo que funciona para
tudo e para todos. Não é verdade que o
universo - o coletivo - carrega todo mundo?
No misticismo chinês existe um conceito
chamado de a Tradição do Grande Veículo e do Pequeno Veículo.
No Pequeno Veiculo cabem duas, três, no
Maximo, seis pessoas. No Grande Veículo,
cabem cinqüenta, cem pessoas.
Igualmente, no caminho espiritual,
existem os grandes e pequenos veículos.
As pessoas do Pequeno Veículo são
pessoas que se preocupam com o seu bem-estar, sua melhora espiritual, sua
libertação, seu rompimento com o sofrimento, meditando, praticando, tudo isso apenas
para si mesmas, sem se preocuparem com os outros.
No Grande Veículo, as pessoas que
tentam buscar sua Iluminação o fazem na intenção de abranger os outros. Portanto, o conceito do caminho do Grande
Veículo não é egoísta, é constante e tem abrangência, é o coletivo que abraça
todos os seres, ou pelo menos, o máximo que puder atingir.
O coletivo tem o poder da criação...
que abraça todos e pode levar a vida para todos. É criador, traz o poder da criação.
A criação tem
o poder do céu
Esse é um poder cósmico e não é mais um
poder individual: está em toda parte e abraça todos os seres.
O céu, ou seja, o cosmos, contém dentro
de si o poder do Tao, o poder do Absoluto:
O céu tem o poder do Tao
O Tao tem o poder do eterno - O Tao é o Absoluto e tem o poder do eterno.
Assim (quem alcança
este estado)
Mesmo
perdendo o corpo, não irá perecer.
A diferença que existe entre o Homem
Sagrado e nós é que o Homem Sagrado um dia deixa seu corpo e quando isso
acontece, ele está em toda a parte.
Quando nós deixamos nosso corpo, nossa alma compacta transmigra
para outro corpo e começa tudo novamente.
Para o Homem Sagrado, a morte física lhe aumenta a força, não
reduz. Para quem não é Iluminado, a
morte física reduz a força porque resta apenas a alma que precisa da força do
espírito, que desapareceu. É preciso
então encarnar em outro corpo para se re-adquirir essa força e dependendo do
Karma de cada um, esse corpo poderá ser melhor ou pior e assim segue o destino.
Por isso, Ele diz:
Mesmo
perdendo o corpo, não irá perecer.
Ao contrário, engrandecerá.
Esse é o conceito da Imortalidade.
É preciso não confundir Imortalidade
com a tentativa de fazer permanecer o corpo físico. Na Imortalidade, o corpo imortal é outro
corpo, é outra maneira de ser. Nós
chamamos de Corpo Solar ou Espírito Solar.
Um corpo feito de luz irradiante, um corpo de Consciência que quando
concentra pode até se materializar e quando se dissolve pode estar dentro de
cada um de nós.
Dessa maneira, Lao Tse e todas as
outras divindades estão dentro de nós.
Quando olhamos para o altar, estamos
olhando para o Sagrado que existe dentro de nós, como um espelho que nos diz:
Eu estou mostrando a você quem você é realmente. Não se esqueça que você é o Sagrado
Guerreiro, que você é um Mestre Ascensionado, que você é a própria Sabedoria,
que você caminha na Virtude e na Imortalidade.
Não se esqueça que todo o Sagrado está dentro de você, para você
despertar e renascer.
...............
foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 16
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 27 de setembro de 1994
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching