TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 24
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 20 de dezembro de 1994
Capítulo 24
Quem respira
apressado não dura
Quem alarga
os passos não caminha
Quem vê por
si não se ilumina
Quem aprova
por si não resplandece
Quem se
auto-enriquece não cria a obra
Quem se
exalta não cresce
Esses, para o
Caminho, são como os restos de alimento de uma oferenda
Coisas
desprezadas por todos
Por isso,
quem possui o Caminho não atua desse modo
Esse Capítulo fala basicamente de duas
coisas:
-
A importância do não-superficialismo, de se fazer uma busca
profunda e verdadeira.
-
O não-egoísmo. Que nosso
trabalho, que nossa busca, que nossos trabalhos material e espiritual não sejam
construídos em cima de uma referência egoísta.
Quem respira
apressado não dura
Quem alarga
os passos não caminha
Essas palavras falam sobre a
pressa. Todas as coisas feitas com
pressa são feitas de uma maneira superficial.
Falam da naturalidade. Todas as coisas têm um tempo próprio para
acontecerem.
Ao darmos um passo maior do que podemos
dar, nos cansamos e não podemos caminhar mais.
Também essas palavras dizem que a
cultura moderna é uma cultura de ‘alargar passos’.
Nós consumimos muito rapidamente. Existe uma grande crise na Terra em função de
que o ser humano dá um passo maior do que a natureza. Ou seja, o homem deixa de se integrar com a
natureza, com o céu, com a terra, com a floresta e com os outros seres porque
tende a dar passos maiores, consumir mais do que pode oferecer.
A Terra é rica mas, por mais rica que
seja, esse consumo exagerado, esses grandes passos, acabam cansando a Terra,
cansando o nosso mundo.
Igualmente, passos grandes podem
significar o excesso de informações.
Temos informação através da visão, da audição, do paladar, das
sensações. Nossos sentidos sensoriais e
não-sensoriais (intelectuais, racionais e memórias) estão em processo muito
acelerado. A quantidade de informações é
muito grande. São os grandes
passos. Isso nos leva ao stress, a uma
ruptura.
Se andarmos muito rapidamente com
passos grandes, vamos tropeçar, cair, pisar em buracos, sem conseguirmos nos
desviar dos obstáculos da estrada. Ou
nos cansamos. Isso traz a ruptura, a
quebra.
Quando a vida é vivida em excesso de
informação, excesso de alimentação, excesso de preocupações, de efeitos
intelectuais, racionais e sensoriais, todo o nosso recurso humano é desgastado
rapidamente.
Quando alargamos os passos, estamos
reduzindo nossa distância de vida.
Se a vida é uma estrada que pode ser
caminhada durante, digamos, até 120 anos, hoje somos capazes de caminhá-la em
doze, trinta, cinqüenta anos e terminá-la.
A vida reduz e a intensidade de cada
momento aumenta. Isso faz com que a vida
se torne estressante e curta.
O Taoísmo dá muita importância à
longevidade, à constância e à fluidez contínua da vida humana.
E ‘alargar os passos’ é, metaforicamente,
uma atitude de redução de vida.
Quem respira
apressado não dura.
Uma respiração muito apressada não dura
muito tempo. quando a respiração é
lenta, podemos respirar por muito tempo.
Quem pratica Tai Chi ou Yoga sabe disso.
Dentro das práticas, existem dois tipos
de respiração:
-
A respiração rápida - que é uma espécie de fole.
-
A respiração que acontece no processo de meditação. Nesse processo, a respiração é mais lenta e
mais longa, e pode ser utilizada por mais tempo até bem mais tempo do que
aquele que conseguimos normalmente respirar.
Uma pessoa com a respiração muito
agitada, tem muito escape de energia. E
se continuar por muito tempo, desmaia.
Existem terapias que usam a respiração
do caos, com movimentos desconectados, rápidos, lentos, misturados, acelerados,
rodopiando, com catarse. Utiliza-se,
assim, como meio de liberação. No
entanto, devemos nos lembrar do que fala o Capítulo anterior:
Uma tempestade
não dura uma manhã inteira
Uma ventania
não dura o dia inteiro
Esses trabalhos exagerados podem ter
seus efeitos terapêuticos mas não duram para sempre.
Uma vez no Caminho do Taoísmo, busca-se
a integração, a harmonia, visando a integração do homem com a terra e o
céu. Visando a infinitude do ser
transcendendo as limitações do tempo e do espaço.
A visão do Taoísmo é a visão da
Consciência, da sensatez. Precisamos ter
a consciência da nossa realidade, em que ponto estamos, até que grau vão nossos
vícios físicos e psicológicos. Assim,
podemos determinar se precisamos de catarses violentas ou se podemos nos
conduzir por um processo mais natural de vida.
Dessa forma, não adoeceremos.
Essencialmente, devemos procurar um
caminho mais contínuo e mais equilibrado, com harmonia, ou seja, devemos
trabalhar par que nunca precisemos recorrer ao médico, sempre enfatizando a
busca do equilíbrio, da saúde, da constância.
Tudo é temporário, tudo é
passageiro. O que não é passageiro é
nossa vida cotidiana.
Alopatia, homeopatia, fitoterapia, tudo
isso é passageiro.
O que é passageiro deve ser encarado de
uma maneira mais dinâmica.
O que é constante deve ser encarado com
um fundo mais filosófico.
Sobre isso fala este Capítulo.
Quem respira
apressado não dura
Quem alarga
os passos não caminha
Devemos ter equilíbrio para respirar
equilibradamente e caminharmos integrados com a vida.
O Taoísmo tem uma visão bem ecológica
das coisas. Ou melhor, o Taoísmo
trabalha com a visão da Consciência. Uma
pessoa com Consciência, naturalmente é
ecológica, sensata.
Também existe no Taoísmo um conceito
que é um pouco diferente das outras tradições místicas. As outras tradições dizem que uma pessoa
quando nasce já vem com um relativo Karma que lhe proporciona a possibilidade
de uma certa duração de vida. A maioria
das Escolas pensa que, dependendo do Karma da pessoa, ela pode ter uma vida de
menor ou maior duração.
O Taoísmo não vê assim. O Taoísmo diz que quando uma pessoa nasce, de
acordo com seu Karma anterior, ela vai ter provavelmente uma certa quantidade
de respirações.
Em resumo, se a pessoa consegue ter um
bom trabalho respiratório, profundo, não-apressado, naturalmente terá um
prolongamento de sua vida, independente de seu ‘merecido Karma’.
Respiração mais suave e profunda, vida
mais longa.
Uma pessoa com a respiração profunda e
suave capta maior quantidade de oxigênio e de energias vitais. E elimina mais gás carbônico e energias
impuras. Uma pessoa com respiração suave
e profunda tem o diafragma mais conservado, sem tensão, sem reter energias do
campo emocional.
Na parte superior do corpo, com uma boa
energização e oxigenação, abre-se para uma capacidade mental mais ampla.
Na parte inferior do corpo, as energias
vitais e sexuais ficarão mais plenas. A
pessoa tem mais saúde física e mental.
Por isso, o Taoísmo prega que quem
respira mais suavemente e profundamente, naturalmente terá mais saúde física,
energética, mental e emocional.
Mestre Maa diz:
“Alteração emocional altera
imediatamente a respiração. A grande
alteração emocional coletiva da humanidade altera coletivamente a respiração da
humanidade.”
Imaginemos nós e um trilhão de pessoas
respirando com ansiedade, como seria a energia do Planeta? Isso traz os desastres naturais como
alteração de clima, de vento, das tempestades, na Terra.
Mestre Maa diz que as atenções das pessoas
e suas preocupações voltadas para alguma questão, com suas respirações, alteram
projetando uma alteração climática a médio ou longo prazo.
Cada vez mais nosso clima é alterado
inexplicavelmente. Frio no verão, calor
no inverno, regiões com seca, regiões com enchentes.
Mestre Maa diz que estas alterações -
apesar das depredações que o ser humano faz diretamente na natureza - são
provenientes das interferências indiretas que vêm acontecendo nos últimos 30,
40, 50 anos devido à grande comunicação global.
O mundo inteiro vem sendo pressionado pela preocupação, pelas guerras
que se movem de um continente para outro, etc.
Podemos pensar que estamos longe da
linha de fogo - mas nos preocupamos - mesmo que não conscientemente.
Na soma das coisas, podemos produzir a
alteração da atmosfera a longo e médio prazo e passaremos a ter uma desordem na
natureza que não terá controle e entrará num círculo vicioso.
Mestre Maa diz que é fundamental que
todas as pessoas tenham consciência de sua respiração. O ar que eu respiro é o mesmo ar que todas as
pessoas respiram, todos os seres, animais, vegetais, minerais, tudo.
Por isso, é preciso ter consciência
disso e trabalhar para que nossa respiração seja mais constante, mais
profunda. Assim, a vida dura mais, flui
mais. Não apenas a nossa vida, mas todas
as vidas.
Devemos não alargar os passos, devemos
sintonizar com o céu, com a terra, com o dia, com a noite, calor, frio e não
violar as leis da natureza.
Se cada um de nós tiver essa
consciência, o mundo se tornará mais equilibrado.
Essa compreensão se estende ao conceito
do não-egoísmo.
Quando uma pessoa se preocupa demais
consigo mesma, ela se torna egoísta. Ela
tem toda a sua consciência girando em torno do seu ego.
Não fundamentando nossa consciência
apenas no ego, faz com que não nos tornemos egoístas.
Quem vê por
si não se ilumina
Existem pessoas que vêem e sentem as
coisas apenas através de seus próprios pontos de vista. E se ressentem que os outros não lhe dão o
devido valor. Essas pessoas acham que estão
praticando o bem e na verdade estão fazendo o bem que elas conseguem
perceber. No entanto, são incapazes de
se colocarem no lugar do outro, de saber o que o outro está realmente querendo,
pensando, precisando.
São as pessoas que parecem sempre saber
o que é bom ou não para os outros.
Depois, ficam frustradas, reclamando, se sentindo mal-amadas. São pessoas que não conseguem ver além de
seus próprios pontos de vista. E isso
não ilumina.
Quem aprova
por si não resplandece
São as pessoas que sentem que estão
sempre certas, corretas, sempre sabem de tudo.
Quem se
auto-enriquece não cria a obra
São as pessoas que buscam apenas o
benefício para si próprio, não criando obras para a sociedade, não doando para
os outros.
O Taoísmo considera que todos nós
estamos de passagem e é sempre bom podermos deixar uma obra que beneficie as
outras pessoas. Coisas pequenas, como
por exemplo, plantar uma árvore. Essa
árvore um dia servirá de sombra e dará frutos e flores e alguém desfrutará.
Fazer a obra sem intenção. Quando fazemos as coisas não apenas para
nosso benefício mas que devem ser feitas, elas acabam gerando algum benefício
para os outros.
Quem se
exalta não cresce
Uma pessoa que se considera a melhor em
tudo, dona da verdade, dona do poder, pode até não conseguir realizar todos os
seus intentos mas com certeza pode estar prejudicando aos outros, com os
efeitos colaterais de seus atos desmedidos.
Nesse sentido, Lao Tse é taxativo, sem
perdão, quando diz:
Esses, para o
Caminho, são como os restos de alimento de uma oferenda
‘Esses’ referem-se a aquelas pessoas
que aprovam a si mesmas.
Normalmente, no altar, temos os
alimentos oferecidos. Na hora de serem
oferecidos, eles são os melhores, mas quando apodrecem, não servem mais.
Por isso mesmo, trocamos as frutas e
outros alimentos do altar antes que pereçam e que sejam desperdiçados.
Por isso, Ele diz:
Coisas
desprezadas por todos
Por isso,
quem possui o Caminho não atua desse modo
É fundamental, portanto, que
trabalhemos nossa consciência para que, aos poucos, nos tornemos menos
egoístas, procurando fazer as coisas com naturalidade, dentro do caminho da
naturalidade, não sendo rápidos demais, nem excessivos, não fazendo as coisas
apenas para o nosso benefício.
Fazer, simplesmente, mesmo que não
levemos os louros da glória e do reconhecimento. É preciso criar a obra mesmo que não a
terminemos, mesmo que não seja identificada como trabalho nosso.
Não sendo egoístas, não valorizando
demais a nós próprios, nos permite ir a níveis mais profundos do nosso ser.
Uma pessoa egoísta certamente é uma
pessoa superficial. Sua raiz é
individual demais e não consegue se estender à plenitude da coletividade.
Por isso, Lao Tse está todo o tempo nos
dizendo para termos a Consciência, para trabalharmos profundamente, para sermos
constantes e não dispersivos, sem querermos saber de tudo, sem querermos ser
onipotentes, sendo menos egoístas.
Isso é basicamente o que o Taoísmo vê
como o Caminho do Homem.
É um processo lento. Porém, melhor do que não fazer, é fazer.
...............
foto: Sítio das Estrelas, Janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 24
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 20 de dezembro de 1994
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se
a realização
da publicaçãodas interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching