A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas


Foto: Capítulo 27 - TAO TE CHING, LAO TSE

Tradução e Interpretação do Capítulo 27
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número
A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser   aberta
O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado

Assim, o Homem Sagrado 
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele   que é bom
Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado

A tudo isso denomina-se Maravilha e Essência 


Este Capítulo fala da importância, da característica, de uma conduta perfeita.

Uma pessoa que fala boas palavras, não será criticada.  Uma pessoa que faça uma boa caminhada, não deixa rastros.

“O bom cálculo não utiliza medida nem número” - Existe um ditado que diz assim:  Não há cálculo do homem melhor do que o cálculo do céu.

Por mais que queiramos driblar o destino, por mais que tenhamos recursos para alterar e enganar o destino, nunca seremos bem sucedidos.

Uma coisa muito desejada, pode ser perdida.  Uma coisa muito bem fechada, não precisa de ferrolho, não precisa de algo rígido.

Para ser fazer um nó perfeito, não se pode fazê-lo de corda porque todos os nós feitos de corda podem ser desatados.  Somente o nó que não é feito de corda, é que não pode ser desatado.


Na prática espiritual, a “caminhada que não deixa rastros ou pegadas” refere-se à Grande Realização, ao Grande Caminho.


Dentro do Taoísmo, existem o Grande Caminho e o Pequeno Caminho.  As puras realizações espirituais são chamadas de Grande Caminho.  As práticas artísticas ou a sabedoria de viver algo da arte e algo da vida, são chamadas de Pequeno Caminho.

O Tao, como Absoluto, não tem uma forma definida.  Inúmeras vezes, dentro do Taoísmo, nos utilizamos de simbolismos como a água, a nuvem, o vento para simbolizar a característica não-formal, da não-forma do Tao.

A nuvem está se modificando todo o tempo.  Nunca sabemos de onde surge nem onde termina.  A nuvem está sempre em constante modificação.

O Grande Tao é também assim.  Ele não pode ser encontrado em uma maneira rígida.  Ao mesmo tempo, está em toda parte, ao mesmo tempo não é limitado por nada, pode ter uma forma ou ter outra forma, pode modificar sua forma.  E, justamente por essa não-limitação de Sua forma de manifestação, assim se demonstra Sua infinitude como Sua manifestação.  Sua natureza é o Absoluto.

Mestre Maa nos diz que os Pequenos Caminhos são aqueles onde podemos encontrar um princípio, um durante e um fim.  O Grande Caminho é aquele que não tem princípio, que não se define o durante e que não tem fim.

Dentro desses Caminhos existem inúmeras práticas espirituais que trazem efeitos, resultados, fenômenos bastante determinados.


Falemos dos efeitos energéticos:

Conhecemos dentro do Taoísmo a Circulação do Céu ou Pequenos Círculos Celestes que são energias que sobem pela coluna vertebral através do vaso governador, chegando até a cabeça e descendo pelo vaso de concepção, pela frente, circulando assim por todo o corpo da pessoa, até a raiz da vida.

Através da prática mística da Alquimia, ainda dentro das características do Pequeno Caminho - A Alquimia Inferior -, encontramos o efeito da transmutação de uma maneira linear onde se encontra o início, o durante e o fim.  Nessas práticas, depois de um longo tempo de meditação - de boa meditação -, surge uma energia efervescente na região do baixo abdômen.  Essa energia tende a sair pelos órgãos genitais ou pelo reto.  Esse escape de energia pode acontecer através do próprio processo  biológico-físico. 

Muita energia centralizada no baixo abdômen começa por vibrar e procurar uma saída.  Nessa hora, o praticante aprende a controlar-se para que a energia não escape.  Em seguida, com as portas fechadas, a energia normalmente sobe pelo meio até o coração e a garganta e depois, desce.  Mas quando encontra um caminho bem mais aberto, essa energia efervescente entra na região do sacro e vai para trás, subindo dentro da coluna vertebral através da medula, até chegar ao cérebro.  Desce então pela frente e volta para a região do períneo.  Esse é o movimento circular de energia.

Esse movimento da energia chamado de Pequena Circulação do Céu ou Pequeno Círculo Celeste acontece durante a meditação.  É uma ação natural.  

No Chi Kun, mentaliza-se essa energia dentro do corpo, chama-se ______ ____________, ou seja, canalização de energia.  (Nota da Transcrição: não foi possível entender estas palavras).

É um tipo abaixo da Alquimia e se chama Circulação do Veículo Vazio.  Só pode acontecer quando se tem uma energia bastante grande para sair e ir abrindo o caminho naturalmente.  Os canais de energia do corpo vão sendo abertos e limpos, fazendo-se a conexão entre os centros inferiores com os meridianos superiores.

Como conseqüência, acontecem inúmeros fenômenos como alteração da consciência, abertura da visão, premonição, visualização, capacidade de memória, aumento de poderes energéticos e curativos, auto-cura, etc.

Cada vez que os Círculos Celestes aparecem, aumentam nossa capacidade humana de ser.

Essa maravilha de efeitos é ainda chamada pelos mestres taoístas de Pequenos Caminhos.

Por que Pequenos Caminhos ainda?

Porque têm começo, se encontram o durante e o fim.  Todos esses fenômenos terminam um dia (dando lugar a outros fenômenos).  Ainda são fenômenos lineares.

Mestre Maa nos diz que na Alquimia Inferior se coloca a Consciência unida ao Sopro em outros centros energéticos, o que provoca a Pequena Circulação do Céu.  Tudo com começo, durante e fim.



Na Alquimia Superior, esse fenômeno não se chama Pequena Circulação do Céu.  Chama-se Roda de Moinho.  É também uma circulação de energias.  Apenas que são 36 mil canais de energia do corpo que são despertados de uma só vez.  E a Consciência não consegue detectar de onde começa esse despertar de energia e não sabe onde termina.  O corpo fica como tomado de milhares de ‘ventiladores’ e todos os 36 mil meridianos são despertados de uma só vez.  Parece que a pessoa está dentro de uma enorme tempestade.  É preciso, então, deixar a Consciência quieta e deixar todo o corpo vibrar com a energia.  Esse não é um processo linear.

Esse é Grande Caminho que Mestre Maa nos ensina.  Com ele, o fenômeno aconteceu pela primeira vez durante duas horas e meia.  Ele estava sentado, meditando e, de repente, apareceu um furacão que o tomou por completo com suas milhares energias circulando por todos os canais do corpo.  Ele sentiu como se fosse uma explosão de bomba atômica.  Pareceu-lhe ouvir seu Mestre lhe dizendo para ficar calmo e quieto, para não fazer nada e não ter nenhum controle sobre o que estava acontecendo.

Quando a explosão acontece, a pessoa sai do estado de Fixação e sente que não tem mais corpo.  É preciso manter a Consciência em Fixação, deixando a tempestade acontecer, sem se ligar nela, sem nenhuma emoção, nada, apenas buscando manter a Fixação.  Por fim, a tempestade acalma, passa.

Quando Mestre Maa abriu seus olhos, viu que estava sozinho.  Mais tarde, procurou seu Mestre para lhe agradecer a ajuda.  Seu Mestre então lhe disse para não mencionar mais sobre aquele fenômeno.  Não falar sobre isso.

(Ele nos contou sobre isso em uma de suas aulas e nos contou para nos alertar).


A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas. Não tem princípio nem fim.  Não se pode saber de nada.

O caminho normal deixa marcas pelo chão, sabe-se o que acontece, de onde se veio e para onde se vai.  Esse é o Pequeno Caminho.

Lao Tse deixa, no entanto, bem claro que a boa caminhada, o Sublime Caminho, não deixa rastros nem pegadas.  Simplesmente sabemos que existe e que acontece.  E não pode ser descrito.  Não dá para falar.  Se alguém consegue descrever esse caminho é porque passou por um fenômeno do Céu Posterior e assim, pode ser nomeado, pode-se saber onde começou, seu durante e seu fim.  É temporal e limitado e está dentro da linguagem - já que pode ser descrito.

Como sabemos, o Tao, o Absoluto, está além da linguagem.  O Céu Anterior não tem linguagem que possa descrevê-lo.


Logo no Primeiro Capítulo do Tao Te Ching, Lao Tse diz:

O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante

Quaisquer fenômeno ou efeito místico que podem ser explicados fazem parte do Céu Posterior.

Todo nosso trabalho é recuperar o estado do Céu Anterior, e quando isso acontece, apenas sabemos e não podemos descrevê-lo.

O Taoísmo deixa bem claro que o fenômeno místico existe.  E são inúmeros.  Uns podem ser descritos e outros, não.

Os que podem ser descritos - de uma maneira abstrata ou concreta - são chamados de fenômenos do Céu Posterior.

Aqueles que realmente estão no Caminho do Céu Anterior, não têm forma, não têm linguagem - mas, ao mesmo tempo, existem e não podem ser descritos.

Os fenômenos e efeitos do Céu Posterior são chamados de Pequenos Caminhos.

O Grande Caminho é o Caminho do Céu Anterior.

Por isso, Lao Tse diz:

A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas


O efeito da Roda de moinho ainda é a primeira etapa da Alquimia Superior.


Dentro da Alquimia Superior, existem três Rodas de Moinho:

.  Roda de Moinho do Sopro - que é a energia do Céu Anterior que entra dentro da pessoa como se fosse uma estrondosa tempestade.

.  Roda de Moinho do Fogo Líquido

.  Roda de Moinho Púrpura

Em todas essas Rodas de Moinho, quando acontecem, não se sabe por onde começam e por onde terminam.  E é impossível descrevê-las.  Mas existe uma diferença de qualidade entre elas..

Cada Roda de moinho representa um nível de realização alquímica atingida:

.  Na primeira Roda, alcança-se a primeira realização da Alquimia, que se chama Abertura do Sopro.

.  Na segunda Roda, alcança-se a Abertura do Espírito.

.  Na terceira Roda, alcança-se a Abertura do Espírito Universal.


Na Primeira Roda, toda a energia vital se abre, o corpo se torna um canal aberto que faz com que as energias dentro e fóra do corpo se tornem uma só, a mesma.  A energia do Céu Posterior e a energia do Céu Anterior do universo se tornam uma.

Na Segunda Roda, a Abertura do Espírito faz com que a consciência individual se conecte com a consciência coletiva.  O espírito está aberto para toda a consciência interior que forma uma única Consciência.  Nessa hora, não existem diferença individual ou exterior.  É a unificação da consciência interior.

Cada um de nós tem vários espíritos dentro de nós.  Inúmeras consciências.  Nesse momento, temos uma consciência, e em outro momento, temos outra consciência predominante.  E cada parte do nosso corpo tem um espírito: as articulações, a carne, os ossos, o sangue, os diversos tipos de emoção, diversos tipos de pensamento, cada célula tem uma consciência, cada território físico tem uma consciência.

Com a Abertura do Espírito, passamos a ter um único espírito, ou seja, todas as consciências são reunidas numa só.  A partir desse  momento, não temos mais consciente, inconsciente ou sub-consciente.  Menos ainda sofreremos de neuroses ou esquizofrenias.  Teremos apenas uma única Consciência. E isso acontece depois da Segunda Roda de Moinho - que é um fenômeno bastante forte.

Na Terceira Roda, a Roda de Moinho Púrpura, a consciência e todas as consciências são uma só.  A Consciência e todas as Consciências são uma só.  Nossa consciência estará na mente e no pensamento de todos os seres.  Não existe o eu e o outro.  Somos um só - todos estarão dentro de nós.  Chegou-se, então, o Homem Universal.

São essas as Três Rodas de Moinho, sem início, sem fim.

Mestre Maa sempre nos diz que antes de aprendermos a ser Imortais, temos que aprendermos a ser mortais; ou seja, vivermos como uma pessoa normal e termos as virtudes plenas, sem mais criarmos Karmas negativos, com pureza de mente, com bondade interior.


Os mestres tradicionais dizem que temos três trabalhos principais a serem realizados ao mesmo tempo:

A doação   -   a devoção    -   a transformação

A Alquimia trabalha com a transformação, altera a circulação de energia, traz as Rodas de Moinho.  Mas, se não houver doação não romperemos com as barreiras cármicas anteriores e dificilmente ingressaremos na segunda Roda de Moinho.

Sem devoção, sem nos ligarmos às Divindades e aos mestres, acumularemos ego e desenvolveremos um hiper ego.  Sem reverência e devoção, podemos até chegar ao segundo nível mas nunca teremos um espírito universal.  Não atingiremos o terceiro nível.

Essa Trilogia Taoísta no trabalho espiritual não é meramente uma doutrinação.  É a técnica, a pura experiência dos mestres anteriores.


A Grande Abertura do Sopro
A Grande Abertura do Espírito
A Grande Abertura do Espírito Universal
      Vêm através de 3 fenômenos:

A Roda de Moinho do Sopro
A Roda de Moinho do Fogo Líquido
A Roda de Moinho Púrpura, da Luz Púrpura

      E acontecem através de uma meditação tipicamente da Alquimia Superior.  Tudo sempre parte do puro conceito do Taoísmo que vem sendo acontecido desde o que se encontra no Tao Te Ching.

Por isso, Mestre Maa sempre diz:  Não existe um Taoísmo autêntico que contradiga o que Lao Tse disse.  Os ensinamentos de todas as linhagens e ordens e escolas taoístas, tudo, sempre veio de Lao Tse e sua obra fundamental, que é o Tao Te Ching.  Portanto, qualquer ensinamento que seja completamente contraditório ao Tao Te Ching, esse ensinamento será questionável em sua autenticidade.


E o Tao Te Ching todo o tempo fala na transcendência da forma, da linguagem.

Ele fala do Grande Caminho que não tem nome, não tem forma, não tem sentimento.

É o Absoluto que abrange a Onipotência, é a Consciência Pura unida ao Sopro Puro.

Num Caminho de auto-realização - que é a Alquimia -, a grande transmutação tem que estar construída em cima desse conceito.  Se estiver de acordo com esse conceito, é chamada de Alquimia Superior.  Se não, é chamado de Alquimia Inferior ou Mediana.  Sempre se transmuta  - porque é uma Alquimia.  Mas não é a Alquimia Superior.  Ou seja, não é o Grande Caminho.

O Grande Caminho abre para as três Rodas e as três Aberturas - nos faz nos unir com todas as energias, possui uma única Consciência, que é Una com todas as Consciências e torna o homem onipotente.

Essa é a Sagração do Homem.

Para o homem alcançar o estado de Onipotência, ele precisa, em primeiro lugar, ter o zero, esse Vazio interior.  A meditação.  A meditação.

Para que isto aconteça, são precisos três instrumentos místicos que constituem a base da doutrina taoísta, que são:

A doação    -   a devoção    -  a transmutação

Devoção aos superiores.  Transmutação de si próprio.  Doação aos companheiros e aos inferiores, a ajuda, o respeito ao superior.

Trabalha-se sua própria transmutação, mudando a mente, a emoção, o corpo.

E assim, vem o Grande Caminho.

Parece fácil... mas não é.

É fácil de se compreender.  É fácil, é simples, é sintético.  O Caminho é único, Ele é simples.  Quando o Caminho é fragmentado, ele é complicado; quando o Caminho é único, Ele é simples.

Mas.... torna-se difícil para nós.  E por que?  Porque somos muito viciados na vida fragmentada.

Vivemos nosso cotidiano atuando de maneiras diferentes com as diferentes pessoas.

Nossos conceitos sociais, morais, éticos, mudam - todo o tempo.  Portanto, nós não temos uma única consciência, um único princípio.  Ao mesmo tempo.  Apesar disso, o Taoísmo fala que precisamos ter um único princípio.  Mas esse único princípio não tem que ser rígido, absoluto, uma doutrina rígida.

Não.  Nós temos que ter ao mesmo tempo o mesmo espírito interior para encararmos todas as coisas, mas também saber trabalhar cada coisa como uma coisa diferente da outra.

Dessa maneira, atuamos com a mesma consciência para tratar as diferentes pessoas.



Voltando ao texto:
A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número


Medida e número são valores, são linguagens.

Uma vez mais, Lao Tse está nos dizendo, nos lembrando:  não se mede o infinito através os instrumentos finitos.  Menos ainda se alcança o Absoluto através de instrumentos limitados ou medidas.

As boas palavras são não-palavras.  São palavras das não-palavras.  São o silêncio do Absoluto que não pode ser enunciado.  Mas por isso elas não deixam imperfeição, não podem ser criticadas.

Chuang Tzu, em um de seus contos, diz que quando um grupo de pessoas só encontra discordância em suas palavras, a concordância só virá com o silêncio, na ausência das palavras.

Esse é um dos conceitos que influenciou fortemente o Zen Budismo.  Para o Zen, a grande perfeição não está na palavra.


A boa palavra - a palavra do Grande Caminho - é a não-palavra.  E essa não-palavra não pode ser a ausência da palavra.  É a não-palavra de todas as palavras quando tiverem palavras.  A não-palavra em nenhuma palavra quando não houver palavras.

Com essa compreensão, vem o conceito do Taoísmo do não-julgamento, a não-conceituação.  É simplesmente o fluir natural.

Não deixe de falar quando tiver que falar.  Mas não falar com intenção, não falar com premeditação, não falar com julgamento.  Mas falar o que deve ser falado.  E não falar quando não tiver que falar.

E não julgar quando tiver que falar ou não-falar.  Simplesmente a palavra com a não-palavra.   A não-palavra está dentro da palavra.


Quando precisamos de um instrumento material e físico para poder nos interiorizar, essa interiorização ainda não é a interiorização absoluta ou autêntica.

Por isso, a boa interiorização não precisa de ferrolho para ser fechada.  Como não há ferrolho para fechar, então não há nada para se colocar dentro.

Uma boa Fixação na meditação faz com que a respiração pare e a consciência entre em estado Zero.

Nessa hora, ninguém pode interferir em tirar você, alterar você.  A Consciência está em absoluta quietude.  Esse é o estado como se fosse uma porta fechada que ninguém pode abrir, a não ser você.

Uma tradição hermética  - como a Alquimia -, deveria ser compreendia não apenas com um segredo (tradição secreta que somente os iniciados sabem) - embora suas técnicas sejam passadas secretamente.

Mas, o verdadeiro hermetismo está no Caminho Interior - porque a verdadeira Alquimia acontece dentro da Fixação.

A verdade Alquimia acontece dentro da Fixação.  Dentro da Alquimia.  Não se entra dentro do Caldeirão do Mestre para se descobrir os segredos do Elixir realizado e o Corpo Solar construído - e assim é o processo da Alquimia.  Não entra porque a porta está fechada e essa porta não tem forma, não tem ferrolho, não tem como abrir.

Na paranormalidade, depende de um fio, depende de uma linguagem.  Todas as chaves que abrem as Portas do Mistério, são linguagens.

A linguagem pode ser uma palavra-chave, pode ser um Mantra, pode ser uma visão, uma energia, o que for.  Mas a partir do momento em que se entra no Zero do Absoluto, é como se estivéssemos dentro de um cilindro onde não existem aberturas.  Como se fosse um ovo perfeito, sem furos.


No mais importante Tratado Místico do Taoísmo - Tratado da Salvação do Homem - , se diz:

O Venerável Senhor Celestial do Princípio Inicial dos Infinitos Céus Anteriores, invocou todos os deuses de todas as direções e os colocou junto com Ele em uma pérola do tamanho da semente de um alpiste, juntou todos os senhores deuses de todos os tempos e de todos os universos.

E lá dentro da pérola, foi revelado o Mistério de todos os Universos e de todos os Tempos e de todas as Direções.

Essa revelação  dentro dessa pérola é exatamente a idéia de entrar dentro de um ovo e de onde não há retorno.

Todos os deuses de todos os tempos e todas as direções representam todas as consciências onipotentes de todos os lugares e de todos os universos, absorvidos pelo Senhor Celestial do Princípio Inicial - que é o próprio Absoluto.

O Vazio convocou o Zero do Vazio Absoluto e invocou a Onipotência de todos os tempos para dentro do Vazio.  O Vazio engoliu a Onipotência e tudo desapareceu dentro dEle e dentro dEle, o Mistério foi revelado.

Essa é a macrovisão que tentamos realizar em estado de microcosmo e tentar penetrar dentro do estado do Absoluto.

Essa entrada, na Alquimia, é chamada de Portal Negro.

Entrar no Portal Negro significa o que Lao Tse diz:

A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser   aberta


E aí, o grande fenômeno acontece e não se sabe quando começa nem quando termina.


E as Rodas de Moinho acontecem em três etapas e tudo isso abrirá os três níveis de realização espiritual:

O Sopro
O Espírito
E o Espírito Coletivo.

E, ao final de cada etapa, consegue-se o resultado chamado A Pérola da Imortalidade ou Elixir da Imortalidade.

O primeiro Elixir chama-se Elixir do Sopro.
O segundo Elixir chama-se Elixir do Espírito
O terceiro Elixir chama-se Elixir do Espírito Coletivo

Essas etapas levam anos e começam a partir da Iniciação.


Esse Elixir é o que Lao Tse diz na última frase do primeiro verso:

O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado


O Elixir é coagulado.  A Coagulação do Elixir é fazer o nó, é concentrar uma força energética e espiritual e espiritual coletiva como resultado dessa prática.  Apenas que esse nó não é feito de nenhuma matéria do Céu Posterior - portanto, não é uma corda.

Numa escala mais inferior, explica-se que a Verdadeira Alquimia não é feita de nenhuma matéria além do próprio Espírito e o Sopro do Céu Anterior.  É uma Consciência anterior à criação do universo, uma energia.

A aquisição dessa matéria-prima é o que faz o verdadeiro Elixir.  Por isso, não se chega ao Elixir forjando-se minerais ou metais nobres ou ervas ou luzes ou cálculos astrológicos, veia do dragão, etc.  Todos estão fóra da realidade porque são impermanentes, são linguagem, são matéria - sutil ou densa.  Tudo isso são portas.

Somente algo que esteja completamente fora da linguagem é que realmente pode ser a verdadeira, a autêntica matéria-prima para a construção da imortalidade: a Vida e a Consciência Infinitas.

Essas são as últimas palavras da Alquimia.



O universo do misticismo é muito complexo.  No Grande Caminho da Sublime Alquimia quase tudo é ilusório - porque tudo fica dentro da limitação do Céu Posterior. Somente ao rompermos a barreira do Céu Posterior e conseguirmos chegar ao Céu Anterior, conseguiremos alcançar a Vida Infinita e a Consciência Pura.

Não havendo a união dessas duas, não encontraremos a Grande Iluminação e a Grande Imortalidade.  Não encontrando a Imortalidade, com a Vida e a Consciência Infinitas, não estaremos livres da transmigração, dos 3 caminhos, das 3 fronteiras, dos 3 mundos.

Ainda seremos aqueles que transmigram mesmo se formos para o Reino Celestial, numa condição melhor do que a nossa.  E não rompemos essa grande casca de ovo que se chama Universo.  Não alcançaremos a absoluta libertação.


O que o Taoísmo propõe?

O Taoísmo propõe que o homem alcance a absoluta libertação..... para que possamos nos libertar do próprio universo, par que possamos nos libertar da própria condição humana.... e para que não se precise renunciar à condição humana e universal, mas sim abraçar tudo isso com a absoluta naturalidade.

Libertar-se do mundo na significa afastar-se do mundo.  Abraçar o mundo não significa ser aprisionado pelo mundo.  Entrar e sair sem ser prisioneiro de nada e ao mesmo tempo, estar em toda parte.

É uma viagem ousada, grande.  Esse é exatamente o propósito de Lao Tse.

Para a cultura cristã, tudo isso pode parecer prepotente.  Para o Taoísta, isso é natural.

Portanto, fazer isso não é ousadia.  Fazer isso é natural.  Isso é grande.

No Taoísmo, é importante se pensar que a grande realização espiritual não é ousadia.  A grande realização espiritual é praticamente um dever, é algo natural.

Portanto, não existem culpa ou temor diante da nossa vontade de nos realizarmos e de alcançarmos a libertação.

Somos livres, essencialmente.

Somos imortais, essencialmente.


Mestre Maa nos diz que no Taoísmo não precisamos ter medo de usar frases e conceitos existentes em outras religiões.  Isso não significa fusão ou sincretismo.  Significa ouvir e pensar, sem perdermos nosso Caminho.

Bem, o Buda disse:  Todos os seres são Budas adormecidos.  E todos os Budas são homens despertados.

Todos nós somos um Buda, um grande iluminado, um grande esplendor.

E todos os grandes esplendores, grandes avatares e mestres espirituais, são homens comuns como nós, que despertaram.

Nós, estamos dormindo.

Para o Taoísmo, todos nós somos imortais.  Todos nós temos a Vida e a Consciência Infinitas.  Apenas que precisamos despertá-las, tirar as cascas e os laços que nos amarram, para que alcancemos a liberdade.

Compreendendo isso, Lao Tse diz:


Assim, o Homem Sagrado 
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso


Se não nos limitamos pelo tempo e pelo espaço, somos constantes.  Se caminharmos e não deixarmos rastros, se nossa palavra não tem imperfeição e não atrai críticas, se fizermos cálculos sem números, se conseguirmos nos interiorizar sem nos fechar para o mundo, se conseguirmos nos realizar sem precisarmos de nenhum instrumento para criar essa realização, então, tudo isso será a verdadeira bondade.

Por isso, Lao Tse diz:
Assim, o Homem Sagrado 
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz


Temos que transcender as limitações emocionais, físicas e mentais.

Transcender não significa deixar de ter pensamentos, deixar de ter emoções, deixar de ter corpo físico.

A pessoa que transcende a sua condição inferior, renunciando tudo e fugindo, ela está isolada e não pode salvar homens.  Por que?  Porque essa pessoa não abraça mais os homens.  É um falso sábio que se refugia na montanha para não mais ver o mundo, para não ser pervertido pela sedução do mundo.  É o eremita que se afasta de todos para não ser desafiado e não ser seduzido pelos prazeres comuns.  Por que?  Porque ele não consegue viver o prazer do mundo, por isso tem que fugir.  Ao se encontrar com os prazeres do mundo, ele pode se sentir seduzido.  E por isso foge, porque não consegue transcender por inteiro.

O Homem Sagrado transcende e ao mesmo tempo, abraça todas as coisas.  Ele se torna um Zero, como o Vazio que abraça todas as coisas.  Por isso, Ele ama os homens, salva os homens e não abandona os homens.  Ele salva todas as coisas e não as abandona.

Assim, no último estágio, o mais alto nível da realização da Alquimia, os grandes mestres da transmutação não abandonam o corpo físico.  Eles transmutam a matéria-prima e ascensionam com o corpo inteiro, em forma de nuvens.

Os mestres de níveis mais baixos, que criam o Corpo Solar, ainda deixam o corpo físico na Terra.  Eles ascensionam apenas com o Corpo Solar e isso ainda não é a perfeição.

Os mestres de níveis ainda mais inferiores que não  conseguiram ainda formar o Corpo Solar, vão entrar na lei da transmigração e no máximo, conseguem ir para o Reino Celestial e mesmo assim, não conseguem o Corpo Solar.

Isso se chama ‘herdar a luz’.

No corpo dos grandes mestres, é essa a herança da luz que está em toda parte.



No Taoísmo, existem quatro grandes escolas de magia.  Todas as quatro escolas foram fundadas por mestres ascensionados da Alquimia e não da magia.  São alquimistas que ascensionaram e deixaram o conhecimento da magia como instrumento para que seus discípulos possam ajudar outras pessoas. 

Na teologia taoísta, esses quatro grandes mestres são os quatro ministros do Rei de Jade.

Todos ascensionaram e um deles é o que fundou a Ordem que seguimos - a Ordem Ortodoxa Unitária - o Mestre Celestial.  Todas a quatro Ordens foram fundadas por Mestres Celestiais.  Todos ascensionaram juntamente com o corpo físico.

Um desses mestres, em sua  ascensão, não apenas transmutou seu corpo físico e subiu em plena luz do dia, como também levou consigo cerca de cinqüenta pessoas,de sua aldeia, que eram seus discípulos e serviçais, também cachorros, galinhas, e um tigre.  Enquanto vivia, seu tigre preto era sua montaria.  Em sua ascensão, raios, trovões, luzes, tudo flutuava no espaço e tudo subiu junto.

Nosso Mestre Celestial também tinha como montaria um tigre, mas um tigre comum.

Se o mestre possui muita real força, seu momento de ascensão pode ser forte o bastante para ascensionar todo o resto em torno de si.  Tudo depende do tamanho do coração do mestre.

Em textos sagrados antigos, diz-se que em outros universos, nos infinitos tempos passados, alguns mestres eram tão poderosos que  em sua ascensão carregavam consigo mesmo toda uma civilização e então se  formava, imediatamente, uma legião celeste.

Na Terra, há mais de cinco mil  anos atrás, a ascensão do Rei do Mistério, levou consigo quase toda a tribo formando uma grande legião que é extremamente poderosa.  Todo o trabalho de magia envolve esta legião.

Em seguida, como Lao Tse fala em boa caminhada, boa palavra, bom cálculo, boa porta, bom nó - tudo isso é o Absoluto, a não-forma...., portanto tudo isso forma o homem bom, que é aquele que vive a condição do Absoluto, o Homem Sagrado.

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele   que é bom


Esta frase diz o mesmo que  o Buda disse:  Todos os seres são Budas adormecidos.  E todos os Budas são homens despertados.

O homem que ainda não é bom, é um recurso a ser transformado em bom.

O homem que já é bom, tem o poder de transformar aquele que ainda não é bom.

Recurso é a matéria-prima a ser trabalhada.

Nós, que somos adormecidos, temos que nos trabalhar para podemos nos iluminar.

Ainda bem que não somos iluminados... por isso ainda podemos iluminar.  Ainda bem para aqueles que são iluminados e por isso Eles podem nos iluminar.

Por isso, não   existe bem ou mal.  Existe o bem que é a absoluta iluminação: a Vida e a Consciência Infinitas.

E aquele que ainda não é bom, porque ainda não alcançou a vida e a consciência infinitas, pode alcançar - por isso é um bom recurso.

Compreendendo isso, Lao Tse diz:

Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado


Não adianta sermos muito inteligentes.  Se não iluminamos, não teremos a verdadeira compaixão de amarmos nossos recursos (nossos discípulos, as pessoas).

Não havendo uma realização espiritual, não valorizando o mestre com devoção, buscando nossa própria ascensão, não adiante sermos inteligentes.  Essa inteligência seria uma inteligência que não é boa.  Inteligência, quando não é boa, pode até ser nociva.


A tudo isso denomina-se Maravilha e Essência 

Esses são ensinamentos maravilhosos e essenciais do Tao.  Todo Taoísta tem que compreender esses ensinamentos para poder, com os recursos, transformar-se em mestre; para poder alcançar a iluminação, para transmutar, para ter devoção e doação; para queimar Karmas através da doação; para buscar a conexão com os superiores através da devoção e esforçar-se por si próprio através da transmutação.


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TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 27
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, 
Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Capítulo 27 - TAO TE CHING, LAO TSE

Tradução e Interpretação do Capítulo 27
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número
A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser aberta
O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado

Assim, o Homem Sagrado 
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele que é bom
Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado

A tudo isso denomina-se Maravilha e Essência 


Este Capítulo fala da importância, da característica, de uma conduta perfeita.

Uma pessoa que fala boas palavras, não será criticada. Uma pessoa que faça uma boa caminhada, não deixa rastros.

“O bom cálculo não utiliza medida nem número” - Existe um ditado que diz assim: Não há cálculo do homem melhor do que o cálculo do céu.

Por mais que queiramos driblar o destino, por mais que tenhamos recursos para alterar e enganar o destino, nunca seremos bem sucedidos.

Uma coisa muito desejada, pode ser perdida. Uma coisa muito bem fechada, não precisa de ferrolho, não precisa de algo rígido.

Para ser fazer um nó perfeito, não se pode fazê-lo de corda porque todos os nós feitos de corda podem ser desatados. Somente o nó que não é feito de corda, é que não pode ser desatado.


Na prática espiritual, a “caminhada que não deixa rastros ou pegadas” refere-se à Grande Realização, ao Grande Caminho.


Dentro do Taoísmo, existem o Grande Caminho e o Pequeno Caminho. As puras realizações espirituais são chamadas de Grande Caminho. As práticas artísticas ou a sabedoria de viver algo da arte e algo da vida, são chamadas de Pequeno Caminho.

O Tao, como Absoluto, não tem uma forma definida. Inúmeras vezes, dentro do Taoísmo, nos utilizamos de simbolismos como a água, a nuvem, o vento para simbolizar a característica não-formal, da não-forma do Tao.

A nuvem está se modificando todo o tempo. Nunca sabemos de onde surge nem onde termina. A nuvem está sempre em constante modificação.

O Grande Tao é também assim. Ele não pode ser encontrado em uma maneira rígida. Ao mesmo tempo, está em toda parte, ao mesmo tempo não é limitado por nada, pode ter uma forma ou ter outra forma, pode modificar sua forma. E, justamente por essa não-limitação de Sua forma de manifestação, assim se demonstra Sua infinitude como Sua manifestação. Sua natureza é o Absoluto.

Mestre Maa nos diz que os Pequenos Caminhos são aqueles onde podemos encontrar um princípio, um durante e um fim. O Grande Caminho é aquele que não tem princípio, que não se define o durante e que não tem fim.

Dentro desses Caminhos existem inúmeras práticas espirituais que trazem efeitos, resultados, fenômenos bastante determinados.


Falemos dos efeitos energéticos:

Conhecemos dentro do Taoísmo a Circulação do Céu ou Pequenos Círculos Celestes que são energias que sobem pela coluna vertebral através do vaso governador, chegando até a cabeça e descendo pelo vaso de concepção, pela frente, circulando assim por todo o corpo da pessoa, até a raiz da vida.

Através da prática mística da Alquimia, ainda dentro das características do Pequeno Caminho - A Alquimia Inferior -, encontramos o efeito da transmutação de uma maneira linear onde se encontra o início, o durante e o fim. Nessas práticas, depois de um longo tempo de meditação - de boa meditação -, surge uma energia efervescente na região do baixo abdômen. Essa energia tende a sair pelos órgãos genitais ou pelo reto. Esse escape de energia pode acontecer através do próprio processo biológico-físico. 

Muita energia centralizada no baixo abdômen começa por vibrar e procurar uma saída. Nessa hora, o praticante aprende a controlar-se para que a energia não escape. Em seguida, com as portas fechadas, a energia normalmente sobe pelo meio até o coração e a garganta e depois, desce. Mas quando encontra um caminho bem mais aberto, essa energia efervescente entra na região do sacro e vai para trás, subindo dentro da coluna vertebral através da medula, até chegar ao cérebro. Desce então pela frente e volta para a região do períneo. Esse é o movimento circular de energia.

Esse movimento da energia chamado de Pequena Circulação do Céu ou Pequeno Círculo Celeste acontece durante a meditação. É uma ação natural. 

No Chi Kun, mentaliza-se essa energia dentro do corpo, chama-se ______ ____________, ou seja, canalização de energia. (Nota da Transcrição: não foi possível entender estas palavras).

É um tipo abaixo da Alquimia e se chama Circulação do Veículo Vazio. Só pode acontecer quando se tem uma energia bastante grande para sair e ir abrindo o caminho naturalmente. Os canais de energia do corpo vão sendo abertos e limpos, fazendo-se a conexão entre os centros inferiores com os meridianos superiores.

Como conseqüência, acontecem inúmeros fenômenos como alteração da consciência, abertura da visão, premonição, visualização, capacidade de memória, aumento de poderes energéticos e curativos, auto-cura, etc.

Cada vez que os Círculos Celestes aparecem, aumentam nossa capacidade humana de ser.

Essa maravilha de efeitos é ainda chamada pelos mestres taoístas de Pequenos Caminhos.

Por que Pequenos Caminhos ainda?

Porque têm começo, se encontram o durante e o fim. Todos esses fenômenos terminam um dia (dando lugar a outros fenômenos). Ainda são fenômenos lineares.

Mestre Maa nos diz que na Alquimia Inferior se coloca a Consciência unida ao Sopro em outros centros energéticos, o que provoca a Pequena Circulação do Céu. Tudo com começo, durante e fim.



Na Alquimia Superior, esse fenômeno não se chama Pequena Circulação do Céu. Chama-se Roda de Moinho. É também uma circulação de energias. Apenas que são 36 mil canais de energia do corpo que são despertados de uma só vez. E a Consciência não consegue detectar de onde começa esse despertar de energia e não sabe onde termina. O corpo fica como tomado de milhares de ‘ventiladores’ e todos os 36 mil meridianos são despertados de uma só vez. Parece que a pessoa está dentro de uma enorme tempestade. É preciso, então, deixar a Consciência quieta e deixar todo o corpo vibrar com a energia. Esse não é um processo linear.

Esse é Grande Caminho que Mestre Maa nos ensina. Com ele, o fenômeno aconteceu pela primeira vez durante duas horas e meia. Ele estava sentado, meditando e, de repente, apareceu um furacão que o tomou por completo com suas milhares energias circulando por todos os canais do corpo. Ele sentiu como se fosse uma explosão de bomba atômica. Pareceu-lhe ouvir seu Mestre lhe dizendo para ficar calmo e quieto, para não fazer nada e não ter nenhum controle sobre o que estava acontecendo.

Quando a explosão acontece, a pessoa sai do estado de Fixação e sente que não tem mais corpo. É preciso manter a Consciência em Fixação, deixando a tempestade acontecer, sem se ligar nela, sem nenhuma emoção, nada, apenas buscando manter a Fixação. Por fim, a tempestade acalma, passa.

Quando Mestre Maa abriu seus olhos, viu que estava sozinho. Mais tarde, procurou seu Mestre para lhe agradecer a ajuda. Seu Mestre então lhe disse para não mencionar mais sobre aquele fenômeno. Não falar sobre isso.

(Ele nos contou sobre isso em uma de suas aulas e nos contou para nos alertar).


A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas. Não tem princípio nem fim. Não se pode saber de nada.

O caminho normal deixa marcas pelo chão, sabe-se o que acontece, de onde se veio e para onde se vai. Esse é o Pequeno Caminho.

Lao Tse deixa, no entanto, bem claro que a boa caminhada, o Sublime Caminho, não deixa rastros nem pegadas. Simplesmente sabemos que existe e que acontece. E não pode ser descrito. Não dá para falar. Se alguém consegue descrever esse caminho é porque passou por um fenômeno do Céu Posterior e assim, pode ser nomeado, pode-se saber onde começou, seu durante e seu fim. É temporal e limitado e está dentro da linguagem - já que pode ser descrito.

Como sabemos, o Tao, o Absoluto, está além da linguagem. O Céu Anterior não tem linguagem que possa descrevê-lo.


Logo no Primeiro Capítulo do Tao Te Ching, Lao Tse diz:

O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante

Quaisquer fenômeno ou efeito místico que podem ser explicados fazem parte do Céu Posterior.

Todo nosso trabalho é recuperar o estado do Céu Anterior, e quando isso acontece, apenas sabemos e não podemos descrevê-lo.

O Taoísmo deixa bem claro que o fenômeno místico existe. E são inúmeros. Uns podem ser descritos e outros, não.

Os que podem ser descritos - de uma maneira abstrata ou concreta - são chamados de fenômenos do Céu Posterior.

Aqueles que realmente estão no Caminho do Céu Anterior, não têm forma, não têm linguagem - mas, ao mesmo tempo, existem e não podem ser descritos.

Os fenômenos e efeitos do Céu Posterior são chamados de Pequenos Caminhos.

O Grande Caminho é o Caminho do Céu Anterior.

Por isso, Lao Tse diz:

A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas


O efeito da Roda de moinho ainda é a primeira etapa da Alquimia Superior.


Dentro da Alquimia Superior, existem três Rodas de Moinho:

. Roda de Moinho do Sopro - que é a energia do Céu Anterior que entra dentro da pessoa como se fosse uma estrondosa tempestade.

. Roda de Moinho do Fogo Líquido

. Roda de Moinho Púrpura

Em todas essas Rodas de Moinho, quando acontecem, não se sabe por onde começam e por onde terminam. E é impossível descrevê-las. Mas existe uma diferença de qualidade entre elas..

Cada Roda de moinho representa um nível de realização alquímica atingida:

. Na primeira Roda, alcança-se a primeira realização da Alquimia, que se chama Abertura do Sopro.

. Na segunda Roda, alcança-se a Abertura do Espírito.

. Na terceira Roda, alcança-se a Abertura do Espírito Universal.


Na Primeira Roda, toda a energia vital se abre, o corpo se torna um canal aberto que faz com que as energias dentro e fóra do corpo se tornem uma só, a mesma. A energia do Céu Posterior e a energia do Céu Anterior do universo se tornam uma.

Na Segunda Roda, a Abertura do Espírito faz com que a consciência individual se conecte com a consciência coletiva. O espírito está aberto para toda a consciência interior que forma uma única Consciência. Nessa hora, não existem diferença individual ou exterior. É a unificação da consciência interior.

Cada um de nós tem vários espíritos dentro de nós. Inúmeras consciências. Nesse momento, temos uma consciência, e em outro momento, temos outra consciência predominante. E cada parte do nosso corpo tem um espírito: as articulações, a carne, os ossos, o sangue, os diversos tipos de emoção, diversos tipos de pensamento, cada célula tem uma consciência, cada território físico tem uma consciência.

Com a Abertura do Espírito, passamos a ter um único espírito, ou seja, todas as consciências são reunidas numa só. A partir desse momento, não temos mais consciente, inconsciente ou sub-consciente. Menos ainda sofreremos de neuroses ou esquizofrenias. Teremos apenas uma única Consciência. E isso acontece depois da Segunda Roda de Moinho - que é um fenômeno bastante forte.

Na Terceira Roda, a Roda de Moinho Púrpura, a consciência e todas as consciências são uma só. A Consciência e todas as Consciências são uma só. Nossa consciência estará na mente e no pensamento de todos os seres. Não existe o eu e o outro. Somos um só - todos estarão dentro de nós. Chegou-se, então, o Homem Universal.

São essas as Três Rodas de Moinho, sem início, sem fim.

Mestre Maa sempre nos diz que antes de aprendermos a ser Imortais, temos que aprendermos a ser mortais; ou seja, vivermos como uma pessoa normal e termos as virtudes plenas, sem mais criarmos Karmas negativos, com pureza de mente, com bondade interior.


Os mestres tradicionais dizem que temos três trabalhos principais a serem realizados ao mesmo tempo:

A doação - a devoção - a transformação

A Alquimia trabalha com a transformação, altera a circulação de energia, traz as Rodas de Moinho. Mas, se não houver doação não romperemos com as barreiras cármicas anteriores e dificilmente ingressaremos na segunda Roda de Moinho.

Sem devoção, sem nos ligarmos às Divindades e aos mestres, acumularemos ego e desenvolveremos um hiper ego. Sem reverência e devoção, podemos até chegar ao segundo nível mas nunca teremos um espírito universal. Não atingiremos o terceiro nível.

Essa Trilogia Taoísta no trabalho espiritual não é meramente uma doutrinação. É a técnica, a pura experiência dos mestres anteriores.


A Grande Abertura do Sopro
A Grande Abertura do Espírito
A Grande Abertura do Espírito Universal
Vêm através de 3 fenômenos:

A Roda de Moinho do Sopro
A Roda de Moinho do Fogo Líquido
A Roda de Moinho Púrpura, da Luz Púrpura

E acontecem através de uma meditação tipicamente da Alquimia Superior. Tudo sempre parte do puro conceito do Taoísmo que vem sendo acontecido desde o que se encontra no Tao Te Ching.

Por isso, Mestre Maa sempre diz: Não existe um Taoísmo autêntico que contradiga o que Lao Tse disse. Os ensinamentos de todas as linhagens e ordens e escolas taoístas, tudo, sempre veio de Lao Tse e sua obra fundamental, que é o Tao Te Ching. Portanto, qualquer ensinamento que seja completamente contraditório ao Tao Te Ching, esse ensinamento será questionável em sua autenticidade.


E o Tao Te Ching todo o tempo fala na transcendência da forma, da linguagem.

Ele fala do Grande Caminho que não tem nome, não tem forma, não tem sentimento.

É o Absoluto que abrange a Onipotência, é a Consciência Pura unida ao Sopro Puro.

Num Caminho de auto-realização - que é a Alquimia -, a grande transmutação tem que estar construída em cima desse conceito. Se estiver de acordo com esse conceito, é chamada de Alquimia Superior. Se não, é chamado de Alquimia Inferior ou Mediana. Sempre se transmuta - porque é uma Alquimia. Mas não é a Alquimia Superior. Ou seja, não é o Grande Caminho.

O Grande Caminho abre para as três Rodas e as três Aberturas - nos faz nos unir com todas as energias, possui uma única Consciência, que é Una com todas as Consciências e torna o homem onipotente.

Essa é a Sagração do Homem.

Para o homem alcançar o estado de Onipotência, ele precisa, em primeiro lugar, ter o zero, esse Vazio interior. A meditação. A meditação.

Para que isto aconteça, são precisos três instrumentos místicos que constituem a base da doutrina taoísta, que são:

A doação - a devoção - a transmutação

Devoção aos superiores. Transmutação de si próprio. Doação aos companheiros e aos inferiores, a ajuda, o respeito ao superior.

Trabalha-se sua própria transmutação, mudando a mente, a emoção, o corpo.

E assim, vem o Grande Caminho.

Parece fácil... mas não é.

É fácil de se compreender. É fácil, é simples, é sintético. O Caminho é único, Ele é simples. Quando o Caminho é fragmentado, ele é complicado; quando o Caminho é único, Ele é simples.

Mas.... torna-se difícil para nós. E por que? Porque somos muito viciados na vida fragmentada.

Vivemos nosso cotidiano atuando de maneiras diferentes com as diferentes pessoas.

Nossos conceitos sociais, morais, éticos, mudam - todo o tempo. Portanto, nós não temos uma única consciência, um único princípio. Ao mesmo tempo. Apesar disso, o Taoísmo fala que precisamos ter um único princípio. Mas esse único princípio não tem que ser rígido, absoluto, uma doutrina rígida.

Não. Nós temos que ter ao mesmo tempo o mesmo espírito interior para encararmos todas as coisas, mas também saber trabalhar cada coisa como uma coisa diferente da outra.

Dessa maneira, atuamos com a mesma consciência para tratar as diferentes pessoas.



Voltando ao texto:
A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número


Medida e número são valores, são linguagens.

Uma vez mais, Lao Tse está nos dizendo, nos lembrando: não se mede o infinito através os instrumentos finitos. Menos ainda se alcança o Absoluto através de instrumentos limitados ou medidas.

As boas palavras são não-palavras. São palavras das não-palavras. São o silêncio do Absoluto que não pode ser enunciado. Mas por isso elas não deixam imperfeição, não podem ser criticadas.

Chuang Tzu, em um de seus contos, diz que quando um grupo de pessoas só encontra discordância em suas palavras, a concordância só virá com o silêncio, na ausência das palavras.

Esse é um dos conceitos que influenciou fortemente o Zen Budismo. Para o Zen, a grande perfeição não está na palavra.


A boa palavra - a palavra do Grande Caminho - é a não-palavra. E essa não-palavra não pode ser a ausência da palavra. É a não-palavra de todas as palavras quando tiverem palavras. A não-palavra em nenhuma palavra quando não houver palavras.

Com essa compreensão, vem o conceito do Taoísmo do não-julgamento, a não-conceituação. É simplesmente o fluir natural.

Não deixe de falar quando tiver que falar. Mas não falar com intenção, não falar com premeditação, não falar com julgamento. Mas falar o que deve ser falado. E não falar quando não tiver que falar.

E não julgar quando tiver que falar ou não-falar. Simplesmente a palavra com a não-palavra. A não-palavra está dentro da palavra.


Quando precisamos de um instrumento material e físico para poder nos interiorizar, essa interiorização ainda não é a interiorização absoluta ou autêntica.

Por isso, a boa interiorização não precisa de ferrolho para ser fechada. Como não há ferrolho para fechar, então não há nada para se colocar dentro.

Uma boa Fixação na meditação faz com que a respiração pare e a consciência entre em estado Zero.

Nessa hora, ninguém pode interferir em tirar você, alterar você. A Consciência está em absoluta quietude. Esse é o estado como se fosse uma porta fechada que ninguém pode abrir, a não ser você.

Uma tradição hermética - como a Alquimia -, deveria ser compreendia não apenas com um segredo (tradição secreta que somente os iniciados sabem) - embora suas técnicas sejam passadas secretamente.

Mas, o verdadeiro hermetismo está no Caminho Interior - porque a verdadeira Alquimia acontece dentro da Fixação.

A verdade Alquimia acontece dentro da Fixação. Dentro da Alquimia. Não se entra dentro do Caldeirão do Mestre para se descobrir os segredos do Elixir realizado e o Corpo Solar construído - e assim é o processo da Alquimia. Não entra porque a porta está fechada e essa porta não tem forma, não tem ferrolho, não tem como abrir.

Na paranormalidade, depende de um fio, depende de uma linguagem. Todas as chaves que abrem as Portas do Mistério, são linguagens.

A linguagem pode ser uma palavra-chave, pode ser um Mantra, pode ser uma visão, uma energia, o que for. Mas a partir do momento em que se entra no Zero do Absoluto, é como se estivéssemos dentro de um cilindro onde não existem aberturas. Como se fosse um ovo perfeito, sem furos.


No mais importante Tratado Místico do Taoísmo - Tratado da Salvação do Homem - , se diz:

O Venerável Senhor Celestial do Princípio Inicial dos Infinitos Céus Anteriores, invocou todos os deuses de todas as direções e os colocou junto com Ele em uma pérola do tamanho da semente de um alpiste, juntou todos os senhores deuses de todos os tempos e de todos os universos.

E lá dentro da pérola, foi revelado o Mistério de todos os Universos e de todos os Tempos e de todas as Direções.

Essa revelação dentro dessa pérola é exatamente a idéia de entrar dentro de um ovo e de onde não há retorno.

Todos os deuses de todos os tempos e todas as direções representam todas as consciências onipotentes de todos os lugares e de todos os universos, absorvidos pelo Senhor Celestial do Princípio Inicial - que é o próprio Absoluto.

O Vazio convocou o Zero do Vazio Absoluto e invocou a Onipotência de todos os tempos para dentro do Vazio. O Vazio engoliu a Onipotência e tudo desapareceu dentro dEle e dentro dEle, o Mistério foi revelado.

Essa é a macrovisão que tentamos realizar em estado de microcosmo e tentar penetrar dentro do estado do Absoluto.

Essa entrada, na Alquimia, é chamada de Portal Negro.

Entrar no Portal Negro significa o que Lao Tse diz:

A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser aberta


E aí, o grande fenômeno acontece e não se sabe quando começa nem quando termina.


E as Rodas de Moinho acontecem em três etapas e tudo isso abrirá os três níveis de realização espiritual:

O Sopro
O Espírito
E o Espírito Coletivo.

E, ao final de cada etapa, consegue-se o resultado chamado A Pérola da Imortalidade ou Elixir da Imortalidade.

O primeiro Elixir chama-se Elixir do Sopro.
O segundo Elixir chama-se Elixir do Espírito
O terceiro Elixir chama-se Elixir do Espírito Coletivo

Essas etapas levam anos e começam a partir da Iniciação.


Esse Elixir é o que Lao Tse diz na última frase do primeiro verso:

O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado


O Elixir é coagulado. A Coagulação do Elixir é fazer o nó, é concentrar uma força energética e espiritual e espiritual coletiva como resultado dessa prática. Apenas que esse nó não é feito de nenhuma matéria do Céu Posterior - portanto, não é uma corda.

Numa escala mais inferior, explica-se que a Verdadeira Alquimia não é feita de nenhuma matéria além do próprio Espírito e o Sopro do Céu Anterior. É uma Consciência anterior à criação do universo, uma energia.

A aquisição dessa matéria-prima é o que faz o verdadeiro Elixir. Por isso, não se chega ao Elixir forjando-se minerais ou metais nobres ou ervas ou luzes ou cálculos astrológicos, veia do dragão, etc. Todos estão fóra da realidade porque são impermanentes, são linguagem, são matéria - sutil ou densa. Tudo isso são portas.

Somente algo que esteja completamente fora da linguagem é que realmente pode ser a verdadeira, a autêntica matéria-prima para a construção da imortalidade: a Vida e a Consciência Infinitas.

Essas são as últimas palavras da Alquimia.



O universo do misticismo é muito complexo. No Grande Caminho da Sublime Alquimia quase tudo é ilusório - porque tudo fica dentro da limitação do Céu Posterior. Somente ao rompermos a barreira do Céu Posterior e conseguirmos chegar ao Céu Anterior, conseguiremos alcançar a Vida Infinita e a Consciência Pura.

Não havendo a união dessas duas, não encontraremos a Grande Iluminação e a Grande Imortalidade. Não encontrando a Imortalidade, com a Vida e a Consciência Infinitas, não estaremos livres da transmigração, dos 3 caminhos, das 3 fronteiras, dos 3 mundos.

Ainda seremos aqueles que transmigram mesmo se formos para o Reino Celestial, numa condição melhor do que a nossa. E não rompemos essa grande casca de ovo que se chama Universo. Não alcançaremos a absoluta libertação.


O que o Taoísmo propõe?

O Taoísmo propõe que o homem alcance a absoluta libertação..... para que possamos nos libertar do próprio universo, par que possamos nos libertar da própria condição humana.... e para que não se precise renunciar à condição humana e universal, mas sim abraçar tudo isso com a absoluta naturalidade.

Libertar-se do mundo na significa afastar-se do mundo. Abraçar o mundo não significa ser aprisionado pelo mundo. Entrar e sair sem ser prisioneiro de nada e ao mesmo tempo, estar em toda parte.

É uma viagem ousada, grande. Esse é exatamente o propósito de Lao Tse.

Para a cultura cristã, tudo isso pode parecer prepotente. Para o Taoísta, isso é natural.

Portanto, fazer isso não é ousadia. Fazer isso é natural. Isso é grande.

No Taoísmo, é importante se pensar que a grande realização espiritual não é ousadia. A grande realização espiritual é praticamente um dever, é algo natural.

Portanto, não existem culpa ou temor diante da nossa vontade de nos realizarmos e de alcançarmos a libertação.

Somos livres, essencialmente.

Somos imortais, essencialmente.


Mestre Maa nos diz que no Taoísmo não precisamos ter medo de usar frases e conceitos existentes em outras religiões. Isso não significa fusão ou sincretismo. Significa ouvir e pensar, sem perdermos nosso Caminho.

Bem, o Buda disse: Todos os seres são Budas adormecidos. E todos os Budas são homens despertados.

Todos nós somos um Buda, um grande iluminado, um grande esplendor.

E todos os grandes esplendores, grandes avatares e mestres espirituais, são homens comuns como nós, que despertaram.

Nós, estamos dormindo.

Para o Taoísmo, todos nós somos imortais. Todos nós temos a Vida e a Consciência Infinitas. Apenas que precisamos despertá-las, tirar as cascas e os laços que nos amarram, para que alcancemos a liberdade.

Compreendendo isso, Lao Tse diz:


Assim, o Homem Sagrado 
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso


Se não nos limitamos pelo tempo e pelo espaço, somos constantes. Se caminharmos e não deixarmos rastros, se nossa palavra não tem imperfeição e não atrai críticas, se fizermos cálculos sem números, se conseguirmos nos interiorizar sem nos fechar para o mundo, se conseguirmos nos realizar sem precisarmos de nenhum instrumento para criar essa realização, então, tudo isso será a verdadeira bondade.

Por isso, Lao Tse diz:
Assim, o Homem Sagrado 
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz


Temos que transcender as limitações emocionais, físicas e mentais.

Transcender não significa deixar de ter pensamentos, deixar de ter emoções, deixar de ter corpo físico.

A pessoa que transcende a sua condição inferior, renunciando tudo e fugindo, ela está isolada e não pode salvar homens. Por que? Porque essa pessoa não abraça mais os homens. É um falso sábio que se refugia na montanha para não mais ver o mundo, para não ser pervertido pela sedução do mundo. É o eremita que se afasta de todos para não ser desafiado e não ser seduzido pelos prazeres comuns. Por que? Porque ele não consegue viver o prazer do mundo, por isso tem que fugir. Ao se encontrar com os prazeres do mundo, ele pode se sentir seduzido. E por isso foge, porque não consegue transcender por inteiro.

O Homem Sagrado transcende e ao mesmo tempo, abraça todas as coisas. Ele se torna um Zero, como o Vazio que abraça todas as coisas. Por isso, Ele ama os homens, salva os homens e não abandona os homens. Ele salva todas as coisas e não as abandona.

Assim, no último estágio, o mais alto nível da realização da Alquimia, os grandes mestres da transmutação não abandonam o corpo físico. Eles transmutam a matéria-prima e ascensionam com o corpo inteiro, em forma de nuvens.

Os mestres de níveis mais baixos, que criam o Corpo Solar, ainda deixam o corpo físico na Terra. Eles ascensionam apenas com o Corpo Solar e isso ainda não é a perfeição.

Os mestres de níveis ainda mais inferiores que não conseguiram ainda formar o Corpo Solar, vão entrar na lei da transmigração e no máximo, conseguem ir para o Reino Celestial e mesmo assim, não conseguem o Corpo Solar.

Isso se chama ‘herdar a luz’.

No corpo dos grandes mestres, é essa a herança da luz que está em toda parte.



No Taoísmo, existem quatro grandes escolas de magia. Todas as quatro escolas foram fundadas por mestres ascensionados da Alquimia e não da magia. São alquimistas que ascensionaram e deixaram o conhecimento da magia como instrumento para que seus discípulos possam ajudar outras pessoas. 

Na teologia taoísta, esses quatro grandes mestres são os quatro ministros do Rei de Jade.

Todos ascensionaram e um deles é o que fundou a Ordem que seguimos - a Ordem Ortodoxa Unitária - o Mestre Celestial. Todas a quatro Ordens foram fundadas por Mestres Celestiais. Todos ascensionaram juntamente com o corpo físico.

Um desses mestres, em sua ascensão, não apenas transmutou seu corpo físico e subiu em plena luz do dia, como também levou consigo cerca de cinqüenta pessoas,de sua aldeia, que eram seus discípulos e serviçais, também cachorros, galinhas, e um tigre. Enquanto vivia, seu tigre preto era sua montaria. Em sua ascensão, raios, trovões, luzes, tudo flutuava no espaço e tudo subiu junto.

Nosso Mestre Celestial também tinha como montaria um tigre, mas um tigre comum.

Se o mestre possui muita real força, seu momento de ascensão pode ser forte o bastante para ascensionar todo o resto em torno de si. Tudo depende do tamanho do coração do mestre.

Em textos sagrados antigos, diz-se que em outros universos, nos infinitos tempos passados, alguns mestres eram tão poderosos que em sua ascensão carregavam consigo mesmo toda uma civilização e então se formava, imediatamente, uma legião celeste.

Na Terra, há mais de cinco mil anos atrás, a ascensão do Rei do Mistério, levou consigo quase toda a tribo formando uma grande legião que é extremamente poderosa. Todo o trabalho de magia envolve esta legião.

Em seguida, como Lao Tse fala em boa caminhada, boa palavra, bom cálculo, boa porta, bom nó - tudo isso é o Absoluto, a não-forma...., portanto tudo isso forma o homem bom, que é aquele que vive a condição do Absoluto, o Homem Sagrado.

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele que é bom


Esta frase diz o mesmo que o Buda disse: Todos os seres são Budas adormecidos. E todos os Budas são homens despertados.

O homem que ainda não é bom, é um recurso a ser transformado em bom.

O homem que já é bom, tem o poder de transformar aquele que ainda não é bom.

Recurso é a matéria-prima a ser trabalhada.

Nós, que somos adormecidos, temos que nos trabalhar para podemos nos iluminar.

Ainda bem que não somos iluminados... por isso ainda podemos iluminar. Ainda bem para aqueles que são iluminados e por isso Eles podem nos iluminar.

Por isso, não existe bem ou mal. Existe o bem que é a absoluta iluminação: a Vida e a Consciência Infinitas.

E aquele que ainda não é bom, porque ainda não alcançou a vida e a consciência infinitas, pode alcançar - por isso é um bom recurso.

Compreendendo isso, Lao Tse diz:

Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado


Não adianta sermos muito inteligentes. Se não iluminamos, não teremos a verdadeira compaixão de amarmos nossos recursos (nossos discípulos, as pessoas).

Não havendo uma realização espiritual, não valorizando o mestre com devoção, buscando nossa própria ascensão, não adiante sermos inteligentes. Essa inteligência seria uma inteligência que não é boa. Inteligência, quando não é boa, pode até ser nociva.


A tudo isso denomina-se Maravilha e Essência 

Esses são ensinamentos maravilhosos e essenciais do Tao. Todo Taoísta tem que compreender esses ensinamentos para poder, com os recursos, transformar-se em mestre; para poder alcançar a iluminação, para transmutar, para ter devoção e doação; para queimar Karmas através da doação; para buscar a conexão com os superiores através da devoção e esforçar-se por si próprio através da transmutação.


...............



TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 27
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, 
Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching