O Fio da Meada
Janine Milward
Trama e Urdimento
Conta a lenda que houve uma vez um dilúvio tão imenso que as águas
inundaram todo o Planeta, cobrindo vales e montanhas... apenas restando K'un e
Ch'ien, a Mãe e o Pai, o Receptivo e o Criativo, que se refugiaram no alto da
mais alta das montanhas.
Do alto da mais alta das montanhas,
K'un e Ch'ien, a Mãe e o Pai, o Receptivo e o Criativo, recriaram o
universo. K'un, em sua linha vazada
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, ia
modelando, com o barro ainda molhado pelas águas do dilúvio que cobrira todo o
mundo, as estrelas do céu, menos uma -
que foi aquela que nos pertence até hoje (e que bate em nosso coração) e que
devemos alcançar e caminhar nossos Caminhos da Iluminação e da Liberação ou
Imortalidade para podermos preenche-la - e também seus seis filhos: Chen, o
Trovão, Sun, o Vento, K’an, a Água, Li, o Fogo, Ken, a Montanha, e Tui, o
Lago. Enquanto isso, Ch'ien sentava-se
em sua meditação, conectando sua linha contínua
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à Luz do Tao da Criação e ia inflando de vida o mundo todo.
K'un, A Terra, O Vazio, é ela própria o Fio da Meada trabalhando
sua Urdidura através do Espaço até encontrar-se com Ch'ien, O Céu, O Criativo,
através do Tempo.
O Fio da urdidura vai desde o Espaço até o Tempo, de K'un, A Terra,
a Ch'ien, o Céu. Sendo o Espaço finito e
o Tempo infinito, ambos encontram-se em um breve momento de Luz e de Não-Luz...
E depois retornam.
Lao Tse, o Mestre do Tao, nos diz em seu Capítulo 7 do Tao Te
Ching, o Livro do Caminho e da Virtude:
O céu é constante, a terra é
duradoura
O que permite a constância e a
duração do céu e da terra
É o não criar para si.
Por isso, são constantes e
duradouros.
No Capítulo 40, Lao Tse nos fala sobre o Retorno:
O retorno é o movimento do
Caminho
A suavidade é a atuação do
Caminho
Os seres sob o céu nascem da
existência
E a existência nasce da
não-existência
Com o renascimento do universo,
K’un, A Terra, tornou-se a Abrangência do próprio Vazio, a Não-Luz - o Yin
Supremo. Ch’ien, O Céu, tornou-se o Criativo da Luz que preenche esse Vazio - o
Yang Supremo..
K’un, A Terra, identificava-se
com a multiplicidade, a amplidão, o Espaço, o Vazio do Espaço. Ch’ien, O Céu,
identificava-se com a unidade, a continuidade, o Tempo.
A Luz constante de Ch’ien, O
Céu, O Criativo, e a criação duradoura de K’un, A Terra, O Receptivo, surgem do
Tao.
A
constância de Ch’ien, O Céu, o Yang absoluto, é simbolizada pela linha
contínua:
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A
duração de K’un, A Terra, o Yin absoluto, é simbolizada pela linha vazada
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Tao é o Caminho.
O Tao gera o Um, o Princípio
Primordial, O Sopro do Tao, a energia do Absoluto.
O Um – advindo do Absoluto –
gera o Dois, o Tai Chi: O Yang, o claro, e o Yin, o obscuro.
O Dois gera o Três: O Céu, A
Terra e toda a natureza sintetizada no Homem.
O Céu revela o Princípio
Primordial, O Tao; a Terra revela o Tesouro do Espírito, O Te, A Sagrada Leitura;
o Homem revela o Mestre, aquele que retorna ao Princípio Primordial através do
Tesouro do Espírito.
Para bem imajar esses três
Princípios, tanto a linha contínua, Yang, quanto a linha vazada, Yin, passam a
formar os dois Trigramas Primordiais, como seguem:
A linha primeira, a contar de
baixo para cima, é a linha da Terra, o Te, A Virtude, O Tesouro do Espírito.
A linha do meio é a linha do
Homem, aquele que se situa entre o céu e a terra.
A terceira linha é a linha do
Céu, o Tao, O Princípio Primordial.
Os Trigramas
Primordiais
Assim, surge o Trigrama
Primordial do Céu, Ch’ien, O Criativo, o Sublime Yang da Luz Suprema:
A
linha do Céu ________
A
linha do Homem ________
A
linha da Terra ________
E o Trigrama Primordial da
Terra, K’un, O Receptivo, O Sublime Yin da Não-Luz Suprema:
A
linha do Céu ____ ____
A
linha do Homem ____ ____
A
linha da Terra ____ ____
Com o surgimento dos Filhos e Filhas, a Trama vai sendo tecida,
ponto após ponto, passo a passo, numa longa jornada a Caminho do Céu.
Lao Tse, sobre isso, nos diz em seu Capítulo 64:
Uma longa jornada começa
debaixo dos pés.
No capítulo 4, ele aponta:
O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas, Janine