ALQUIMIA
Wu Jyh Cherng
Capítulo 10
Quem conduz a realização do
corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível;
Quem respira com pureza por
alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança;
Quem purifica através do
conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.
Ame o povo e governe o reino
através do “não-conhecimento”;
Ilumine e clareia os quatro
cantos através da “não-ação”;
Abra e feche a porta do Céu
através da “ação feminina”.
O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.
Este texto fala de toda a realização da Prática Taoísta - basicamente fala sobre a Alquimia - apenas
que todos os empreendimentos estão por detrás.
Vamos então continuar buscando esclarecer...
Quem conduz a realização do
corpo por abraçar a Unidade
A pessoa se realiza abraçando a Unidade, trazendo para si a
Consciência da Unidade. Como ela realiza
isso? É preciso fundir, unir as cinco
forças que existem no universo.
No Taoísmo, simbolicamente, se considera que existam cinco forças
dentro do universo, ou cinco elementos: fogo, água, madeira, meta e terra. Estes elementos representam simbolicamente os
cinco tipos de energia, cinco tipos de Consciência, cinco partes do ser.
O elemento Fogo corresponde ao espírito da pessoa.
O elemento Água corresponde às essências vitais da pessoa, fluidos,
hormônios, os componentes do sangue, todas as matérias orgânicas e vitais que
existem dentro de nós.
A Madeira corresponde à alma.
A alma é a Consciência com personalidade; o espírito é a Consciência sem
personalidade.
O Metal corresponde ao corpo.
A Terra corresponde à vontade.
Na prática da Alquimia Taoísta, para uma pessoa alcançar a Unidade
do ser, tem que unir o corpo à alma; tem que juntar o espírito à essência e
colocar esses dois eixos verticais e horizontais dentro de um único elemento,
que é o elemento terra, elemento do centro, da vontade.
A vontade, portanto, é a capacidade de juntar o corpo à alma, o
espírito ao físico, fazendo a pessoa abraçar a Unidade.
Os cinco elementos também podem ser interpretados dentro de uma
outra visão:
Pode-se entender o Fogo como Consciência, a Água como o Sopro. Em nossa prática de meditação, nós juntamos a
Consciência com o Sopro. Sopro é energia
vital. Na medicina chinesa, os cinco
elementos atuam como estimuladores e controladores.
A Madeira tem o poder de criar Fogo; o Metal tem o poder de criar
Água.
Em outro simbolismo, se o Fogo é a Consciência, a Madeira é uma
condição prévia que permite a criação da Consciência, que chamamos a
Consciência do Céu Anterior.
O Metal tem a capacidade de criar Água, ou seja, ao se derreter o
metal, ele se torna líquido. A Água
representa o Sopro, o Metal é a condição prévia que é capaz de ser transformada
em emergia, essa energia é chamada de Sopro do Céu Anterior.
O que é a Consciência do Céu Posterior? Céu Posterior significa as coisas
manifestadas. Uma árvore natural na
floresta tem uma madeira do Céu Anterior, genuína, nunca foi polida, sempre foi
assim. Uma cadeira é uma madeira já em
estado de Céu Posterior porque foi modificada, polida.
Desse modo, a energia vital que existe no universo tem duas
qualidades: uma energia que já tenha sido moldada pelo pensamento, pelo
costume, pela genética e uma outra que nunca foi tocada, é genuína, não possui
forma. A energia, o Sopro do Céu
Posterior, tem forma, o Sopro do Céu Anterior não tem forma.
A Consciência do Céu Posterior é uma Consciência que tem
forma. O pensamento é uma forma concreta
ou uma forma abstrata; o sentimento tem uma forma concreta ou uma forma
abstrata.
A Consciência pura é apenas uma Consciência, pertencendo ao Céu
Anterior. A Consciência do Céu Posterior
tem um julgamento, uma intenção, um valor: assim, não é uma Consciência pura.
Quando nos sentamos para meditar, devemos colocar nossa Consciência
dentro do Sopro. O primeiro passo é
colocar o Fogo dentro da Água. Como
fazê-lo? Colocando nossa atenção dentro
do ar que respiramos.
Enquanto o ar entra e sai, existe um volume mesmo que impegável e
invisível mas que pode ser percebido - assim como soprar um balão de plástico
dentro de um balde de água, fazendo o balão crescer. O ar tem volume. O ar é Sopro, sempre tem volume. Consciência não tem volume. Colocar a Consciência dentro do Sopro é
exatamente mergulhar o Fogo dentro da Água.
Esse é o primeiro passo.
Se conseguirmos fazer essa união, não mais teremos Água em oposição
ao Fogo. Teremos apenas os dois juntos,
no centro. Uma Consciência dentro do
Sopro. Na linguagem simbólica, esse eixo
que liga o ser ao Sopro chama-se ‘eixo norte-sul’; norte embaixo e sul em cima.
No Planeta Terra, o eixo norte-sul significa toda a massa de Terra
girando em torno de si mesma: pode-se dizer, então, que realmente existem norte
e sul. Porém, leste e oeste não existem:
se a Terra é redonda, qualquer ponto de uma direção para frente é leste e
qualquer ponto de uma direção para trás, é oeste - em relação ao ponto
anterior.
É preciso se usar um pouco de imaginação: a partir do momento em
que se adquire essa Consciência, percebe-se que essas duas linhas giram em
torno de um mesmo eixo. Metal vai para o lugar da Madeira e Madeira ocupa o
lugar do Metal e, na verdade, um se junta ao outro. Quando a força converge em direção de si mesma,
a Consciência converge para o centro e o Sopro converge para o centro. Nesse movimento, o eixo ao mesmo tempo
que se compensa, fica mais próximo, mais
próximo, mais próximo... até chegar a um ponto.
A partir daí, tudo se encolhe ao ponto.
Na prática, isto significa que, na meditação, conseguimos colocar a
Consciência dentro do Sopro chegando ao ponto quando a Consciência e o Sopro
não podem mais ser divididos, separados.
Aparecerá, então, uma segunda energia, uma segunda Consciência
girando em torno de nós, entrando em nós, até se fundir conosco. Isso é o que chamamos de “Recolhimento da
Matéria Prima” ou Prima-Matéria.
A matéria-prima é a matéria a ser utilizada na realização de
qualquer coisa.
Se quisermos transformar nossa Consciência e nossa vida, precisamos
juntar, primeiramente, a nossa Consciência, nosso espírito, ao Sopro em um
ponto e ao mesmo tempo, através dessa concentração, criar um centro de
gravidade em nós mesmos. Esse centro de
gravidade vai fazendo com que a energia da Consciência cósmica que vem de fóra,
nos penetre. Essa entrada chama-se
Recolhimento da Matéria Prima.
Essa energia que vem de fóra - a Consciência pura - é muito maior que nós, muito mais
poderosa. É uma energia transformadora:
nossa cabeça muda, nossos sentimentos mudam, nossa Consciência muda - nos
tornamos outra pessoa. Aparentemente,
continuamos os mesmos, mas nos tornamos uma outra pessoa porque pensamos,
sentimos com uma compreensão interior totalmente modificada.
A sociedade, como um todo, doutrina que as experiências de
transformação são perigosas e inaceitáveis..., que o homem não deve dar sequem
um passo na direção da transformação. Do
ponto de vista da Alquimia, o importante é a transformação. A grande busca é a transformação. Ao conseguirmos realizar tal tarefa,
passaremos a ser pessoas mais lúcidas, mais verdadeiras. Os pensamentos e os conceitos não mais nos
atrapalharão e nossa Consciência será uma Consciência de pura luz, clara,
simples. A vida torna-se simples.
Num processo de transformação, a Consciência une-se ao Sopro - a
Consciência do Céu Anterior uni-se ao Sopro do Céu Anterior - nesse momento, a
Consciência se torna translúcida.
O Sopro do Céu Anterior é uma energia genuína, uma energia que
ainda não incorporou os costumes, os hábitos; uma energia que não sofreu as
interferências da emoção e do pensamento.
É uma energia muito poderosa, que vem de fóra de nós, e ao nos penetrar,
acaba nos purificando, purificando nossa energia interior, afastando as
doenças. Quanto mais pura a energia,
mais ativa e energética ela é. Quanto
mais tensa, mais envelhecida e sem qualidade.
Quando mais nova a energia, mais rápida, ativa e luminosa ela é.
Ao entrar a energia do Céu Anterior, a energia do Céu Posterior
também será transformada. Como a
Consciência já estava unida ao Sopro, entrando a nova Consciência do Céu
Anterior e o Sopro do Céu Anterior, haverá uma transformação física. Essa transformação física acontece por três
vezes e chama-se As Três Rodas de Moinho.
A Roda de Moinho é aquela que leva a água para lugares mais altos,
para auxiliar na distribuição de água, na irrigação, etc. Na linguagem da Alquimia, as Rodas de Moinho
significam o despertar da circulação de energias vitais. Água significa energia vital; Fogo simboliza
a Consciência; as Rodas de Moinho levam a água de baixo para cima e de cima para baixo, sempre rodando, rodando,
significando a energia despertando em nosso corpo e começando a circular com
uma intensidade bem maior.
Esse despertar é diferente daquele da Kundalini, bem conhecido no
ocidente. O despertar da Kundalini é
linear, vai debaixo para cima, despertando a energia Inferior do corpo e
fazendo-a subir até a cabeça.
A Roda de Moinho é cíclica, não tem princípio nem fim, e por isso,
chama-se Roda. Não é linear.
No momento em que a energia do Sopro do Céu Anterior entra em nosso
corpo, essa energia começa a se movimentar em movimentos circulares: são
milhares de Rodas que acontecem dentro do corpo girando simultaneamente. Como a Consciência não está separada e
estamos em estado de êxtase, de olhos
fechados, sentados em profunda meditação, nessa hora, nossa Consciência está
viajando por todas as partes do nosso corpo junto com essas Rodas de Moinho.
As Rodas de Moinho vão desbloqueando todos os canais de energia que
existem em nosso corpo. Existem cerca de
36 mil canais de energia incluindo grandes ou pequenos. Na acupuntura, usamos doze grandes canais e
oito ainda maiores. Todos esses 36 mil
canais são purificados, rodando, rodando, rodando... Às vezes, uma rodada dura de vinte a trinta minutos
e a cada vez que sentarmos para meditar, as Rodas vão aparecer. É um fenômeno estrondoso e são poucas as
pessoas que conseguem atingir esse nível.
Existem três tipos de Rodas
de Moinho:
O primeiro tipo de Roda de Moinho é mais energético, mais
físico. Algo meio líquido, meio
vaporoso, que circula dentro de nosso corpo.
A sensação dura dez, vinte, trinta minutos e ainda continua ao longo do
dia. Acontece quando entramos em
êxtase e chega o dia em que todos os
canais ficam totalmente purificados, todos os centros de energia do corpo são
purificados, tudo fica limpo.
Naturalmente, essa Roda de Moinho cessa, perdendo sua intensidade, nos
fazendo entrar num período de imensa tranqüilidade na meditação.
Anos mais tarde, entra-se no segundo estágio. A Roda de Moinho agora é chamada de ‘Jade
Líquido’. Jade é uma pedra preciosa
normalmente branca ou ligeiramente
esverdeada. A branca é melhor. Nesse nível da Segunda Roda de Moinho -
difícil de acontecer -, sentem-se todos os 36 mil canais do corpo preenchidos
por um néctar como se fosse um creme de
leite; este é o Jade Líquido que é uma espécie de líquido branco e luminoso que
circula dentro do corpo. Toda a parte
física é então purificada. É um fenômeno
poderosíssimo porque não é mais algo energético - a Roda de Jade líquido é uma
espécie de líquido mesmo, circulando como um néctar dentro do corpo. Também cessa, depois de um tempo.
Após vários outros anos, entra-se no terceiro estágio: o estágio da
Roda de Luz Púrpura. É uma luz que
circula dentro e fora do corpo, uma grande luminosidade. Depois de um tempo, termina.
Estamos falando de fenômenos do nível de mestres
ascensionados. Se você consegue colocar
sua mente dentro do seu Sopro, praticando todos os dias, isso já lhe vai trazer
equilíbrio e harmonia. Se você consegue
se manter por duas a três horas no estado de êxtase, sem pensamentos, sem
confusão interior, naturalmente, o Sopro do Céu Anterior entrará em você e lhe
trará grandes transformações quanto ao seu comportamento, sua saúde física e
psíquica, seus traumas vindos das infinitas vidas passadas e desde seu
nascimento serão varridos bem como os complexos e as loucuras.
Existe o conceito no Taoísmo de que, quando uma pessoa nasce para a
vida, não traz nada a não ser seu Karma.
E quando vai embora, não leva nada a não ser seu Karma. Esse Karma levado e trazido é exatamente tudo
aquilo que a pessoa guarda dentro de si.
Quando entra a primeira Roda de Moinho, esse Karma interno começa a
ser varrido e modificado porque a Consciência muda e a energia também muda: as
doenças desaparecem, as neuroses e complexos começam a ser eliminados, o
comportamento se modifica e a pessoa começa a adquirir as características de um
mestre espiritual.
Quando a pessoa atinge a segunda Roda de Moinho, ela já atingiu um
estágio acima da condição normal humana,
todo o organismo físico é alterado. Na
antiguidade da China, existiram diversos mestres que alcançaram esse nível.
....................................
Essas pessoas que chegaram a este nível - chamado de ‘sangue
modificado’ -, já atingiram a segunda Roda de Moinho. O corpo físico ainda morre deixando esse
néctar porque a pessoa ainda não atingiu o terceiro nível.
O terceiro nível é a Roda de Moinho da Luz. A partir daí se cria o chamado ‘corpo de
luz’. Alguns mestres da antigüidade,
confirmados pelos textos clássicos, conseguiram se transforma a tal ponto que o
corpo todo transmutava. Na hora da
ascensão, o corpo físico não apenas
morre e o espírito ascensiona.
Não. O corpo físico todo se
transforma em luz e desaparece no espaço.
Isso existe tanto no Taoísmo como em algumas facções do Budismo. O Corpo de luz é a transformação de mais alto
nível: a terceira Roda de Moinho.
Voltando ao princípio: tudo isso está dentro do ‘abraçar a Unidade’. A Unidade pode ser abraçada no nível do Sopro
e do Espírito unidos. Pode ser abraçado
no nível do corpo físico. Pode ser
abraçada por um corpo que se tornou um
Corpo de luz. Parece uma coisa fantasiosa, ficciosa, mas é assim que contam
todos os textos clássicos. Os mestres
espirituais também falam sobre isso e são pessoas sérias. Não ficam, porém, proclamando aos quatro
ventos - porque senão, as pessoas correriam para realizar os fenômenos e não
seria por abraçar a Unidade.
Abraçando a Unidade, pode-se chegar a altos níveis de
transformação. Qualquer um pode chegar,
não existem predestinados. Existem gurus
espirituais que nasceram com um dom de transformar metal em ouro, mas que não
possuem métodos para passar a seus discípulos.
A Alquimia propõe que, através de uma tradição hermética - uma vez
a pessoa realmente recebendo a Iniciação e recebendo a chave da Iniciação (que
é a transmissão oral) -, essa pessoa é capaz de receber uma técnica que só
precisa da dedicação pessoal e da realização pessoal para se poder conseguir
essa transformação e alcançar a sagração do homem por seu próprio esforço.
Esta é a grande diferença entre o conceito da Alquimia e o conceito
daqueles ‘predestinados’ em relação à transformação.
Mestre Maa sempre diz que a realização da Alquimia serve para todas
as pessoas. Pode ser uma pessoa com
intelecto alto ou com intelecto baixo.
As pessoas com intelecto alto mas com a Consciência baixa - somos nós
mesmos -, são exatamente aquelas com maior dificuldade. Quem tem a Consciência alta é aquela pessoa
que já nasceu com a quietude interior.
Também aquela pessoa com o intelecto baixo e que, por isso, não ocupa a
cabeça com muitas coisas, acaba conseguindo entrar na quietude interior sem
muito esforço... Nós - os medianos -,
somos pessoas cheias de conceitos na cabeça, cheias de informações; não somos
exatamente ignorantes mas também não somos conscientes - portanto, somos
aqueles que têm as piores condições de se realizar.
Mestre Maa também diz que para podermos fundir as cinco energias em
uma - juntando Metal com Madeira, Fogo com Água - é preciso ter essas cinco
forças psíquicas dentro de nós, essas cinco energias, de forma bem preservada,
pouco lesada.
Esses cinco elementos são lesados por sete questões:
-
A euforia e a ira são prejudiciais ao elemento Madeira, à força do
elemento Madeira que existe dentro de nós.
-
O susto e o terror prejudicam nosso elemento Metal.
-
A angústia e a depressão lesam o elemento Fogo.
-
A dispersão, a falta de concentração, prejudica o elemento Terra.
-
A perversão e a volúpia prejudicam as essências vitais, o elemento
Água.
Uma pessoa que fique todo o tempo irada, prejudica sua alma; se
assustando ou vivendo em terror, prejudica seu corpo, seu elemento Metal. Uma pessoa que fica todo o tempo sob
depressão e angústia, vai prejudicar seu coração, seu elemento Fogo. Uma pessoa que está todo o tempo se
desgastando na volúpia, ou seja, com excesso de prazeres sensoriais ligados à
comida, ao sexo, enfim, tudo em excesso, está prejudicando suas essenciais
vitais, seu elemento Água. A dispersão
vai fazendo com que nossa força de vontade decresça, prejudicando o elemento
Terra, a vontade que está no centro.
Mestre Maa nos diz que antes de quereremos ser super-homens com
Rodas de Moinho, corpos de luz, deveríamos tentar ser homens comuns e para
sermos homens comuns temos que evitar esses desgastes para que as energias
permaneçam equilibradas dentro de nós.
A partir do equilíbrio das cinco energias, é que conseguimos
juntá-las dentro de nós para encontrarmos o Um, a unidade do ser. É a partir da unidade do ser que conseguimos
nos transformar.
Na prática cotidiana, é preciso se tomar cuidado para não se deixar
cair no desequilíbrio dos cinco elementos.
Como fazer isso? Não criando
oportunidades para se aborrecer, não criando chances para ficar depressivo,
arrasado. Se não criar, não acontecerá,
e, conseqüentemente, não será preciso reprimir.
Todas as iras, angústias, já são grandes vícios que trazemos da
infância ou mesmo de vidas anteriores.
Vício é personalidade. Combatendo
o vício, também se reformula o estar social e os amigos através de um novo
comportamento, uma nova conduta.
Por isso, Lao Tse diz:
Quem conduz a realização do
corpo por abraçar a Unidade, pode tornar-se indivisível
“pode tornar-se indivisível” - indivisível significa as cinco forças numa só: Consciência do
Céu Anterior e do Céu Posterior, Sopro do Céu Anterior e do Céu Posterior, como
uma só coisa. Estaremos em toda a parte
e também não estaremos aprisionados em parte alguma.
A Roda de Moinho surge a partir do Sopro do Céu Anterior.
Em práticas de Chi Kun, com técnicas de respiração taoístas,
concentrando em um ponto do corpo com muita intensidade, pode-se conseguir uma
pequena circulação de energia - aí não se chama roda de moinho. Essa pequena circulação é chamada de
‘Pequena Circulação do Céu’, ou Celestial.
Existe uma prática de Meditação em Concentração que não pode ser
feita sem a assistência de um mestre.
Normalmente, as pessoas tendem a fazer práticas místicas sem qualquer
assistência; isso é perigoso.
Na Alquimia, temos um conceito muito claro em relação a isso: o
caldeirão é o seu corpo, a matéria prima é o seu Espírito e seu Sopro. Se acontecer um acidente, o caldeirão ficará
destruído, o Sopro e a Consciência se perderão e a pessoa pode adoecer. Como se trata de uma técnica que mexe não
apenas com o Sopro mas com a psiquê, essa alteração tem que ser feita de uma
maneira responsável.
Em qualquer escola que se pratique a meditação, é preciso que a
pessoa seja assistida por alguém que já tenha passado pelas experiências e
pode, dessa maneira, auxiliar seus discípulos.
A medicina comum não trata desses tipos de fenômenos, que não são
considerados ‘normais’ e sim, paranormais.
A tradição da Alquimia deixa claro que cada mestre só pode passar e
iniciar uma técnica para outros se ele próprio já tiver passado e recebido os
ensinamentos de um mestre. E seu mestre
teria recebido de um mestre anterior, que teria recebido de outro mestre ainda
mais anterior...., dessa maneira, forma-se o que se chama de Tradição.
Na Tradição Taoísta, o primeiro elo da corrente é Lao Tse. Lao Tse também teve o seu mestre espiritual,
naturalmente. Toas as principais escolas
tradicionais e autenticas taoístas vêm de Lao Tse. A partir dele foram tecidas duas grandes
ramificações que deram lugar a dezenas de outras escolas. Em qualquer uma delas, sempre veremos que o
mestre do mestre do mestre do mestre, percorrem um longo tempo na história até
chegar a Lao Tse.
Cada fundador de Ordem também é considerado mestre nessa grande
corrente. Na China, existem dezenas de
ordens taoístas e dentro dessas, cinco aparecem como as mais importantes. Uma ordem só acontece a partir de um mestre
ascensionado, entretanto, o mestre pode fundar uma Ordem se já alcançou esse
nível ainda em vida. Esse é o caso da
Ordem Ortodoxa Unitária, que é a Ordem que nós seguimos. Nosso Mestre Inicial é chamado de Mestre Celestial.
Voltando ao assunto da Meditação em Concentração, existem pessoas
que concentram a energia mais ou menos quatro dedos abaixo do umbigo. Essa concentração se chama Tan Kin - plantio
do Elixir.
Através de uma meditação correta e intensiva, concentra-se muita
energia nesse lugar. A concentração se
torna tão intensa que a energia nesse ponto se torna inquieta, como se fosse
água fervida, um vapor vibrante, efervescente, subindo e descendo. Essa energia vibrante força a saída através
dos canais de evacuação e micção, e se isso acontecer, toma o nome de ‘Perda de
Elixir’ ou ‘Perda da Matéria Prima’.
Essa perda pode gerar um enfraquecimento instantâneo e a pessoa
passa mal. Para que isto não aconteça,
se usa um segredo chamado ‘Fechamento
das Portas’ - as Portas Inferiores são fechadas, a energia bate mas não consegue
sair. Nessa hora, deve-se utilizar uma
pequena intenção para a energia subir por detrás, através de um canal de
energia chamado ‘Vaso Governador’, que passa por dentro da coluna vertebral
indo até o cérebro e esse percurso é chamado de ‘Pérola de Argila’.
Depois disso, a energia desce novamente e existe outra técnica para
que ela não se esvaia pelas narinas ou pela boca. Essa energia desce pela frente, pela parede
interna da cavidade torácica que é um canal chamado ‘Vaso de Concepção’, e
volta ao ponto inicial.
Diariamente, essa energia circula dentro do corpo, naturalmente as
portas se fecham já sem esforço. A
energia continua circulando e a Consciência passa a atuar no centro e percebe o
giro da energia tal qual uma roda. Esse
ciclo de energia chama-se ‘Pequeno Círculo do Céu’ ou celeste.
Normalmente, a energia circula através desses dois canais - vaso
governador e vaso de concepção - de baixo para cima. A energia do vaso conceptivo sobe até a raiz
da língua numa intensa energia de baixo para cima, tornando, portanto, bastante
difícil essa inversão de corrente. Para
tanto, pé preciso se fazer muita força para inverter a força da corrente que
era ascendente para descendente. Com a
força da inversão, a energia passa a correr em círculos e quando isso acontece,
entra-se no primeiro estágio desse tipo de Alquimia, chamado ‘Círculo do Céu’.
O ‘Círculo do Céu’ não é a Roda de Moinho que é dez mil vezes mais
poderosa do que essa prática.
No Circulo do Céu existem dois ramais de energias despertados.
Na Roda de Moinho, todos os canais do corpo são despertados de uma
só vez: vaso de concepção, vaso governador, vaso despertador, vaso da cintura,
todos os meridianos, todos os sub-meridianos, canais colaterais, flutuantes,
grandes, pequenos, invisíveis, etc. São
todos os 36 mil canais despertados de uma vez e isso traz uma enorme circulação
de energia através de todo o corpo.
Nessa hora, a pessoa tem que estar
extremamente firme e concentrada em meditação de alto nível.
Na meditação comum, pode-se alcançar o estágio da Primeira Roda.
Quem consegue o efeito da Circulação do Céu chega a um ponto de
transcendência da necessidade sexual e de outros estímulos físicos. No momento em que as portas são fechadas para
a circulação interior de energia, também as portas ficam fechadas para o sexo.
A prática do Círculo do Céu pertence à Alquimia Inferior. A Roda de Moinho aparece tanto na Alquimia
Mediana como na Alquimia Superior.
Na Alquimia Inferior, o centro de concentração é chamado de ‘Plantio
do Elixir'. Após circular por bastante
tempo dentro do corpo, essa energia que continua concentrando a Consciência e a
energia, instala-se no baixo abdômen onde cria uma espécie de bolota. Essa bolota é a concentração e união da
Consciência com a Energia - esse é o Elixir que foi plantado naquele
lugar. Nesse momento, se alcança o que
se chama de ‘Feto Sagrado’.
Posteriormente, esse Feto Sagrado deverá ser transferido para outros
centros para ser processado e reprocessado em outros níveis.
A meditação praticada por nós não concentra em nenhum centro e, por
não concentrar em nenhum centro, é de nível Superior. A concentração em um centro pode significar
apego ao nível físico. O nível físico
fica no nível do Chi da energia e da Consciência mais baixas. Não concentrando em nenhuma parte do corpo,
faz com que a Consciência fique mais elevada e a Energia mais sutil. Por outro lado, ao provocar a Roda de Moinho,
a Energia e a Consciência que foram elevadas e sutilizadas, ficam igualmente
distribuídas dentro do corpo e, por não se concentrarem em nenhum centro,
também não formam o Elixir.
Na Alquimia Superior, especificamente, a meditação é praticada
muito parecida com a que nós fazemos, apenas que, quando toda a energia tiver
alcançado o estágio de fazer rodar os 36 mil canais, ela irá permanecer em
algum lugar de uma dimensão sutil - e não no nível físico. E não se tem domínio sobre isso. Esse lugar é chamado de Portão Negro.
O Portão Negro não está dentro do corpo nem fóra do corpo; não está
no mundo da psique nem no mundo físico;
não é visível nem é invisível; não pode ser sentido mas pode ser
sentido. O Porão Negro está além da
linguagem, numa condição além da linguagem.
Como conseguir isso? Apenas o
Mestre conhece o Portão Negro e pode dizer onde ele está. Somente o Mestre que já se realizou poderia
descobrir e revelar onde se encontra o
Portão Negro.
Dentro do Taoísmo, existe uma única filosofia que dirige diversos
níveis de conhecimento, diversos níveis de prática.
Existem as práticas chamadas de Artes, que são: o I Ching, a
Geomancia, a Quiromancia, a Astrologia, o Tai Chi, etc.
Subindo de nível, estas práticas são chamadas de Leis e são
práticas de Magia, Rituais, Mentalizações, Concentrações, Trabalhos com as
forças cósmicas e arquetípicas, Trabalhos com a força sagrada celestial através
do Mantra, do Canto, das Invocações.
Subindo mais ainda de nível, existe a transmutação, a prática do
Tao. A prática do Tao é a pura transformação, a própria Alquimia.
Dentro da Alquimia existem três categorias: Celestial, Humana e Terrestre.
A categoria Celestial praticamente não existe mais nos dias de hoje
e nem posso explicar como ela funciona porque não sei muito bem sobre esse
assunto.
A categoria Humana é a Alquimia baseada no homem, é a Alquimia
interior.
A categoria Terrestre é a Alquimia que trabalha com a matéria que
existe fóra do nosso corpo.
Dentro dessas três Alquimias, ainda existem três níveis: Alquimia Superior, Alquimia Mediana e
Alquimia Inferior.
A Alquimia Superior, não trabalha com nenhuma forma imaginável ou
inimaginável.
A Alquimia Inferior sempre trabalha com alguma forma imaginável.
A Alquimia Mediana sempre trabalha entre o imaginável e o
inimaginável. Trabalha com a forma e a
não-forma, entre a forma e a não-forma ao mesmo tempo.
Quanto mais alto o nível da Alquimia, mais simples, sutil e fácil é
a técnica porém mais difícil de se conseguir resultados. Descendo de nível, a Alquimia é mais
complicada, mais detalhada porém mais fácil de se conseguir resultados.
Com relação aos resultados, quem pratica a Alquimia Superior, uma
vez alcançando os resultados, atinge o mais alto grau de Resplandecência. Quem alcança os resultados da Alquimia
Inferior ainda tem que passar pela Alquimia Mediana e depois ascender para a
Superior, senão fica limitado a uma resplandecência de nível mais baixo.
No Taoísmo existe, portanto, todo esse volume filosófico de
conhecimentos e todas essas diferentes classificações.
A roda de moinho só acontece nas Alquimias Mediana e Superior. O Círculo do Céu só acontece na Alquimia
Inferior. No nível da Lei, muitas vezes
une-se a magia com a arte. Aquele que
faz magia não associada a qualquer Alquimia, é feiticeiro.
Eu tenho um Mestre que ainda vive e que atingiu esse Círculo do Céu. Ele pratica a Alquimia Inferior, é um
exorcista muito forte, bravo, poderoso, consegue ver tudo o que está no astral,
executa serviços, etc. Ele tem essa
bolota no baixo abdômen por causa da intensa energia concentrada nesse ponto.
A maioria dos magos não tem força própria, eles invocam as forças
das divindades ou de outras entidades para trabalharem: eles são apenas
organizadores. Meu mestre não é apenas
um organizador, ele tem força própria para atuar com poder próprio. Sua magia é uma magia Superior, que nós
chamamos de Grande Magia.
A Grande Magia é aquela que somos capazes de obter com a força
fundida, unida com a força da divindade.
É preciso ter muita força energética, muita Consciência pessoal porque o
empreendimento é grande.
Meu Mestre é uma pessoa que foi bem-sucedida em juntar todas essas
forças, o que é um caso raríssimo hoje em dia.
Existem muitas pessoas que dominam a magia sem a realização
interior. Às vezes, possuem a realização
interior mas desprezam as práticas mágicas, optando por se conservar mais
‘puros’, apenas meditando.
Meu mestre, porém, atua em três níveis: ele domina as artes da
Astrologia, do I Ching; ele domina a Magia e também a Alquimia - apenas que sua
Alquimia não é das mais altas.
Retornando ao texto:
Quem respira com pureza por
alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança
Desmembrando a frase, percebemos algumas palavras-chaves.
Respirar com pureza - alcançar a suavidade - tornar-se criança - são três coisas. Quem respira com pureza pode alcançar a suavidade
e, conseqüentemente, se tornar uma criança.
O que é respirar com pureza?
Simplesmente respirar. Tudo o que
se faz com pureza, se faz simplesmente, com transparência.
A pureza é pura. Respirar
com pureza quer dizer respirar puramente, simplesmente respirar, sem colocar
pensamentos bons nem pensamentos ruins, sem colocar boa intenção ou menos
ainda, má intenção. Qualquer pensamento
perverso e/ou má intenção poluem nossa mente, poluem nossa energia, nosso Sopro. Qualquer pensamento positivo torna nosso
Sopro formal mesmo que seja uma forma positiva que é a antítese do
negativo. O bom é a antítese do
ruim. Quem está apegado a uma energia
boa, está apegado conscientemente ou inconscientemente à uma energia ruim.
Na prática da Alquimia ou de qualquer meditação taoísta, é preciso
simplesmente se colocar a Consciência dentro do Sopro. Consciência sem julgamento, Consciência sem
intenção, Consciência sem ser nada apenas uma pura Consciência. Isso é respirar com pureza.
Em sua vida cotidiana, o taoísta antes de ser um super homem, tem
que ser um homem normal. Um homem normal
tem discernimento. Isto não quer disse
que não se pode mais julgar. Não. O julgamento deve ser feito como na prática da meditação. Naquele momento, a pessoa está parada, não fazendo
nada. Nessa hora não pode haver
julgamento. Na vida comum, é preciso se
ter discernimento.
Não julgando durante o momento da meditação faz com que possamos
trazer o Sopro da pureza para nós.
Assim, Ele diz:
Quem respira com pureza por
alcançar a suavidade....
Alcançar a suavidade - o que é a suavidade?
Suavidade é não-conhecimento e não-julgamento. Reagir com suavidade significa não
reagir. A força reage; a suavidade
não. A suavidade é receptiva.
Dentro do I Ching, a linha da suavidade é a linha Yin, a linha da
receptividade. Qual é a linha da força,
do contrário da suavidade? É a linha
Yang. Qual é o Trigrama, o Hexagrama? A força é criativa, é imposição, é opinião
determinada, objetividade. Suavidade é
receptividade, abrangência, o abraçar e o dissolver sem julgamentos, sem
conceitos, sem pensamentos.
Aquele que alcança a suavidade da Consciência é capaz de respirar
com pureza, é capaz de ter uma pura respiração, é capaz de alcançar o
não-julgamento; simplesmente tem a Consciência dentro do Sopro e dessa maneira
pode tornar-se criança - criança recém nascida.
O bebê ainda não sabe, ainda não tem discernimento. O bebê é suave, não só em seu corpo como
também em seu comportamento. Existem
crianças mais agitadas, mas de qualquer maneira, todos os bebês são mais suaves
e brandos.
Se nos compararmos com a nossa própria infância, éramos mais suaves; hoje somos mais
rígidos. Criança, simbolicamente, é a
antítese do idoso. A criança é
recém-nascida e o idoso está nas vésperas da morte. Quanto mais vivemos, mais rígidos nos
tornamos em nosso corpo, em nossos ossos, em nossa cartilagem e em nosso
comportamento.
Tornar-se criança - é retornar a um estado de suavidade, de pureza, de abrangência,
de potencialidade latente. Potencialmente,
todas as crianças podem ser sadias e bem educadas. E pouco sadias e mal-educadas,
posteriormente. Todo resultado posterior
parte de uma potencialidade. É como se
fosse um barro já torneado numa bacia, levado ao forno para queimar, passando a
ter uma forma definida. Antes disso,
porém, era apenas barro e tinha a potencialidade de ser infinitas coisas.
Quem consegue ter uma Consciência pura dentro do Sopro puro, acaba
voltando a um estado anterior de ser; consegue recuperar dentro de si uma pureza,
uma ingenuidade que sempre teve, que tinha quando criança.
Quando éramos crianças, acreditávamos que muitas coisas eram
possíveis, éramos mais idealistas, mais otimistas, acreditávamos nas
coisas. Hoje já não acreditamos tanto e
em alguns casos, não acreditamos mais em nada.
Então, as pessoas sofrem porque hoje não conseguem fazer mais as coisas
como antes, quando eram crianças puras.
Através da transformação da Alquimia, recuperam-se as
potencialidades latentes. Através da
meditação intensiva, estamos o tempo todo recebendo esse Sopro, essa
união. Nos modificamos, voltamos ao
nosso princípio. Rejuvenescemos,
fisicamente e psicologicamente, trazendo de volta uma série de esperanças de
coisas que hoje temos uma vaga memória que acreditávamos e que não acreditamos
mais, passamos a acreditar nas coisas, de novo.
A criança acredita que o sonho possa acontecer. O adulto, não. O mundo em que vivemos é feito conforme a
nossa Consciência. quando não conseguimos
mais sonhar, o mundo torna-se triste.
Quando voltamos a sonhar, nosso mundo se torna mais acessível, mais
possível.
Por isso, os mestres, grandes alquimistas, retornam a esse estado
de ser criança: são capazes de penetrar no universo do mistério, passam de uma
dimensão para outra, voam, se transfiguram, se transformam tal como acontece
nos contos de fada. Para esses mestres,
esses são fenômenos paranormais ou sobrenaturais que acontecem em torno da
vida. Nós, que somos adultos,
entretanto, na maioria das vezes, achamos que esses conceitos são conversas de
velho, mundo de misticismo e de superstição...
Toda a experiência mística pode ou não ser vivida, depende do
coração de cada um. Duas pessoas, uma
com o coração rígido não consegue viver; outra, com o coração amaciado, voltará
a viver.
Todas as crianças são potencialmente místicas porque, para elas,
tudo é possível. Criança fala sozinha,
conversa com amigos que não se vêem. Os
mestres espirituais também falam sozinhos, conversam com amigos que não vemos.
A diferença é que as crianças normalmente têm acesso a esse mundo
de mistérios - que nós chamamos de mundo do sonho, da ilusão, da fantasia, e
que no mundo do misticismo, se chama mundo do mistério - mas não conseguem
explicar para nós numa linguagem que nós reconhecemos. Nossa linguagem é racional e intelectual
sobre esse mundo dos mistérios.
O mestre espiritual é um velhinho que já viveu uma vida inteira e
depois retornou a esse mundo infantil e redescobriu sua capacidade de abrir a
porta dos mistérios. Ele tem a
possibilidade de explicar para nós esse mundo do mistério - que é o mesmo em
que as crianças vivem - usando uma linguagem filosófica, com fundamentos,
explicando para nossas cabeças racionais entenderem. A partir daí são criados os ensinamentos e as
explicações esotéricos e místicos.
Os mestres choram, os mestre riem.
Riem sem euforia, sentem tristeza sem sofrimento, sem desespero. Simplesmente refletem a realidade. Quando se chora com desespero e se ri com
euforia, algo está errado. Mas é assim
que vivemos. É preciso voltar a viver
cada gesto, naturalmente, como cada gesto deve ser. Esse é o chamado Homem Autêntico, o homem que
vive o estado real, verdadeiro.
Transcender a emoção, o sentimento, o pensamento, não significa
perder a emoção, o sentimento, o pensamento.
Transcender o domínio da mente não significa perder a capacidade de
pensar, a capacidade intelectual. Muito
pelo contrário. Passa-se a ter uma maior
lucidez interior para exercer e utilizar esses recursos naturais sem problemas.
Essa criança, simbolicamente falando, passa a habitar o coração do
homem adulto sem que ele perca o domínio do seu mundo adulto.
Quem purifica através do
conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.
Conhecimento do mistério - é exatamente aquela porta
que se abre mostrando o mundo dos mistérios.
É a entrada do Sopro do Céu Anterior.
O Sopro do Mistério é o Sopro do Céu Anterior.
Quem possui o conhecimento do Mistério pode se purificar através de
uma Consciência que já existe em toda a parte.
Pode se purificar através do Sopro que é criador de todos os outros
Sopros. A pessoa se torna purificada,
imaculada. Para isso, é preciso se
alcançar o Portão Negro.
Resumindo, neste pequeno trecho inicial, Lao Tse fala da prática da
meditação taoísta como uma prática de Alquimia - nesse caso entende-se a
Alquimia como processo de transmutação.
Essa Alquimia é realizada através da fusão da Consciência pura com
o Sopro genuíno do indivíduo trazendo para si o Sopro do Céu Anterior do
macrocosmo e a Consciência pura do macrocosmo dentro de nós. Essa grande força injetada dentro de nós nos
limpa psiquicamente e fisicamente, varrendo todos os traumas, todos os
complexos, loucuras e distúrbios. Varrendo
e purificando aos poucos... até que tudo fique totalmente purificado. Quando isto acontece, nós conseguimos
retornar a viver o estado genuíno de ser que é a verdadeira maneira de
ser. De sorrir na hora de sorrir, de
chorar na hora de chorar; de trabalhar simplesmente trabalhando; de fazer as
coisas simplesmente fazendo, de agir com naturalidade, de descansar na hora de
descansar, realizar na hora de realizar.
A grande diferença entre a Alquimia e as outras práticas
espirituais, é que a Alquimia acredita que através de uma técnica correta de
fusão da Consciência com o Sopro, pode-se gerar um efeito transformador que faz
com que nós, naturalmente, nos modifiquemos.
E não através da doutrinação disciplinada. Quem medita vai ter, naturalmente, um comportamento
diferente - não através de uma discriminação ou de uma doutrinação, mas através
de uma modificação natural.
No Taoísmo, não se trabalha a mudança do comportamento no
comportamento. Trabalha-se a mudança do
comportamento fóra do comportamento.
Para tanto, é preciso meditar diariamente, purificar a Consciência,
ficar fóra da forma da linguagem do comportamento para poder conduzir a
linguagem e a forma do comportamento de uma maneira adequada. Para se carregar uma mala, tem que se estar
fóra dela.
Trabalhando fóra da situação, obtém-se um resultado natural.
Aula de 09 de agosto de 1994
O restante da interpretação do Capítulo 10 se encontra na
transcrição da aula seguinte, a do dia 16 de agosto.
...................
Aula de 16 de agosto:
(síntese da aula anterior e
continuação do Capítulo 10)
Capítulo 10
Quem conduz a realização do
corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível;
Quem respira com pureza por
alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança;
Quem purifica através do
conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado.
Ame o povo e governe o reino através
do “não-conhecimento”;
Ilumine e clareia os quatro
cantos através da “não-ação”;
Abra e feche a porta do Céu
através da “ação feminina”.
O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.
No Taoísmo, considera-se que existam cinco forças dentro do
universo, ou cinco elementos: Fogo,
Água, Madeira, Metal e Terra. Estes
elementos representam os cinco tipos de energia, os cinco tipos de consciência,
as cinco partes do ser.
O elemento Fogo corresponde ao Espírito da pessoa.
A Água corresponde às Essências Vitais, aos fluidos, hormônios, os
componentes do sangue, todas as matérias orgânicas e vitais que existem dentro
de nós.
A Madeira corresponde à Alma.
A Alma é a Consciência com personalidade; o Espírito é a
Consciência sem personalidade.
O Metal corresponde ao Corpo.
A Terra corresponde à Vontade.
Na prática da Alquimia Taoísta, para uma pessoa alcançar a unidade
do ser, tem que unir o corpo à alma, tem que juntar o espírito à essência e
colocar esses dois eixos - vertical e horizontal - dentro de um único elemento,
que é o elemento terra, elemento do centro, da vontade.
A vontade, portanto, é a capacidade de juntar o corpo à alma, o
espírito ao físico, fazendo a pessoa abraçar a Unidade.
Também o Fogo pode ser entendido como a Consciência; a água como o
Sopro, a energia vital.
A meditação acontece através da fusão da Consciência com a energia
do centro, da Terra, através da Vontade numa concentração exata. Essa concentração trabalha com duas Energias
e duas Consciências ao mesmo tempo: é
necessário que a Consciência do Céu Posterior se junte ao Sopro do Céu
Posterior; é necessário que a Consciência do Céu Anterior se junto ao Sopro do
Céu Anterior.
O que é a Consciência do Céu Posterior? O Céu Posterior são as coisas manifestadas.
Uma árvore natural na floresta tem uma madeira do Céu Anterior, genuína. A cadeira é uma madeira já em estado do Céu
Posterior porque foi modificada, polida.
A Consciência do Céu Posterior é uma consciência que tem forma. A consciência pura é apenas uma Consciência,
pertencendo ao Céu Anterior. A
Consciência do Céu Posterior tem um julgamento, uma intenção, um valor: assim
não é uma consciência pura.
Mestre Maa nos diz que para podermos fundir as cinco energias em
uma - juntando o Metal com Madeira, Fogo com Água - é preciso ter essas cinco
forças psíquicas dentro de nós de forma bem preservada, pouco lesada.
A euforia e a ira são
prejudiciais ao elemento madeira.
O susto e o terror prejudicam
nosso elemento metal.
A angústia e a depressão lesam o
elemento fogo.
A dispersão, a falta de
concentração, prejudicam o elemento terra.
A perversão e a volúpia
prejudicam as essenciais vitais, o elemento água.
A partir do equilíbrio das cinco energias, é que conseguimos
juntá-las dentro de nós para encontrar o Um, a Unidade do Ser. E é a partir da Unidade do Ser que
conseguimos nos transformar.
Na prática da meditação, o elemento Terra corresponde ao ponto de
concentração ou ponto de convergência.
Numa linguagem simbólica, veremos que é da Terra que se retira a
Madeira, é da Terra que se extrai o Metal, a Terra sustenta o Fogo e a Terra
recolhe a Água. Todos os elementos
convergem em direção ao elemento Terra.
Nas escolas orientais, existem infinitas práticas de meditação
porém basicamente, essas técnicas se resumem em dois fundamentos: a
concentração e a contemplação.
A concentração é uma atitude ativa da Consciência e a contemplação
é uma atitude passiva da Consciência. O
ponto da convergência é o ponto da contemplação ou o ponto da concentração.
Na meditação taoísta trabalha-se simultaneamente com a concentração
e a contemplação: ao mesmo tempo que se contempla, se entra dentro do seu
próprio ponto de concentração. É preciso
concentrar num ponto por fóra como também entrar dentro desse ponto e se tornar
esse ponto. Nesse momento, estaremos no
ponto da concentração e estaremos no ponto da contemplação. Somos a força que concentra ao mesmo tempo
que somos o centro que contempla tudo o que gira em torno de nós.
Quando colocamos a Consciência dentro do ar que respiramos, esse ar
é o ponto de concentração, estamos observando, temos nossas consciência fóra do
aparelho respiratório e observamos o ar que entra e sai. O ar que entra e sai é o ponto de
concentração.
Quanto também entramos dentro desse ar, atingimos o estágio de nos
tornar a própria contemplação. É
entrando na própria concentração que podemos contemplar e concentrar ao mesmo
tempo. Nessa hora, conseguimos ter as
duas consciências: a Consciência Yang, que é a concentração, o ativo; e a
Consciência Yin, que é a contemplação, o passivo. A Consciência atinge o estado do Tai Chi, o
estado do Uno.
A Fixação é como um estado de êxtase quando não mais sentimos nosso
corpo, não mais sentimos nossa respiração, não mais existem pensamentos ativos,
apenas uma consciência fundida dentro de uma energia que não tem forma. É um estado de caos, onde não há
diferenciação.
Essas questões são abordadas no texto de Lao Tse, quando Ele diz:
Quem conduz a realização do
corpo por abraçar a Unidade,
Pode tornar-se indivisível
Abraçar a Unidade - é a colocação da
Consciência do Céu Anterior e do Céu Posterior no mesmo ponto e a colocação do
Sopro do Céu Anterior e do Céu Posterior no mesmo ponto; a colocação da
Consciência dentro do Sopro de uma vez: é a entrada nesse estado ‘indivisível’.
Quem respira com pureza por
alcançar a suavidade,
Pode tornar-se criança
Desmembrando-se a frase, percebemos palavras-chave: respirar com pureza - alcançar
a suavidade - tornar-se criança
O que é respirar
com pureza? É simplesmente respirar. Tudo o que se faz com pureza, se faz
simplesmente, com transparência. A
pureza é pura.
Alcançar a suavidade - O que é suavidade?
Suavidade é não-conhecimento é não-julgamento. Reagir com suavidade significa não
reagir. A força reage, a suavidade
não. A suavidade é receptiva. Dentro do I Ching, a linha da suavidade é a
linha Yin, a linha da receptividade. A
força é criativa, é opinião determinada, objetividade. Suavidade é receptividade, abrangência, o
abraçar e o dissolver sem julgamentos, sem conceitos, sem pensamentos. Aquele que alcança a suavidade da consciência
é capaz de respirar com pureza, é capaz de alcançar o não-julgamento,
simplesmente ter a Consciência dentro do Sopro e dessa maneira, pode tornar-se
criança.
Tornar-se criança - é retornar a um estado de suavidade, de pureza, de abrangência,
de potencialidade latente. É um estado
anterior de ser.
Os grandes mestres - grandes alquimistas - retornam a esse estado
de ser criança: são capazes de penetrar no universo dos mistérios, passam de
uma dimensão para outra, voam, se transfiguram, se transformam tal como
acontece nos contos de fadas. O mestre
espiritual é um velhinho que já viveu uma vida inteira e depois retorna a esse
mundo infantil e redescobre sua capacidade de abrir a porta dos mistérios. Ele tem a possibilidade de explicar para nós
o mundo do mistério - que é o mesmo em que as crianças vivem.
Quem purifica através do
conhecimento do Mistério,
Pode tornar-se imaculado
É a porta que se abre mostrando o mundo dos mistérios. É o Sopro
Uno do Céu Anterior. É a Energia Única
anterior à criação do universo. Existe
uma força latente que ‘criou’ o universo, mesmo depois de o universo ter sido
‘criado’, essa força permaneceu existindo e co-existindo com a força do
universo já criado - que nós chamamos de Sopro Uno do Céu Anterior.
Essa energia do Sopro do Mistério é uma coisa misteriosa, uma
grande carga de energia que entra dentro de nós quando estamos em profunda
Fixação na meditação, trazendo as Rodas de Moinho que vão fazendo uma
revolução, circulando e limpando todos os 36 mil canais existentes em nosso
corpo e nos purificando totalmente. É
uma escala de despertar muito mais potente do que a força da Kundalini. A força da Kundalini é linear. O Sopro do Mistério ou Sopro Uno do Céu
Anterior, é uma força esférica que desperta
todos os canais de uma só vez, como se fosse uma bomba atômica que estoura
dentro de nós. Depois dessa explosão,
essa força se retrai, é guardada e concentrada - o que chamamos de Elixir da
Imortalidade. Após um longo tempo de
trabalho, esse Elixir se transforma no que chamamos de Feto Sagrado, na
Alquimia Taoísta.
Quando o Feto Sagrado estiver pronto, o Espírito da pessoa deixa de
ser o governante de seu corpo e entra
dentro do Feto Sagrado para ser governante desse Corpo Sagrado. Então, a pessoa se transforma em um ser
dentro de um corpo imortal que mora dentro de um corpo mortal. O Corpo Solar, quando estiver totalmente
amadurecido, passa a ser chamado de Espírito Solar. Esse Espírito Solar tem o poder de separar-se
do corpo físico. A pessoa - veículo
feito de Sopro do Céu Anterior com Consciência do Céu Anterior - tem o poder de
criar matéria do Céu Posterior e a atividade mental do Céu Posterior também
para escrever, pensar, materializar.
Cria-se, então, a potencialidade de multiplicação espiritual e física.
No desenho ilustrado a capa do livro O Segredo da Flor de Ouro,
aparece um homem sentado e de sua cabeça saem outros inúmeros homens
significando a multiplicação e a materialização do Corpo Solar.
Chuang Tzu nos conta uma história sobre Lao Tse e um dos seus
discípulos que era bastante curioso e visitava vários outros mestres sempre
falando muito bem de seu próprio mestre - Lao Tse - e sempre convidando os
outros gurus a conhecê-lo.
Um dia, um guru foi conhecer Lao Tse e disse: Eu consigo não apenas
ver a pessoa mas como também sua alma.
Na verdade, este guru considerou que a alma de Lao Tse não tinha
qualquer brilho. E foi-se embora.
Lao Tse chamou-o novamente à sua presença. Pela segunda vez, o guru viu o mestre, só que
dessa vez pareceu-lhe estar vendo outra pessoa mas mesmo assim, considerou que
Lao Tse não tinha brilho algum. E foi
embora.
E Lao Tse voltou a convidar o guru para vir vê-lo uma terceira
vez. O guru olhou para Lao Tse, ficou
desesperado e saiu correndo porque dessa vez, ele não havia conseguido enxergar
a alma do mestre. E pensou: Esse homem
não tem alma!
Lao Tse então explicou que o Homem Sagrado não tem alma, porém pode
transfigurar-se em vários tipos - uma hora ele pode ser o homem mau, o aspecto
da maldade que existe em uma pessoa.
Outra hora, ele pode ser um velhinho, outra pessoa, pode apresentar uma
expressão de compaixão.... E em outro momento, ele pode desaparecer. Porque ele não tem as múltiplas faces, ele
pode manifestar todas as faces, todas as imagens.
Ame o povo e governe o reino
através do “não-conhecimento”
Na linguagem simbólica, o ‘reino’
é o corpo. O ‘povo’ são todas as partes que
compõem o corpo: cada célula, cada partícula do corpo físico. Quem ama o povo e governa o reino? O rei. O rei é a Consciência. Se diz então aqui que a consciência da pessoa
deve amar cada parte do seu corpo - ame o povo - e de governar seu ser - governe seu reino - com integridade através do
não-conhecimento.
Não-conhecimento é a Consciência Pura. O
conhecimento é a limitação da consciência.
A diferença entre consciência e conhecimento é que conhecimento é uma
consciência direcionada ou parcial. A
Consciência é uma compreensão total das
coisas.
Ilumine e clareia os quatro
cantos através da “não-ação”
Iluminar e clarear significam o despertar da Consciência. Tudo se torna claro, iluminado. É preciso que se entenda que Iluminação não é
bem a luminosidade, quando tudo fica iluminado, não é iluminação, é visão. A Iluminação é algo totalmente fóra dos
fenômenos sensoriais. Iluminação é o
clareamento da Consciência.
Os quatro cantos - a frente significa o futuro; atrás, o passado; esquerda e
direita são os lados Yin e Yang das coisas.
A esquerda é Yang e a direita é Yin.
Na verdade, se o lado esquerdo for Yin ou Yang e o direito Yang ou Yin,
está se falando da mesma coisa: um fala da essência e outro fala da manifestação. um fala de uma parte mais abrangente e outro
fala do núcleo.
Não-ação - através do estado de não-ação, que é o estado da quietude. Não-ação significa ação não intencional. Não-ação é deixar as coisas acontecerem,
simplesmente.
Abra e feche a porta do Céu
através da “ação feminina”
A porta do Céu - pode ser entendida como o
canal que liga o homem ao universo. É o
canal que leva a pessoa para uma Consciência maior e ilimitada. Na simbologia do I Ching, existe a trilogia
do Céu, da Terra e do Homem. O céu é a
antítese da terra. A terra é finita e o
céu é infinito. Pode-se medir o tamanho
da terra mas é impossível se medir o tamanho do espaço. O Portão do Céu se encontra dentro do homem e
é uma abertura onde a consciência do homem pode se encontrar com a dimensão da
infinitude.
Como se abre a Porta do Céu?
É preciso uma chave, essa chave é a Ação Feminina. A Ação
Feminina não é uma ação brusca e sim uma ação suave. Não se pode abrir a Porta do Céu com uma ação
brusca ou dura. Essa é a chave da
não-chave. Para se abrir a porta do
universo não se usa força nem chave nem conhecimento, mas sim o coração,
através da Ação Feminina.
No último trecho, Lao Tse diz:
O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.
A Misteriosa
Virtude é algo
criador e gerador.
O que gera e cria - o que é gerar e criar?
Todas as mulheres podem gerar um filho mas nem todas criam seus
filhos. Gerar é o princípio e criar é a
continuidade. Todo o princípio tem que
ter uma continuidade.
Quando o Tao, como o Absoluto, gerou o universo - no momento em que
o universo foi gerado - esse universo passou a receber a assistência do próprio
Tao, continuamente, através da criação.
Criação é a continuação da geração.
Gerar e criar.
Gera mas sem se apossar - O Absoluto gerou todas as
coisas e em seguida, criou todas as coisas.
E, apesar de gerá-las e criá-las, não possui as coisas, não se apossa
das coisas.
O Tao cria mas não se apossa: ele apenas auxilia.
Para o homem que deseja a vida, o Tao dá a vida. Para o homem que deseja a morte, o Tao lhe
oferece a morte - assim nos diz Mestre Maa.
Age sem querer para si - O Tao faz as coisas mas não as quer para si. O Tao simplesmente faz as coisas. Gera e cria mas não se apossa e por isso o
Céu e Aterra podem seguir seus cursos naturais.
O Tao não pertence ao Taoísmo.
O Tao não pertence aos Taoístas.
O Taoísmo e os Taoístas são aqueles que buscam o Tao. Também outra pessoa que não seja taoísta pode
estar perfeitamente buscando o Tao, sem saber disso.
Cultiva mas sem dominar - O Tao dá a vida, mas não domina a vida. O bonzai, por exemplo, é tipicamente
anti-taoísta por causa da interferência que o bonzai permite na naturalidade do
andamento da Vida.
Misteriosa Virtude - é a virtude de se deixar as coisas agirem naturalmente.
Mestre Maa nos diz que o homem que instaura o Tao em si, deve
aprender a não-forma, o não-nome e o não-sentido do Tao para criar a não-forma,
o não-sentido e o não-nome. Dessa
maneira, esse homem pode se tornar o próprio Tao que pode criar todas as coisas
sem possuí-las, sem dominá-las. Isso se
chama Misteriosa Virtude. A Misteriosa
Virtude é uma virtude invisível.
Por isso, Lao Tse fala inúmeras vezes que o Homem Sagrado beneficia
a humanidade sem que a humanidade
perceba.
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FOTO: Sítio das Estrelas, Janine Milward
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA
VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do
Capítulo 10
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
TRECHO EXTRAÍDO DA
Transcrição e Síntese realizada
por Janine Milward
A partir de Aula Gravada
na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 09 e 16 de
agosto de 1994
Aula de 16 de agosto de 1994
Esta foi a segunda parte do Capítulo 10, que teve seu início de
interpretação no dia 09 de agosto.