TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 37
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 04 de abril de 1995
Capítulo 37
O Caminho é
uma constante não-ação
Que nada
deixa por realizar
Se reis e
príncipes pudessem resguardá-lo
Os dez mil
seres iriam se transformar por si
Porém, se na
transformação despertassem desejos
Eu iria
estabilizá-los através da simplicidade do sem-nome
A
simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo
Não-desejo
para tornar quieto
E o céu e a
terra, por si, estarão em retidão.
Este Capítulo traz um dos conceitos
fundamentais do Taoísmo: o conceito do Wu Wei - a não-ação.
Este conceito pode ser confundido com
não fazer nada, não agir. Não. O que o Taoísmo chama de não-ação é, na
verdade, uma ação sem intenção, uma ação não-intencional. É uma ação onde não existe intenção mas onde
não se deixa de agir. Ou seja, não-ação
significa realizar as coisas com naturalidade, realizar as coisas sem
engenhosidade, sem excesso de premeditação, sem especulação. E não deixar de fazer as coisas porque se
está premeditando ou intencionalmente evitando fazê-las.
Não-ação é fazer as coisas com um
coração transparente e quieto. Assim,
sem preconceitos, naturalmente tudo será feito.
Em nosso caminho de vida é natural
comer no momento de comer, dormir no momento de dormir, trabalhar no momento de
trabalhar, descansar no momento de descansar - essa é a ação da não-ação.
Ação é fazer. Não-ação é não ter intenção de fazer e fazer sem intenção de fazer e não deixar de
fazer. Isso também é chamado de Caminho da
Naturalidade. O Caminho da Naturalidade
não deve ser confundido com a renúncia da ação.
A não-ação não é desmazelo nem preguiça ou irresponsabilidade.
Devemos trabalhar com o silêncio
interior. Assim, é importante a prática
da meditação cotidiana: todos os dias devemos nos colocar numa posição de
quietude absoluta, entrar no silêncio.
Como nossa mente é muito ativa e nossas
emoções muito borbulhantes, existem técnicas para entrar no silêncio e anular o
excesso de atividades. O propósito de
entrar no silêncio é recuperar a quietude interior. Essa quietude interior é a não-ação que
permite a ação natural das coisas acontecerem no momento adequado.
Na verdade, só podemos saber realmente
o que deve ser feito naturalmente se não ficarmos em todos os instantes,
pensando no que deve ser feito. É
através do não-pensar que alcançamos a consciência do que deve ser feito. Isso é a não-ação que permite a ação nascer e
brotar.
Através da quietude, atinge-se a
Consciência.
Qual a diferença entre mente e
consciência?
A consciência é uma mente sem
pensamentos. E a mente é uma consciência
com pensamentos. Quando a consciência
não para de pensar, atuando como pensamentos, ela se torna mente. E a mente é aquele elemento confuso que nos
confunde em nossa vida cotidiana. Sempre
existe uma palavra a contradizer outra palavra.
O eu se desdobra em infinitos eus como se fossem espelhos infinitos,
criando infindáveis diálogos interiores.
A pessoa calma é aquela com menos
diálogos interiores, com menos eus falando.
A super atividade dos eus falando traz a insônia, a agitação extrema, a
ansiedade.
Na meditação, a mente subordina-se à
consciência. A consciência, tendo poder
sobre a mente, pode utilizá-la como veículo de expressão. E desobrigá-la, após seu uso. Assim, a meditação é um treinamento diário
que nos permite recuperar o silêncio interior.
O silêncio interior é o que Lao Tse
chama de não-ação. O Tao é uma constante
não-ação. A natureza essencial do Tao é
o silêncio constante, uma quietude constante que permite todas as expressões se
realizarem dentro dele. Assim como um
grande espaço que permite todas as coisas existirem. Como um grande silêncio que permite todas as
palavras, todas as vozes, todas as expressões acontecerem.
Por isso, Ele diz:
O Caminho é
uma constante não-ação
Que nada
deixa por realizar
Se assim é o Tao e nós podemos
alcançá-lo - se podemos alcançar esse Caminho do Vazio, do silêncio -, então
não há nada que não possamos fazer, ou seja, tudo podemos então fazer.
Por isso, um grande mestre espiritual,
quando alcança sua realização no Tao, passa a ser polivalente. Se quiser, pode fazer poesia, pintura, tocar
piano, escrever, o que quiser. Por
que? Porque quem tem o Vazio tem todos
os recursos do mundo dentro de si, fluindo e podendo ser utilizados
simplesmente como ferramentas.
A natureza primordial do Grande Caminho
é a não-ação, é o próprio Vazio. Esse
Vazio é a eternidade, o Absoluto. E
dentro do Absoluto cabem todas as expressões e todas as manifestações.
Assim, quando uma pessoa consegue
encontrar essa ausência da forma, na própria ausência da forma, todas as formas
são permitidas de serem realizadas.
Em seguida, Ele diz:
Se reis e
príncipes pudessem resguardá-lo
Os dez mil
seres iriam se transformar por si
Se o governante puder governar seu país
sem intenções pessoais, esvaziando seu coração e deixando seu povo expressar
seu pensamento, seus sentimentos e necessidades, naturalmente o povo por si
mesmo irá se organizar e encontrar o caminho da naturalidade, sem conflitos.
Lao Tse parece n os dizer que quanto
menos o governo controla, melhor fluem as coisas do reino.
No entanto, isso não deve ser
confundido com anarquia. Às vezes,
parece que o Taoísmo é anarquista. Mas
não é.
A não-ação do governante é a sua
não-intenção. Mas a ação administrativa
é realizada a partir da intenção, da vontade do povo, caso o governante seja
aberto para essa expressão.
O governante deve ficar no estado da
quietude, da lucidez interior, para poder ver o que precisa ser feito e em
seguida, agir em função de seu povo.
Para assim acontecer, o governante tem que anular a si mesmo. isso é um bom governo, uma pura democracia, é
respeito.
Numa visão mais simbólica, ‘reis e
príncipes’ são a consciência.
No Taoísmo, o rei é a consciência, o
povo é o corpo da consciência. Na
verdade, o Taoísmo sempre fala que o rei, o governante, tem que ser a
consciência do país. E a consciência tem
que ser a quietude, a receptividade, a lucidez.
O governante é a consciência de um corpo, de um povo e assim, tem que
ser lúcido. Para ter lucidez, precisa
ter quietude, o próprio silêncio da meditação, para poder agir e governar
corretamente.
Numa pessoa, sua consciência tem que
ser o governante do corpo. Essa
consciência tem que ser quieta e lúcida.
Por isso, Ele diz:
Se reis e
príncipes pudessem resguardá-lo
Os dez mil
seres iriam se transformar por si
Se quisermos transformar nosso ego,
nossa saúde física, nossa energia, nossos elementos interiores, nossa
consciência tem que estar aberta para o caminho, para que o corpo em si se
transforme.
Na prática da meditação Taoísta, quando
se entra no estado de plena quietude, de plena abertura espiritual, nessa hora,
entra no corpo uma força energética muito intensa - a energia do Sopro do Céu
Anterior. Esse Sopro nos invade e nos
purifica, expulsando todas as energias obscuras que existem dentro de nós, as
doenças, os apegos e loucuras.
Assim, a prática da meditação tanto
recupera nossa saúde física como a energética e a espiritual.
Em seguida, Ele diz:
Porém, se na
transformação despertassem desejos
Se no meio da transformação, de
repente, nos tornamos apegados... o que faremos?
Eu iria
estabilizá-los através da simplicidade do sem-nome
Estabilizar significa recuperar a
quietude.
E o que é simplicidade?
É o não-nome, o sem-nome, ou seja, o
não-julgamento.
Durante o caminho de nossa vida, às
vezes acontecem recaídas de egoísmo ou ficamos cheios de pensamentos e de
julgamentos. Como podemos nos recuperar?
Através do não-julgamento.
Se não temos o nome de alguma coisa,
não temos o julgamento.
A
simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo
O sem-nome proporciona o
não-desejo. O não-desejo proporciona o
sem-nome.
Não-desejo
para tornar quieto
Devemos procurar não criar situações
para perdermos a quietude. Com a
quietude, mantemos a tranqüilidade da vida.
Não devemos alimentar as loucuras, os diálogos interiores.
E o céu e a
terra, por si, estarão em retidão.
Tendo a quietude, nosso céu e nossa
terra estarão em equilíbrio em relação a nós.
Lao Tse fala do homem em relação ao céu
e à terra. O céu está acima e a terra,
embaixo de nós. O céu e a terra nos
cobrem como a grande natureza nos abraça.
O homem reclama que a natureza está
desarmoniosa, desequilibrada, tempestades, terremotos. A natureza está sem retidão.
Por que a natureza entra em desarmonia?
Porque o homem está desarmonioso,
porque o homem não está em quietude.
Quando o homem não está em quietude,
ele interfere no céu e na terra e assim, toda a natureza entra em convulsão.
Segundo o Taoísmo, o homem é o
responsável por todas as alterações climáticas no Planeta Terra. Mestre Maa diz que existem bilhões de pessoas
nesse Planeta, inspirando e expirando ao mesmo tempo. O ar que está na atmosfera entra e sai de
todos os corpos. E, quando as pessoas
produzem raiva, egoísmo, ódio, alterações emocionais e mentais, seus corações
batem em velocidade alterada, seu sangue e seu organismo se alteram, tudo é
alterado.
A humanidade não respira ordenadamente
e harmoniosamente. O mundo fica tenso
com as guerras, e a atmosfera entra num processo convulsivo alterando imediatamente o
clima. E tudo isso vibra sobre a árvore,
a água, o céu, o vento, a pedra.
O Taoísmo diz que se a humanidade
conseguir entrar no eixo, o céu e a terra também entrarão, toda a natureza
entrará.
Portanto, entre o céu e a terra, o
homem é muito poderoso. Apenas que esse
poder pode entrar em processo destrutivo mais facilmente do que em processo
construtivo.
E como poderia o homem construir um
mundo melhor?
Através da não-ação.
Quanto menos o homem pensa, quanto
menos engenhosidade ele tem, quanto menos egoísta o homem é, quanto menos
convulsões emocionais e mentais ele sofre.... quanto maior a quietude do homem,
melhor o mundo se torna. Na verdade,
assim o homem nada faz e o mundo fica perfeito.
Quanto menos coisas erradas o homem faz, maior sua contribuição para o
equilíbrio e a harmonia do Planeta.
O tempo é infinito, não existem nem
princípio nem fim. O que existe é a
transformação natural das coisas. E essa
transformação depende do homem, de seu coração em equilíbrio e harmonia.
A transformação, assim, pode ser suave,
sem rupturas e o homem fluirá naturalmente com a transformação.
...............
foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 37
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 04 de abril de 1995
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching