O vazio



O Vazio

Wu Jyh Cherng


A argila é trabalhada em forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto

A argila não tem forma e pode tomar qualquer forma.  Mesmo que se crie uma forma na argila, ainda assim ela permanece com o vazio dentro de si. E por isso, se torna útil.  Se o vaso não tiver um vazio, não será um vaso.  O sino ecoa por causa de seu vazio.



Trinta raios convergem ao Vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo


Antigamente na China, a roda era feita de madeira.  Cada roda tinha trinta raios que ligavam um arco no centro a um arco maior externo formando a roda.  O centro da roda interna ficava vazio para ali poder se encaixar o eixo.  Para que o eixo fosse encaixado, a roda da carroça tinha que ter esse vazio.  Sem esse vazio, a roda não existiria.

Também se não existisse o vazio por entre os raios da roda, ela se tornaria muito pesada.

Podemos perceber, então, que existe um vazio no centro da roda, por entre os raios da roda e fora da roda.  E é principalmente o vazio do centro que permite a roda girar.  É desse vazio do centro que toda a roda e toda a carroça podem se movimentar.

Lao Tse nos alerta que, se não houver o vazio do centro, não há como fazer a roda girar.  Sem o vazio entre os raios, não há como tornar a roda mais leve e se não houver o vazio fora da roda, a roda nem precisa existir.

Igualmente, em linguagem simbólica, se não existir o vazio interior em cada um de nós, não há como fazer rodar toda a Consciência e toda a nossa Energia.  Esse vazio do centro simboliza uma quietude, um não-julgamento interior que permite tudo girar em torno de nós, naturalmente. 

O vazio dos raios simboliza a leveza que devemos oferecer à nossa vida material, nossa vida física, nossa energia vital e a todos os pensamentos para serem manifestados de uma maneira mais sutil, mais leve. 

Por último, se não tivermos um espaço fora de nós para nos abrigar, nada pode acontecer ou existir.

Tudo é o mesmo vazio.  Esse vazio sempre existiu mesmo antes de existir a roda.  Esse vazio continua existindo mesmo que a roda não esteja rodando.  O vazio continuará existindo mesmo que um dia não existam mais rodas e as rodas não sejam mais necessárias.  O vazio permanece.

Esse vazio é o que chamamos de Autêntica Terra: é onde podemos encontrar a realização da fusão da Vida com a Consciência nessa roda.  A Consciência simbolizada é pelos raios e a Vida simbolizada é por esses círculos que seguram os raios.  Assim, se a Consciência não for segurada, sustentada pela Energia, ela se esvazia.  Sem Energia vital, não pode haver pensamento, não se executa o pensamento.


Na prática do Taoísmo, esse Vazio interior é realizado através da meditação.  Em chinês, a palavra Meditação é dividida em duas: _______________  e ______________.   

___________  significa quietude, silêncio.  

________________ significa sentado. 

Sentado em silêncio, silenciosamente sentado, sentado no silêncio.  Sentar-se na quietude, entrar na quietude, colocar a quietude dentro de nós.

(Nota da Transcritora: em sendo a transcrição realizada à distância e através a escuta de fita cassete gravada, as duas palavras em chinês não foram compreendidas).

Capítulo 11


Trinta raios convergem ao Vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo

A argila é trabalhada em forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto

Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa

Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade

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FOTO: Sítio das Estrelas, Janine Milward

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 11
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em agosto de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching