O QUE É DHARMA?
What is Dharma? Srii Srii Anandamurti
Tradução simples e literal de Janine
Primeira Parte
Os seres humanos são os seres mais desenvolvidos. Eles (podem) possuir o desenvolvimento da consciência em seu mais alto nível e esse fato os torna diferenciados de todos os outros animais. Nenhum outro ser possui tal clareza de consciência. Os seres humanos podem distinguir entre o bem e o mal com a ajuda de sua consciência e quando em perigo, eles podem buscar uma saída – com a ajuda dessa consciência. Ninguém gosta de viver na miséria e no sofrimento – menos ainda os seres humanos que procuram, através da consciência, uma saída para tais vicissitudes. A vida sem tristeza nem sofrimento é uma vida de felicidade e de benção e é isso que as pessoas almejam. Todo mundo está em busca da felicidade – a verdade é que a natureza das pessoas é buscar a felicidade. Veremos então o que as pessoas devem fazer para alcançar a felicidade e se esta é alcançada através destas formas de busca.
Em sua busca pela felicidade, as pessoas são, a princípio, atraídas pelos divertimentos mundanos. Elas amam a riqueza e tentam atingir o poder e posições que satisfaçam seus desejos de felicidade. Aquele que possui muito dinheiro não está satisfeito apenas com isso e busca mais e mais dinheiro, e no entanto, mesmo possuindo muitíssimo dinheiro ainda não se acha satisfeito e ainda sai em busca de mais e mais.... Também uma pessoa que tenha influência numa cidade deseja estender esta influência sobre uma província, políticos estatais desejam se tornar políticos nacionais, e se assim conseguirem suas posições, estarão ambicionando uma posição de liderança mundial. A mera aquisição da riqueza, do poder e de posições não satisfaz uma pessoa. A aquisição de alguma coisa que possua seus limites simplesmente cria o desejo de mais e mais e a busca pela felicidade parece não ter fim... a fome de possuir não tem fim: é ilimitada e infinita.
Não importa o quão digno ou não é este alcance de felicidade, não ajuda a fazer com que as pessoas descansem em suas buscas por felicidade. Aqueles que lutam pela riqueza não ficam satisfeitos enquanto não obtiverem uma riqueza ilimitada. Também não aqueles que buscam por poder, posições e prestígio podem se sentir satisfeitos até que essas questões sejam atingidas em proporções ilimitadas – porque são objetos pertencentes ao mundo. O mundo por si mesmo é limitado e não pode prover objetos infinitos. Portanto, o quanto maior é a aquisição mundana – mesmo que seja o globo inteiro – não asseguraria qualquer coisa de permanente ou infinito. O que então é essa coisa infinita, eterna, que poderá prover felicidade constante?
A Suprema Consciência é por si mesma infinita e eterna. É por si mesma sem limite. E a eterna esperança dos seres humanos pelo alcance da felicidade pode ser apenas satisfeita pela realização da Infinitude. A natureza efêmera das possessões mundanas, poder e posições podem apenas levar uma pessoa à conclusão de que nada dessas questões do mundo finito e limitado podem trazer um descanso ao eterno desejo de alcançar a felicidade. Suas aquisições apenas dão lugar à outras aquisições, mais e mais. Somente a compreensão da Infinitude pode trazer a felicidade. A Infinitude pode ser apenas uma – é a Suprema Consciência. Assim, é somente a Suprema Consciência que pode prover a felicidade constante – cuja busca é a característica de cada ser humano. Na realidade, atrás dessa necessidade humana está escondido o desejo, a vontade de atingir a Suprema Consciência. Essa é a verdadeira natureza de cada ser vivente. Este é simplesmente o dharma de cada pessoa.
A palavra dharma significa “propriedade” (aquilo que é próprio, natural). Traduzindo do inglês, as palavras podem ser “natureza”, “característica” ou “propriedade”. A natureza do fogo é queimar ou produzir calor. É a característica ou propriedade do fogo e que também determina a natureza do fogo. Similarmente, o dharma ou a natureza dos seres humanos é alcançar a Suprema Consciência.
O grau de divindade nos seres humanos é indicado através da transparência de sua consciência. Cada ser humano, tendo se desenvolvido a partir dos animais, possui, portanto, dois aspectos: o aspecto animal e o aspecto da consciência que distingue uma pessoa do animal. Os animais mostram predominantemente sua animalidade, enquanto os seres humanos, em função de sua bem trabalhada consciência, também possuem a racionalidade. A animalidade nos seres humanos lhes dá uma tendência em direção à vida animal ou às alegrias físicas. Sob esta influencia, os seres humanos procuram por sua comida, sua bebida e as gratificações para seus desejos físicos. Eles são atraídos por estas questões e correm atrás delas sob a influencia de suas animalidades... porém estas questões não provêem felicidade – desde que se encontram dentro do conceito da infinitude.
Os animais são satisfeitos por estas alegrias limitadas – desde que sua necessidade não é infinita. Não importa quão grande seja a quantidade das coisas oferecidas ao um animal, ele pegará apenas aquilo que ele necessita e não se importará com aquilo que sobrar. Porém os humanos certamente agirão de maneira diferente sob estas condições. Isto estabelece, portanto, que os animais são satisfeitos dentro do limite, enquanto o desejo dos seres humanos é ilimitado, mesmo que o desejo de alegria para ambos seja proporcionado e governado pelo aspecto animal da vida. A diferença entre os dois é em função é que o ser humano possui uma consciência transparente, lúcida, clara – algo que os animais não possuem.
A natureza infinita do homem que clama por uma felicidade absoluta existe simplesmente em função de sua consciência. É essa mesma consciência que não é satisfeita com os prazeres físicos de posse, poder e posição – coisas que, mesmo apesar de suas altas proporções, são apenas transitórias . É a consciência que cria nos seres humanos sua ânsia pela Suprema Consciência.
As coisas do mundo – as alegrias físicas – não saciam a sede do coração humano por felicidade. No entanto, encontramos pessoas que são satisfeitas por estes objetos mundanos. A animalidade nas pessoas as leva em direção à gratificação dos seus desejos animais, porém a racionalidade de suas consciências permanece sem gratificação - desde que os objetos mundanos são transitórios e de vida curta e não são suficientes para dar um final à ilimitada e infinita fome da consciência humana. Existe, portanto, um constante duelo nos seres humanos entre sua animalidade e sua racionalidade. O aspecto animal os empurra em direção às alegrias terrenas, enquanto sua consciência, não satisfeita com estas alegrias mundanas, os leva em direção à Suprema Consciência – a Infinitude. Isto resulta numa luta entre o aspecto animal e a consciência. Se os prazeres carnais derivados do poder e da posição fossem infinitos e ilimitados, eles poderiam dar um final à eterna busca da consciência pela felicidade. Porém, isso não acontece e é exatamente por não acontecer é que a glória efêmera das alegrias temporais nunca podem assegurar uma paz duradoura na mente humana e levar as pessoas ao êxtase.
É somente a consciência transparente que diferencia os seres humanos dos animais. É então imperativo que os seres humanos façam uso de sua consciência. Se sua consciência está dormente atrás de sua animalidade, as pessoas podem se comportar como os animais. A verdade é que podem se tornar ainda pior do que os animais em função de possuírem uma consciência transparente e não fazerem uso da mesma. Estas pessoas não merecem o status de seres humanos. Elas são animais em forma de humanos.
A natureza da consciência é procurar pela Infinitude ou compreender a Suprema Consciência. Somente aquelas pessoas que fazem uso de sua consciência e seguem suas normas merecem ser chamados de seres humanos. Portanto, cada pessoa, ao fazer uso em sua plenitude de sua consciência transparente, ganha o direito de ser chamado de ser humano e encontra seu dharma ou natureza própria de ser aquela que busca pela Infinitude da Suprema Consciência. Este desejo pela Infinitude é uma qualidade inata ou dharma que caracteriza o status de humano ás pessoas.
A felicidade é derivada de se obter aquilo que se deseja. Se uma pessoa não consegue obter aquilo que deseja, não pode ser feliz. A pessoa se torna triste. A consciência transparente nas pessoas, que é a única a distingui-las dos animais, procura pela Consciência Cósmica ou pela Infinitude. Dessa forma, as pessoas conseguem a real felicidade somente quando elas podem atingir a Consciência Cósmica ou entrar no processo para alcançar essa meta. A Consciência não quer as alegrias mundanas em função dessas serem finitas e não poderem trazer satisfação à essa Consciência. A conclusão que chegamos é que o dharma da humanidade é compreender a Infinitude ou a Consciência Cósmica. Somente através desse dharma que as pessoas podem usufruir da eterna felicidade e benção.
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O que é Dharma
Srii Srii Anandamurti
O texto foi extraído de Ananda Marga: Elementary Philosophy (publicado dentro do sitewww.anandamarga.org) e traduzido livremente por Janine Milward.
This is an excerpt from Ananda Marga: Elementary Philosophy by Shrii Shrii Anandamurti. Ananda Marga Publications, Kolkata, Published with permission of Ananda Marga Central Publications. © 1998 Ánanda Márga Pracáraka Sam’gha, all rights reserved.
(*) Srii Srii Anandamurti é o Mestre, é o Guru, é o Guia Espiritual de muitos Caminhantes que Caminham seus Caminhos sob a proteção e luz de um Homem Sagrado. Carinhosamente chamado de Baba (cuja tradução é Pai Amado), sua força vem provando ser radiosa, grandiosa, não apenas para o momento presente do Planeta mas, fundamentalmente, para o futuro - quando a solidariedade e comunitarismo entre os Caminhantes e os Povos serão não apenas uma necessidade, mas, certamente, um desejo intenso advindo de uma consciência expandida e iluminada
O desejo do Guru é iniciar seus discípulos
dentro do Caminho da Iluminação e da Liberação.
(Guru - preceptor espiritual, mestre, literalmente “aquele que dispersa a escuridão”)
Srii Srii Anandamurti criou a organização espiritual e social chamada Ananda Marga, cuja tradução é Caminho da Bem-Aventurança.
Pequeno glossário (a partir do original inglês):
clearly-reflected consciousness – consciência transparente
Cosmic Entity – Suprema Consciência, Consciência Cósmica
Infinite – Infinitude
Dharma – propriedade, característica, natureza, aquilo que é próprio, natural – sua própria natureza - dever; a característica essencial de uma entidade; a capacidade de prestar serviço, que é a qualidade essencial do ser vivo.
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Texto traduzido de maneira simples e literal por Janine a partir do original inglês:
What Is Dharma?
Shrii Shrii Ánandamúrti
Human beings are the highest-evolved beings. They possess clearly-reflected consciousness, and this makes them superior to animals. No other being has such a clear reflection of consciousness. Human beings can distinguish between good and bad with the help of their consciousness, and when in trouble they can find a way out, with its help. No one likes to live in misery and suffering, far less human beings, whose consciousness can find means of relief. Life without sorrow and suffering is a life of happiness and bliss, and that is what people desire. Everyone is in quest of happiness; in fact it is people’s nature to seek happiness. Now let us see what one does to achieve it and whether it is achieved by those means.
In their search for happiness people are first attracted towards physical enjoyments. They amass wealth and try to achieve power and position to satisfy their desires for happiness. One who has a hundred rupees is not satisfied with it, one strives for a thousand rupees, but even possessing thousands of rupees does not satisfy. One wants a million, and so on. Then it is seen that a person having influence in a district wants to extend it over a province, provincial leaders want to become national leaders, and when they have achieved that there creeps in a desire for world leadership. Mere acquisition of wealth, power and position does not satisfy a person. The acquisition of something limited only creates the want for more, and the quest for happiness finds no end. The hunger for possessing is unending. It is limitless and infinite.
However dignified or lofty the achievement, it fails to set at rest people’s unlimited quest for happiness. Those who hanker after wealth will not be satisfied until they can obtain unlimited wealth. Nor will the seeker of power, position and prestige be satisfied until he or she can get these in limitless proportions, as all these are objects of the world. The world itself is finite and cannot provide infinite objects. Naturally, therefore, the greatest worldly acquisition, even if it be the entire globe, would not secure anything of an infinite and permanent character. What then is that infinite, eternal thing which will provide everlasting happiness?
The Cosmic Entity alone is infinite and eternal. It alone is limitless. And the eternal longing of human beings for happiness can only be satiated by realization of the Infinite. The ephemeral nature of worldly possessions, power and position can only lead one to the conclusion that none of the things of the finite and limited world can set at rest the everlasting urge for happiness. Their acquisition merely gives rise to further longing. Only realization of the Infinite can do it. The Infinite can be only one, and that is the Cosmic Entity. Hence it is only the Cosmic Entity that can provide everlasting happiness – the quest for which is the characteristic of every human being. In reality, behind this human urge is hidden the desire, the longing, for attainment of the Cosmic Entity. It is the very nature of every living being. This alone is the dharma of every person.
The word dharma signifies “property”. The English word for it is “nature”, “characteristic” or “property”. The nature of fire is to burn or produce heat. It is the characteristic or property of fire and is also termed the nature of fire. Similarly, the dharma or nature of a human being is to seek the Cosmic Entity.
The degree of divinity in human beings is indicated by their clearly-reflected consciousness. Every human being, having evolved from animals, has, therefore, two aspects – the animal aspect, and the conscious aspect which distinguishes a person from animals. Animals display predominantly the animality, while human beings due to a well-reflected consciousness also possess rationality. The animality in human beings gives them a leaning towards animal life or physical enjoyment. They, under its influence, look to eating, drinking and gratification of other physical desires. They are attracted towards these and run after them under the influence of their animality but these do not provide happiness as their longing for it is infinite. Animals are satisfied with these limited enjoyments as their urge is not infinite. However large the quantity of things offered to an animal may be, it will take only those which it needs and will not bother for the rest. But humans will certainly act differently in these conditions. This only establishes that animals are satisfied with the limited, while the desire of human beings is limitless, although the desire for enjoyment in both is prompted and governed by the animal aspect of life. The difference in the two is due to the possession by the human being of a clearly-reflected consciousness, something which animals lack. The infinite nature of the human urge for absolute happiness is due to their consciousness alone. It is this consciousness alone which is not satisfied with the physical pleasure of possession, power and position – things which in spite of their huge proportions, are only transitory in character. It is their consciousness which creates in human beings the longing for the Cosmic Entity.
The objects of the world – the physical enjoyments – do not quench the thirst of the human heart for happiness. Yet we find that people are attracted by them. The animality in people draws them towards gratification of animal desires, but the rationality of their consciousness remains ungratified since all these are transitory and short-lived. They are not enough to set at rest the unending and unlimited hunger of the human consciousness. There is, thus, a constant duel in humans between their animality and rationality. The animal aspect pulls them towards instant earthly joys, while their consciousness, not being satisfied with these, draws them towards the Cosmic Entity – the Infinite. This results in the struggle between the animal aspect and consciousness. Had the carnal pleasures derived from power and position been infinite and endless, they would have set at rest the eternal quest of consciousness for happiness. But they do not, and that is why the fleeting glory of temporal joys can never secure a lasting peace in the human mind and lead people to ecstasy.
It is only the well-reflected consciousness which differentiates human beings from animals. Is it then not imperative for human beings to make use of their consciousness? If their consciousness lies dormant behind their animality, people are bound to behave like animals. They in fact become worse than animals as, even though endowed with well-reflected consciousness, they do not make use of it. Such people do not deserve the status of human beings. They are animals in human form.
The nature of consciousness is to seek for the Infinite or realize the Cosmic Entity. Only those who make use of their consciousness and follow its dictates deserve to be called human beings. Therefore, every person, by making full use of his or her reflected consciousness, earns the right to be called a human being and finds his or her dharma or nature to be only the search for the Infinite or Cosmic Entity. This longing for the Infinite is the innate quality or dharma which characterizes the human status of people.
Happiness is derived by getting what one desires. If one does not get what one desires, one cannot be happy. One becomes sad and miserable. The clearly-reflected consciousness in people, which alone distinguishes them from animals, seeks the Cosmic Entity or the Infinite. And so people derive real happiness only when they can attain the Cosmic Entity or get into the process of attaining It. Consciousness does not want earthly joys because being finite none of them satisfy it. The conclusion we arrive at is that the dharma of humanity is to realize the Infinite or the Cosmic Entity. It is only by means of this dharma that people can enjoy eternal happiness and bliss. The objects of the world – the physical enjoyments – do not quench the thirst of the human heart for happiness. Yet we find that people are attracted by them. The animality in people draws them towards gratification of animal desires, but the rationality of their consciousness remains ungratified since all these are transitory and short-lived. They are not enough to set at rest the unending and unlimited hunger of the human consciousness. There is, thus, a constant duel in humans between their animality and rationality. The animal aspect pulls them towards instant earthly joys, while their consciousness, not being satisfied with these, draws them towards the Cosmic Entity – the Infinite. This results in the struggle between the animal aspect and consciousness. Had the carnal pleasures derived from power and position been infinite and endless, they would have set at rest the eternal quest of consciousness for happiness. But they do not, and that is why the fleeting glory of temporal joys can never secure a lasting peace in the human mind and lead people to ecstasy.
It is only the well-reflected consciousness which differentiates human beings from animals. Is it then not imperative for human beings to make use of their consciousness? If their consciousness lies dormant behind their animality, people are bound to behave like animals. They in fact become worse than animals as, even though endowed with well-reflected consciousness, they do not make use of it. Such people do not deserve the status of human beings. They are animals in human form.
The nature of consciousness is to seek for the Infinite or realize the Cosmic Entity. Only those who make use of their consciousness and follow its dictates deserve to be called human beings. Therefore, every person, by making full use of his or her reflected consciousness, earns the right to be called a human being and finds his or her dharma or nature to be only the search for the Infinite or Cosmic Entity. This longing for the Infinite is the innate quality or dharma which characterizes the human status of people.
Happiness is derived by getting what one desires. If one does not get what one desires, one cannot be happy. One becomes sad and miserable. The clearly-reflected consciousness in people, which alone distinguishes them from animals, seeks the Cosmic Entity or the Infinite. And so people derive real happiness only when they can attain the Cosmic Entity or get into the process of attaining It. Consciousness does not want earthly joys because being finite none of them satisfy it. The conclusion we arrive at is that the dharma of humanity is to realize the Infinite or the Cosmic Entity. It is only by means of this dharma that people can enjoy eternal happiness and bliss.
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End of first part
1955
Published in:
Ananda Marga: Elementary Philosophy
Ananda Marga Philosophy in a Nutshell Part 1 [a compilation]
Prout in a Nutshell Part 11 [a compilation]
Universal Humanism [a compilation]
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