O Vazio e o Céu Anterior
O Céu Posterior e a Criação
Constância e Duração
Janine Milward
O Caminho é o Vazio
No entanto, na continuidade da primeira estrofe, o Mestre deixa claro que este Vazio está eternamente pleno de toda a Criação.
É imensuravelmente profundo e amplo,
como a raiz dos dez mil seres.
Os 'dez mil seres' simbolizam a Criação e a raiz dessa Criação é oriunda do Vazio.
E Lao Tse nos revela as formas simples – o Te, a Virtude - que podem ser usadas por esta mesma Criação – nós, os seres que usam suas mentes – para alcançar este Vazio.
Alcançar este Vazio, o Tao, o Caminho, significa, então, compreendermos que somos e podemos retornar a nos tornamos tão límpidos e puros quanto este Vazio (nomeado agora por Lao Tsé de existência eterna) ao mesmo tempo que nos isenta de qualquer identificação ou filiação... não sei de quem sou filho.
Límpido como a existência eterna
não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste
Alcançar este Vazio, o Tao, o Caminho, significa compreendermos que o Tao, o Caminho, o Vazio, está muito além da Criação - quando Lao Tsé nos esclarece que fazemos parte de algo, o Tao, o Vazio, o Caminho, que é o Criador do criador... (este, o criador, denominado por Lao Tse de Rei Celeste).
Sendo assim, parece-me que restam-nos a compreensão de que, por um lado, existe algo que podemos chamar de Tao, o Caminho, o Vazio – mesmo que nada mais possamos falar sobre isso... - e, por outro lado, existe algo que podemos chamar de Criação e que a esta Criação pertencemos... Mesmo que esta Criação acabe, em última instância, compreendendo que é anterior ao seu Criador e mais ainda, que o próprio Criador advém do Tao, o Caminho, o Vazio – sobre o qual não se fala (porque não se tem como falar), não existe linguagem que possa falar sobre o Tao.
- assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 1.
Poderíamos, então, pensar em dois mundos que abarcassem não somente o Vazio e a Criação como também a própria dicotomia do fato da Criação ser ainda anterior ao próprio Criador, o Rei Celeste, Deus... Assim, podemos nomear o Céu Anterior e o Céu Posterior, o Mundo Não-Manifestado e o Mundo Manifestado.
O Céu Anterior, o Mundo da Não-Manifestação, pode ser compreendido também como uma manifestação do Tao, do Caminho, do Vazio.... porque sobre o Mundo da Não-Manifestação também não se fala, apenas se sente, se pressente... Certamente, podemos nos referir a ele como sutil, inefável, de existência eterna, o berço de todos os berços, o Princípio Primordial de onde tudo parte e para onde tudo retorna, a Fonte Original, o Absoluto, o Supremo Uno, o Uno, a Consciência Suprema.... Enquanto estivermos usando a linguagem para falarmos sobre o Mundo da Não-Manifestação, estaremos ainda o posicionando no Portal, na fronteira entre os dois Mundos...
E mais: ao começo de tudo e ao final de tudo, compreendemos que sempre há um antes do começo e um depois do final.... e que apenas existe – se é que podemos usar o verbo existir – o Mundo da Não-Manifestação... mesmo que o Tao, o Caminho, o Vazio, ainda esteja para além do Mundo da Não-Manifestação...
O Mundo da Manifestação, o Céu Posterior, é certamente também uma manifestação do Tao, o Caminho, o Vazio... porém sobre este Mundo podemos falar e podemos nos referir a ele sempre em termos cíclicos e em constante mutação: como sutil, como materializado, como sutil novamente, num ciclo incessante, sempre mutante, sendo sua existência manifestada em multiplicidade de existências duradouras, sempre em constante mutação em seus ciclos.... é a Criação. O Mundo da Manifestação possui forma - seja através de que maneira esta forma se manifesta.... - e existe a linguagem que abarque toda esta forma, ou seja, a forma está sempre permeada pela linguagem.
A Criação e toda a vida pertencente à Criação faz parte da duração. Tudo isso é o Mundo da Manifestação. No entanto, a constância da Vida já é algo pertencente ao Mundo da Não-Manifestação.
Sendo assim, parece-me que restam-nos a compreensão de que, por um lado, existe algo que podemos chamar de Tao, o Caminho, o Vazio – mesmo que nada mais possamos falar sobre isso... - e, por outro lado, existe algo que podemos chamar de Criação e que a esta Criação pertencemos... Mesmo que esta Criação acabe, em última instância, compreendendo que é anterior ao seu Criador e mais ainda, que o próprio Criador advém do Tao, o Caminho, o Vazio – sobre o qual não se fala (porque não se tem como falar), não existe linguagem que possa falar sobre o Tao.
O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas
- assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 1.
Poderíamos, então, pensar em dois mundos que abarcassem não somente o Vazio e a Criação como também a própria dicotomia do fato da Criação ser ainda anterior ao próprio Criador, o Rei Celeste, Deus... Assim, podemos nomear o Céu Anterior e o Céu Posterior, o Mundo Não-Manifestado e o Mundo Manifestado.
O Céu Anterior, o Mundo da Não-Manifestação, pode ser compreendido também como uma manifestação do Tao, do Caminho, do Vazio.... porque sobre o Mundo da Não-Manifestação também não se fala, apenas se sente, se pressente... Certamente, podemos nos referir a ele como sutil, inefável, de existência eterna, o berço de todos os berços, o Princípio Primordial de onde tudo parte e para onde tudo retorna, a Fonte Original, o Absoluto, o Supremo Uno, o Uno, a Consciência Suprema.... Enquanto estivermos usando a linguagem para falarmos sobre o Mundo da Não-Manifestação, estaremos ainda o posicionando no Portal, na fronteira entre os dois Mundos...
E mais: ao começo de tudo e ao final de tudo, compreendemos que sempre há um antes do começo e um depois do final.... e que apenas existe – se é que podemos usar o verbo existir – o Mundo da Não-Manifestação... mesmo que o Tao, o Caminho, o Vazio, ainda esteja para além do Mundo da Não-Manifestação...
O Mundo da Manifestação, o Céu Posterior, é certamente também uma manifestação do Tao, o Caminho, o Vazio... porém sobre este Mundo podemos falar e podemos nos referir a ele sempre em termos cíclicos e em constante mutação: como sutil, como materializado, como sutil novamente, num ciclo incessante, sempre mutante, sendo sua existência manifestada em multiplicidade de existências duradouras, sempre em constante mutação em seus ciclos.... é a Criação. O Mundo da Manifestação possui forma - seja através de que maneira esta forma se manifesta.... - e existe a linguagem que abarque toda esta forma, ou seja, a forma está sempre permeada pela linguagem.
A Criação e toda a vida pertencente à Criação faz parte da duração. Tudo isso é o Mundo da Manifestação. No entanto, a constância da Vida já é algo pertencente ao Mundo da Não-Manifestação.
A Vida possui constância e esta constância é sempre manifestada através a duração das vidas que têm seus começos, seus meios e seus finais.... para novamente acontecerem, no Mundo da Manifestação, enquanto novas vidas realizadas a partir da Vida constante advinda do Mundo da Não-Manifestação.
A Vida é constante e manifesta-se através da duração de cada vida.
Talvez, para exemplificarmos de uma maneira mais simples, podemos denominar o Céu enquanto constante e a Terra enquanto duradoura - tendo em mente que o Céu estaria representando o Mundo da Não-Manifestação e a Terra, o Mundo da Manifestação. O Céu traz o conceito da ilimitação, da infinitude, da não-forma, da inefabilidade..., enquanto a Terra traz o conceito da limitação, da forma finita, da materialização.
No Capítulo 7 do Tao Te Ching, Lao Tsé nos fala mais claramente ainda sobre a constância e a duração:
Dentro do ato da Eterna Mutação do Mundo da Manifestação, existe a constância do céu e existe a duração da terra. E ambos fazem a eterna mutação acontecer através do fato de que `não criam para si', ou seja, atuam enquanto suas próprias naturezas junto ao Tao, agem o Wei Wu Wei, a não-ação, a ação sem intenção - uma das Virtudes, Te, que devem nortear o Caminhante.
Em seu Capítulo 2, ao começo da segunda estrofe, Lao Tse nos diz:
Quando Lao Tse diz: "A existência e a inexistência geram-se uma pela outra", ele já está nos levando a adotarmos, a assumirmos a compreensão ditada pela impermanência de tudo no universo: a eterna mutação é a única não-mutação possível dentro do Tao da natureza.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO
Nesta Editora, também estão publicadas as interpretações de Wu Jyh Cherng sobre os 81 Capítulos do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse
A Vida é constante e manifesta-se através da duração de cada vida.
Talvez, para exemplificarmos de uma maneira mais simples, podemos denominar o Céu enquanto constante e a Terra enquanto duradoura - tendo em mente que o Céu estaria representando o Mundo da Não-Manifestação e a Terra, o Mundo da Manifestação. O Céu traz o conceito da ilimitação, da infinitude, da não-forma, da inefabilidade..., enquanto a Terra traz o conceito da limitação, da forma finita, da materialização.
No Capítulo 7 do Tao Te Ching, Lao Tsé nos fala mais claramente ainda sobre a constância e a duração:
O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Dentro do ato da Eterna Mutação do Mundo da Manifestação, existe a constância do céu e existe a duração da terra. E ambos fazem a eterna mutação acontecer através do fato de que `não criam para si', ou seja, atuam enquanto suas próprias naturezas junto ao Tao, agem o Wei Wu Wei, a não-ação, a ação sem intenção - uma das Virtudes, Te, que devem nortear o Caminhante.
Em seu Capítulo 2, ao começo da segunda estrofe, Lao Tse nos diz:
A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
Quando Lao Tse diz: "A existência e a inexistência geram-se uma pela outra", ele já está nos levando a adotarmos, a assumirmos a compreensão ditada pela impermanência de tudo no universo: a eterna mutação é a única não-mutação possível dentro do Tao da natureza.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta Editora, também estão publicadas as interpretações de Wu Jyh Cherng sobre os 81 Capítulos do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse