Usando o Discernimento



Usando o Discernimento

Janine Milward



Sempre que estivermos diante de um Hexagrama original com Linhas mutáveis e não mutáveis que nos abrem e estruturam um novo Hexagrama – o complementar – temos então, que usarmos bem o discernimento acerca de como realizarmos a leitura total, ou seja, a situação questionada e tudo aquilo que pode vir a falar dessa mesma situação, o que vem antes, o que vem depois, o que dizem as Linhas mutáveis, o que não dizem, o que dizem as entreLinhas.... o desenho das Linhas, as imagens superpostas de ambos os Hexagramas revelados... os textos do Julgamento, os textos das Imagens....

Também temos que usar o bom discernimento para decidirmos a que momento o Hexagrama original se refere: ou à questão em si mesma, ou a algum momento do passado, ou a algum momento do futuro, ou a algo que se encontra acontecendo no momento.... E a que momento o Hexagrama complementar está se referindo: se a uma continuidade da situação mencionada no Hexagrama original ou se a algo que tem que acontecer antes para que a situação dada no Hexagrama original possa ser bem sucedida posteriormente....

Quanto ao número de Linhas mutáveis dentro do Hexagrama original, podemos sempre ter um melhor entendimento de ação e conduta quando essas Linhas não passam de duas....três, no máximo. A partir de três Linhas mutáveis, pode haver uma certa confusão de informações e nesse caso, é prudente se ater mais aos textos do Julgamento de ambos os Hexagramas. 

Mesmo assim, eu diria que é sempre importante que leiamos todas as Linhas que se apresentaram enquanto Mutáveis: elas nos foram designadas por algum motivo, sem dúvida alguma, e, mesmo que não as compreendamos logo, é certo que assim faremos em futuro breve ou em tempo médio, à frente.  Eu me permito olhar as Linhas, sim, e olhar com todo o cuidado, sim - mesmo porque a gente não pode ter muita pressa ao ler a resposta do Oráculo, não é verdade? E se por acaso eu não compreender, eu simplesmente deixo o Tempo acontecer, deixo o dia passar, a semana passar, o mês passar, o ano passar, a década passar!

Quando ao consultar o Oráculo recebemos apenas um Hexagrama sem Linhas mutáveis, isso pode significar que a situação é bem aquela descrita no texto do Julgamento em primeiro lugar e, secundariamente, pela Imagem, sem precisar do auxílio das Linhas nem da possível continuidade revelada pelo Hexagrama complementar.

 



Alguns Conselhos Finais...
.... Last but not Least...

Janine Milward

A meu ver, a primeira noção básica que sempre devemos ter, é que a nossa pergunta pode ter sido realizada através questões que nos perpassam a mente neste nosso aqui-e-agora... mas nem sempre fazem parte somente de nosso momento atual como também estarão fazendo parte de nossa vida de agora em diante, em nosso futuro.

E, por esta mesma razão, é certo que poderemos estar interpretando nossa resposta doada pelo Oráculo do Mestre do I Ching dentro de nossas premissas de aqui-e-agora, sim, mas não devemos nos esquecer que nossa resposta pode estar nos enviando para uma compreensão sempre maior da mesma de agora em diante, para nosso futuro!

Ou seja, tanto nossa pergunta quanto nossa resposta podem ser vistas como um pedra que se joga em meio a um lago.... Ondas circulares estarão se formando a partir do centro onde a pedra foi jogada... Estas ondas estarão acontecendo, acontecendo, até que, finalmente, desapareçam por completo.

Somente o tempo, o tempo, o tempo, pode nos dizer, pode nos revelar, pode nos trazer, em Insights de maiores compreensões, tudo aquilo que nossa pergunta pode comportar e tudo aquilo que nossa resposta pode comportar.

O TEMPO. 

Nem sempre nossas interpretações primeiras e imediatas e impulsivas são as interpretações corretas, digamos assim, daquilo que o I Ching está querendo nos dizer!  A gente fica um tanto estruturado em nossa pergunta em si mas acontecem vezes em que o I Ching não exatamente está respondendo à nossa pergunta mas está nos fazendo outro questionamento - porque entende que outro questionamento é mais fundamental do que a pergunta egóica que fizemos ou do que a compreeensão mais egóica e imediatista que iremos ter!

Então, o Tempo nos ajuda a dirimir muitas dessas questões.  Em dado momento, nos ‘cai a ficha’: ah, então o I Ching quis me dizer isso!  Em dado momento, de repente, não mais do que de repente, a gente tem um insight sobre alguma Linha, sobre alguma coisa que o Hexagrama nos tenha dito e a gente não tenha sacado, lá atrás. 


Gostaria também dizer alguma coisa sobre minha prática de interpretação tanto em I Ching como em, fundamentalmente, em Astrologia e também no Tarot ou Runas, esses Oráculos todos que acabam passando por minhas mãos:

Se a gente tiver uma resposta já pronta dentro da gente, não vai compreender a resposta do Oráculo!  Eu vejo muitos dos meus clientes perguntando por uma laranja enquanto o Mestre do Oráculo está falando de maçã, de goiaba, de jabuticaba, entende?

Somente com o Tempo passando, é que vai cair a ficha do cliente no sentido de compreender que não era laranja coisa nenhuma e sim, era maçã, era goiaba, era jabuticaba!

Não dá para a gente achar que vai entender o oráculo prontamente, não dá!  O tempo tem que acontecer.  A gente não pode ter o desejo de tal e tal resposta, entende?  A gente tem que deixar a resposta vir, em Wei Wu Wei, na ação dentro da não-ação.

Aliás, eu penso que nem sempre a gente tem que fazer pergunta alguma ao I Ching, apenas jogar e aguardar pela resposta!  Eu gosto de fazer isso, eu prefiro, inclusivo, fazer isso, em relação ao I Ching que é o Oráculo que eu mais respeito e que somente uso em momentos muito especiais  que jamais o realizo por curiosidade minha ou de algum Caminhante.

Em todos os casos, temos sempre que praticar duas questões: não termos a resposta de antemão, no desejo da resposta, e dar tempo ao tempo.  E também sentir, sentir, sentir, sobre o que fazer.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Foto: Sítio das Estrelas, Janine