TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 31
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 21 de fevereiro de 1995
Capítulo 31
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso,
Os que guardam o Caminho nas as compartilham
O Homem Venerável, na residência, honra o esquerdo
Na utilização da arma, honra o direito
A arma é o recipiente da desventura
Que não é o recipiente do Homem Venerável
Seu uso é apenas para o inevitável
O superior é como uma chama serena
Por isso não se maravilha
Ao maravilhar-se certamente teria prazer
Tal prazer mata o homem
Aquele que tem prazer em matar
Não pode triunfar sob o céu
Por isso,
Assuntos venturosos valorizam o esquerdo
Assuntos funestos valorizam o direito
Sendo assim,
O general-auxiliar encontra-se à esquerda
O general-superior encontra-se à direita
Suas palavras são tratadas como
rito fúnebre
Matam muitas pessoas
Por essas, chora-se de tristeza
A guerra vencida é tratada como rito fúnebre.
Este Capítulo fala de duas maneiras de
agir no mundo: a de agir através da força e a de agir através da
suavidade. De agir e de realizar as
coisas ativamente ou passivamente. De
saber fluir e contemplar, de contemplar e fluir de acordo com o momento. Ou de impor, de insistir sobre uma
realização, conforme a força da vontade.
Lao Tse nos fala dessas coisas, com as
características
Da
ação da força
Da
ação da suavidade
De uma forma geral, o Taoísmo valoriza,
dentro das circunstancias normais e naturais, a ação da Suavidade. Ou seja, o Taoísmo nos diz que é melhor
sermos receptivos, contempladores e observadores em relação às coisas que estão
acontecendo para tentarmos fluir de acordo com os fatos, naturalmente.
Também Lao Tse nos diz que existem
momentos, sob certas circunstâncias, que, apesar de nossa suavidade interior,
de nossa receptividade e de nossa naturalidade perante os fatos, muitas vezes a
força externa é desequilibrada e se impõe ou impede nosso empreendimento, nosso
caminho. Neste momento, é preciso que
saibamos utilizar a força para podermos romper as barreiras, para podermos realizar
aquilo que é natural.
O uso da força não é para realizar algo
que não seja natural. Quando o natural
não é possível de ser realizado, a força pode ser utilizada de forma moderada,
cautelosa e consciente para que se possa permitir a restauração do empreendimento
da naturalidade, do caminho da naturalidade.
Neste Capítulo, Lao Tse nos alerta
dizendo que, apesar de existirem dois caminhos, ambos estão corretos. Embora, sempre que dentro do possível,
devemos seguir o caminho da Suavidade - porque é um caminho mais seguro.
E quando for necessário que utilizemos
o caminho da força, devemos ser cautelosos, sem prazer de exercer a força. Ele nos diz que se o caminho da força for
realizado através do prazer, ele pode se tornar nocivo e destrutivo.
Em nossa prática de meditação, também
temos duas escolhas.
A prática da Suavidade é simplesmente
diluirmos a Consciência dentro do Sopro - o fluxo natural de energia que entra
e sai do nosso corpo. E, de preferência,
que isto seja realizado de uma maneira absolutamente e profundamente intuitiva:
fechando os olhos e já nos sentindo dentro de uma energia que nos envolve, que
expande, que encolhe, que flui para dentro e para fóra; e em poucos minutos,
sentimos nossa Consciência se diluindo dentro do Sopro, que é um sopro
energético e que não é mais a respiração física. Essa é uma maneira intuitiva de se entrar na
mediação.
Se não conseguirmos fazer isso - porque
o racional está muito ativo, o corpo tenso - além de tentarmos relaxar o corpo
físico, tentamos colocar nossa mente dentro do ar que respiramos, o ar físico,
prestando atenção em como o ar está entrando e saindo naturalmente dentro do
corpo.
Então, se coloca a consciência dentro
desse ar. Como o ar não tem forma, a
consciência se dilui dentro desse ar, perdendo a noção da forma.
Aos pouquinhos, com o aprimoramento da prática, naturalmente iremos
perder a noção do limite físico e ultrapassaremos o nível da Consciência dentro
do Sopro no nível físico para entrarmos numa dimensão mais sutil do Sopro que é
a energia vital. Entramos, assim, num
estado bem mais profundo, um estado onde a nossa Consciência e a Energia Vital
se fundem num só elemento. Esse estado
natural só é adquirido através de profundo relaxamento físico, de relaxamento
emocional, mental e respiratório.
Esse profundo ‘desarmamento’ é que
permite rompermos com a barreira da forma e permite nossa consciência entrar no
mundo da não-forma.
Essa prática dentro da meditação é o
que chamamos de Caminho da Suavidade.
Por que Caminho da Suavidade? Porque, se usássemos força para nos
concentrar e entrarmos dentro do Sopro - seja força física, mental, emocional,
afetiva, armando a energia - menos conseguiríamos entrar dentro do Sopro. Ao contrário, temos que nos desarmar,
renunciar, esquecer o corpo, esquecer a emoção, deixando-a para trás, ir nos
desarmando até entrarmos no Caminho da Suavidade.
Muitas vezes - apesar de querermos realizar o Caminho da
Suavidade -, nos encontramos com interferências que podem ser externas ou
internas, vindas de dentro ou fora de nós.
Pessoas falando na rua, buzinas, telefone... ou coisas acontecendo em
nosso corpo, formigamentos, coceiras, sensações físicas várias. Podem ser os pensamentos que não param, cenas
que surgem incessantemente em nossa mente ou emoções que nos perpassam. Todos esses fatores não nos permitem deslizar
suavemente para dentro do universo da não-forma e do Sopro. Nessa hora, utilizamos a técnica de contar o
número de respirações. Não se controla a
respiração mas se conta a respiração a cada saída sua, sempre de um a dez, um a
dez, um a dez, um a dez, repetidamente.
Essa contagem trará a Consciência para um único ponto. Chega então uma certa hora em que não estamos
mais ‘ligados’ e as coisas vindas de fora já não mais perturbam a nossa
concentração.
Fazer a contagem da respiração, nos
traz mais energia e concentração contra a dispersão e o cansaço. Fazendo a contagem na expiração, estaremos
deixando sair, jogando fora, coisas que temos apego. Normalmente, vivemos cheios de emoções, de
apegos, de pensamentos; e, ao fazermos a contagem na expiração, expulsamos
todas essas coisas.
No entanto, se contarmos, estaremos
usando o caminho da força. Algumas
escolas de outras religiões usam a meditação da contagem. Nisso se consegue uma hiper concentração, com
o domínio da mente, com o propósito de aumentar a potencialidade da consciência
e da mente. Não existe aí a
dispersão. Mas, por outro lado, esse não
é o Caminho da Suavidade.
Nosso propósito é tomar o Caminho da
Suavidade - que é o caminho da contemplação, da observação do curso natural das
coisas, nos colocando nele sem agredirmos a natureza, nem às outras pessoas,
nem a nós mesmos.
Apenas utilizamos o caminho da força
quando percebemos que existe algo que impede o Caminho da Suavidade, o caminho
da naturalidade. A força só pode ser
usada didaticamente, a fim de restaurar a possibilidade do Caminho da
Suavidade.
E, como podemos ver, todo esse
pensamento de Lao Tse está encerrado neste Capítulo.
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso,
Os que guardam o Caminho nas as compartilham
O que é recipiente? É um receptor onde se coloca algo. É o veículo de recepção.
“boas armas’ são armas
afiadas que, em linguagem simbólica, podem significar muitas coisas, como por exemplo, a esperteza, a mente muito
precisa e analítica, capaz, extremamente afiada, convencida, cortante como as
armas. Tudo isso é cruel e atrai
desventuras para a vida. As lutas nos
trazem traumas, complexos que nos deixam amargurados. Essa amargura é a semente enraizada da
transmigração que fica profundamente estacada em nossa alma e que carregamos de
uma vida para outra. Dessa maneira, ao
nascermos, trazemos sentimentos e personalidades que são a continuidade, o
reflexo dos traumas e das amarguras anteriores.
Por isso, Lao Tse diz:
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso,
Os que guardam o Caminho nas as compartilham
“Os que guardam o Caminho’ são aqueles
que doam seu coração ao Caminho, à busca espiritual. O Caminho é o Tao. E para isso não se utilizam armas apesar de
estarem conscientes de que elas existem porque fazem parte do nosso componente
existencial.
No segundo verso, Lao Tse nos fala da
utilização da arma. Ele diz:
O Homem Venerável, na residência, honra o esquerdo
Na utilização da arma, honra o direito
No I Ching, o Homem Venerável é
traduzido como o Homem Superior, o Homem Sábio, aquele que é respeitado e
venerado. A sabedoria é o reflexo da
vivência do Tao. O Homem Venerável é
aquele que é capaz de seguir o Caminho da Realização através de uma consciência
praticada em vida, no cotidiano, de uma maneira iluminada, lúcida, que faz com
que a pessoa possa cada vez mais alcançar uma dimensão de compreensão mais
ampla, mais sutil e mais perfeita. E,
como conseqüência dessa ampliação da consciência, desse aperfeiçoamento da
consciência e da vivência prática, do cotidiano, todos os seus gestos são
sábios, naturalmente. E por isso, Ele é
venerado e respeitado como Homem Superior.
“na residência” é o contrário
da ‘utilização da arma’.
A utilização da arma é uma atitude que permite a ação clara
e objetiva. ‘na
residência’ é uma atitude passiva. Na residência, fica-se no
interior. Na utilização da arma, sai-se para
fora.
O estado passivo, no recolhimento, na
interiorização, honra-se o lado esquerdo.
O lado esquerdo de nosso corpo está relacionado com o lado direito do
nosso cérebro. O lado direito do cérebro
é o lado intuitivo, contemplador, suave, Yin, da nossa vida. O lado esquerdo é ligado ao racional, ao
ativo, à ação, à objetividade.
Essas duas frases deixam bem claro que
na hora da ação temos que ter objetividade.
Na hora da inação, temos que ter a subjetividade. É preciso sabermos trabalhar as duas coisas.
Porém, Ele faz um alerta:
A arma é o recipiente da desventura
Que não é o recipiente do Homem Venerável
A ação sempre pode trazer uma
desventura. O Homem Sábio permanece mais
interiorizado do que exteriorizado.
Permanece mais intuitivo do que racional. Mais contemplador do que fazedor.
Seu uso é apenas para o inevitável
‘Seu uso’ significa que
pode ser usado. Devemos tentar resolver
as coisas através da receptividade e da intuição. Quando a intuição não resolve, recorre-se
então ao racional.
No I Ching sempre se diz que, diante de
uma situação que foi perguntada ao Oráculo, se é capaz de usar a intuição,
recebendo e captando a resposta e conseguindo solucionar o problema
diretamente. Por mais que o Oráculo
trabalhe com a intuição e com o inconsciente, ele usa o racional através da
contagem do número de varetas, do cálculo matemático do número para as Linhas,
procura-se o texto no Livro e se tenta interpretar o Hexagrama e o
Julgamento. E para tudo isso, se usa o
racional. A plena realização da intuição
não está funcionando. Nossa capacidade
direta de solucionar os problemas, não estará trabalhando.
Por isso, Lao Tse diz:
Seu uso é apenas para o inevitável
Ele continua:
O superior é como uma chama serena
Por isso não se maravilha
A chama serena é um fogo que
não se agita, que não faz sombras, é apenas uma luz branda irradiando para
todas as direções. Essa luz serena é
análoga ao lado esquerdo. É uma
consciência receptiva, branda, uma luz serena que irradia, que traz a
consciência de todas as coisas que estão em torno. É como se fosse um sol irradiando luz
suavemente para todas as direções, iluminando tudo, sabendo tudo o que está
acontecendo e capaz de acolher em si todas as coisas.
Imaginemos que nossa consciência é uma
luz que irradia para todos os cantos dessa sala, sem balançar e sem criar
sombras. Tudo o que está acontecendo na
sala é o que está acontecendo dentro de nós porque nossa luz cobre tudo. Todas as consciências do mundo são trazidas
para dentro de nós. E isso não significa
que nos tornaremos um buraco negro sugando tudo o que está em torno. Apenas temos que nos transformar em uma luz
suave e branda que abraça todas as coisas.
Aí entra a sutil interpretação dessa receptividade. Percebemos então que a receptividade não é
tão passiva. Esse Yin não é tão Yin,
também é Yang: porque é uma consciência
que irradia.
De fato, fisicamente, nosso lado
esquerdo está relacionado com o intuitivo.
Qualquer doença que apareça nesse lado está relacionada com o cérebro
direito. O lado direito do corpo está
relacionado com o hemisfério esquerdo do cérebro. Desde a antiguidade, o homem já sabia que os
problemas dos lados esquerdo ou direito do corpo estão relacionados com os
lados intuitivo e racional. Hoje a ciência
moderna chega à conclusão sobre os dois hemisférios do cérebro apenas confirmando
o que sempre se soube na história da humanidade, pelos homens sábios da
antiguidade.
E Lao Tse, por saber disso, usa o termo ‘esquerdo’ para
representar não somente o lado esquerdo do corpo como também todo o ‘esquerdo’
que existe no universo. Não
necessariamente o esquerdo físico, mas Ele fala de todo o universo da
irradiação da consciência suave, brande e invisível. A consciência invisível está em toda a parte
e abraça de maneira suave todas as coisas.
O Hexagrama Ch'ien, o Criativo,
significa a luz invisível que está irradiando.
É uma consciência invisível, irradiante que ao mesmo tempo é Yin e Yang.
Por ser uma luz serena - que não
balança - ela ‘não se maravilha’. Ela não é
expressiva, não é uma luz ofuscante, que se evidencia. Assim, essa luz não pode ser caracterizada
como talentos ofuscantes, mentes afiadas, pensamentos fortes e violentos. É uma consciência que se realiza, apenas que
de maneira que não chame a atenção.
O lado que chama a atenção é o lado
direito. O lado que não chama a atenção
é o lado esquerdo.
Por isso, Lao Tse nos fala na
importância da interiorização, no processo de contemplação que nos permite
desenvolver essa consciência intuitiva, que é uma consciência irradiante, suave
como uma luz branda que abraça todo o universo, que tem o universo dentro de
si, sem precisar trazê-lo para dentro de si.
Portanto, por não trazer o universo dentro de si, essa luz não é
egoísta, não tem uma natureza egoísta.
Por isso Ele diz que essa superioridade
é como se fosse uma chama serena.
Em seguida, Ele diz:
Ao maravilhar-se certamente teria prazer
Tal prazer mata o homem
Nesse momento, Lao Tse está jogando com
a suposição: aquele que possui a chama serena não se maravilha, não é
ofuscante. Mas, e se assim não
fosse? Ao se maravilhar, certamente
teria prazer.
As pessoas brilhantes exalam o
prazer. Esse prazer se torna a semente
da obscuridade que vai realimentar-se e vai gerar a necessidade de ser
alimentada novamente. E isso vira um
processo interminável. A luz deixa de ser
branda e passa a ser mais ofuscante, gerando muita luz e muita
obscuridade. Cria-se, assim, a
polarização: ora o Yin, ora o Yang, ora o Yin, ora o Yang. Sem vento, a chama da vela fica parada,
equilibrada. Com muito vento, a chama da
vela balança e pode apagar.
Ao nos maravilhar e ao nos tornar
excessivamente ofuscantes - com esses choques - produzimos uma série de
conseqüências. A consciência ora fica
muito brilhante, ora obscura, nossa emoção fica ora eufórica, ora depressiva. Ora ficamos animados, ora ficamos tristes.
Em outro Capitulo do Tao Te Ching, Lao
Tse nos dia que “alegria e tristeza, nos trazem temores”. Quando temos a alegria, temos medo de
perdê-la. Quando vivemos a tristeza,
buscamos a alegria. Na alegria, trazemos
a sombra do medo de retornarmos à tristeza.
Isso traz sofrimento e pode se enraizar profundamente na pessoa.
Devemos ter uma natural consciência da
nossa natureza pessoal. Devemos não
alimentar o orgulho e a vaidade nem reprimi-los - porque isso seria a ação ao
inverso. Devemos procurar o caminho da
quietude, do não-julgamento, da meditação, tentando levar a nossa consciência
para a quietude.
A prática diária da meditação vai
dissolvendo o caminho anterior da artificialidade. É preciso que saibamos construir um novo ego
e não tentarmos matar ou sufocar nosso antigo ego. Na verdade, estamos construindo um novo eu a
cada momento, e nos renovamos fisicamente, renovamos nossas células, nossas
emoções, nosso espírito, nossa alma. Não
devemos nos preocupar com o corte do velho eu e sim com o investimento na
construção de um novo eu. Um dia, então,
olharemos para trás e veremos uma série de coisas que eram julgadas como
não-superiores, não-iluminadas ou desagradáveis, já não mais fazendo parte de
nossa vida. Tudo isso sem doutrinações,
sem lutas, sem cortes, apenas desaparecendo.
Não devemos lutar contra os fantasmas do passado e sim tecer uma nova
vida de hoje para amanhã.
Aquele que tem prazer em matar
Não pode triunfar sob o céu
Com o prazer, não podemos triunfar no
mundo. Esse prazer interrompe nosso
destino, nossa vida, nossa consciência, nossa luz.
“matar” não significa a matança
física. Quando perdemos a consciência, a
lucidez, a sensibilidade, perdemos os sentimentos verdadeiros e profundos e
assim, estamos morrendo de alguma maneira.
Esse é o prazer que mata. E aquele que
tem prazer em matar, não triunfa. Aquele que
tem a obscuridade em sua luz, por egoísmo, não consegue abraçar todos os seres
naturalmente portanto essa pessoa estará se interrompendo, se matando, e não
pode triunfar.
Esse triunfo não significa conquistar
coisas usando a força mas sim deixar a luz naturalmente abraçar a todos de uma
maneira invisível. Assim, todos serão
beneficiados recebendo essa luz e não se aperceberão disso.
Em outro Capítulo, Lao Tse nos diz que
o Homem Sagrado beneficia os homens sem que os homens percebam a Sua presença e
o bem que Ele faz.
Em seguida, Ele diz:
Por isso,
Assuntos venturosos valorizam o esquerdo
Assuntos funestos valorizam o direito
‘assuntos funestos’ significam o
mórbido, a alteração radical do Yin e do Yang.
O Taoísmo é chamado de O Caminho da
Imortalidade. Imortalidade, a Vida é o
Caminho da Constância, o Caminho da Infinitude.
Nele, o dia e a noite estão no mesmo ponto, não há dia nem noite. A consciência e a inconsciência estão no
mesmo ponto. O racional e o intuitivo
estão no mesmo ponto. O Yin e o Yang são
a mesma coisa, estão no mesmo ponto e tornam-se um terceiro elemento.
Esse estado é um estado venturoso. Nele, não há vida nem morte.
Quando vivemos na euforia e na
depressão, na alegria e na tristeza, no dia e na noite da nossa consciência, da
nossa saúde física, emocional e mental, o que vivemos?
Vivemos uma vida e uma morte, uma vida
e uma morte, constantemente. Assim não encontraremos
a transcendência e a libertação.
Sendo assim,
O general-auxiliar encontra-se à esquerda
O general-superior encontra-se à direita
Suas palavras são tratadas como
rito fúnebre
A guerra é, às vezes, inevitável. Também às vezes, se não nos defendemos,
morremos. As vezes, se não forçamos a
natureza, morremos. No entanto, a guerra
vencida deve ser tratada de uma maneira triste porque houve um grande
sacrifício.
Na China antiga, quando um rei e um
general venciam uma guerra, não era permitida a realização de festejos mas sim
eram realizados cultos de tristeza, tristeza por aqueles que morreram nas
batalhas. Não eram festejados os que
sobreviveram e conquistaram a vitória. A
vitória conquistada através da força onde muitas vidas foram apagadas, não
merecia ser festejada. Mais tarde, tais
costumes foram mudando.
Isso prova como o Taoísmo valoriza
essencialmente a vida, porque sem a vida, não há como realizar o Caminho. O Caminho só existe se o homem O
realizar. Dessa maneira, a vida é muito
importante.
O termo general-superior é um termo que
já existia historicamente mesmo antes de Lao Tse escrever esse texto. Na corte, o imperador tinha dois generais: um
auxiliar e outro superior. O general-auxiliar
é
superior hierarquicamente (apesar dos termos) ao general-superior. O general-superior é aquele que impõe. O general-auxiliar é aquele que fala no
ouvido do imperador e o imperador dá a última palavra.
O general-auxiliar é aquele que auxilia
diretamente a decisão, ou seja, a palavra final do rei. Rei é a Consciência do homem.
O braço direito, que é o
general-superior, impõe com força.
A consciência que nos auxilia é o
instrumento que auxilia a consciência.
Imperador é Rei. Rei é o
governante do reino. Nosso corpo é o reino, nossos órgãos interiores são os
ministérios, nossas células são o povo e o Rei é a consciência.
A Consciência tem dois auxiliares:
A intuição
O racional
A consciência intuitiva e a consciência
racional são os auxiliares da Consciência pura, aquela que decide em última
instancia - que é o Rei.
No entanto, aquele que deve nos
auxiliar em primeiro lugar é a intuição.
Aquele que deve nos auxiliar em segundo
lugar, é o racional. O racional nos
ajuda a impor a realização ou o resultado na vida.
Mas quando o racional toma atitude ‘suas palavras
são tratadas como rito fúnebre’. E por
que? Porque o racional, as ações e as
atitudes muito engenhosas e afiadas ‘matam muitas pessoas’, sacrificam
muitas vidas.
Em linguagem simbólica, dentro da vida
de uma pessoa, existem muitas outras vidas.
Podemos viver muitas vidas, falando de uma maneira poética. Falando de uma maneira mais estreita, as
inúmeras vidas são os inúmeros segmentos e realizações fragmentadas.
Quando ficamos muito racionais,
sacrificamos muitas coisas, não conseguimos ouvir. O racional segue uma lógica, a lógica tem uma
estrutura, a estrutura combina com outras estruturas.
Com a intuição, podemos ver todas as
estruturas, sem que precisemos delas.
Todas as estruturas da lógica estarão dentro de nós, sem usarmos a
lógica.
Quando optamos pela lógica, temos que
usar uma lógica. Uma lógica traz a outra
e isso traz confusão, traz a não-concentração, a dispersão e a necessidade do
alinhamento das idéias.
Por isso, Ele diz:
Matam muitas pessoas
Por essas, chora-se de tristeza
A guerra vencida é tratada como rito fúnebre.
................
A riqueza do Tao Te Ching está em sua
leitura feita como se estivéssemos descascando uma cebola. Num primeiro momento, parece um
aconselhamento comum sobre a vida cotidiana, sobre a vida política, sobre a
maneira de governar, sobre como devemos nos comportar.
Porém, num nível mais profundo, o Tao
Te Ching se mostra uma obra a entrar em dimensões mais e mais profundas, sem
fim... e aí reside o seu valor. É um livro sintético, pequeno, com 5 mil
palavras e toda a essência do Taoísmo está contida nele.
É um livro para ser lido e relido, e
lido e vivido.
Vive-se o primeiro nível e depois o
segundo nível e assim em diante, num caminho de integração que não tem
fim. Por isso, é o Caminho da
Infinitude. O Caminho da Infinitude é o
Caminho da Imortalidade. O Taoísmo é o
Caminho dos Imortais, o Caminho da Imortalidade.
..............
foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 31
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 21 de fevereiro de 1995
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching