A Criação dos Filhos e Filhas do Céu e da Terra



A Criação dos Filhos e Filhas do Céu e da Terra

Janine Milward

Chien e K'un, o Sublime Yin e o Sublime Yang, aqueles que restaram do dilúvio - a expressão mínima e primordial da Criação -, estavam sobre uma montanha alta.  Essa montanha acaba sendo sua ligação mais forte  entre ambos: é o lugar onde a Terra se encontra mais próxima ao Céu.  Sabemos que a Terra possui um movimento descendente e sabemos que o Céu possui um movimento ascendente.  Ken, a Montanha, é a própria imagem dessa fusão mais íntima entre o Céu e a Terra e portanto é o Mestre sentado em seu silêncio - é o homem, aquele que traz consigo a compreensão da fusão entre o Céu e a Terra e realiza em si essa inter-ligação.

A Montanha vem mostrar a concretização plena do Planeta Terra, sua solidificação, seu resfriamento, aprontando seu solo para receber a natureza como um todo, toda a Criação que aqui vive.  As duas linhas Yin que compõem Ken, A Montanha, vem nos falar de sua plena interação com sua Mãe Terra, K'un, O Receptivo.  Porém, sua linha Yang ao alto cumpre sua missão de integração plena com Ch'ien, o Criativo, recebendo suas bênçãos da forma mais aproximada possível, dentro da Terra, dentro do Mundo da Manifestação.
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Ken, A Montanha, A Quietude, O Mestre. é considerado o filho mais jovem, pois, sendo filho direto de sua mãe, K´un, A Terra, O Receptivo, recebe o Yang do Criativo, trazendo-lhe a confiança da permanência na terra. em sua terceira linha (a linha do Céu)


Depois, a Terra acolheu a Água - possivelmente advinda dos meteoros incessantes que se chocavam com nosso solo, ainda em tempos primordiais da formação do nosso sistema solar.  A água nos vem falar do começo da vida sendo instaurada em nosso Planeta.  K'an, a Água, integrasse perfeitamente com K'un, sua Mãe Terra, através de suas duas linhas Yin, uma ao começo e outra ao final do Trigrama.  Porém, a linha Yang ao meio do Trigrama - representativa do Homem - é aquela que indica a vida no Planeta.
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A Água, Kan, A Lua, é considerado o filho do meio pois, sendo filho direto de sua mãe, K’un, A Terra, recebe de seu pai, Ch’ien, O Céu, a linha Yang no centro, o lugar do Homem


Essa fusão de água com o solo da Terra, acabou proporcionando o advento da vida da natureza.  Essa natureza acaba sendo também imajada através da madeira - porque a flora se iniciou ainda antes da fauna e da conseqüente vida humana -, e certamente tudo isso pôde vir a acontecer a  partir do advento do ar, da atmosfera.  Em Sun, o Vento, encontraremos duas linhas Yang, a segunda e a terceira, representativas do Homem e do Céu, e uma linha Yin, a primeira, representativa da Terra.  Sendo assim, existe o movimento descendente de Sun, o Vento, enquanto Madeira e arraigado à Terra.  E existe seu movimento ascendente, enquanto Ar e voltando para o Céu.
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Dessa forma, podemos compreender que a Mãe Terra, K'un, deu berço a si mesma de forma inteiramente concretizada através de seus Filhos Ken, a Montanha, K’an, a Água, e Sun, o Vento.  A Montanha e a Água possuem movimentos descendentes, assim como a Terra.  Porém o Vento, quando imaja o Ar, já possui movimento ascendente.  No entanto, também o Vento imaja a Madeira, que possui movimento descendente, preso à Terra.

Sun, O Vento, A Suavidade, A Madeira. é considerada a filha mais velha, pois sendo filha direta de seu pai Ch’ien, O Céu, recebe a linha Yin de sua mãe, K’un, A Terra, trazendo-lhe o Retorno da Não-Luz em sua primeira linha ( a linha da Terra)


Todas essas inter-relações deram motivação ao advento de Chen, o Trovão.  O Trovão nasce na Terra mas acaba sendo evocado no Ar, em direção inteiramente ascendente, rumo ao Céu.  Através do Trovão, existe essa inter-ligação da vida contínua atuada por Ch'ien, o Pai, o Criativo, e a possibilidade dessa mesma continuidade infinita e iluminada da vida contínua ser atuada de forma plural por K'un, a Mãe, o Receptivo, em sua formatação da criação concretizada da natureza, como um todo, em sua linha vazada, dupla, que nos traz a idéia de pluralidade enquanto a linha contínua do Criativo nos traz a idéia da unicidade do Tao, o Absoluto.

Em Chen, o Trovão, encontraremos a primeira linha - linha da Terra - em atuação Yang, o Retorno da Vida, e fazendo esse retorno da vida acontecer inteiramente associado à Terra pela confirmação das duas linhas Yin seguintes, linhas do Homem e do Céu, em atuação Yin.
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Chen, O Trovão, O Incitar, O Despertar, O Retorno da Luz, O Irromper .é considerado o filho mais velho, pois, sendo filho direto de K´un, O Terra, O Receptivo, recebe o Yang de seu pai, Ch’ien, O Criativo, trazendo-lhe a energia do Retorno da Luz. em sua primeira linha (a linha da Terra),


O Trovão acaba trazendo consigo o Fogo, o raio dinamizador da vida, através Li, o Fogo - também imajado por seu movimento inteiramente ascendente.  O Fogo, no entanto, precisa sempre Aderir a algo e esse algo precisa ser objetivado dentro do Mundo da Manifestação, ou seja, dentro da concretude da forma da Criação advinda de K'un, A Terra, a Mãe, o Receptivo.

Sendo assim, a linha Yin - linha do meio e pertencente ao Homem - em Li, o Fogo, é seu Vazio que se interliga essencialmente à Terra, K'un, o Vazio.  No entanto, suas duas linhas Yang - primeira e terceira, linhas da Terra e do Céu - perfazem a ligação de fusionamento de ação do Fogo entre a Terra e o Céu, entre o Aderir e sua própria e natural expansão.
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O Fogo, Li, O Sol, é considerada a filha do meio pois, sendo filha direta de seu pai, Ch’ien, O Céu, recebe de sua mãe, K’un, A Terra, a linha Yin no centro, o lugar do Homem


Finalmente, tudo novamente retorna à Terra, o Receptivo, em sua concretização de vida dentro do Mundo da Manifestação porém sempre podendo refletir em si mesmo o Mundo da Não-Manifestação de vida do Pai, o Criativo.  Portanto, entra em cena Tui, o Lago, a reunião de todas as Águas perfazendo o imenso espelho do Céu na Terra, permitindo a realização do grande ciclo da vida, através do ciclo da Água. 

Portanto, o Lago possui movimento descendente, por estar colado à Terra, mas também possui, de alguma maneira, movimento ascendente, porém apenas de forma subjetiva, por espelhar o Céu, por permitir que o ciclo da água da vida possa realizar seu Retorno aos céus - do sutil à materialização e ao retorno ao sutil: esse é o ciclo da vida, assim como a conhecemos, dentro do Tao da Criação.

A terceira linha de Tui, o Lago - linha do Céu - é uma linha Yin que permite que o Vazio de K'un, a Mãe, a Terra, possa vir a acontecer de forma que o Céu possa vir a ser espelhado na Terra de forma plena em sua vida de atuação Yang através das suas duas linhas, primeira e segunda, que expressam a própria Terra e o Homem.
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Tui, O Lago, A Alegria. é considerada a filha mais jovem, pois sendo filha direta de Ch'ien, O Céu, recebe, o Yin do Receptivo, trazendo-lhe a receptividade do céu na terra. em sua terceira linha (a linha do Céu).

 O Caminho do Céu e da Terra

O Caminho do Céu é o caminho que vai da Terra ao Céu, de K’un a Ch’ien, do Vazio à Plenitude da Iluminação, da Não-Luz à Luz, do Inconsciente ao Consciente, do Céu Anterior ao Céu Posterior.

O Caminho da Terra é o caminho que vai do Céu à Terra, de Ch’ien à K’un, da Plenitude da Iluminação ao Vazio, da Luz à Não-Luz, do Consciente ao Inconsciente, do Céu Posterior ao Céu Anterior.

Ao trilhar o seu Caminho do Céu, K’un, A Terra, A Grande Mãe, O Vazio, O Receptivo, A Não-Luz Manifestada, vai tecendo todos os seus encontros, consigo mesma, com seus Filhos até encontrar Ch’ien, O Céu, O Pai, O Criativo, A Luz... Também seus Filhos vão se encontrando entre si e com A Mãe e O Pai... Finalmente Ch’ien, O Pai, também se encontra com K’un, A Mãe, e com cada um de seus Filhos para finalmente encontrar-se consigo mesmo, terminando o ciclo de encontros da Família do Céu e da Terra... e certamente trazendo o começo da Luz Manifestada para fazer um novo ciclo acontecer..... E esse ciclo se renova a partir de Ch’ien, O Céu, trilhando o Caminho da Terra, percorrendo o caminho ao inverso.

Esse é o Caminho do Céu e da Terra na Seqüência dos Hexagramas do Céu Anterior, do Mundo da Não-Manifestação, aquilo que dá início a um novo universo manifestado.

Alcançando o extremo Vazio e
permanecendo na quietude da extrema quietude
os dez mil seres se manifestam simultaneamente
e, através disso, contemplamos o seu retorno

Assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 16.




 A Família do Céu e da Terra, o Revirão dos Oito Trigramas

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K’un, A Terra       Ch’ien, O Céu

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Li, O Fogo            K’an, A Água      Chen, O Trovão

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Sun, O Vento    Tui, O Lago         Ken, A Montanha


 Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Foto: sítio das Estrelas, Janine