TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 38
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 11 de abril de 1995
Capítulo 38
A Virtude
Superior não é virtude
Assim, possui
a virtude
A Virtude
Inferior não perde a virtude
Assim, não
possui a virtude
A Virtude
Superior é não-ação
Pois não
utiliza ação
A Virtude
Inferior é ação
Que tem uso
da ação
A Bondade
Superior é ação
Porém não
utiliza a ação
A Justiça
Superior é ação
Que tem uso
da ação
A Suprema
Polidez é ação
Que, se não
obtém correspondência
Então, repele
usando o braço como reação
Por isso, à
perda do Caminho segue-se então a virtude
À perda da
Virtude, segue-se então a Bondade
À perda da
Bondade segue-se então a Justiça
À perda da
Justiça segue-se então a Polidez
Assim, a
Polidez é o empobrecimento da fidelidade e da confiança
É o princípio
da confusão
Aquele de
conhecimentos avançados,
Como a flor
do Caminho,
É o princípio
da estupidez
Por isso, o
Grande Homem
Coloca-se no
consistente e não se coloca no rarefeito
Habita no
Fruto e não habita na Flor
Por isso,
afasta essa e persiste naquele.
Este Capítulo fala da intenção e da não-intenção.
Um dos conceitos fundamentais do
Taoísmo é a não-intenção. A não-intenção
é fazer as coisas não intencionalmente.
Mas como? (Isso pode gerar uma
série de polêmicas). Como é possível
fazer algo não intencionalmente? O que
significa agir e viver não intencionalmente?
Agir e viver não intencionalmente é
agir e viver sem colocar um interesse especial ou específico em troca do que se
faz e vive.
Na ação intencional, a troca que se
pretende pode ser social ou material.
Também pode ser com intuito de algum ganho espiritual.
Na verdade, a ação em si é muito
semelhante tanto no ato não-intencional como no ato com intenção. O importante, então, é se trabalhar a
intenção observando a ação.
Antes de tudo, é preciso entender que
ação não-intencional não significa não fazer nada ou não-ação literal. No entanto, para que não haja ação
intencional, é preferível não haver ação.
Mas a ação se faz necessária e
assim, a intenção é que deve ser trabalhada.
Quando alguém precisa de ajuda e nós
podemos ajudar, devemos fazer a ação (de ajuda). Se essa ajuda é sem intenção de se ter algum
ganho, é o ideal. Mas, se isso for
impossível (porque o ego é muito forte), ao menos não devemos deixar de agir -
mesmo que tenhamos intenção de prestígio social ou espiritual. Não devemos deixar de ajudar como desculpa
para mantermos nossa consciência limpa desses conflitos.
Ajudar significa beneficiar alguém -
mesmo que a intenção seja também a de benefício próprio - material, social ou
espiritual. Não ajudar significa não
beneficiar o outro.
Intenção é interesse. Intenção e julgamento são questões fortes,
dentro de nós: culpa, remorsos, auto-crítica - tudo isso é julgamento. Portanto, intenção e julgamento estão enraizados
dentro de nós - não apenas nessa vida mas nas vidas anteriores. Tudo vem com a Alma e tudo é um infinito
passado que tem que ser despojado.
Uma ação na prática, positiva - mesmo
que não seja espiritualmente ideal -, por ser positiva, nos renderá algum Karma
positivo, algum resultado que projete um melhor desenrolar da vida no
futuro. O bom Karma acumulado tem menos
laços, menos dependências emocionais, mentais e sociais e nos torna mais
espontâneos. Dessa maneira, nossa ação
tem que, pelo menos, ser correta.
No Taoísmo, o primeiro passo a ser dado
é o de ‘cair na rea’l. Dessa maneira,
se agirmos com intenção temos que ter consciência dessa nossa atitude. Se temos atitudes viciadas, devemos ter a
consciência de que não temos controle sobre esses vícios. Sempre temos que ter a consciência do que
estamos fazendo.
‘Cair na real’ significa ver a própria
real situação, a real necessidade e real ação nossa. Aceitando a realidade, a transformação
torna-se mais fácil e vem com o tempo, naturalmente.
A transformação depende da
conscientização: a clareza sobre quem somos e como somos no cotidiano. Também depende das práticas místicas: cantos,
mantras, meditação. Essas práticas
possuem uma força invisível, vibrante e
atuante sobre nós, sem que percebamos.
São instrumentos que vão limpando nossos canais interiores e nossa vida
acaba fluindo melhor. As práticas
espirituais têm um poder purificador.
Como a conscientização e com a prática
espiritual, nossa transformação acontece de uma maneira natural e
purificadora. E essa transformação não
projeta sombras, não deixa resíduos que permaneçam e que voltem à ação depois
de um certo tempo.
A Virtude
Superior não é virtude
Assim, possui
a virtude
A Virtude
Inferior não perde a virtude
Assim, não
possui a virtude
Mestre Maa diz que uma pessoa na ação e
na inação (na quietude) naturalmente está unida ao céu e à terra. A pessoa é verdadeira e espontânea, ao
mesmo tempo. dessa maneira, não traz para si um valor que
se chama A Virtude. Assim, quem não tem
o valor da virtude dentro de si, todas suas atitudes virtuosas não valem como
virtudes e sim como ações naturais.
Por isso, Ele diz:
A Virtude
Superior não é virtude
Assim, possui
a virtude
Na virtude inferior, as pessoas têm em
mente seus valores em relação ao que seja certo ou errado. No entanto, Lao Tse nos diz que se não
tivermos esse valor dentro de nós, então teremos a verdadeira virtude.
Ele diz que o homem iluminado e o homem
obscuro são muito parecidos; que o homem sábio e o homem ignorante são muito
parecidos. Isso porque o Homem Sábio tem
atitudes espontâneas e age, aparentemente, como uma pessoa ingênua, ignorante
até.
Para aquele que é realmente ignorante,
é preciso haver o despertar da consciência - a luz. Com maior lucidez de mente, não se cometem
inconveniências.
A consciência - quando tem lucidez -
não tropeça, não premedita, não julga.
Mestre Maa diz que existem dois tipos
de pessoas com maior facilidade para alcançar a iluminação: uma delas é aquela
pessoa que é naturalmente boa, cumprindo um Karma positivo de vida, que tenha
nascido com menos laços, com menos peso.
O Karma faz com que nossa Alma fique
presa e nos faz sentir responsáveis em relação às pessoas e aos fatos da
vida. Assim, não temos liberdade em
função desses laços Kármicos, negativos.
Nos Karmas mais positivos, a Alma
conduz sua vida sem a prisão dos laços.
Assim, praticando espiritualmente, a pessoa tem toda a possibilidade de
alcançar a Iluminação, com liberdade e espontaneidade.
O outro tipo de pessoa com facilidade
para alcançar a Iluminação é a pessoa ignorante, sem instrução, aquela que vive
precariamente. Essa pessoa não pensa e
não questiona. Assim, praticando
espiritualmente - mesmo que sem consciência disso - tem também a possibilidade
de se realizar.
Nós, letrados e bem educados
socialmente, somos carregados de pesos emocionais e psíquicos e trazemos muita
confusão conosco para com pureza e simplicidade entrarmos no silêncio, na
pratica espiritual. Nosso pensamento não
pára, nossa emoção não nos deixa e tudo isso representa um Karma negativo.
Um exemplo de pessoa pura e ignorante
foi o Sexto Patriarca do Zen Budismo.
Ele era um lenhador pobre e analfabeto.
Um dia, resolveu iluminar e foi procurar o mosteiro do Quinto
Patriarca. Lá, foi aceito como monge e
iniciou como copeiro, sem nunca ter estudado nada teoricamente. No entanto, ele alcançou o mais alto grau de
realização dentro do Budismo Zen e se tornou o Sexto Patriarca. Depois de sua Iluminação, aprendeu a ler e a
escrever e passou a discutir sobre todos os Sutras que ele antes não havia
estudado. Reformulou o Budismo Zen de
uma maneira revolucionária e seus ensinamentos são considerados os mais
importantes. Assim, com a pureza de sua
ignorância, ele conseguir se realizar.
A Virtude
Superior é não-ação
Pois não
utiliza ação
A Virtude
Inferior é ação
Que tem uso
da ação
Ação é atitude, método, gesto.
A não-ação é agir não através de um
método, de uma forma, ou de uma norma.
Assim, todas as formas nascem espontaneamente e não de uma maneira
dogmática. Por isso “não se
utiliza a ação”.
A Virtude Superior é agir sem ser
condicionado por uma forma.
A Virtude Inferior é agir sendo
condicionado por uma forma.
Assim também acontece na prática
espiritual onde existem diferentes níveis de técnicas.
Numa meditação de nível mais alto, existe
a técnica da não-técnica. Senta-se,
fecham-se os olhos e naturalmente a Consciência e o Sopro já estão unidos. Essa não-ação, esse não-método é tão difícil
que então é preciso haver um método, um condicionamento para gradualmente
começar a relaxar o corpo, a mente, prestar atenção na respiração e só então
entrar na respiração. É um
condicionamento simples.
Um condicionamento mais formal é sentir
o corpo, mentalizar um centro energético, atuar a respiração abdominal.
Ainda mais condicionada é a meditação
com palavras, mantras e repetição intensa de palavras até que a mente fique
mais concentrada. Mantra mais respiração
mais mandala, ou letra ou símbolo.
E o que tudo isso significa? Significa que cada vez mais usando
ferramentas para se entrar no Absoluto, perdemos a natural espontaneidade. Temos que aprender a largar todas as
ferramentas para entrarmos no Vazio.
A Virtude Superior, numa prática
espiritual, deve ser uma natural integração
do Espírito com o Sopro - não apenas na hora da meditação mas a cada
instante da vida.
A Virtude Superior é a não-ação, é a
atuação natural em todas as ações, sem ação.
Isso é a Sublime Prática. E, aos
poucos, vamos dominando todas as práticas.
Mestre Maa diz que, no início, o
aprendiz de meditação precisa de um local apropriado, de um momento para criar
a disciplina, de método. Por causa de
nossos apegos e laços, inicialmente precisamos começar com disciplina e método.
Depois de um tempo, após termos andado
um pouco do Caminho, aprendemos a nos conservar sempre no estado de meditação,
tendo nossa consciência sempre no estado de meditação, em todos os instantes de
nossa vida.
A técnica da Consciência no Sopro deve
acontecer todo o tempo. Existem a
consciência externa e a Consciência sutil.
Esta última deve ficar unida ao Sopro enquanto a consciência mais
externa atua no mundo.
Para o iniciante, a disciplina de
horário, local e método o acondiciona na lei do destino. E, no sentido do Absoluto, ainda ele é
prisioneiro do tempo. Quem é prisioneiro
do tempo ainda não alcançou a Vida e a Consciência infinitas.
Num nível mais adiantado, a meditação
torna-se natural de acontecer em todos os momentos. O estado meditativo cotidiano torna a pessoa
mais serena.
No início, é preciso uma certa
concentração para se manter a atenção no Sopro.
Essa concentração freia a velocidade mental e o raciocínio. Com o tempo, este efeito passa e a velocidade
da mente é normal e não retira a Consciência do Sopro. Esse é o trabalho espiritual perfeito.
As duas primeiras linhas desse verso
A Virtude
Superior é não-ação
Pois não
utiliza ação
....... nos dizem sobre a meditação sem
outra ação do cotidiano. A meditação
profunda e desligada de tudo.
As duas últimas linhas
A Virtude
Inferior é ação
Que tem uso
da ação
...... nos dizem sobre a forma de
conjugar a meditação com o trabalho do cotidiano.
Na verdade, lendo os 81 Capítulos do
Tao Te Ching, vemos que cada texto fala da prática de meditação e serve como
orientação para a meditação.
Mestre Maa nos diz que para fazer a meditação
taoísta, é preciso ler e reler o Tao Te Ching, sempre.
O Tao Te Ching é muito interessante
porque é muito sintético. A cada vez que
o lemos, chegamos a uma compreensão. E
cada vez mais alcançamos uma sutileza maior de compreensão.
Meditação e leitura do texto conjugadas
auxiliam a compreensão do texto e ajudam numa melhor meditação. A força do Texto Sagrado induz a uma
meditação mais profunda.
A Bondade
Superior é ação
Porém não
utiliza a ação
Lembrando o início do Capítulo, a
Bondade Superior não tem intenção, não é intencional, interesseira.
A Justiça
Superior é ação
Que tem uso
da ação
Aquele que não consegue viver o
Caminho, vive no nível da Bondade - que é um nível de ação. E existe aquele que não consegue viver a
Bondade e então, vive a Justiça porque tem que julgar o que é bom e o que é
real para optar pelo Bem. Isso é
Justiça.
Neste trecho, Lao Tse não fala da
bondade Inferior e da Justiça Inferior - porque essas não merecem menção.
Assim, a Bondade Superior é uma ação -
sem intenção - que faz o bem. A Justiça
Superior é uma ação que julga o certo e o errado.
Se a pessoa usa o julgamento e a
intenção, determinando o que é bom e o que é ruim, o que é o Tao e o que não é
o Tao, faz um caminho com intenção - e ainda assim, faz um Caminho. Essa virtude é uma virtude inferior.
A Virtude Superior é não ação e não
utilização da ação. A Virtude Inferior é
ação que utiliza a ação.
A Virtude é a conseqüência do
Caminho. O Caminho é que faz a
Virtude. Sem Caminho, não há Virtude.
O caminho intencional é a Virtude
Inferior.
O Caminho não-intencional é a Virtude
Superior.
A pessoa que não consegue viver o
Caminho, vive o nível da Bondade. Não
conseguindo viver a Bondade, vive a Justiça.
A bondade é um valor para o homem que conseguir
viver a Bondade do Tao, mas não a totalidade do Tao, que é a Virtude. A Virtude está acima do bem e do mal, do
certo ou do errado. A Virtude é
simplesmente uma naturalidade e espontaneidade perfeitas das coisas. A pessoa na Virtude vive naturalmente integrada à quietude e ao movimento do céu e
da terra.
Mestre Maa diz que a pessoa virtuosa é
aquela que vive integrada com a grande roda do destino sem confrontar com a lei
da natureza e do mundo. Não julga o
certo e o errado. Todas suas ações e
atitudes são virtuosas porque estão de acordo com a ordem natural das
coisas. Esse é o homem que não pensa com
seu coração, ele pensa com o coração do céu e da terra, ele renuncia a seu ego,
ele utiliza a consciência do céu e da terra como sua própria consciência, ele
está naturalmente integrado com as coisas.
Essa integração é permitida porque
existe um Vazio dentro dele. Esse Vazio
é uma espécie de silêncio, de lucidez, de quietude interior.
Assim, o Taoísmo enfatiza a prática de
meditação porque é um exercício que nos permite vivenciar essa quietude e esse
silêncio - que é o Vazio que permite tudo fluir dentro de nós, sem bloqueios.
Caminho é Vazio. Virtude é Vida. Vida que corre no Vazio é a Virtude que
existe no Caminho.
Quando não conseguimos seguir o
Caminho, tentamos ser bons. Quando não
conseguimos ser bons, tentamos fazer o certo.
Quando não conseguimos agir corretamente, tentamos ser disciplinados.
E assim, surge a próxima frase:
A Suprema
Polidez é ação
Na Polidez, não se consegue discernir o
certo e o errado, mas se é educado.
Polidez é disciplina, educação.
Toda Polidez é uma relação de educação.
E nessa relação, existem diferenças de níveis de educação e no
tratamento entre as pessoas fazendo surgir discordâncias e desavenças, até
mesmo a insensatez.
Por isso, Ele diz:
A Suprema
Polidez é ação
Que, se não
obtém correspondência
Então, repele
usando o braço como reação
Lao Tse, então, conclui os quatro
primeiros versos:
Por isso, à
perda do Caminho segue-se então a virtude
À perda da
Virtude, segue-se então a bondade
À perda da
Bondade segue-se então a justiça
À perda da
Justiça segue-se então a polidez
Assim, a
Polidez é o empobrecimento da fidelidade e da confiança
É o princípio
da confusão
Aqui, como no I Ching, Lao Tse usou a
alegoria dos 5 elementos:
Fogo
Polidez
Madeira Terra Metal
Bondade Fidelidade Justiça
Água
Sabedoria
Sabedoria é Virtude. Aquele que está de acordo com o Tao é
introspectivo (vai para baixo), feito água que corre, a vida que se interioriza,
como a Sabedoria. Quem tem a Virtude, é
sábio. Sábio é aquele que tem
Sabedoria. Sabedoria é Virtude.
Quando perdemos a Virtude, a Sabedoria,
passamos a viver com Bondade. Quando
perdemos a Bondade, vivemos com a Justiça.
Quando perdemos a Justiça, vivemos com Polidez. Quando perdemos a Polidez, damos lugar à
guerra.
Assim, quem vive com Justiça, também é
polido.
Quem vive com Bondade, é justo e
polido.
Quem vive com Sabedoria, é bondoso, justo e polido.
Quem vive com o Tao, revela a Sabedoria
que contém os outros três.
E onde está a Fidelidade?
Está no centro.
A palavra Fidelidade, em chinês,
significa fidelidade e confiabilidade.
Fidelidade mútua entre pessoas que confiam entre si. Fidelidade em ter fé em alguma coisa, confiar
nas coisas da vida.
Se chegarmos ao ponto da Polidez, tudo
fica muito superficial. Uma aparente boa
educação pode significar falsidade. Por
isso, Ele diz:
Assim, a
Polidez é o empobrecimento da fidelidade e da confiança
É o empobrecimento do Caminho da
pessoa, o caminho se torna pobre.
É o princípio
da confusão
É a perda do Caminho.
Voltando ao início do texto:
A Virtude
Superior não é virtude
Assim, possui
a virtude
A Sabedoria Superior não é
sabedoria. Sabedoria Superior não é
conhecimento. Sabedoria Superior é algo
muito sutil que existe dentro de nós.
A Virtude
Inferior não perde a virtude
Assim, não
possui a virtude
A Sabedoria Inferior não perde a
sabedoria, ou seja, a Sabedoria inferior são os conhecimentos. Assim, não possui a Sabedoria.
A Virtude
Superior é não-ação
Pois não
utiliza ação
A Sabedoria Superior não é pensamento,
não é atividade mental. É quietude, por
isso, é não-ação.
Para se ter Sabedoria, não é preciso
usar ferramentas. Sabedoria é um estado
de ser.
A Virtude
Inferior é ação
Que tem uso
da ação
A Sabedoria Inferior é ação. São pensamentos dinâmicos, afiados, que têm o
uso da ação.
Em um Capítulo anterior, Lao Tse nos
fala sobre as armas que são constantemente afiadas. As armas afiadas são provenientes do nosso
cérebro esquerdo, preciso, direto, afiado.
A Bondade
Superior é ação
Porém não
utiliza a ação
A Bondade é um estado de ser.
A Justiça
Superior é ação
Que tem uso
da ação
O julgamento entre o certo e o
errado. A escolha do Bem.
A Suprema
Polidez é ação
A disciplina e a boa educação. E, ao se
perderem uma após outra, chega-se ao empobrecimento da Fidelidade e da
confiança.
É o princípio
da confusão
É a perda do Caminho.
Em seguida, Lao Tse diz:
Aquele de
conhecimentos avançados,
Como a flor
do Caminho,
É o princípio
da estupidez
Conhecimentos avançados significam uma
postura de competição, estar sempre em primeiro plano.
O que é bom para o Taoísmo? Não é o conhecimento avançado nem o
conhecimento atrasado. É o conhecimento
abrangente, a própria Sabedoria.
A Sabedoria não tem limite, não tem
forma; e por isso, pode tomar qualquer forma.
Em outro Capítulo, Lao Tse diz que
existem Três Tesouros: o primeiro é a
Simplicidade; o segundo é a Afetividade; e o terceiro é não ser o primeiro do
mundo - é a Humildade.
Aquele que tem o conhecimento avançado
é quem vive o conhecimento sem humildade.
Como a flor do Caminho - O que é a
flor? A flor é o efeito, que chama a
atenção e dura pouco.
A flor é diferente do fruto. O fruto não é tão bonito como a flor, mas é
consistente, alimenta; e quando se caroço cai no chão, faz crescer outras
vidas.
Por isso, Ele diz que a flor é o
princípio da estupidez.
Quando começamos a viver os
conhecimentos superficiais, começamos a ficar estúpidos, ou seja, começamos ao
perder o Caminho e ficamos com o efeito.
Assim, na prática espiritual Taoísta,
somos alertados para meditar. E com o
avanço da meditação - com o começo das visões, dos poderes paranormais -, nessa
hora, devemos perguntar ao nosso mestre sobre o que fazer com isto? O mestre, com certeza, responderá: “Esqueça tudo e continue a seguir seu
Caminho. Isso são flores que aparecem no
caminho e se você se apegar às flores, não irá adiante.”
O conhecimento avançado é efeito, chama
a atenção, traz fama. Porém, Lao Tse o denomina de ‘princípio da
estupidez’ - porque se abandona o precioso para ficar com o menos
precioso. Abandona-se o Caminho para
ficar com o efeito.
Concluindo, Ele diz:
Por isso, o
Grande Homem
Coloca-se no
consistente e não se coloca no rarefeito
A flor é o rarefeito, dura pouco. Consistente é algo concreto, duradouro, que
cultiva semente. Fruto é o consistente,
flor é o rarefeito.
Temos, então, que trabalhar na
realização verdadeira.
O que é consistente?
É alcançar a infinitude da Vida e da
Consciência e não se tornar um fenômeno, um paranormal, que continuam na lei da
transmigração sem sair da roda das encarnações.
Habita no
Fruto e não habita na Flor
Por isso,
afasta essa e persiste naquele.
O efeito, apesar de sua beleza, não dura
para sempre. Analogicamente, isso serve
para tudo.
...............
fotos: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 38
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 11 de abril de 1995
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching