I, Mutação e Não-Mutação



I,
Mutação e Não-Mutação

Janine Milward

Constância, Duração e Eterna Mutação
O Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação
Interioridade e Exterioridade
O Sublime Yang e o Sublime Yin, A Luz e a Não-Luz (O Vazio)
A Criação
 O Universo e sua Forjaria de Estrelas e de Vida
Simultaneidade do Universo:
... Somos Poeira de Estrelas ...
Sincronicidade, Arquétipo, Linguagem, Mitos e Símbolos
Vivências Sucessivas (Re-Encarnações)
Planeta Terra: Estação de Trabalho e de Iluminação – e de Liberação
Pressupostos para a fundamentação primordial do homem
em relação à expansão de sua mente e de sua vida
A Simultaneidade - Sincronicidade e Arquétipo- Consciente e Inconsciente, Mestre e Discípulo



Constância, Duração e Eterna Mutação

O Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação

Janine Milward


O Mundo da Manifestação é advindo do Mundo da Não-Manifestação – que por sua vez, advém do Tao. Do Vazio. O Caminho é o Vazio.

O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota

(como nos diz Lao Tsé em seu Capítulo 4 do Tao Te Ching)

Lao Tsé nos aponta a lei única de interação entre os dois mundos: a eterna mutação e a constância.

Dentro do Mundo da Não-Manifestação existe apenas Constância, ou seja, apenas o Tao é verdadeiramente constante, imutável. A única não mutabilidade é o próprio Tao em sua constância.

Dentro do Mundo da Manifestação existe constante mutação. a única não mutabilidade é a própria eterna mutação. E a mutação pressupõe a duração, não a constância.

No Capítulo 7 do Tao Te Ching, Lao Tsé nos fala mais claramente ainda sobre a constância e a duração:

O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros

Dentro do ato da Eterna Mutação do Mundo da Manifestação, existe a constância do céu e existe a duração da terra. E ambos fazem a eterna mutação acontecer através do fato de que ‘não criam para si’. Sendo assim, o Mundo da Não-Manifestação pode ser espelhado pelo Mundo da Manifestação – sendo apenas espelhado, surgem Maya, o princípio criativo e Prakrti, a energia cósmica que realiza esta Criação.  (Maya Prakrti são termos em sânscrito)




Interioridade e Exterioridade

A grande diferença entre os dois mundos, entre a Constância e a constante mutação, é que, dentro do Mundo da Não-Manifestação existe apenas interioridade. O Tudo e o Todo e o Nada estão contidos dentro do Mundo da Não-Manifestação.

A Criação do Mundo da Manifestação advém da plenitude da interioridade do Mundo da Não-Manifestação. No entanto, sempre o Mundo da Não-Manifestação permanece absolutamente interiorizado.... porque toda a Criação está contida dentro dele, bem como o próprio Mundo da Manifestação.

Assim, o Mundo da Não-Manifestação possui apenas plena interiorização e constância. Enquanto o Mundo da Manifestação, por estar contido dentro do Mundo da Não-Manifestação, possui exterioridade ao mesmo tempo que interioridade, certamente. E por possuir este duplo aspecto, está em constante estado de mutação: ora a Criação faz face à sua exteriorização, ora à sua interiorização.

Somente o Tao é plenamente interiorizado.




O Sublime Yang e o Sublime Yin, A Luz e a Não-Luz (O Vazio)


Janine Milward


A interação entre o Mundo da Não-Manifestação e sua constância e interioridade e o Mundo da Manifestação e sua eterna mutação e exterioridade e interioridade dá berço aos conceitos do Sublime Yang e do Sublime Yin (O Vazio).

Sabemos que a imagem do Sublime Yang é uma Linha reta querendo significar sua constância.

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A imagem do Sublime Yin é uma Linha vazada querendo significar sua multiplicidade e interação e mutação eternas – a duração.

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Também sabemos que o Sublime Yang representa a Luz que emana do Mundo da Não-Manifestação, o verdadeiro Criativo... Não é o Mundo da Não-Manifestação aquele dá berço ao Mundo da Manifestação?. Enquanto o Sublime Yin representa a Não-Luz que emana do Mundo da Manifestação, o Receptivo... Não é o Mundo da Manifestação o espelho que advém do Mundo da Não-Manifestação?

Dentro do Mundo da Manifestação, o Tao da Criação é pura Luz. Tudo é Luz. Tudo está contido dentro do Tao da Criação, que possui apenas interioridade e nenhuma exterioridade. Sendo assim, estamos falando do Sublime Yang.

Dentro do Mundo da Manifestação, a Criação, no entanto, possui tanto a interioridade quanto, e principalmente, a exterioridade (por estar totalmente contida dentro do Tao da Criação). Para a Criação, portanto, existe a duplicidade da existência estruturada sobre o Sublime Yang e sobre o Sublime Yin, a Luz e a Não-Luz.

Dessa forma, podemos compreender que o Mundo da Manifestação não apenas é totalmente estruturado pelo Mundo da Não-Manifestação como também apresenta a Luz e a Não-Luz, o Sublime Yang e o Sublime Yin como sua possibilidade mínima de representação.

A partir da mesclagem entre a Luz e a Não-Luz (O Vazio), surge a Criação.




A Criação

Janine Milward


Tudo é Mente.  Tudo é Luz realizando essa mesma mente.  No entanto, tudo é apenas mente.  O Princípio Primordial é a Consciência Cósmica, a Suprema Consciência e somente ela existe. E existe apenas em sua absoluta interiorização, sem qualquer exteriorização.  Em sua interiorização absoluta, toda a Criação é apenas reflexo da Mente Cósmica materializado em Luz.

A Mente Cósmica é considerada um reflexo da condensação da Consciência Cósmica. A Consciência Cósmica habita, digamos, o Mundo da Não-Manifestação e se objetiva através do Mundo da Manifestação na Mente Cósmica que, por sua vez, se condensa em matéria. Dentro da matéria, surge a mente da Criação.

Antes de mais nada, existe o Mundo da Não-Manifestação e a Suprema Consciência.  Tudo é criado a partir desse Princípio Primordial, fazendo nascer o Mundo da Manifestação através a Mente Cósmica, o Tao da Criação, Deus.

A Mente Cósmica  é, portanto, uma parte constante e atuante do Mundo da Não-Manifestação e do Mundo da Manifestação.  Porém, a Mente Cósmica é apenas interiorizada... Deus é absolutamente interiorizado... como reflexo da Consciência Cósmica que apenas possui absoluta Interiorização.

A Mente Cósmica, Deus, dá berço à Mente da Criação – que é tanto interiorizada quanto exteriorizada, tendo, inclusive, maior força na segunda afirmação, ou seja, em sua exteriorização. A Mente da Criação já atua, portanto, dentro do Mundo da Manifestação, trazendo a Criação: a Criação somos nós e toda a natureza.  Podemos dizer, então, que a Mente Cósmica e a Mente da Criação pode ser bem imajadas através Deus.  Tudo isso cabe dentro da interiorização absoluta da Suprema Consciência.



Mente e Luz

Janine Milward


A Mente da Criação é manifestada através da Luz. Tudo é Luz. Toda a Criação advinda do Mundo da Manifestação (que é oriundo do Mundo da Não-Manifestação) é o exercício da mente através da formalização da Luz.

No entanto, essa energia mental formalizada através da Luz é tão somente uma manifestação mental. Toda a Criação é tão somente uma manifestação mental formalizada através da Luz. Isso é Maya.

A Luz portanto é como uma ferramenta usada pela Mente da Criação para a realização dessa mesma Criação, em seu espelhamento da Mente Cósmica  que, por sua vez, é advinda da Suprema Consciência.

Não apenas a Luz é a ferramenta como também é a própria matéria prima da Criação, tanto em seu sentido de objetividade quanto em seu sentido de subjetividade.

Luz é matéria. Sendo a Criação uma realização da Mente Cósmica, essa manifestação de criação é realizada através da Luz.

Dessa forma, tudo aquilo que vemos na natureza - você, eu e o todo -, são composições de Luz. Da mesma forma, tudo aquilo que não podemos ver na natureza também são composições de Luz.

Apenas que, objetivamente, aquilo que podemos considerar como pertencente ao Mundo da Não-Manifestação e à constância, é composto pela Luz manifestada, o Sublime Yang.  Esse Sublime Yang é manifesto através de nosso Espírito.

Enquanto que, subjetivamente, aquilo que podemos considerar como pertencente ao Mundo da Manifestação e à eterna mutação, é composto pela Não-Luz manifestada, o Sublime Yin.  Esse Sublime Yin é manifesto através de nossa Alma.

Se pensarmos assim, podemos entender que possivelmente existirão outros universos e níveis de Criação paralelos a este que vivemos e reconhecemos e que poderão ser vivenciados e reconhecidos pela natureza e seres afeitos mentalmente de acordo com estes outros universos, ou mundos.

Obviamente, ao ampliarmos mais e mais nossa mente, teremos a possibilidade de alcançarmos e compreendermos alguns desses tantos outros níveis da Criação.

Avançando neste campo de compreensão, também podemos inferir que, se estamos mentalmente adequados a este universo que vivemos e conhecemos durante a nossa chamada “vida”.... também certamente será através da nossa evolução mental – ou não – que estaremos vivenciando e conhecendo o universo ou mundo quando de nossa chamada “morte”.

Ou seja, ao efetuarmos nossa passagem, ao deixarmos a vida, ao entrarmos na morte, estaremos nos colocando em alguma situação ou lugar aonde nossa circunstância mental adquirida em vida realizou, criou, manifestou. Possivelmente, não estaremos sozinhos não, estaremos, sim, juntos aos seres e à natureza adequada à manifestação daquele determinado estado mental com o qual saímos da vida para entrarmos na não-vida.

É importante se dizer que apenas ampliamos nossa mente e nossa consciência dentro do nosso estado Yang de ser, ao estarmos ativos e criativos, dentro da chamada vida.  No estado Yin de ser, dentro da chamada morte ou não-vida, apenas nos tornamos receptivos, apenas restamos.

Tanto a vida quanto a não-vida, em seus momentos Yang e Yin, convivem simultaneamente. Apenas são como ondas curtas e longas dentro de uma mesma Freqüência do dial do rádio, por exemplo. Se estivermos plugados num tipo de onda, não estaremos interagindo com o outro tipo. Os chamados médiuns são aqueles que interagem em ambas as ondas.

E novamente, todas estas vivências e todos estes conhecimentos, seja dentro da Luz ou seja dentro da Não-Luz, seja dentro da chamada vida ou seja dentro da chamada morte, seja dentro do Sublime Yang ou seja dentro do Sublime Yin....., são criações realizadas pela energia cósmica da Mente da Criação advinda da Mente Cósmica, advinda da Suprema Consciência.




O Universo e sua Forjaria de Estrelas e de Vida

Janine Milward

Dentro do universo que denominamos de Vida, aparentemente tudo teria começado – e esse começo seria a sintetização de um final  anterior... - a partir de energias Yang e Yin concentradas dentro de um pequeno ôvo, digamos assim.  Shakespeare denominou Universo dentro de uma casca de noz.  De tal forma essa energia se concentrou... que explodiu naquilo que chamamos de Big Bang... e todo nosso universo se formou a partir de então e foi se ampliando e de desenvolvendo, concentrando essa energia espraiada em estrelas compactas e imensas que explodiram ainda bastante jovens, deixando seus restos continuarem sua viagem e sua expansão desse mesmo universo em tempo e espaço, formando novas estrelas e novas vidas.  E certamente, sempre formando novos universos: o Pluriverso ou Multiverso

Nosso Sol faz parte dessa sucessão de vidas estelares, já em seu terceiro ou quarto tempo, ou seja, faz parte dessa re-encarnação de estrelas – e nós também!  Toda a Criação assim como a conhecemos é Poeira de Estrelas.  Sendo assim, você e eu, toda a Criação, pertencemos enquanto Espírito e Alma – energias Yang e Yin - desde esse potencial universo existente dentro de uma casca de noz, em seu Big-Bang, em seu espraiamento formando o tempo e o espaço, ontem, hoje e amanhã.  Somos tudo isso, tudo isso existe dentro de cada um de nós, dentro de cada pequeno grão de areia nesse imenso universo que nos rodeia.

E sempre temos que levar em consideração que toda a Criação existe a partir de Deus, a Mente da Criação, que advém da Mente Cósmica – um Deus ainda mais poderoso e que faz parte do Umbral entre o Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação – tudo isso advindo da real única existência: a Suprema Consciência, Deus da Suprema Consciência, algo que está muito além da compreensão simples ou mesmo de qualquer linguagem de manifestação.

Em nosso Espírito e em nossa Alma – energias primordiais de manifestação da mente em Luz e Não-Luz, Yang e Yin -, trazemos nossa parte desse Deus da Criação, Deus da Mente Cósmica, Deus da Suprema Consciência – a Sagrada Trilogia, sendo sempre apenas um único Deus, sem dúvida alguma manifestado através de si enquanto Pai, Filho e Espírito que encarna e que traz a Criação e que faz a Criação poder acontecer.  Nós nos encaixamos dentro do Filho.  E por isso mesmo, vamos encarnando ao longo das re-encarnações das estrelas do universo, em Espírito e Alma, sempre, até que retornemos à Casa do Pai.

Como nos diz Srii Srii Anandamurti, a meta da vida humana – onde a mente já se encontra em maior estágio de possibilidade de expansão infinita e iluminada – é alcançar a Iluminação e posterior Liberação – ou seja, nos fusionarmos com a Mente da Criação, e depois com a Mente Cósmica e finalmente, voltarmos a pertencermos à Suprema Consciência, sempre dentro do ciclo de eterna mutação entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação, dentro do ciclo de Eu Farei, Eu Faço, Eu Fiz, o chamado Ciclo de Brahma, Ciclo de Deus e sua Criação.



Mutação e Não-Mutação


Janine Milward

Tudo sempre está em constante movimento na natureza. Essa é a grande alquimia do universo: a eterna mutação. Na verdade, a única possível não-mutação é a lei da sempre mutação.... Assim é no nosso Universo e no Multiverso...

Nesse nosso Universo em que vivemos e conhecemos, o Mundo da Manifestação nasce de uma pequena semente contendo a totalidade em potencial de energia que, ao atingir sua plenitude de concentração, explode formando o Espaço e o Tempo.

O começo de um universo – o momento que dá início ao espaço e ao tempo – é o disparador do relógio de um grande ciclo da natureza. Somos parte integrante desse ciclo, desse universo.

A partir do Big Bang, toda a matéria ou gases ejetados no espaço a-vir-a-ser foram se condensando formando estrelas e mais estrelas.... Essas estrelas nasceram, viveram e morreram, explodindo, expelindo mais e mais matéria ou gases ejetados no espaço já existente e no espaço a-vir-a-ser. Essa é a fornalha alquímica do universo: estrelas nascendo, vivendo, morrendo.... Criando mais outras estrelas, criando novos elementos químicos a cada tempo de vida e a cada tempo de morte...

Somos parte integrante desse universo de vida e morte de estrelas: somos feitos todos, tudo na natureza, de poeira de estrelas....

Sendo poeira de estrelas, pertencemos à totalidade do nosso universo manifestado desde de sua explosão inicial e ainda antes, quando era o universo ainda uma energia condensada e concentrada em uma pequena semente.... E ainda antes, quando tudo isso existia advindo do Mundo da Não-Manifestação – ou advindo do Mundo da Manifestação, quem sabe, de algum Buraco Negro finalizador de algum universo anterior – desde que somos parte de um multiverso....

Sendo poeira de estrelas, pertencemos a tudo, tudo, tudo, tanto no Mundo da Manifestação quanto no Mundo da Não-Manifestação.

Todo o universo cabe em nós. Assim sendo, somos bibliotecas vivas da história do universo – não apenas a história relativa ao tempo e ao espaço, mas certamente antes de tudo, antes de nada. Antes. Durante. Depois. Antes...

"Há algo completamente entorpecido
Anterior à criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente e inalterável
Move-se em círculo e não se exaure

Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar

O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei é grande
Dentro do universo há quatro grandes
E o rei é um deles

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza" (1)


Denomina-se "rei" a consciência do universo que está por toda parte: nós somos parte dessa consciência; é essa consciência que devemos nos "conscientizar". Também o "rei" significa o Rei Celeste, aquele que no Mundo da Manifestação, através da expansão da energia de sua consciência real, cria todo o universo, sendo portanto, o próprio universo e anterior a ele também – desde que o Rei Celeste imaja a última etapa para se alcançar o Mundo da Não-Manifestação.

Quando o homem se torna Homem Sagrado, ele realiza dentro si a fusão de sua consciência com a consciência do universo- a consciência real - daí, ele se torna o "rei". Ao tornar-se "rei", ou seja, obtendo a consciência do universo e com ela se fundindo, o homem faz parte do equilíbrio de vida e mutação de vida do universo.... por isso é que, inicialmente, o homem se orienta pela terra, que se orienta pelo céu, que se orienta pelo Tao, que se orienta por sua própria natureza.....





A Simultaneidade


Janine Milward


Se hoje somos a expressão manifestada do universo em seu processo de mutação constante, em sua re-encarnação de estrelas – estrelas que vivem, estrelas que morrem – então o universo não pode possuir nem tempo nem espaço: não existem o ontem, nem o hoje, nem o amanhã. Tudo no universo é realizado dentro da simultaneidade, tudo acontece ao mesmo tempo, ao mesmo espaço – mesmo que um dia tudo aparentemente tenha começado e um dia aparentemente tudo haverá de terminar....

E ao terminar, tudo começa novamente abrindo novo universo, novo tempo e espaço, novas constantes mutações de gases, matérias, elementos, estrelas, planetas, natureza, seres, mentes e corações....

"O retorno é o movimento do Caminho" (2)

Quando eu olho para o céu estrelado, eu penso: eis o passado nesse meu aqui e agora! Ao mesmo tempo sei que tudo no universo está andando, está em movimento, e o movimento sempre leva ao futuro! Assim, passado, presente e futuro estão entrelaçados, fusionados numa simultaneidade cósmica, no não tempo, no não espaço....

Então, tudo no universo parece nos trazer um certo sentimento de ilusão, ou melhor, um certo sentimento de espanto, não é mesmo? Embora eu saiba que tudo está lá, que tudo existe, será que tudo está lá mesmo? Será que tudo existe mesmo? Com o par de binóculos ou com um telescópio, eu aponto para o céu, vejo estrelas que ainda sorriem para mim, piscando seus olhos provocativos e sedutores.... será que elas estão lá mesmo? Será que a Terra já existia quando aquela luz para a qual eu apontei deixou aquela estrela e começou sua andança pela vastidão do tempo e do espaço?

Eu posso estar olhando a estrela... e quem sabe, ela nem exista mais!

Sendo assim, estou olhando a estrela que existiu no passado e que não existe mais porém existe sim porque posso vê-la por inteiro diante de mim encravada no céu estrelado, ao mesmo tempo que em todo meu corpo existem pedaços daquela mesma estrela... quem sabe?

Retomando a lenda contada logo no início desse livro....:

"Do barro que sobrou, K’un (A Terra) começou a fazer seus próprios filhos... E usou um pouquinho do barro daquela estrela que havia ficado na terra, que não fôra para o céu, para fazer o coração dos seres e de toda a natureza.

K’un quis dar a seus filhos o sentimento de poderem olhar para as estrelas e o resto da natureza do universo como se fizessem parte desse todo.... e fazem, de coração e mente.

Assim, em nosso coração, bate aquele minúsculo pedaço de barro – que é a nossa parte nas estrelas e no universo.

"O que quero que me distinga dos demais
é valorizar o alimentar-se da Mãe."  (3)




Sincronicidade e Arquétipo

Janine Milward


Essa é a constante mutação do universo, essa é a imortalidade do universo.   Essa é a simultaneidade do universo.

Essa simultaneidade é a base estrutural do conceito fundamental da relação céu e terra: a sincronicidade: assim é na Terra como no Céu.

Sendo o universo simultâneo – embora contendo o tempo e o espaço que fazem acontecer o passado, o presente e o futuro – também toda a história do universo é compreendida por todo o universo, de si para si mesmo.

Sendo parte integrante da constante mutação desse universo, tendo dentro de nós, em nosso corpo, em nossa mente, em nosso espírito, em nossa alma, em toda a natureza, toda a alquimia realizada pelo tempo e espaço.... temos então toda a história do universo já contida dentro de nós, passado, presente e futuro...

Assim, o conceito inicial da sincronicidade nos remete ao conceito do arquétipo: o universo é simultâneo e habita dentro de cada um de nós. Todo o universo está contido dentro de nós - a perfeita interiorização – ao mesmo tempo que todo o universo está contido fora de nós – a perfeita exteriorização. A fusão desses dois elementos, a interiorização e a exteriorização, nos traz o arquétipo.

O arquétipo é a estruturação da verdade traduzida em linguagem que habita em meu interior – o universo dentro de mim – confirmada com o que a natureza ao meu redor me diz – o universo exterior a mim.



Consciente e Inconsciente, Mestre e Discípulo


Janine Milward

O que eu tenho dentro de mim, aquilo que faz parte da eternidade, da historia original do tempo e do espaço - é o meu inconsciente.

O que eu tenho exterior a mim, que são o próprio tempo e espaço representados como o universo do aqui e agora - é o meu consciente.

Ao consultar o Livro das Mutações em busca de uma resposta para uma questão importante, eu estou, conscientemente, à procura das verdades contidas em meu inconsciente, verdades estas que serão traduzidas através de um Hexagrama ou dois, de nenhuma ou de alguma ou algumas Linhas a serem compreendidas e analisadas.

Assim é o oráculo: através da sincronicidade da relação céu e terra, os arquétipos que imajam essa relação surgem para traduzir, em linguagem, o inconsciente para o consciente
.
O inconsciente é o Mestre O consciente é o Discípulo.

O I Ching, O Livro das Mutações , é o Mestre. O Discípulo, sou eu. Dessa forma, em mim existem o Mestre e o Discípulo – desde que todas as verdades do universo contidas no I Ching estão dentro de mim....

Como já vimos anteriormente, existem Linhas designativas para o Mestre e para o Discípulo, a quinta (Trigrama do Céu) e a segunda (Trigrama da Terra) Linhas do Hexagrama, respectivamente.

Vimos também que o Homem se encontra, em todos os momentos do I Ching, realizando o religare entre o Céu e a Terra:: O Princípio Primordial é o próprio Tao; Te. O Tesouro do Espírito, é O Conhecimento, A Sagrada Leitura; e o Mestre é aquele que se situa entre o Céu e a Terra, realizando o Tao e o Te, O Caminho e A Virtude.

O Mestre é aquele que encarna homem, vive o Tao e o Te, O Caminho e a Virtude, ao longo de sua vida, e ao sair da encarnação, já é o Homem Sagrado, aquele que atingiu a Iluminação, pronto para o alcance da Imortalidade.

........, quem segue e realiza através do Caminho
adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude
adquire a Virtude" (3)



Pressupostos para a fundamentação primordial do homem
em relação à expansão de sua mente e de sua vida:

Janine Milward

-  A compreensão de que é o de que tudo sob o Tao da Criação encontra-se em Eterna Mutação e realiza-se de forma cíclica e que somente a Suprema Consciência é imutável.

-  A compreensão de que somente a Consciência Suprema é inteiramente interiorizada.  Tudo sob o Tao da Criação é interiorizado e exteriorizado.

-  A compreensão de que o Espaço/Alma/Sublime Yin é da ordem da duração, tem seu começo, seu meio e seu final que leva a cumprir um ciclo e a dar início a um novo ciclo.  E a compreensão de que o Tempo/Espírito/Sublime Yang é da ordem da constância, não tem começo, nem meio e nem final e se aparentemente cumpre seus ciclos é porque esses ciclos são realizados a partir do Espaço/Alma/Sublime Yin.

-  A compreensão de que tudo é efêmero e cíclico (dentro do Ciclo de Brahma em menor, média ou maior escala) sob o Tao da Criação e dentro do Mundo da Manifestação.  E a compreensão que, na verdade, existe apenas a eternidade da mente e da vida - todos advindos da Mente Cósmica que, por sua vez, é fusionada à Suprema Consciência, dentro do Mundo da Não-Manifestação.

-  Finalmente, a compreensão de que em nosso Espírito e em nossa Alma – energias primordiais de manifestação da mente em Luz e Não-Luz, Yang e Yin -, trazemos nossa parte desse Deus da Criação, Deus da Mente Cósmica, Deus da Suprema Consciência – a Sagrada Trilogia, sendo sempre apenas um único Deus, sem dúvida alguma manifestado através de si enquanto Pai, Filho e Espírito que encarna e que traz a Criação e que faz a Criação poder acontecer.  Nós nos encaixamos dentro do Filho.  E por isso mesmo, vamos encarnando ao longo das re-encarnações das estrelas do universo, em Espírito e Alma, sempre, até que retornemos à Casa do Pai.

Podemos, então, compreender que existe vida em toda a Criação.  E podemos também compreender melhor sobre essa vida a partir de nossa própria expansão de mente.  Dessa maneira, o homem possui esse imenso privilégio de expansionar sua mente e dessa forma, poder compreender melhor o universo que o rodeia e também a si mesmo.
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Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude – Lao Tsé
(1) Capítulo 25
(2) Capítulo 40
(3) Capítulo 20
(4) Capítulo 23
Tradução de Wu Jyh Cherng – Editora Ursa Maior

Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Foto: Sítio das Estrelas